Riscos das dietas
radicais
Todo exagero é
prejudicial
As dietas vegetarianas ganha cada vez mais adeptos, mesmo entre nós, onde o
bife, o picadinho e a feijoada estão entre os pratos mais populares. Em geral,
essa opção vem acompanhada de um estilo de vida que preconiza a prática de
atividades físicas e a abstenção do tabagismo e do álcool, hábitos extremamente
saudáveis. Mas, dizem os especialistas, nada disso compensa a falta da carne à
mesa. Se não houver um bom monitoramento no equilíbrio de nutrientes, algumas
carências nutricionais severas podem ser geradas a partir das restrições a
certos alimentos.
O nutricionista Bruno Chlamtac afirma que o aumento no consumo de alimentos de
origem vegetal, produtos integrais e orgânicos, ricos em vitaminas, minerais
antioxidantes e fibras tem efeitos altamente positivos na promoção da saúde.
‘E também uma maneira de prevenir doenças crônicas como taxas altas de
colesterol e triglicerídeos, intestino preguiçoso, obesidade, diabetes e câncer,
entre outras. No entanto, radicalismos não são recomendados. É verdade que o
consumo de gorduras saturadas, provenientes das carnes, deve ser reduzido. Mas,
excluir todo tipo de carne da dieta exige cuidado na elaboração do cardápio. A
carne vermelha é uma das maiores fontes de ferro, difícil de ser substituída’,
ressalta Bruno.
A nutricionista Mariza Gomes lembra que a concentração de aminoácidos essenciais
nos vegetais é baixa, podendo acarretar prejuízos àqueles que optam por uma
dieta vegetariana radical. ‘Mas, por outro lado, as gorduras vegetais são
livres de colesterol e geralmente contêm mais ácidos graxos insaturados, o que
beneficia o coração, diz.
VARIEDADE
é princípio básico
Qualquer que seja a preferência, frutas e legumes ricos em ferro – como nozes,
leguminosas, ervilhas, uva-passa, damasco, ameixa, vegetais de folhas verde
escuras e beterraba – são muito importantes e não devem faltar à mesa. A
principal função desse mineral, juntamente com a vitamina B12, é a formação de
compostos essenciais ao transporte e à utilização de oxigênio.
‘O ferro presente nos vegetais não possui uma absorção muito boa pelo organismo,
mas ela pode ser potencializada quando se combinam estes alimentos àqueles ricos
em vitamina C (frutas frescas, saladas, todos vegetais folhosos e batatas), diz
Bruno.
Durante a refeição, devem-se evitar os alimentos que contenham cálcio, pois eles
diminuem a absorção do ferro.
O cálcio é também um elemento fundamental e sua importância está na formação
óssea e na contração muscular. Ele está presente no leite e derivados e na gema
de ovo, ou ainda em feijões, ervilhas, suco de laranja, couve-flor, vegetais de
folhas verde escuras e legumes.
Os alimentos derivados de vegetais ricos em zinco – envolvido no metabolismo de
energia, na síntese de proteínas e nas defesas do organismo – são os cereais
integrais, o espinafre, a ervilha, o milho e a castanha. Nutrientes que não são
encontrados em produtos de origem vegetal – como a vitamina B12 importante na
formação das hemácias (glóbulos vermelhos), devem ser ingeridos através de leite
de soja ou cereais enriquecidos.
As doses diárias recomendadas, respectivamente, para adolescentes e adultos são
de 1200 mg e 800 mg de cálcio; 12 mg e 15 mg de ferro; além de 2 mcg de vitamina
B12 e 15 mg de zinco para ambos.
Mas, vale ressaltar que as necessidades nutricionais variam conforme a idade, o
estado fisiológico e a atividade física. ‘Atletas, crianças, gestantes,
lactantes, idosos e portadores de alguma patologias devem receber cuidados
específicos e ter acompanhamento profissional’.
MENOPAUSA
exige mais atenção
Na infância, as necessidades de nutrientes são maiores, o que eleva a
importância da ingestão de alimentos que contenham ferro, cálcio e vitamina B12.
Os idosos precisam de maior oferta de cálcio, por conta da osteoporose. ‘Se não
consumirem leite e derivados do leite, eles podem prejudicar sua saúde’, adverte
Bruno Chlamtac.
A nutricionista Mariza Gomes é enfática ao apontar a importância de uma
alimentação equilibrada e que respeita as necessidades individuais. Ela não
recomenda, sobretudo para crianças, adolescentes, idosos e mulheres na fase da
menopausa a dieta vegetariana radical. ‘Nenhum ser humano estará bem alimentado
se não incluir em sua dieta proteínas (15 a 20%), carboidratos 50 a 55%),
lipídeos (25 a 30%),vitaminas e sais minerais (de acordo com as necessidades
individuais) e água. A melhor forma de obtê-los é a através dos alimentos que
contêm estas substâncias’, diz. Mariza observa também que os alimentos, fonte
das vitaminas B12, B2 e D, do cálcio e do zinco são de origem animal.
A especialista explica ainda que, na menopausa, a mulher está sujeita a
alterações nas taxas de hormônios, o que leva à perda óssea. ‘Ela precisa mais
do que nunca de alimentos como o leite e derivados, que são fonte de cálcio.
Como também está sujeita a anemias e ao aumento da pressão arterial e propensa
ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares, a ingestão de alimentos que
contenham ferro e a diminuição do consumo daqueles ricos em sódio (sal) são
fundamentais, assim como a prática d e atividades físicas regulares’, observa.
VERDADES
e mitos da boa mesa
Quando o assunto é dieta alimentar, os argumentos costumam ser os mais variados,
para justificar as escolhas feitas. Mas será que todos têm fundamento?
Vegetarianos argumentam que os alimentos de origem animal podem acarretar
problemas devido à introdução de hormônios na ração de aves e bovinos.
O nutricionista Bruno Chlamtac lembra que o emprego dessas substâncias é
proibido e que tanto o Ministério da Agricultura como a Agência Nacional de
Vigilância Sanitária têm controle muito rígido sobre a criação e abate dos
animais. Além disso, o Brasil é grande exportador de carne e o produto não seria
aceito no exterior se não tivesse qualidade garantida.
Os adeptos de uma dieta livre de carne vermelha observam que ela aumenta o risco
de doenças cardiovasculares, como arteriosclerose infarto e hipertensão, além de
obesidade.
A afirmação é correta quando ela é consumida de modo exagerado, porque aumenta a
quantidade de gordura saturada ingerida e, consequentemente, o colesterol LDL.
Em excesso, ele se acumula nas artérias. Se ingerida de forma equilibrada,
cozida, grelhada ou assada, e em cortes magros, não há problema para a saúde. O
aporte diário varia de indivíduo para indivíduo, de acordo com idade, gênero,
altura, peso e atividade física que pratica.
Outra crença é a de que uma carência nutricional pode ser compensada pelos
suplementos de vitaminas e sais minerais em cápsulas. A nutricionista Mariza
Gomes diz que eles são recomendados apenas em casos de determinadas
deficiências, quando há necessidade de aporte dessas substâncias para o bom
funcionamento do organismo. E que a absorção e a metabolização dos nutrientes é
melhor quando eles são ingeridos diretamente dos alimentos. Em relação à
alimentação o equilíbrio é a resposta. Incluir todo tipo de nutrientes, com
moderação, e exercitar-se é a melhor receita para uma boa qualidade de vida.
(Bruno, Chlamtac e Mariza Gomes, nutricionistas, Nouvelles esthétiques,
Brasil, dezembro/2005, págs. 126-130)
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