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A FILOSOFIA
ESCOLÁSTICA E A INTERRUPÇÃO DO AVANÇO CIENTÍFICO
por Prof. Clodoaldo
Alves Oliveira*
Com o fim do
Império Romano e sua pilhagem por pequenos povos “bárbaros”, o mundo ocidental
perdeu sua tradição científica. Os interesses passaram a se voltar para o
cristianismo, que ascendia como religião dominante no mundo ocidental e induzia
a um retrocesso no modo leigo de pensar o mundo e criava enormes obstáculos aos
avanços da pesquisa científica. Até mesmo a rotundade da Terra passou a ser
negada e os pensadores cristãos repudiavam a busca do conhecimento
científico, astronômico ou não, se tal busca pelo conhecimento científico
resultasse em afrontas aos dogmas cristãos católicos. Sendo que para implantar
tal retrocesso na pesquisa científica os pensadores cristãos católicos criaram a
Filosofia Escolastica, que teve seus primórdios em Santo Agostinho e
posteriormente ampliada por São Tomás de Aquino.
No tocante a pesquisa científica e ao trabalho de um cientista, de acordo com os
escolásticos as pesquisas científicas têm sim suas
importâncias desde que tais pesquisas não sejam usadas para colocar “em xeque”
os dogmas cristãos católicos e/ou coloquem dúvidas sobre as leis divinas e/ou
façam os escritos bíblicos caírem no ridículo e/ou façam as instituições
católicas perderem seu status de instituições divinas e idôneas.
Santo Agostinho (354-430,dc), que foi um dos grandes nomes do pensamento
religioso cristão católico e precursor da Filosofia Escolástica da Idade Média,
em seu livro “Confissões” escreveu:
“ Outra forma de complexidade ainda mais perigosa (do que
os pecados da carne) é a vã curiosidade que se esconde sob o nome de Ciência.
Foi esta doença da curiosidade que nos induziu a perscrutar os misteriosos
segredos da natureza exterior a nós, segredos que não adianta conhecer, não se
deve conhecer e onde os homens não buscam nada além desse próprio conhecimento.
Não me interessa em nada o conhecimento científico. Não me interessa em nada
conhecer o curso dos astros, mas apenas conhecer a Deus, pois
qualquer conhecimento científico que negue Deus é
totalmente imoral e não merece qualquer tipo de respeito.” (apud SIMAAN e
FONTAINE,2003,p.70-79)
Em resumo, podemos dizer que a Filosofia Escolástica ou Escolasticismo foi o
método de pensamento crítico dominante no ensino nas universidades medievais
européias de cerca de 1100 a 1500. Não tanto uma filosofia ou uma teologia, como
um método de aprendizagem, a escolástica nasceu nas escolas monásticas cristãs
católicas, de modo a “conciliar” a fé cristã com um sistema de pensamento
racional, especialmente o da filosofia grega. Colocava uma forte ênfase na
dialética para ampliar o conhecimento por inferência e resolver contradições. A
obra-prima de Tomás de Aquino, Summa Theologica, assim como Confissões são
frequentemente vistas como exemplos maiores da Filosofia Escolástica.
No entanto é bom lembrar que esta “conciliação” entre a fé e o sistema racional,
é uma tentativa de conciliação forçada entre a Religião e a Ciência, mas a
Religião não é Ciência e a Ciência não é Religião. Ciência e religião são
extremamente dialéticas e antagônicas entre si e a conciliação não é apenas uma
conciliação forçada, mas também uma conciliação ridícula.
Nas instituições onde se apregoam a prática da conciliação
entre a Religião e a Ciência, na verdade são instituições onde a pesquisa
científica é censurada e os cientistas que atuam em tais instituições trabalham
com cabrestos, tudo para que as pesquisas realizadas nas mesmas não
resultem em colocar no ridículo os dogmas divinos pregados por líderes
religiosos que controlam tais instituições de pesquisa e que estejam submissos a
alguma igreja.
Embora a Filosofia Escolástica seja uma criação cristã católica, outras
instituições religiosas (cristãs e não cristãs) vez e outra usam a censura
Escolástica em pesquisas científicas realizadas dentro de instituições
controladas por uma dada religião.
Um exemplo muito próximo de nós é o caso da UNEC (Centro Universitário de
Caratinga-MG), onde fiz 1,5 anos de graduação em Física e que possui plenas
condições de realizarem pesquisas científicas com células-tronco, mas
pelo fato
dos donos da UNEC estarem submissos a lideranças cristãs católicas, criam
enormes obstáculos para a realização de tais pesquisas dentro das dependências
da UNEC. Fato que pude perceber na condição de aluno de graduação e além de
ouvir reclames de vários professores da própria UNEC de várias áreas de pesquisa
(Biologia, Bioquímica, Biofísica, Medicina e Farmácia) no tocante aos
obstáculos
criados pela UNEC em barrar pesquisas científicas cujas conclusões acabem
expondo ao ridículo algum dogma cristão católico.
Esta censura Escolástica dentro da UNEC é apenas uma prova de que
na teoria o
Brasil é um país laico, mas que na prática é comum observarmos a censura
aplicada às pesquisas científicas, principalmente dentro de faculdades e
universidades da rede privada, não que em universidades públicas brasileiras não
exista tal censura, mas a ocorrência da prática da censura Escolástica é muito
menor nas IFES do que nas IES, por enquanto.
*Prof. Clodoaldo Alves Oliveira
(Físico e Docente Livre de Ciências Exatas)
[email protected]
Santana do Manhuaçu, 13 de Agosto de 2013.
Quando pensávamos
que o mundo já tivesse abandonado as ideias retrógradas impostas pela igreja
medieval, começamos a ver que ela, mesmo tendo perdido o poderio do passado,
continua tentando manter seus preceitos e preconceitos através de instituições
de ensino, que, em vez de servir para buscar o conhecimento se prestam a impedir
o desenvolvimento científico.
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RELACIONAMENTO RELIGIOSO
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