FÉ ANTI-HIGIÊNICA
Não bastassem os outros malefícios, até o hábito de tomar banho foi combatido
pela igreja cristã da Idade Média.
Depois do deus humano que teria
repreendido os que tinha o hábito de lavar as mãos, tivemos mais um
representante divino preconizando a falta de higiene.
"Se no Império Romano as pessoas não
tinham o menor pudor de se banharem nesses locais públicos, na Idade Média a
coisa mudou bastante de figura.
O papa Gregório I foi um dos mais importantes precursores
do repúdio ao banho ao dizer que o contato com o corpo era via mais próxima do
pecado. Dessa forma, o tomar banho se
transformou em uma atividade anual e acontecia em
um simples barril de água. Fora disso, os asseios diários eram feitos
pelo uso de panos úmidos.
Se no Ocidente a moda do banho estava em baixa, os povos orientais trataram de
manter o hábito bem ativo entre os seus comuns. Nos países de origem turco-árabe
temos ainda hoje as hamans, luxuosas casas de banho onde os muçulmanos tomam
banho, depilam, passam por sessões de massagem, branqueiam os dentes e se
maquiam. Com o advento das Cruzadas, entre os séculos XI e XIII, o hábito de
tomar banho ganhou algum espaço nos fins da Idade Média.
Nos séculos XVI e XVII, as noções de saúde e doença mais uma vez se tornou uma
afronta ao hábito de se tomar banho regularmente. Nessa época,
os médicos acreditavam que as doenças consistiam em
manifestações malignas que tomavam o corpo do indivíduo por meio de suas vias de
entrada. A partir dessa premissa, a classe médica concluiu que
o banho em excesso alargava os poros da pele e, com isso,
deixava o sujeito suscetível a uma doença.
Somente no século seguinte, com a ascensão da ciência
iluminista, que o banho foi redimido como um meio de se cuidar da saúde.
Contudo, as várias décadas de uma cultura avessa ao contato do corpo com a água
conseguiu manter certa resistência ao banho. Em vários relatos do século XIX,
temos a descrição de doentes que foram obrigados a tomar banho à força.
<Rainer Gonçalves Sousa, História do Banho>
Esse foi mais um malefício da religião
cristã, contra o qual tivemos a contribuição do Iluminismo. Não fosse a
resistência científica aos representantes divinos, não estaríamos hoje cuidando
nem da nossa higiene.
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