Caso chocante de descumprimento da
lei por juízes influenciados por religião leva magistrados a serem investigados.
Mas isso pode ainda piorar.
"CNJ investiga magistrados por negar aborto a
menina estuprada no Piauí
Os magistrados do Tribunal de Justiça do Piauí serão investigados por suspeita
de negligência e omissão.
Davi Fernandes
Teresina - Piauí
1 de janeiro de 2024 | 18h00 - Atualizada 18h08
O Corregedor Nacional de Justiça e ministro do Superior Tribunal de Justiça,
Luis Felipe Salomão, abriu um Processo Administrativo Disciplinar, no último dia
18 de dezembro, contra as juízas Maria Luiza de Moura Mello e
Elfrida da Costa
Belleza e o desembargador José James Gomes Pereira, do Tribunal de Justiça do
Piauí, por suspeita de negligência e omissão, ao negar aborto legal para uma
menina de 11 anos que engravidou duas vezes, após ser estuprada na zona rural de
Teresina. O suspeito do crime foi o tio da criança, preso pela Polícia Civil em
janeiro de 2023.
Segundo o ministro Luís Felipe Salomão, os magistrados violaram os direitos da
criança e praticaram violência institucional por meio de abuso de autoridade.
Eles serão mantidos em seus respectivos cargos durante a apuração dos fatos, que
pode resultar em punições como advertência, censura, remoção ou aposentadoria
compulsória.
A juíza Maria Luiza tinha se declarado suspeita por “motivo de foro íntimo” e
não analisou o pedido de realização de aborto legal formulado pelo Ministério
Público, que alegou que a menina já havia manifestado que não queria seguir com
a gestação. A juíza demorou 21 dias para se afastar do caso, o que, para o
corregedor, pode indicar “suposto retardamento e omissão” na proteção da criança
vítima de violência.
Já a juíza Elfrida nomeou a Defensoria Pública do Piauí como defensora dos
interesses do feto, uma medida que não tem previsão constitucional. Ela também
ouviu a mãe da menina, que era contrária ao aborto legal, e
a própria vítima,
que já tinha sido ouvida pela equipe técnica da Vara da Infância e reafirmou seu
desejo pela interrupção. O corregedor considerou que essas audiências foram
desnecessárias e atrasaram o atendimento médico e psicológico da menina.
O desembargador José James foi responsável por julgar um recurso do Ministério
Público contra a decisão da juíza Elfrida, que negou o aborto legal. Ele
manteve
a sentença e afirmou que a menina deveria levar a gestação até o fim, mesmo que
isso representasse risco à sua saúde física e mental. O corregedor entendeu que
o desembargador agiu com “desprezo à dignidade humana” e “desrespeito à
legislação vigente”.
O corregedor nacional de Justiça Luís Felipe Salomão destacou que, em casos como
o da criança de 11 anos em questão, a realização do aborto legal não depende de
autorização judicial, mas sim de avaliação médica e psicossocial. Ele asseverou
ainda que a conduta dos magistrados “impossibilitou o atendimento médico
imediato e desburocratizado, que deveria ter sido oferecido à infante, de modo a
evitar o prolongamento do seu sofrimento”.
Outro lado
As duas juízas e o desembargador não foram localizados pelo GP1. A assessoria de
comunicação da Associação dos Magistrados Piauienses (Amapi) também foi
procurada, mas não houve retorno até a publicação desta reportagem.
Se havendo lei em favor da vítima,
juízes influenciados pela religião já descumprem a lei, imaginem se o
PL 1.904/2024, de
Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), for aprovado!!! Nenhuma vítima de
estupro escapará mais da punição. Será o retorno à barbárie
medieval, com risco para a vida de muitas meninas.