FORÇAS EM VEZ DAS FRAQUEZAS
"Focar nas forças ao invés de focar nas
fraquezas
Frederico Porto
Devido a um efeito da concepção religiosa e ao mesmo
tempo da teoria da evolução de que não estamos prontos –
e deixo bem claro aqui que eu acredito estarmos todos em
um processo evolutivo, somos um eterno “vir-a-ser”, O
efeito colateral deste paradigma é que tendemos a buscar
o desenvolvimento através do exercício de nossos pontos
fracos, ao invés de exercitar os pontos fortes. Pensamos
assim: nisso eu já sou bom, qual fraqueza eu preciso
exercitar?
O filho é um ótimo aluno de história, biologia e
geografia, mas não tão bom em matemática. O que fazemos?
Colocamos o filho na aula particular de matemática, e
nunca alimentamos a sua curiosidade e facilidade para as
suas forças.
Esse padrão se manifesta na medicina, que estuda a
doença acreditando que, assim, iremos entender a saúde,
e na psicologia, que pesquisa os motivos do divórcio
para entender os casamentos duradouros.
O mesmo acontece nas empresas, porque se acredita que
podemos desenvolver qualquer habilidade, ou seja,
qualquer um pode aprender qualquer coisa, bastando,
praticar. Acontece que em um mundo competitivo como o
que vivemos, não basta sermos razoáveis. Temos de ser
acima da média, extraordinários, e somente chegamos
nesse nível se praticarmos as nossas forças e não as
nossas fraquezas. Aliás, segundo um estudo do Instituto
Gallup, somente 20% dos executivos relataram que
exercitavam as suas forças no ambiente de trabalho.
As nossas forças, ou nossos talentos, são expressos
naquelas atividades que desempenhamos com mais
facilidade. Isso envolve uma estrutura neurológica por
trás, ou seja, por conta da carga genética e dos
estímulos que recebemos durante a vida, formamos redes
de neurônios, e, algumas dessas redes se tornam mais
desenvolvidas, sendo elas relacionadas às atividades que
fazemos com mais facilidade. A analogia seria a sua mão
dominante: você não tem de pensar para saber qual mão
prefere usar, se a esquerda ou a direita; há uma
preferência neurológica por uma delas, o que aconteceria
também com nossos talentos.
Provavelmente, uma parte do talento é genética e
outra é prática, não há como separar.
Atualmente, diversos estudos têm demonstrado que os
indivíduos mais destacados são também aqueles com maior
número de horas de prática, ou seja, Pelé é Pelé
porque teve a carga genética e também era dedicado nos
treinos. As pesquisas demonstram que temos de ter
10.000 horas de prática para nos tornarmos bons em
determinada área, o que corresponde a quatro horas
diárias de prática por dez anos. Provavelmente, o que o
talento possibilita é atingir um ápice antes de 10 mil
horas de prática.
Não é necessário dizer que, com sua prática de tênis
duas horas por semana, você irá demorar 5 mil semanas
para ficar bom, isto é, para chegar ao seu ápice. Isso
corresponde a mais de 100 anos.
Aqui voltamos à velha história de que, primeiramente,
você tem de se conhecer, compreender as suas forças. Uma
das maneiras de descobrir é fazendo uma reflexão sobre
as suas maiores realizações e sobre quais talentos
utilizou com mais frequência nesses momentos; a outra
maneira é perguntar aos seus colegas e familiares sobre
o que percebem como suas forças.
A partir dessa compreensão, você pode avaliar se em sua
vida atual você tem exercitado suas forças e pensar em
como aumentar esse exercício, e, agora sim, qual dos
seus pontos fracos pode estar interferindo na expressão
mais plena do seu talento. Exemplo: você é um artista,
mas chega sempre atrasado, ou seja, o desrespeito ao
tempo pode estar prejudicando sua carreira e
interferindo na manifestação maior do seu talento. A
prática do talento, por sua vez, é importante ressaltar,
é uma prática deliberada, focada – o jogador de futebol
pratica durante horas um determinado ângulo de chute.
Ele, que já chuta bem, quer chutar melhor ainda, e tem
de escolher o que praticar. O nadador, além do treino
geral, pratica a largada, ou a virada, e assim por
diante.
Exercitar nossas forças não é somente uma questão de ter
sucesso, mas de experienciar um estado de
autorrealização, como disse o psicólogo Abraham Maslow:
“Se você deliberadamente planejar ser menos do que você
é capaz de ser, então, eu o previno que você será
profundamente infeliz pelo resto de sua vida”.
Portanto, descubra seus talentos, exercite-se,
coloque-os em prática, pois este é certamente um dos
caminhos para a felicidade.
Artigo publicado no Jornal Corporativo
em 16 de março de 2010
Frederico Porto
Ver mais