JIM JONES E O SUICÍDIO COLETIVO


Jim Jones
Nome completo James Warren Jones
Nascimento 13 de maio de 1931
Condado de Randolph, Indiana
Flag of the United States.svg Estados Unidos da América
Morte 18 de novembro de 1978 (47 anos)
Jonestown, Guiana

James Warren "Jim" Jones (Condado de Randolph, Indiana, 13 de maio de 1931 – Jonestown, 18 de novembro de 1978) foi o fundador e líder do culto Templo dos Povos, famoso devido ao suicídio/assassinato em massa em novembro de 1978 de 918 dos seus membros em Jonestown, Guiana,[1] além do assassinato do congressista Leo Ryan e de quatro mortes adicionais em Georgetown, capital guianense. Quase 300 crianças foram assassinadas em Jonestown, quase todas por envenenamento por ingestão de cianeto.[2] Jones morreu de um ferimento de bala na cabeça; suspeita-se que sua morte foi um suicídio.

Jones nasceu em Indiana e começou o Templo do Povo na década de 1950. Ele mudou a sua seita para a Califórnia em meados dos anos 1960 e ganhou notoriedade com o movimento da sede da igreja em São Francisco, no início de 1970.

Infância e formação

Jim Jones nasceu em Creta, uma pequena cidade do Condado de Randolph, no interior do estado de Indiana, Estados Unidos.[3][4] Filho de James Thurman Jones (1887–1951), um veterano da Primeira Guerra Mundial, e Lynetta Putnam (1902–1977), que acreditava que tinha dado à luz um messias.[5][6] Ele era descendente de irlandeses e de galeses.[7] A alegação de Jones de que teria ascendência indígena cherokee, por parte da mãe, nunca foi comprovada.[7]

A infância de Jim se passou no período da Grande Depressão causada pela crise econômica de 1929, o que obrigou os Jones a se estabelecerem perto de Lynn, em 1934.[2][8] Após a separação dos pais, a mãe de Jim mudou-se com os filhos para Richmond, também em Indiana, onde ele concluiu seus estudos em 1948. No ano seguinte, Jim casou-se com Marceline Baldwin, uma enfermeira,[9] e em 1951 finalmente mudou-se para Indianápolis, onde viveu uma década.[10]

Desde a infância, Jim Jones mostrou inclinações místicas e na juventude foi um leitor dedicado de obras políticas e sociais. Também demonstrou simpatia pelo marxismo e pelas reivindicações dos afro-americanos contra a segregação e a discriminação racial, sintetizadas então na militância do ator Paul Robeson, e na candidatura progressista de Henry A. Wallace à presidência dos Estados Unidos, em 1948.

Nessa época, Jones desenvolveu suas ideias sobre a ação política e também começou a buscar uma expressão destas dentro da religião. Em 1952, tornou-se estudante em um seminário metodista, do qual foi expulso por defender a integração racial, e trabalhou algum tempo junto aos batistas do Sétimo Dia.
 

O Templo dos Povos

Em 1954, Jones criou a sua própria igreja em uma área da cidade racialmente integrada. O culto recebeu vários nomes até adquirir a denominação definitiva de Peoples Temple Christian Church Full Gospel (Templo dos Povos: Igreja Cristã do Evangelho Pleno), em 1959.[11]

Através do Templo, Jim Jones adquiriu notoriedade e apoio político e da mídia em Indianápolis, contribuindo para por fim à segregação racial em departamentos públicos, restaurantes e hospitais. Em 1960, o prefeito democrata Charles Boswell o nomeou como diretor local da comissão de direitos humanos. No entanto, Boswell e Jones acabaram entrando em atrito quando o líder do Templo foi agredido em uma reunião do NAACP.[11]
 

Família Arco-Íris

Jim e Marceline incentivaram a adoção de crianças de raças diferentes pelos membros de sua igreja. Em 1954, começaram eles próprios a sua Rainbow Family (família “arco-íris”) ao adotar Agnes, uma nativa americana de 11 anos. Nos anos seguintes, os Jones adotaram três órfãos de guerra coreanos, um afro-americano (o primeiro a ser adotado por um casal branco no estado de Indiana, em 1961) e um branco. O casal teve apenas um filho biológico, chamado Stephen Gandhi Jones.

Jim Jones também foi atacado por racistas brancos, que fizeram sucessivas ameaças à sua vida e aos integrantes do Templo, embora seja possível que o próprio Jones tenha manipulado algumas dessas reações em favor de sua pregação político-religiosa.

Cidades onde Jones esteve

Depois de um discurso em 1961 sobre o apocalipse nuclear e depois de listar Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil, em um artigo de janeiro de 1962 na revista Esquire, como um lugar seguro em uma guerra nuclear, Jones viajou com a sua família para a cidade com a ideia da criação de um novo local para o Templo.[12] Em seu caminho ao Brasil, Jones fez sua primeira viagem para a Guiana, então ainda uma colônia britânica.[13]

Após chegar em Belo Horizonte, Jones alugou uma modesta casa de três quartos.[14] Ele estudou a economia local e a receptividade das minorias raciais com a sua mensagem, embora o idioma tenha permanecido como uma barreira.[15] Jones tomou cuidado para não retratar a si mesmo como um comunista em território estrangeiro e falava de um estilo de vida comunitário apostólico e não de Castro ou Marx.[16]

No entanto, a falta de recursos na região fez com que Jones e seus seguidores se mudassem para o Rio de Janeiro em meados de 1963,[17] onde eles trabalharam com os pobres em favelas cariocas.[17] Jones também explorou o sincretismo das religiões brasileiras.[18]

Jones foi atormentado pela culpa de deixar para trás Indiana e a luta pelos direitos civis e, possivelmente, perder tudo o que ele tinha tentado construir lá.[17] Quando os pregadores associados a Jones em Indiana lhe disseram que o Templo estava prestes a entrar em colapso sem ele, Jones voltou aos Estados Unidos.[19]
 

O Templo em São Francisco


Rev. Cecil Williams e Rev. Jim Jones em um protesto em frente ao International Hotel em São Francisco, janeiro de 1977.

A perspectiva de guerra nuclear – Jones faria uma nova previsão para 15 de julho de 1967 – continuou alimentando os objetivos de expansão de seu culto. Ainda em 1965, Jones começou a transferir a comunidade do Templo dos Povos para Ukiah, na região do vale das sequoias, no estado da Califórnia. Em 1970, já existiam sucursais do Templo em San Francisco e Los Angeles.

O movimento se expandia no país através de caravanas, distribuição de folhetos (especialmente entre viciados em drogas e sem-teto), concentrações em grandes cidades (como Houston, Detroit e Cleveland) e reuniões de testemunho. No entanto, todas as reuniões eram sediadas em San Francisco, que tornou-se a sede da organização em 1972. Em seu auge, em meados dos anos 70, o Templo dos Povos reuniu cerca de 3 mil membros, dos quais 70 a 80% eram afro-americanos pobres. Estatísticas exageradas do próprio movimento subiam seu número para 20 mil pessoas.

As finanças do movimento provinham de doações de seus membros ou de pessoas influentes. Objetos pessoais de Jones e amuletos eram também vendidos e o Templo chegou a ter estação de rádio e sua própria gravadora de discos.
 

Casas em Jonestown, Guiana

Após denúncias motivadas pela deserção de oito jovens membros da igreja em 1973, o grupo dirigente do Templo se fechou em torno de Jones e sua liderança pessoal. A partir de então, relatos de ex-membros registram planos e simulações de suicídio coletivo.

Em 1974, o Templo arrendou uma gleba de terra na Guiana, junto à localidade de Port Kaituma, próximo à fronteira com a Venezuela. Ali Jones, com sua família, pretendia erguer o “Projeto Agrícola” do Templo dos Povos, formando a comunidade informalmente denominada de Jonestown.[20] Os primeiros 50 residentes, transferidos da igreja em San Francisco, chegaram em 1977. No ano seguinte, já eram mais de 900 (dos quais 68% eram afro-americanos).[21].

Tratava-se de uma tentativa de construir uma comunidade rural autossustentável em um local com solo pobre e com pouca água doce. Além disso, a comunidade estava superpovoada quando se leva em conta os recursos disponíveis nas proximidades. Essas circunstâncias que contribuíram para a deterioração das condições de vida no local[22].

Ao mesmo tempo em que o fisco público fechava o cerco contra a isenção de impostos usufruída pelo Templo, Jones se referia de forma hostil ao governo dos Estados Unidos como o Anticristo, em rápida marcha em direção ao fascismo, e ao capitalismo como o regime econômico do Anticristo.

Além disso, pesaram contra Jones acusações de sequestro de crianças de ex-integrantes que tinham abandonado o Templo. Outras denúncias incluíam: 1) ameaças físicas, morais e mentais diretamente aos membros da seita, separados de qualquer contato com suas famílias; 2) tortura psicológica, com privação de sono e de alimentos; 3) exigência de entrega de propriedades e 25% da renda de cada membro da seita; 4) interferências de Jones na escolha do casamento e na vida sexual dos casais; 5) isolamento das crianças em relação aos seus pais; 6) campanha constante junto à mídia para dar uma impressão favorável e boa a Jones e ao Templo.
 

Assassinato de Leo Ryan
Congressista Leo Ryan

O próprio Jones foi acusado de manter sob sua custódia John Victor Stoen, filho biológico de Timothy Stoen, que deixara o Templo em 1977. Stoen apelou ao congressista democrata Leo Ryan, para apelar pela custódia do filho junto ao presidente guianense Forbes Burnham. Em novembro de 1978, o Congresso dos Estados Unidos autorizou uma viagem de Leo Ryan para a Guiana (com a assistência de repórteres da NBC, para investigar as acusações de sequestro movidas contra Jones, bem como informações de que os membros da comunidade em Jonestown viviam miseravelmente.[23][24]

Ryan e sua comitiva foram recebidos calorosamente em Jonestown, em 17 de novembro de 1978, o que gerou um comentário positivo do congressista a respeito das condições de vida na comunidade isolada na floresta. Porém, no dia seguinte, a deserção de alguns membros da comunidade (que quiseram se reunir ao retorno da comitiva) criou um clima de tensão no local. Jones concordou com a saída, denunciando os desertores como traidores, e à tarde, Ryan foi atingido por um ataque desferido com faca e teve que apressar a retirada de Jonestown.[25]

Ao chegar à pista de pouso do Port Kaituma, o avião que deveria levar Leo Ryan e sua comitiva foi alvejado pela guarda que fazia a segurança de Jim Jones. Ryan, três repórteres e uma ex-integrante do culto foram mortos. Foi a única vez em que um congressista dos Estados Unidos foi assassinado no cumprimento do dever.[26]
 

Massacre

Mais tarde, naquele mesmo dia, os 909 habitantes de Jonestown,[27] incluindo 304 crianças, morreram de envenenamento por cianeto, principalmente em torno pavilhão principal do assentamento.[28] Isto resultou no maior número de civis estadunidenses mortos em um ato deliberado até os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001.[29] O FBI recuperou mais tarde uma gravação de áudio de 45 minutos do suicídio em andamento.[30]

Na gravação, Jones diz aos membros do Templo que a União Soviética, país com o qual o culto tinha negociado um êxodo em alguns meses, não iria levá-los após os assassinatos do congressista Leo Ryan e de membros da imprensa.[31] A razão dada por Jones para cometer suicídio foi consistente com a sua declaração anterior sobre agências de inteligência que supostamente conspiravam contra o Templo, ao dizer que eles iriam "atirar em alguns dos nossos bebês inocentes" e "torturar nossos filhos, torturar alguns dos nossos membros, torturar nossos idosos".[31]

Jones e vários membros passaram então a argumentar que o grupo deveria cometer um "suicídio revolucionário" ao beber suco de uva com cianeto e sedativos.[31] Quando os membros gritaram, aparentemente, Jones aconselhou: "Parem com essa histeria! Este não é o caminho para as pessoas que são socialistas ou comunistas morrer. Este não é jeito que nós vamos morrer. Devemos morrer com um pouco de dignidade."[31] Jones podia ser ouvido dizendo: "não tenha medo de morrer" e que a morte é "apenas uma passagem para outro plano" e que é "uma amiga".[31] No final da fita, Jones conclui: "Nós não cometemos suicídio; cometemos um ato de suicídio revolucionário para protestar contra as condições de um mundo desumano."[31]

O suicídio em massa tinha sido previamente ensaiado em eventos simulados chamados "Noites Brancas" com alguma regularidade.[32][33] Durante pelo menos uma dessas "Noites Brancas", membros beberam um líquido que Jones disse-lhes falsamente que era veneno.[32][33]

De acordo com membros do Templo que conseguiram escapar, as crianças receberam a bebida primeiro e as famílias foram orientadas a deitarem-se juntas[34]. Segundo Oddel Rhodes, um dos sobreviventes, uma mulher chamada Christine Miller tentou, sem êxito, se opor ao massacre. Além disso, o grupo estava cercado por guardas armados que impediram a fuga de quase todos os que discordaram daquela decisão[35] [36] [37]. Leslie Mootoo, o primeiro médico que chegou ao local logo após o evento, sustentou a tese de que maioria das mortes foi homicídio e não suicídio, com base no fato de que 83 dos 100 corpos, que ele examinou, tinham perfurações de agulha nas costas de seus ombros, o que indica que o veneno foi injetado contra a vontade das vítimas[38] [39]. Outros sobreviventes, como os advogados Charles Garry e Mark Lane, relataram que ouviram gritos e tiros quando estavam escondidos na floresta[35].

Jones foi encontrado morto em uma cadeira de praia com um tiro na cabeça, ferimento que o legista guianense Cyrill Mootoo declarou ser consistente com uma ferida de bala auto-infligida.[40] No entanto, o filho de Jones Stephan acredita que seu pai pode ter pedido para que alguém atirasse contra ele.[41] Uma autópsia do corpo de Jones também apresentou níveis altos do barbitúrico Pentobarbital que pode ser letal para os seres humanos que não desenvolveram tolerância fisiológica.[42] Jones fazia uso de drogas (como LSD), o que foi confirmado por seu filho, Stephan, e o médico de Jones em São Francisco.
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Jim_Jones>
 

Embora o cristianismo incrimine o suicídio, o mestre religioso deve ter tido bons argumentos para justificar a prática diante desse grande número de pessoas, que devem ter se matado confiantes de que iriam para a vida eterna e sem sofrimento.

 

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