A FILOSOFIA ESPÍRITA E JUSTIÇA DIVINA

 

A filosofia espírita é a única que criou uma explicação para amenizar a injustiça divina um pouco mais convincente.  Parece ter sido desenvolvida por alguém que, como um político hábil, consegue criar saída para o lado mais questionável da atividade.    O homem primitivo criou as divindades, o religioso hábil criou obstáculos amedrontadores para aqueles que começaram a questionar a justiça divina, e, nesses últimos séculos, a filosofia espírita, com a crença na reencarnação, se tornou a mais aceitável. 

 

Há muitos séculos, surgiram pensadores racionalistas que questionaram os procedimentos divinos e a certeza sobre a existência dos deuses começou a cair.    Epicuro já dizia: “Ou Deus quer impedir o mal e não pode, ou pode e não quer, ou não pode nem quer, ou quer e pode. Se quer e não pode, é impotente; se pode e não quer, é perverso; se não pode e nem quer, é impotente e perverso; se quer e pode, por que não o faz?” (Epicuro - 341 anos a.C.).

 

O cristianismo, doutrina formada no império romano, com grande influência grega, já arranjou algumas estratagemas bem eficientes para amedrontar as pessoas até o ponto de elas temerem até a dúvida.  No chamado Novo Testamento lemos:

 

Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado” (Marcos, 16: 16). Para o cristão, o simples fato de não crer já significa a perdição. Isso significa que, segundo a Igreja,  a simples dúvida quanto à veracidade das coisas divinas já seria um pecado grave. Assim, os cristãos evitavam até pensar na possibilidade de estar enganados.

 

Diante das injustiça que saltam diante dos nossos olhos, quando vemos bons serem atingidos pelos fenômenos da natureza tanto quanto os maus, quando notamos que nada além da lei interfere a favor de quem procede com justiça, podemos deduzir que não há nenhum ser sobrenatural protegendo os justos como se crê.  Se existisse um deus, ele seria totalmente apático, insensível às injustiças humanas e, como comandante dos fenômenos naturais, nada estaria fazendo para que os justos não fossem pegos pelas catástrofes juntamente com os maus.   Aí vem a filosofia espírita com sua explicação tão adequada para contornar essa injustiça.

 

Dizem os espíritas: Se você, apesar de ser tão bom, está sofrendo tanto, isso não é injustiça de deus; você está pagando o mal que fez na sua encarnação anterior.  Se você se sujeitar a tudo com paciência, na próxima encarnação você será recompensado pelo bem que fizer agora.  Diante dessa idéia, as pessoas deixam de questionar as injustiças, aceitam de bom grado o sofrimento acreditando que está pagando pelo que fez no passado, e tudo parece perfeito.

 

Pensando de um modo bem racional, sabemos que não é nada justo alguém sofrer pelo mal cometido por uma pessoa que viveu no século passado enquanto não tem nenhuma lembrança, nenhuma noção do que foi que essa pessoa fez.  Por acaso você se lembra de ter vivido no passado? Com exceção daqueles que, hipnotizados, veem uma porção de coisas que acreditam serem de uma vida passada, os que estão sofrendo hoje não têm nenhuma idéia do que seria a causa de seu sofrimento.  O racionalista pensa: se eu não sinto nada do prazer experimentado por aquela pessoa que dizem ter sido eu no passado, nem aquele que no futuro dirão ser a reencarnação minha se lembrará de como terá sido a minha vida, por que vou querer sofrer hoje para dar prazer a uma pessoa do futuro?  Já para a pessoa que acredita na existência de outras vidas, isso parece fazer sentido, e a divindade não parece injusta como para os que não acreditam em reencarnação.  E, como é uma questão de fé, não passível de análise material, muita gente aceita a explicação dos reencarnacionistas.

 

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