UM FIM DO MUNDO NA ECONOMIA EUROPÉIA
Anotações para tentar entender o
fim do mundo
15/11/2011 23:55, Por Carta Maior
Anotações para tentar entender o fim do mundoDaniel, de 29 anos, conta o que
espera da Espanha. Em seu país, são cinco milhões de desempregados. Na faixa de
quem tem menos de 30 anos, a proporção dos desempregados é o retrato da
desesperança: 48%. Daniel fala com a serenidade dos que sabem que perderam.
Conta que seus avós fugiram da Espanha para escapar do franquismo. E que ele
também será um imigrante, para escapar da falta de futuro. Quer vir para o
Brasil. O artigo é de Eric Nepomuceno.
"Anotação número 1
Nas fotografias, Mario Monti parece um homem austero. Assumiu a dura tarefa de
montar um novo governo na Itália. A missão desse novo governo, que ocupa o vácuo
deixado pelo bufão Silvio Berlusconi, será aplicar medidas especialmente duras,
o que significa medidas especialmente impopulares, com seu conseqüente custo
político e social.
Mario Monti não parece preocupado com esse tipo de custo: sua principal
preocupação está nos custos financeiros da dívida italiana, de um trilhão e
novecentos bilhões de euros. Sim, porque Mario Monti é um homem de confiança dos
grandes bancos. Diz que pretende montar um governo essencialmente técnico. Quer
substituir políticos por gerentes. Não todos, claro, porque afinal o Parlamento
continua funcionando. Mas quanto mais técnicos houver, mais sossegado ficará o
sacrossanto mercado financeiro.
Os italianos não parecem estar muito preocupados com técnicos ou políticos.
Estão apavorados é com o que virá. Sabem que as medidas serão assustadoras,
muito mais do que estavam prevendo.
Em seu primeiro dia de primeiro-ministro, Mario Monti viu como as bolsas de
valores caíam enquanto subiam vertiginosamente as taxas de juros cobradas pelos
bancos para renovar a dívida italiana. E deve ter descoberto o amargor de
confirmar que nem mesmo ele, homem de confiança do sistema, serviu para acalmar
a fúria dos especuladores. Deve ter descoberto que o sistema não confia em
ninguém.
Anotação número 2
Nas fotografias, Lucas Papademos parece um homem preocupado. Assumiu a dura
tarefa de montar um novo governo na Grécia, pelo menos até as eleições previstas
para fevereiro. Sua missão é aplicar o garrote vil num país vilipendiado. E
começou a todo vapor: anunciou, com bumbos e fanfarras, que o panorama é
catastrófico.
A receita de emergência é conhecida: acelerar as privatizações, acelerar
reformas estruturais, aumentar o desemprego, conseguir correndo oito bilhões de
euros do FMI, do Banco Central Europeu e da União Européia, para pagar as contas
de dezembro. Ao mesmo tempo, arrancar mais 130 bilhões de euros para pagar os
bancos. Montou um governo que chama de “unidade nacional”, com a participação da
extrema-direita e de gente suspeita de ter integrado grupos de paramilitares.
Diz que vale tudo para salvar o país, ou seja,
salvar os bancos credores.
Tão acelerado anda Papademos, que até os conservadores mais conservadores
reclamaram da dureza das medidas impostas pela União Européia e pelo FMI. O novo
primeiro-ministro parece decidido. Tão decidido, que aproveitou o aluvião de más
notícias para dizer que pretende adiar as eleições de fevereiro, porque até lá
não haverá tempo de implantar de vez o garrote.
Anotação número 3
Nas fotografias, Nicolás Sarkozy parece um homem que oscila entre a raiva e a
surpresa. Raiva porque outros países estão pondo em risco a França. E surpresa
porque as medidas que ele e a premiê alemã Angela Merkel impuseram à Grécia e à
Itália não tiveram o efeito esperado: no mesmo dia em que Mario Monti assumiu o
governo italiano, o custo de renegociar a dívida da França aumentou. Ou seja,
essa entidade nebulosa chamada mercado financeiro, os feiticeiros que determinam
os destinos da humanidade, desconfiam cada vez mais da capacidade de seu país
pagar o que deve.
As tremendas medidas de austeridade – é assim que são chamadas, no idioma dos
tecnocratas, as brutalidades cometidas em nome da salvação das finanças –
adotadas por ele não foram reconhecidas. Sarkozy parece surpreso com o rumo das
coisas. Sakozy parece começar a entender que as eleições do ano que vem estão se
transformando num pesadelo.
Anotação número 4
Nas fotografias, José Luis Rodríguez Zapatero tem a aparência óbvia de quem sabe
que está acabado. O candidato de seu partido, o socialista Alfredo Pérez
Rubalcaba, bem que tenta acreditar que antes das eleições de domingo, dia 20,
uma reviravolta irá contrariar as pesquisas e impedir a vitória do direitista
Mariano Rajoy. Nas fotografias, Rubalcaba parece cansado. Mariano Rajoy parece
tranqüilo, enquanto anuncia que vai incentivar a criação de empregos. Ninguém
acredita.
Anotação número 5
Daniel, de 29 anos, conta o que espera da Espanha. Em seu país, são cinco
milhões de desempregados. Na faixa de quem tem menos de 30 anos, a proporção dos
desempregados é o retrato da desesperança: 48%. Daniel fala com a serenidade dos
que sabem que perderam.
Conta que seus avós fugiram da Espanha para escapar do franquismo. E que ele
também será um imigrante, para escapar da falta de futuro. Quer vir para o
Brasil.
Anotação número 6
Leio, num jornal especializado em economia, o seguinte título: “Apetite
americano para socorrer Europa é pequeno”. Poucas vezes a palavra “apetite” foi
tão bem empregada. Nesse festim das hienas, falta apetite para socorrer quem
quer que seja.
http://correiodobrasil.com.br/anotacoes-para-tentar-entender-o-fim-do-mundo/328754/
"...acelerar as privatizações, acelerar
reformas estruturais, aumentar o desemprego, conseguir correndo oito bilhões de
euros do FMI, do Banco Central Europeu e da União Européia".
Enfim, o autor do texto não camufla as coisas como muitas vezes vemos,
diz a verdade. E fala o significado real de "salvar o país":
salvar os bancos credores.
Pobres gregos! Ficarão bem mais pobres por muito tempo. E será que
se levantarão dessa queda? Privatizações significa jogar fora
o patrimônio público. "Aumentar o desemprego", o que vem acompanhado de "reduzir
salários", só pode resultar em muito menor arrecadação de impostos. Aí
aumentam os impostos para compensar as perdas. Os bancos ganham, mas o
povo perde, e muito!
E o pior, segundo
denuncia alguém no Facebook, certamente na Espanha, todos continuam pagando caro
para a igreja. Vejam imagem abaixo: