FORÇAS ARMADAS NÃO SÃO PODER MODERADOR
Toffoli, presidente do STF, diz que Forças Armadas não são poder moderador
O presidente do STF também fez questão de se defender de críticas feitas a sua
atuação, como presidente da Corte, junto ao governo Bolsonaro
(Agência Brasil/Marcelo Camargo)
Por Estadão
ConteúdoPublicado em 20/06/2020
O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, defendeu o papel
da corte como guardiã da Constituição e afirmou não ser mais possível dizer que
as Forças Armadas são um poder moderador. O ministro fez as declarações em
palestra virtual para juristas e estudantes de Direito na manhã deste sábado,
20.
Na ocasião, disse que o artigo 142 da Constituição tem sido equivocadamente
interpretado para tentar atribuir, às Forças Armadas, uma possível função de
instituição moderadora. "Quem é o guarda da Constituição é o Supremo Tribunal
Federal. Não é mais possível Forças Armadas como poder moderador", disse.
O ministro afirmou que a Constituição de 1988 trouxe uma nova realidade cultural
para o Brasil, "pela sua participação e pelo pacto que se construiu" entre
todos. "É um pacto possível que foi feito e o Supremo é o guardião desse pacto.
Ninguém mais. Obviamente que todos têm de cumprir a Constituição e todos são
guardiões da Constituição. Mas o guardião último é o STF", disse.
Preocupado com as interpretações recentes e equivocadas da Constituição, o
ministro afirmou que, em 1964, as Forças Armadas "foram chamadas para exercer
esse poder moderador", mas "ficaram no poder por 20 anos".
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Durante uma longa explanação, Toffoli minimizou, no entanto, a responsabilidade
das Forças Armadas pelo golpe de 1964. Citando vários juristas, argumentou que
foi "conveniente", tanto para a esquerda quanto para a direita, "colocar toda a
responsabilidade" do "movimento" sobre as Forças Armadas.
"Em Brasília, não se fala nem revolução nem golpe. Torquato Jardim (jurista e
ex-ministro do TSE) fala movimento, para não criar nenhum desentendimento em uma
mesa de debate. A ideia de movimento não desagrada nenhuma das partes. Foi
conveniente para esquerda e para a direita colocar toda a responsabilidade nas
Forças Armadas", disse. "Os dois lados erraram, a elite brasileira e a esquerda
erraram."
Toffoli citou uma biografia de Castello Branco, do escritor Lira Neto, para
dizer que o "movimento" militar foi apoiado pela elite e pela sociedade. "Os
militares entram para fazer a transição e, em vez de fazer a transição, eles
ficam no poder por 20 anos".
O presidente do STF também fez questão de se defender de críticas feitas a sua
atuação, como presidente da Corte, junto ao governo Bolsonaro. "Muita gente não
gosta de mim, mas sou o presidente do STF. Sou aquele que será o interlocutor do
STF nas relações político-institucionais e na condução da Corte", afirmou,
defendendo, ao concluir, que as cortes constitucionais se tornaram poder
moderador e que esse poder moderador tem que ser usado com prudência. "Direito é
prudência, daí, Jurisprudência."
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