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HOMO NALEDI, NOSSO ANCESTRAL DE DOIS MILHÕES
DE ANOS
Esse cara pode ter sido o ancestral da humanidade inteira
O Homo naledi encaixa-se perfeitamente como um elo
entre o australopiteco e o Homo erectus. E isso
é mais importante do que parece.
Por Alexandre Versignassi Atualizado em 12/09/2015
Homo naledi John Gurche / Mark Thiessen
/ National Geographic
A história da nossa espécie tem um
buraco. A teoria mais aceita é a de que somos descendentes dos australopitecos -
macaquinhos bípedes e frágeis, que na fase adulta tinham a compleição física de
uma criança de 5 anos. Eles viveram há 3 milhões de anos, e, ao que tudo indica,
não eram muito mais brilhantes que um chimpanzé. O marco seguinte da evolução é
o Homo erectus, de 1,8 milhão de anos atrás. Ele já é praticamente um Homo
sapiens, um homem moderno. Chegava a 1,70 m e tinha feições humanas o bastante
para passar despercebido se botasse um terno e fosse passear na Avenida
Paulista. Além disso, era um gênio: dominava o fogo melhor do que você (já que
sabia acender churrasqueira sem fósforo, coisa que você não faz), e desenvolvia
armas que, para a realidade da época, equivaliam a caças stealth - pontas de
lança capazes perfurar o couro de uma gazela das savanas africanas, seu habitat
natural. E ele gostava de viajar também. Muitos erectus saíram da África. Os que
foram para a Europa e fincaram raízes por lá evoluíram até se tornar uma versão
alternativa de sapiens: o neandertal - que tinha até um cérebro maior que o
nosso, ainda que não soubesse usá-lo tão bem. Outros erectus popularam a Ásia,
dando origem a vários tipos de hominídeo que não vingaram, e acabaram extintos -
como também aconteceria com o neandertais. Os erectus que se deram bem mesmo
foram os que ficaram na África, porque há 200 mil anos eles originaram você, o
Homo sapiens.
Bom, o fato é que que tem alguma coisa faltando nessa história: como é que um
macaquinho de um metro como o australopiteco deu um salto evolutivo e virou, de
cara, um glorioso erectus?
O único primata prós-australopiteco que a ciência considerava como ancestral
direto do erectus (e de nós) era o Homo habilis, de mais ou menos 2,5 milhões de
anos atrás. Só tem um problema: o habilis (que ganhou esse nome porque,
aparentemente, fabricava ferramentas) sempre esteve muito mais para
australopiteco do que para erectus. O buraco, na prática, continuava basicamente
o mesmo. Faltava um elo melhor ali.
Mas só até agora, porque na última quarta-feira os paleontólogos Lee Berger e
Paul Dirks, que trabalham em universidades da África do Sul, descobriram fósseis
de uma nova espécie do gênero Homo, o nosso gênero. Batizado de Homo naledi
(pronuncia-se "naledí"), ele é basicamente um híbrido de habilis com erectus -
com feições que mesclam características de primatas mais antigos com traços
definitivamente humanos, como mostra a concepção artística lá em cima, feita com
base em um crânio quase completo. E viveu há 2 milhões de anos, justamente no
vácuo temporal que separa o habilis do erectus. Ou seja: ele pode ser um dos
elos perdidos que faltavam à nossa evolução. "Pode ser" porque nada impede que o
naledi seja só uma linhagem paralela (como é o caso dos próprios neandertais,
que não são nossos ascendentes, mas meros primos).
De qualquer forma, a aparência desse hominídeo, encontrado numa rede de cavernas
perto de Joanesburgo, indica que, sim, a possibilidade de ele ser nosso
ancestral direto é grande. Se for isso mesmo, vale lembrar uma curiosidade
matemática. Os geneticistas sabem que, se você voltar no tempo o bastante
(alguns milhares de anos), todos os seres humanos vivos naquela época, e cujos
descendentes chegaram até aqui, sem quebra na linhagem, pode ser considerado
como ancestral comum da humanidade inteira - um único sujeito que é tatata(...)tataravô
ao mesmo tempo de você, da Angela Merkel, de Jesus Cristo, enfim, de todos os
humanos que passaram pela Terra alguns milhares de anos depois dele. Essa regra
naturalmente, se estende até os hominídeos (e até as bactérias de 3 bilhões de
anos atrás, se você puxar a árvore genealógica o bastante). Sendo assim, o dono
do crânio ali em cima pode ser do próprio Adão em pessoa (ou "em hominídeo", se
preferir). Mais especificamente, de um dos muitos adões que construíram a
história do gênero Homo na face da Terra. Uma história que continua sendo
escrita. Agora, por você.
<http://super.abril.com.br/ciencia/esse-cara-pode-ter-sido-o-ancestral-da-humanidade-inteira>
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CIÊNCIA
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