A maior prova de que deus é uma criação da mente humana está na
mudança das crenças ao longo do tempo. Em uma época, diz a Bíblia, o deus
criador deu uma verdade aos homens inspirados. Em tempo posterior, outros homens
inspirados revelaram verdades divinas muito diferentes das antigas. Se fosse
realmente uma verdade, ela não se teria mudado no decorrer da história. Deus (Yavé),
dizem, prometeu aos seus homens longa vida, prosperidade e descendência
numerosa. Muitos séculos depois, diz-se que o mesmo deus prometeu que
ressuscitará os mortos. A ressurreição não existia nas promessas de Yavé antes
dos hebreus viverem sob o domínio dos babilônios. Isso nos dá a certeza de que
ressurreição não passa de uma crença criada pelo homem, assim também, o deus a
quem as pessoas atribuem a função de ressuscitar os mortos.
Esta é a pergunta que os cristãos em regra não se fazem: Se Deus ressuscita os
mortos, por que ele não prometeu ressurreição a Adão, Noé, Abraão, Isaque, Jacó,
Moisés, Davi, etc.? Yavé teria inventado a ressurreição só depois disso? Ou o
deus verdadeiro copiou coisas dos deuses falsos dos babilônios e persas?
O Velho Testamento até apresenta casos de pessoas ressuscitadas, mas não
apresenta inicialmente nenhuma promessa de ressurreição dos mortos. Está escrito
que Elias trouxe à vida um menino morto (I Reis, 17: 20-22). Também fala que, ao
tocar os ossos de Eliseu, um cadáver retornou à vida (II Reis, 13: 21). Todavia,
nenhuma promessa existia de que todos os mortos viessem um dia a ser
ressuscitados para uma nova vida como se crê hoje.
O Gênesis não diz que Adão um dia ressuscitará, mas fala que Yavé lhe disse que
ele, feito do pó, retornaria ao pó. Também fala das promessas de Yavé a Abraão,
Isaque e Jacó, entre as quais não se inclui ressurreição. A lei mosaica não
apresentou nenhuma promessa de recompensa em outra vida após a morte. A lei
apresentou um deus severo, com promessas e ameaças nesta vida: “porque eu, o
Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniqüidade dos pais nos filhos
até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam” (Deuteronômio, 5:
9). E não prometia nada mais além do que se pudesse conceder aqui na terra: ““Honra
a teu pai e a tua mãe, como o senhor teu Deus te ordenou, para que se prolonguem
os teus dias, e para que te vá bem na terra que o Senhor teu Deus te dá”
(Deuteronômio, 5: 15).
Em relação ao pós-morte, encontramos algumas opiniões:
Jó teria dito: “Oxalá me encobrisses na sepultura e me ocultasse até que a
tua ira se fosse, e me pusesses um prazo e depois te lembrasse de mim! Morrendo
o homem, porventura tornará a viver?” (Jó, l3: 13 e 14). Era assim que ele
teria crido: “...o homem se deita, e não se levanta: enquanto existirem os céus
não acordará, nem será despertado do seu sono” (Jó, 13: 12). E ainda mais
claramente: “Tal como a nuvem se desfaz e some, aquele que desce à
sepultura nunca tornará a subir. Nunca mais tornará à sua casa, nem o seu
lugar o conhecerá mais” (Jó, 7: 9, 10)
Salomão não cria na existência de consciência após a morte, nem em qualquer
recompensa póstuma; pois um livro a ele atribuído diz: “Pois os vivos sabem
que morrerão, mas os mortos não sabem coisa nenhuma, nem tampouco têm eles daí
em diante recompensa; porque a sua memória ficou entregue ao esquecimento. Tanto
o seu amor como o seu ódio e a sua inveja já pereceram; nem têm eles daí em
diante parte para sempre em coisa alguma do que se faz debaixo do sol”
(Eclesiastes, 9:5, 6).
A NOVA JERUSALÉM prometida pelo profeta Isaías não era para mortos ressuscitados
como aquela apresentada nas visões de João no Apocalipse, e a morte continuaria
a existir:
“Pois eis que eu crio novos céus e nova terra; e não haverá lembrança das
coisas passadas, nem mais se recordarão: Mas alegrai-vos e regozijai-vos
perpetuamente no que eu crio; porque crio para Jerusalém motivo de exultação e
para o seu povo motivo de gozo. E exultarei em Jerusalém, e folgarei no meu
povo; e nunca mais se ouvirá nela voz de choro nem voz de clamor. Não haverá
mais nela criança de poucos dias, nem velho que não tenha cumprido os seus dias;
porque o menino morrerá de cem anos; mas o pecador de cem anos será amaldiçoado.
E eles edificarão casas, e as habitarão; e plantarão vinhas, e comerão o fruto
delas. Não edificarão para que outros habitem; não plantarão para que outros
comam; porque os dias do meu povo serão como os dias da árvore, e os meus
escolhidos gozarão por longo tempo das obras das suas mãos: Não trabalharão
debalde, nem terão filhos para calamidade; porque serão a descendência dos
benditos do Senhor, e os seus descendentes estarão com eles. E acontecerá que,
antes de clamarem eles, eu responderei; e estando eles ainda falando, eu os
ouvirei. O lobo e o cordeiro juntos se apascentarão, o leão comerá palha como o
boi; e pó será a comida da serpente. Não farão mal nem dano algum em todo o meu
santo monte, diz o Senhor” (Isaías, 65: 17 a 25).
Aí vemos que as promessas de Yavé, do Velho Testamento, não eram nada após a
morte, mas prosperidade aqui na Terra.
No profeta Isaías, até já encontramos alguns textos falando de ressurreição:
“Os falecidos não tornarão a viver; os mortos não ressuscitarão; por isso os
visitaste e destruíste, e fizeste perecer toda a sua memória” (Isaias, 26:
14). “Os teus mortos viverão, os seus corpos ressuscitarão; despertai e exultai,
vós que habitais no pó; porque o teu orvalho é orvalho de luz, e sobre a terra
das sombras fá-lo-ás cair” (Isaias, 26: 19). Lendo todo o texto, percebe-se que
não estava o profeta falando de uma ressurreição dos mortos em um dia de juízo
final como se fala no Novo Testamento; tanto que, ao se referir a Israel, fala
que “teus mortos ressuscitarão” e, ao se referir aos inimigos, diz “os mortos
não ressuscitarão”. Se ele já cria que os hebreus fossem ressuscitar, achava que
os outros povos não teriam ressurreição. Só posteriormente é que devem ter
desenvolvido essa idéia de que os maus ressuscitam para serem punidos.
Por outro lado, apesar da crença expressa na lei mosaica, nos livros que seguem
ao Pentateuco e na maioria dos profetas, a crença na ressurreição já aparece bem
cristalizada em Daniel, profeta que dizem ter vivido na corte do rei de
Babilônia.
As profecias de Daniel apresentam coisas muito coincidentes com o cristianismo,
e a promessa de recompensa após a morte e ressurreição. No último capítulo está
escrito que, em sua última visão, disse ter recebido a mensagem angélica:
“...descansarás, e, ao fim dos dias, te levantarás para receber a tua herança”
(Daniel, 12: 13). Há informações de que o primeiro contato dos hebreus com a
crença na ressurreição dos mortos se deu sob os domínios babilônico e
medo-persa. E o texto acima parece ter sido escrito nos dias da vitória de Judas
Macabeu e restauração do santuário profanado por Antíoco Epífanes.
“No final do século VIII a.C. Israel foi conquistada pela assíria, sendo muitos
dos seus habitantes levados para a Assíria, tendo aí desaparecido, sendo hoje
conhecidos como as dez tribos perdidas de Israel. O reino da Judeia manteve a
sua independência a troco de um pesado tributo. Cerca de 150 anos mais tarde, os
babilónios tomam a sua capital - Jesusalém -, e arrasam-na (586 a.C), levando
consigo grande número de prisioneiros. No seu cativeiro na Babilónia os
judeus absorveram aí muitos conceitos novos que vieram a incorporar no judaísmo:
Ressurreição dos Mortos, Inferno, Demónios, Apocalipse, etc. Como dissemos,
a partir de meados do séc.VIII a..C o judaísmo entra num período de grande
produção doutrinária, conhecido pela ‘tempo dos profetas’. Estes afirmam de
forma clara a universalidade e unicidade de Deus.” (Carlos Fontes, Origem da
Filosofia).
O evangelho de Mateus diz que Jesus, para convencer os saduceus de sua doutrina
da ressurreição, não apresentou nenhuma afirmação antiga que falasse diretamente
dela, mas disse: “E, quanto à ressurreição dos mortos, não lestes o que foi
dito por Deus: Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó? Ora,
ele não é Deus de mortos, mas de vivos” (Mateus, 22: 31,32). Vemos aí nada
mais do que um argumento fragílimo para justificar uma idéia. Isso é como eu
dizer: “sou neto de João José Pereira”, e as pessoas dizerem que eu
afirmo que meu avô está vivo. O evangelho de Mateus fala de Daniel, mas parece
que seu autor não conhecida o capítulo 12 (especialmente seu versículo 13). Pois
poderia ter apresentado isso como argumento de Jesus. Ou pode ser que ele não
tenha apresentado esse texto devido aos judeus não aceitarem todo o livro de
Daniel. O fato de os saduceus não crerem na ressurreição é uma evidência de que
essa idéia era nova entre os hebreus.
A grande diferença que os religiosos não vêem entre o Velho e o Novo Testamento
é que, no Velho, Jeová prometia prosperidade aqui na Terra, e no Novo, Jesus
prometeu recompensa após a morte e ressurreição. Comparando-se a Nova Jerusalém
de Isaías (Isaías, 65: 17-25) e a Nova Jerusalém de João (Apocalipse, 21 e 22),
entre outras diferenças, na primeira, haveria muita prosperidade, mas tudo
dentro na normalidade terrena, com pecado e morte; na segunda, a imortalidade e
a inexistência do pecado. Não percebem que a ressurreição foi introduzida nas
cabeças dos hebreus em época bem posterior ao começo da formação da Bíblia. Aí
está a maior prova de que a ressurreição não procede do deus dos hebreus, mas do
pensamento dos babilônios ou outro povo que a transmitiu a eles, e eles o
passaram para os hebreus. E, como tiveram seus líder executado pelos romanos,
alguns judeus adeptos da crença na ressurreição passaram a pregar que eles se
ressuscitariam, ou já teriam sido ressuscitados e futuramente retornariam para
ressuscitar a todos os que cressem neles, e os romanos criadores do Cristianismo
aproveitaram bem essa crença. Com certeza, foi muitos anos depois da morte de
algum revoltoso que surgiram os relatos de que ele teria ressuscitado algumas pessoas
e que um grande número de mortos ressuscitaram no dia de sua morte.
A
inexistência da ressurreição nas promessas divinas aos patriarcas é prova mais
que suficiente de que ela não passa de uma crença como qualquer outra adotada
pelos judeus bem depois de já terem uma parte de suas escrituras sagradas, assim
como o deus que essas pessoas acreditam que ressuscitará os mortos não passa de
um ser imaginário, a quem eles atribuem as idéias que eles próprios assimilaram
de outros.
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