O FIM DO MUNDO E O ECLIPSE
"O fim do mundo
Um eclipse do sol no hemisfério norte, dia 11, revive no Brasil velhas profecias
e desencadeia ações para enfrentar o apocalipse
VALÉRIA PROPATO
Na próxima quarta-feira 11 – precisamente às 11h06 na Europa e 8h06 no Brasil –,
a Lua cobrirá o Sol e projetará sobre a Terra um feixe de sombra que se
estenderá do nordeste dos EUA à Baía de Bengala, na Índia. É o último eclipse
solar do milênio. O dia vai virar noite na Inglaterra, França, Alemanha,
Áustria, Luxemburgo, em toda a Europa Central, Turquia, Iraque, Irã e Paquistão.
O fenômeno – que não será visível no Brasil – acontece dois dias antes de uma
sexta-feira 13 e a 142 dias do ano 2000. Cristãos fanáticos acreditam que o
eclipse é o indício do "fim dos tempos" pregado na Bíblia. Seguidores de Nostradamus vislumbram
o sinal que deverá marcar a vinda do Grande Rei do
Terror, anunciada nas famosas Centúrias. Dizem que os extraterrestres já
estariam preparando os terráqueos para uma "alteração vibracional do planeta".
Astrólogos e esotéricos falam em sérias transformações na Terra e no surgimento
de uma nova consciência no homem. Tudo isso viria com o eclipse, também citado
nas escrituras dos povos celtas e no Vishnu Purana, um dos
textos sagrados do
hinduísmo. Indiferente ao fato de que a contagem do ano 2000 só exista para o
cristão – no calendário dos islâmicos, chineses e judeus não consta mudança de
século nos próximos meses –, essa turma de supersticiosos, catastrofistas,
milenaristas e fundamentalistas acendeu o pisca-alerta.
Embora a Terra registre uma média de dois eclipses solares ao ano – o último que
passou pelo Brasil foi em 3 de novembro de 1994 –, os astrólogos consideram o do
dia 11 o mais tenso do milênio. Ele desenhará no espaço uma espécie de cruz
cósmica, tendo a Terra ao centro; o Sol, a Lua e Urano no eixo vertical; Marte e
Saturno alinhados no eixo horizontal. Para a astrologia, Urano, Marte e Saturno
são planetas ligados a crises, mudanças e conflitos. "É como se os planetas
tivessem guerreando. E será uma batalha feia", avisa o diretor do centro
astrológico carioca Astrotiming, Otávio Azevedo. Bárbara Abramo, especialista em
astrologia política, aponta um período de conflitos bem terrenos. "A imagem da
cruz cósmica poderia ser resumida como se toda a sociedade, dividida em
governo,
povo e forças armadas, e uma quarta força, representada pelos
recursos naturais,
estivessem segurando um pé da mesma mesa e cada um puxasse para o seu lado",
afirma Bárbara. "No Brasil, os conflitos de terra e as questões sindicais vão
estar mais acirradas. O governo vai ter seu poder questionado e vai avaliar se
deve ou não colocar o Exército nas ruas", previu a astróloga. Em tempo: ela
falou isso antes da greve dos caminhoneiros.
Foto: RENATO VELASCO
OLHAR CRÍTICO Barreto, pároco de Juazeiro, condena o sacrifício físico e diz que
Deus e a Igreja querem o crescimento do homem
Os Penitentes do Rosário da Mãe de Deus começaram a faxina antes do tempo.
Escondidos no bairro pobre de Tiradentes, em Juazeiro do Norte, no Ceará, vivem
sem energia elétrica, não tomam banho, não dançam, não trabalham e não aceitam
dinheiro. Só andam a pé, passam o dia rezando metidos em túnicas azuis e
brancas. No domingo, caminham até a igreja da Matriz, para assistir à missa de
joelhos, em frente à porta. O corpo tem que sofrer para que o espírito possa ser
premiado por Deus. O líder da seita, José Ave de Jesus, prega que a Terra irá
consumir-se em um grande incêndio. "Só não percebe quem é cego do entendimento.
A Bíblia não fala que ao ano 2000 não chegarás? Quem quiser sentar à direita de
Deus que deixe seus vícios. Senão, vai ficar mil anos no inferno mijando e
cagando fogo", vocifera Ave de Jesus. O grupo tem 13 seguidores.
Todos chamam-se
José e Maria e são analfabetos.
Foto: RICARDO GIRALDEZ
SINAL CELESTE Para a astróloga Bárbara, a cruz no céu aponta conflitos terrenos
A poucos quilômetros da casa dos penitentes, no bairro de Romeirão, o marceneiro
Antonio Gomes de Araújo, 39 anos, flagela-se uma vez ao dia com dois cilícios.
Fez um cinto de arame com pontas afiadas e um chicote com três navalhas de ferro
presas à corda. Antonio, um semi-analfabeto que conhece as passagens da Bíblia
de ouvido, espera conseguir a salvação. "Jesus me disse em sonho: vai Antonio,
lança-te ao povo e anuncia que o juízo final está próximo". Antonio foi. Fez uma
carroça de madeira com a imagem da Virgem Maria, vestiu uma batina verde, uma
pele de carneiro sobre o ombro e saiu às ruas. A mulher e os quatro filhos não
disfarçam o mal-estar com suas profecias e sacrifícios. "Deus que me perdoe, mas
não tenho coragem de fazer o que ele faz para ir para o céu", confessa Maria
Luciana, 32 anos. Os penitentes e o marceneiro Antonio são herdeiros de uma
mentalidade que hoje a própria Igreja Católica condena – o desprezo do corpo e a
idéia de que o homem tem de que se diminuir para fazer Deus crescer. "Isso é um
desvio da interpretação bíblica. A Igreja quer que Deus e o homem cresçam.
Porque coisificá-lo, subestimá-lo?", critica o pároco de Juazeiro, Murilo de Sá
Barreto, 69 anos.
A maioria dos padres não leva mais ao pé da letra o livro do Apocalipse que o
apóstolo João escreveu no ano de 95 d.c. Na descrição apavorante do evangelista,
sete anjos enviados por Deus derramarão sobre o planeta Sua ira de enfermidades,
pragas, guerras até que venha o juízo final. Orientados pelo papa João Paulo II,
os sacerdotes preparam-se para festejar o terceiro milênio com uma nova
evangelização e ardor missionário. O teólogo dom Estevão Bittencourt, também
monge beneditino e diretor da Faculdade Eclesiástica da Filosofia João Paulo II,
no Rio, considera a postura dos apocalípticos negativa. "A sociedade do século
XX foi desastrosa e as pessoas acreditam que Deus ou qualquer outra entidade
terão uma saída drástica. Mas não existem soluções mágicas ou mirabolantes",
afirma dom Estevão.
Foto: JULIO VILELA / EFEITO PRODUZIDO
FENOMENO Urandir diz que os ETs vão salvar o homem. Eles construiram 49 abrigos
no mundo
Salvação O funcionário público Flávio Lins, 32 anos, do Rio, diretor do Núcleo
de Estudos e Pesquisas de Povos e Ciências Antigas e Desaparecidas, diz que o
eclipse solar irá marcar o aparecimento de novos líderes para guiar os homens.
"Eles são chamados de arquidruidas e merlins. A qualquer momento irão se
manifestar. Vão nos ajudar, porque haverá mortes, manipulação genética da vida,
uma terceira guerra...", sussurra Flávio, olhando para os lados com medo de ser
ouvido. Ele tirou as idéias de um livro, segundo ele, acessível apenas a alguns
privilegiados: As profecias de Merlins, de autor desconhecido.
O pacifismo também seria a principal bandeira dos seres extraterrestres que
Urandir Fernandes de Oliveira diz ter contato. Pesquisador e paranormal, ele
consegue emitir energia luminosa pelas mãos, e garante ter intimidade com seres
de outros planetas desde os 13 anos de idade. "Pela ação do próprio homem o
planeta está passando por transformações climáticas, geológicas e vibracionais
que podem gerar grandes tragédias", explica ele. Caso o caos se instale, Urandir
já tem onde se refugiar. Ele e seus seguidores – que segundo o próprio já são
mais de 150 mil em todo o Brasil – construíram uma cooperativa perto de Campo
Grande, em Mato Grosso do Sul. Urandir diz que os extraterrestres produziram 49
abrigos subterrâneos em diversos pontos do globo para abrigar os humanos quando
o pânico tomar conta da raça. Um deles está no Brasil, mais exatamente nas
proximidades de sua cooperativa. O missionário diz que foi avisado de que
grandes corpos celestes estão vindo em direção ao nosso planeta, mas não vão
colidir, pois uma nuvem de micropartículas – chamada cinturão de fótons – irá
acelerar a órbita do sistema solar a ponto de deslocá-lo no espaço, salvando a
humanidade.
Foto: ANDREA MARQUES
FÉ Flávio Lins, 32 anos, crê que o eclipse fará surgir novos líderes para guiar
os homens
A astronomia ignora o que seja o tal cinturão de fótons. "Essas pessoas usam
jargões científicos e astronômicos para dar credibilidade ao que dizem, só
isso", despreza o pesquisador titular do Museu de Astronomia do Rio, Rogério
Mourão. O astrônomo Jaime Villas da Rocha, do Observatório Nacional, é mais
filosófico: "Sempre que há um fato astronômico de maior relevância, há uma febre
de misticismo. A ciência não resolveu – e talvez não seja sua tarefa – questões
fundamentais sobre o homem e seu destino. Procura-se então respostas imediatas".
Pode ser também que o aumento das preocupações profundamente paranóicas ou
sobrenaturais em nossa cultura resulte da falta de disposição em aceitar as
tecnologias e as capacidades que o homem desenvolveu. Essa é a tese do escritor
americano Douglas Rushkoff, autor do livro Um jogo chamado futuro. "Criando
falsos cultos, as pessoas imunizam-se contra o pânico de ter de se adaptar a um
mundo caótico", sustenta Rushkoff.
Para complicar as coisas, o bug do milênio – a pane geral dos computadores
prevista para o ano 2000 – tem ajudado a justificar a idéia de que estamos
caminhando para o caos. Em torno do tema, criou-se na Internet um verdadeiro
business da sobrevivência. A sigla Y2K é sinônimo para o bug. Significa ano dois
mil (Y vem da palavra ano em inglês e K é o código que na linguagem da
informática representa o milhar). O best seller Y2K – o cenário do crash dos
computadores, do americano John Mrozek, vendeu dois milhões de exemplares em um
ano. Seu alerta principal é: na virada do ano, tudo que depender de computadores
– hospitais, aeroportos, bancos, usinas de energia – entrará em colapso,
deixando a humanidade num caos sem igual.
Serviços Há dezenas de sites oferecendo kits de sobrevivência. Pensou-se em
tudo. Ensina-se a extrair proteínas de insetos e até a manusear arco, flecha e
lanças, para o caso de voltarmos à era das cavernas. O kit mais hilariante é o
Mrs. Survival, dedicado "à mulher prática que se prepara para um futuro
desconhecido". Os autores acreditam que em tempos de guerra as mulheres terão de
sepultar o feminismo e a carreira. Dão dicas valiosas: como criar galinhas e
cabras, lustrar as armas do marido e recorrer às ervas medicinais para cuidar da
família. Por via das dúvidas, o aposentado carioca Carlos de Souza Neves, 77
anos, decidiu vender o apartamento no Rio e comprar um sítio no interior de
Minas Gerais. "Sempre acreditei que o fim viria. Há previsões de que faltará
comida e água. A vida nas grandes cidades ficará difícil. Em Minas a natureza é
abundante".
Foto: ANDREA MARQUES
FARSA Mourão diz que termos como cinturão de fótons servem para enganar
O chamanista Rogério Mariani, 35 anos – adepto das religiões indígenas e membro
do conselho de uma tribo no Canadá –, acha os apocalípticos um pouco exagerados.
Mariani faz parte da legião de esotéricos que aguardam o século XXI com
otimismo. "O homem irá sofrer um salto evolutivo, um despertar", acredita. Ele
soube do eclipse através de um e-mail do índio americano Urso da Lua e irá
saudar o sinal no céus com o som dos tambores e uma fogueira. Na manhã do
eclipse, os membros da Comunidade Eldorado Universal, no Centro do Rio,
reúnem-se em torno de uma uma enorme pirâmide de vidro, com cristais e fogo em
seus interior. Serve para reciclar as energias. "O eclipse marca a entrada na
Era de Aquário, que será a da mente", diz o líder Kauray Manas do Nilo, 68 anos.
Enquanto o fim não chega, cada esotérico programa o que fazer no dia 11. A
livreira paulista Josi Garcia, 32 anos, planeja meditar com um grupo de amigos
no Parque do Ibirapuera. "Em pouco tempo estaremos vivendo com uma nova
consciência", torce. Se o mundo não acabar, o próximo eclipse solar – o primeiro
do terceiro milênio – acontece em 21 de junho de 2001.
Colaborou Bruno Weis (SP)
Escravidão mental
Para o padre Jacques Trouslard, o maior especialista em seitas da França,
devemos é ter medo dos apocalípticos. Segundo ele, são muitos os que esperam o
fim do mundo para o dia do eclipse – a polícia francesa conta pelo menos 30 dos
300 mil franceses adeptos de seitas. "O contraste é violento entre os cientistas
e os charlatões do Apocalipse, que usam o eclipse do sol e o fim do milênio para
manipular, destruir e ganhar dinheiro." Diz que é um erro acreditar que as
seitas são inofensivas, que só afetam um punhado de malucos. "O risco não está
em ser apocalíptica, mas em ser seita. Todas são perigosas. Não falo só por
suicídios. A escravidão mental é pior, é a morte espiritual."
Trouslard alerta ainda que é um engano pensar que os seus adeptos são marginais.
Um estudo revelou que as seitas recrutam seus membros entre intelectuais,
artistas e cientistas. A seita francesa de Saint Erme, que contava com 380
adeptos, tinha 72 médicos e mais de 20 professores universitários! Segundo ele,
não é difícil descobrir por que pessoas esclarecidas podem se deixar levar por
aberrações que cheguem ao suicídio coletivo. "Todos os ex-adeptos relatam
processos de manipulação mental."
O apocalipse deles
Autoridades de vários países estão de olho nas seitas e místicos que esperam
hecatombes, divindades e extraterrestres
OSMAR FREITAS JR. – Nova York
Na França, a polícia e os serviços especiais vão estar em estado de alerta
máximo no dia 11 de agosto. Depois das tragédias do Templo do Sol e do Heaven’s
Gate que promoveram suicídios coletivos, as seitas consideradas perigosas estão
sob vigilância. Segundo o relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito sobre
as Seitas, recém-publicado na França há cerca de 200 delas, com 300 mil adeptos.
No Japão muita gente crê em Nostradamus e vários gurus prevêem o fim do mundo
para 24 de agosto. Depois de Shoko Ashara e dos ataques de gás sarim no metrô de
Tóquio, a polícia aprendeu a levar delírios a sério.
Nos Estados Unidos, o Apocalipse é dado como certo por multidões e tem torcidas
organizadas. A maioria concorda que alguns afortunados serão poupados por
intervenção divina. A dificuldade dos crentes será localizar o Salvador entre os
quase 1.200 profetas auto-aclamados, só nos arquivos do instituto Millennium
Watch, que pesquisa os milenaristas. Para reduzir a confusão, ISTOÉ preparou um
curto guia das tendências apocalípticas.
Eco-Apocalipse — "Os furacões que têm destruído a região central dos Estados
Unidos são anjos enviados pelo Senhor para punir os homens. Eles são os
anunciadores do Apocalipse", garantiu a ISTOÉ o profeta negro Rawhab, na semana
passada. Ele estava sobre uma caixa-palco na Broadway, num dia apocalíptico: os
termômetros marcavam 33° à sombra. "São sinais do Armageddon", disse Rawhab. Ele
comanda com mão-de-ferro a seita Twelve Tribes of Israel, atração turística em
Manhattan. Propõe que nenhum branco sobreviverá às hecatombes e guerras raciais
vindouras. E quem discordar experimenta ali e agora um pouco dos efeitos da
futura guerra. Cortesia dos fiéis de Rawhab.
Concorda com essas idéias Gordon Michael Scallion, de New Hampshire. Ele é um
médium que lidera a seita Earth Changes (mudanças na Terra). Crê na profecia de
Scallion sobre violentos tremores no planeta a partir de 2000. "A Terra é um ser
vivo. Os seres humanos são como micróbios que a destroem. Haverá uma reação
violenta", diz Scallion. Ou seja: a Terra nos sacudirá como um cachorro faz com
suas pulgas.
Messiânicos — O carismático David Koresh, líder do culto Branch Davidian, levou
seus seguidores ao fim dos tempos. Ao pé da letra. Em 19 de abril de 1993, seus
apóstolos morreram no incêndio de seu templo em Waco, Texas, depois de
confrontos com a polícia. Existem outros dizendo ser a encarnação do Cristo, mas
o mais comum são profetas da segunda vinda do Messias. Em pleno Mississippi,
ocorre um estranho ecumenismo. O reverendo pentecostal Clyde Lott, uniu-se ao
rabino ortodoxo Chaim Richman – de Israel – para perpetrar uma vaca sagrada. O
bom reverendo está usando todos os seus conhecimentos empíricos de genética para
criar um bezerro sem nenhuma mancha ou pinta e totalmente vermelho, como os que
eram sacrificado no Templo de Jerusalém – quando este ainda estava em pé. Todo
mundo sabe que para a segunda volta do Messias será necessário que o Templo de
Jerusalém seja reerguido, em sua terceira versão. Ali as cinzas de um bezerro
vermelho cremado serão usadas nos rituais. Como o rabino Richman acredita que o
Messias judeu não virá sem a restauração do templo, a união dos dois religiosos
foi inevitável. Deixaram para depois disputas sobre qual dos messias chegará
primeiro. E eles finalmente conseguiram, depois de cinco anos de tentativas,
gerar a legítima Apocalypse Cow (a vaca do Apocalipse).
O problema é que o endereço exato do Templo de Jerusalém é hoje ocupado pela
Mesquita de Omã – o Templo da Rocha, um dos locais sagrados dos muçulmanos.
Judeus e cristãos fundamentalistas cogitam de resolver isso com dinamite. O que
nos leva aos problemas do local da vinda messiânica.
Jerusalém – Calcula-se que existam hoje em Jerusalém cerca de 500 cristãos
fundamentalistas conspirando para apressar sangrentamente a vinda do Messias.
"Eles planejam executar atos violentos nas ruas de Jerusalém no final do ano",
disse a ISTOÉ o general Elihu Ben-Onn, da polícia israelense. "Esta gente
acredita que assim trará Cristo de volta à vida", relata. Nem todos que vão à
Terra Santa, é claro, são facínoras. Como antecipação da derradeira batalha
entre o bem e o mal, que ocorrerá no final dos tempos, Chuck Missler, da
pacífica Coeur d’Alene, no Estado de Idaho, leva multidões para os locais onde o
pau vai comer. Organiza excursões a Israel, enfocando o Apocalipse. São
cruzeiros marítimos, com escala na ilha de Patmos, onde São João Evangelista
teria escrito a parte do Novo Testamento que revela o Apocalipse. E mais: "Nós
passamos pelo vale do Armageddon, em Israel, e as pessoas podem sentir as
vibrações cada vez mais fortes do lugar", contou a ISTOÉ o próprio Chuck. Um dos
pontos altos do cruzeiro é o baile de máscaras, em que os convidados têm de se
vestir como personagens bíblicos. "É o tipo de atividade que a gente incentiva",
alegra-se o comandante da polícia israelense.
ET vem nos salvar – Também para ufologistas e crentes nos extraterrestres, o
Apocalipse vem. A diferença é que o Messias é verde: o salvador é
extraterrestre. Pensando assim, os membros do culto Heaven’s Gate surpreenderam
a nação em março de 1997. Eles acreditavam que atrás do cometa Hale Bopp,
visível naquela data, vinha uma enorme espaçonave para salvar uns poucos
eleitos. O líder da turma, Marshall Applewhite, 65 anos, convenceu 39 seguidores
a cometer o suicício, como etapa necessária para a viagem de salvação.
Desgraça informática – O medo do vírus apelidado de Y2K está levando multidões
de americanos a preparar verdadeiras fortalezas, bem abastecidas e armadas. Por
causa dessa paranóia, por exemplo, as rações desidratadas (do tipo MRE – usada
pelas Forças Armadas americanas, e com preços no mercado de US$ 69,95 para
pacotes de uma dúzia) tiveram um aumento de 1.500% nos últimos 20 meses. Muita
gente está se unindo em comunidades belicosas e que adotam táticas de "sobrevivencialismo"
– a arte de sobreviver sem depender de ajuda externa. É o caso de Bob Rutz, 67
anos, que montou uma comunidade em Kingston, no Arkansas. Junto da mulher ele
comanda uma fazenda-fortaleza de 700 acres, onde 100 famílias se estabeleceram
em lotes de três acres cada.
Grande parte dos "sobrevivencialistas" acreditam não apenas no vírus Y2K, mas
também na supremacia da raça branca. Imaginam que durante a guerra civil que se
seguirá à parada dos compudadores, as diversas raças vão se digladiar. Na mais
antiga destas comunidades, chamada Elohim City – em Muldrow, Oklahoma –, o
fundamentalista cristão, racista e profeta Robert Milar ensina que haverá uma
invasão asiática da América. Negros, hispânicos e judeus também se juntarão para
acabar com a raça branca. Será a guerra de seis anos, começando no ano 2000. Em
2006 Jesus se revelará e Elohim City viverá um milênio inteiro de paz e
prosperidade. Só com caucasianos. Na mesma linha está a World Church of the
Creator. A organização ficou famosa depois que um de seus membros, Benjamin
Nathaniel, matou e feriu negros, judeus e asiáticos no último dia 4 de julho.
Para estes, a raça é uma religião, sendo que os brancos descendem de Abel e as
outras etnias são herdeiras do sangue de Caim. O que Benjamin fez foi apenas um
trailer da ação final. Ted Daniels, do Millennial Institute, acredita que a
seita, na mira da polícia, tem estabelecidas dezenas de comunidades-fortalezas
no interior dos Estados Unidos. Até dezembro vão derramar mais sangue. É, como
se vê, o fim do mundo.
Colaborou Rosely Forganes (Paris)
O costureiro-profeta
Baseado nas profecias de Nostradamus e de uma beata francesa, Paco Rabanne
previu que no dia 11 de agosto a estação espacial MIR vai cair sobre Paris
carregada de ogivas nucleares. As explosões matarão 20 milhões de pessoas. O
Gers, região do centro da França onde é produzido o famoso foie-gras, também
será destruído. "Eu estava na beira do Sena quando tive uma visão. Centenas de
pessoas queimando vivas e correndo para todos os lados nas ruas de Paris. Os
gritos eram tão aterradores que eu tive de tapar as orelhas. Muitos se jogavam
no Sena, onde continuavam a queimar", descreveu o costureiro-profeta. "Os sinais
que anunciam o drama são o trovão e uma cruz branca sobre Paris, cujo centro
será vermelho. Quando vocês virem esses sinais, fujam! No primeiro dia ainda
será possível escapar. No segundo vocês serão prisioneiros e no terceiro vão
morrer. Então fujam! Eu imploro, fujam!", foi o apelo que ele fez pela revista
L’Evénement.
Segundo Rabanne, o Apocalipse está marcado para o dia 11 porque será "o maior
eclipse do século" e vem acompanhado de uma conjunção astral ainda mais
inquietante. Além disso, invertendo a data 1999, temos 666, o número da Besta,
próximo ao 1, o número de Deus. "É o enfrentamento do Cristo e do anticristo." O
costureiro acredita que cumpre uma missão. "Meu verdadeiro nome é
Rabaneda-Cuervo, ou fatião de pão corvo em espanhol. O corvo é um pássaro
sagrado enviado para anunciar as guerras." A Maison Paco Rabanne, de má vontade,
desmentiu o fechamento no dia e desconversou. Sabe-se, no entanto, que Paco
Rabanne deu férias aos funcionários em agosto e recomendou que fossem para
longe." (Istoé, Nº 1557 – 4
de agosto de 1999).
Rosely Forganes.
Quanta estupidez! E o mundo continuou como é. Nada de anormal.
Eclipses nunca são capazes de causar, por si mesmos, qualquer problema. Só os
imbecis causam problemas com base neles.
Alguns dos fins do mundo que se basearam em cálculos matemáticos: