Seita do jejum para 'encontrar
Jesus' acumula mais de 300 mortes no Quênia
O número ainda pode crescer, já que mais de 600 pessoas ainda estão
desaparecidas; fiéis eram instruídos a jejuar para
entrar no céu no dia do 'fim do mundo'
Por Agências
Publicado em 13 de junho de 2023
Mortos seguiam a Igreja
Internacional das Boas Novas, liderada pelo autodenominado pastor
Paul Mackenzie
Foto: YASUYOSHI CHIBA / AFP
A seita que levava pessoas a fazer jejum para "encontrar Jesus" foi responsável
por 303 mortes no Quênia, de acordo com atualização desta terça-feira (13). O
número, que já faz do caso uma das piores tragédias relacionadas a cultos na
história recente, ainda pode crescer, já que mais de 600 pessoas ainda estão
desaparecidas, segundo autoridades locais.
A cifra aumentou após 19 corpos serem exumados de valas comuns na floresta de
Shakahola, no sudeste do país - um resultado da expansão das buscas para cobrir
uma área maior do local em que as vítimas eram enterradas, de aproximadamente
300 hectares.
Os mortos seguiam a Igreja Internacional das Boas Novas, liderada pelo
autodenominado pastor Paul Mackenzie. Segundo as investigações, ele instruía
seus seguidores a deixarem de comer para entrarem no céu no dia 15 de abril -
data em que, segundo ele, o mundo acabaria. O caso ganhou notoriedade no final
de abril deste ano, quando autoridades encontraram dezenas de corpos, a maioria
de crianças, enterrados em Shakahola.
Dias depois, autópsias revelaram a ausência de órgãos nos corpos das vítimas,
segundo documento obtido pela agência de notícias AFP. O texto menciona tráfico
de partes humanas num esquema "bem coordenado, com participação de vários
atores".
No início deste ano, Mackenzie já havia sido preso sob suspeita de ter
assassinado duas crianças por fome e sufocamento. Posteriormente, porém, foi
libertado e, segundo seus seguidores, voltou para a floresta e antecipou a data
prevista para o fim do mundo de agosto para abril.
Pelo episódio mais recente, o líder está preso sob a acusação de fazer uma
lavagem cerebral nas vítimas. Em outra frente da investigação, a Direção de
Investigações Criminais (DCI) pediu, quando os corpos foram descobertos, o
bloqueio das contas bancárias do pastor Ezekiel Odero, suspeito de envolvimento
no caso.
Segundo o DCI, Odero recebeu "enormes quantias em espécie" de seguidores de
Mackenzie. Testemunhas contam que receberam do líder religioso pedidos para que
vendessem suas propriedades. O advogado do pastor, George Kariuki disse à
agência de notícias Reuters no início de maio que a polícia não deveria focar
apenas uma pessoa nas investigações, mas "manter a mente aberta para desvendar a
bagunça" do caso.
Cerca de 65 seguidores da seita resgatados foram acusados de tentativa de
suicídio nesta segunda (12) -no país, tentar tirar a própria vida é um crime
punível com até dois anos de prisão, multa ou ambas as penalizações. Segundo a
mídia local, as vítimas se recusaram a comer entre 6 e 10 de junho, durante sua
estadia em um centro de resgate.
O ministro do Interior, Kithure Kindiki, expressou preocupação no mês passado
com o fato de alguns dos seguidores resgatados estarem em jejum. Um deles havia
morrido, disse na ocasião. (FOLHAPRESS)