Vimos, assim, que os únicos autores
que poderiam ter escrito a respeito de
Jesus Cristo, e como tal foram
apresentados pela Igreja, foram
Flávio Josefo, Tácito Suetonio
e Plínio. Invocando o testamento
de tais escritores, pretendeu a Igreja
provar que Jesus Cristo teve existência
física, e incutir como verdade na mente
dos povos todo o romance que gira em
torno da personalidade fictícia de
Jesus.
Contudo, a ciência histórica, através de
métodos modernos de pesquisa, demonstra
hoje que os autores em questão foram
falsificados em seus escritos. Estão
evidenciadas súbitas mudanças de assunto
para intercalações feitas posteriormente
por terceiros. Após a prática da fraude,
o regresso ao assunto originalmente
abordado pelo autor.
Tomemos, primeiramente, Flávio Josefo
como exemplo. Ele escreveu a história
dos acontecimentos judeus na época em
que pretensamente Jesus teria existido.
Os falsificadores aproveitaram-se então
de seus escritos e acrescentaram: “Naquele
tempo nasceu Jesus, homem sábio, se é
que se pode chamar homem, realizando
coisas admiráveis e ensinando a todos os
que quisessem inspirar-se na verdade.
Não foi só seguido por muitos hebreus,
como por alguns gregos. Era o Cristo.
Sendo acusado por nossos chefes do nosso
país ante Pilatos, este o fez
sacrificar. Seus seguidores não o
abandonaram nem mesmo após sua morte.
Vivo e ressuscitado, reapareceu ao
terceiro dia após sua morte, como o
haviam predito os santos profetas,
quando realiza outras mil coisas
milagrosas. A sociedade cristã, que
ainda hoje subsiste, tomou dele o nome
que usa”.
Depois deste trecho, passa a expor um
assunto bem diferente no qual refere-se
a castigos militares infligidos ao
populacho de Jerusalém. Mais adiante,
fala de alguém que conseguira seus
intentos junto a uma certa dama
fazendo-se passar como sendo a
humanização do deus Anubis, graças aos
ardis dos sacerdotes de Ísis. As
palavras a Flávio atribuídas são as de
um apaixonado cristão. Flávio jamais
escreveria tais palavras, porquanto,
além de ser um judeu convicto, era um
homem culto e dotado de uma inteligência
excepcional.
O próprio Padre Gillet reconheceu em
seus escritos ter havido falsificações
nos textos de Flávio, afirmando ser
inacreditável que ele seja o autor das
citações que lhe foram imputadas. Além
disso, as polêmicas de Justino,
Tertuliano, Orígenes e
Cipriano contra os judeus e os
pagãos demonstram que Flávio não
escreveu nem uma só palavra a respeito
de Jesus. Estranhando o seu silêncio,
classificaram-no de partidário e
faccioso. No entanto, um escritor
com o seu mérito escreveria livros
inteiros acerca de Jesus, e não apenas
um trecho. Bastaria, para isto, que o
fato realmente tivesse acontecido. Seu
silêncio, no caso, é mais eloqüente do
que as próprias palavras.
Exibindo os
escritos de Flávio, Fócio afirmava que
nenhum judeu contemporâneo de Jesus
ocupara-se dele. A luta de
Fócio, que viveu entre os anos de 820
a 895, e foi patriarca de
Constantinopla, teve ensejo justamente
por achar desnecessário a Igreja lançar
mãos de meios escusos para provar a
existência de Jesus. Disse que bastaria
um exemplar autêntico não adulterado
pela Igreja e fora do seu alcance para
por em evidência as fraudes praticadas
com o objetivo de dominar de qualquer
forma. Embora crendo em Jesus Cristo,
combateu vivamente os meios
sub-reptícios empregados pelos Papas,
razão porque foi destituído do
patriarcado bizantino e excomungado. De
suas 280 obras, apenas restou o
“Myriobiblion”, tendo o resto sido
consumido, provavelmente por ordem do
Papa.
Tácito escreveu: “Nero,
sem armar grande ruído, submeteu a
processos e a penas extraordinárias aos
que o vulgo chamava de cristãos, por
causa do ódio que sentiam por suas
atrapalhadas. O autor fora Cristo, a
quem, no reinado de Tibério, Pôncio
Pilatos supliciara. Apenas reprimida
essa perniciosa superstição, fez
novamente das suas, não só na Judéia, de
onde proviera todo o mal, senão na
própria Roma, para onde de confluíram de
todos os pontos os sectários, fazendo
coisas as mais audazes e vergonhosas.
Pela confissão dos presos e pelo juízo
popular, viu-se tratar-se de
incendiários professando um ódio mortal
ao Gênero humano”.
Conhecendo muito bem o grego e o latim,
Tácito não confundiria referências
feitas aos seguidores de Cristo com os
de Crestus. As incoerências observadas
nessa intercalação demonstram não se
tratar dos cristãos de Cristo, nem a ele
se referir. Lendo-se o livro em questão,
percebe-se perfeitamente o momento da
interpelação. Afirmar que fora Cristo o
instigador dos arruaceiros é uma calúnia
contra o próprio Cristo. E conforme já
referimos anteriormente, os cristãos
seguidores de Cristo eram muito pacatos
e não procuravam despertar atenção das
autoridades para si. Como dizer em um
dado momento que eles eram retraídos e,
em seguida, envolvê-los em brigas e
coisas piores? É apenas mais uma das
contradições de que está repleta a
história da Igreja.
Ganeval afirma que foram expulsos
de Roma os hebreus e os egípcios, por
seguirem a mesma superstição. Deduz-se
então que não se referia aos cristãos,
seguidores de Jesus Cristo.
Referia-se aos Essênios, seguidores de
Crestus, vindos de Alexandria. A
Igreja não conseguiu por as mãos nos
livros de Ganeval, o que contribuiu
ponderavelmente para lançar uma luz
sobre a verdade. Por intermédio de seus
escritos, surgiu a possibilidade de
provar-se a quais cristãos, exatamente,
referia-se Tácito.
Suetônio teria sido mais breve em
seu comentário a respeito do assunto.
Escreveu que “Roma expulsou os judeus
instigados por Crestus, porque promoviam
tumultos”. É evidente, também, a
falsificação praticada em uma carta de
Plínio a Trajano, quando perguntava o
que fazer aos cristãos, assunto já
abordado anteriormente. O referido
texto, após competente exame
grafotécnico, revelou-se adulterado. É
como se Plínio quisesse demonstrar, não
apenas a existência histórica de Jesus,
mas sua divindade, simbolizando a
adoração dos cristãos. É o quanto basta
para evidenciar a fraude.
Se Jesus Cristo realmente tivesse
existido, a Igreja não teria necessidade
de falsificar os escritos desses
escritores e historiadores. Haveria,
certamente, farta e autêntica
documentação a seu respeito, detalhando
sua vida, suas obras, seus ensinamentos
e sua morte. Aqueles que o omitiram, se
tivesse de fato existido, teriam falado
dele abundantemente. Os mínimos detalhes
de sua maravilhosa vida seriam objeto de
vasta explanação. Entretanto, em
documentos históricos não se encontram
referências dignas de crédito,
autênticas e aceitáveis pela história.
Em tais documentos, tudo o que fala de
Jesus e sua vida é produto da má-fé, da
burla, de adulterações e intercalações
determinadas pelos líderes cristãos.
Tudo foi feito de modo a ocultar a
verdade. Quando a verdade esta ausente
ou oculta, a mentira prevalece. E há um
provérbio popular que diz: “A mentira
tem pernas curtas”. Significa que ela
não vai muito longe, sem que não seja
apanhada. Em relação ao cristianismo,
isto já aconteceu. Um número crescente
de pessoas vai, a cada dia que passa,
tomando conhecimento da verdade. E,
assim, restam baldados os esforços da
Igreja, no que concerne aos ardis
empregados na camuflagem da verdade,
visando alcançar escusos objetivos.
<https://2012aeradeouro.webnode.com.br/products/as%20falsifica%C3%A7%C3%B5es/>
Por que esses poucos escritores iriam registrar essas coisas suspeitas e os que viveram nos dias de Jesus iriam ser totalmente omissos a seu respeito? Por que nenhum escritor dos dias de Jesus nem sequer disse ter ouvido falar de um grupo que dissesse que seu líder executado tivesse ressuscitado? E por que mestres cristãos do final do século II não usaram esses textos? Seria impossível essa pessoa ter existido e nenhum escritor ter falado dela. Ficam essas reflexões para os cristãos.