Governo federal estuda “imunizar”
igrejas de tributos
Governo estuda como enviar pedido ao Congresso; medida deve ser anunciada antes
da votação do veto, prevista para outubro
Por Estadão Conteúdo
Publicado em: 15/09/2020 às 13h12 Alterado em: 15/09/2020 às 13h19
Hoje, as igrejas têm imunidade de impostos, mas a proteção não alcança
contribuições como a CSLL e a previdenciária (Adriano Machado/Reuters)
Apesar das críticas, a imunidade total às igrejas, como
defendeu o presidente Jair Bolsonaro ao vetar parte do perdão de
dívidas dos templos, deve ser enviada numa Proposta de Emenda Constitucional
(PEC) própria ou incluída em um texto já em tramitação, segundo apurou o
Estadão/Broadcast. O Palácio do Planalto está definindo o melhor instrumento
para encaminhamento da proposta, mas a meta é encontrar a solução antes da
votação do veto, prevista para outubro.
Hoje, as igrejas têm imunidade constitucional contra a cobrança de impostos, mas
a proteção não alcança as contribuições, como a CSLL (sobre o lucro líquido) e a
previdenciária. Nos últimos anos, a Receita Federal
identificou manobras dos templos para distribuir lucros e remuneração variável
de acordo com o número de fiéis sem o devido pagamento desses tributos – ou
seja, burlando as normas tributárias.
O assunto é delicado porque a Receita Federal e integrantes da equipe econômica
são contrários, mas o ministro da Economia, Paulo Guedes,
precisa do apoio da bancada evangélica para a aprovação dos projetos de
interesse da agenda econômica. Está descartada a inclusão da proposta
pela reforma tributária pelo atrito que poderia dar a todos os outros setores,
que já vêm fazendo lobby contra as propostas que estão em tramitação por
considerarem que vai ter aumento dos impostos que já pagam.
A bancada evangélica, por sua vez, tem se articulado para incluir na reforma,
que tem o objetivo de simplificar a cobrança de impostos, a ampliação do alcance
de sua imunidade tributária para qualquer cobrança incidente sobre propriedade,
renda, bens, serviços, insumos, obras de arte e até operações financeiras (como
remessas ao exterior). A avaliação de tributaristas, no entanto, é que a medida
não daria às igrejas salvo-conduto para continuar driblando a fiscalização para
distribuir lucros disfarçados de renda isenta. O próprio presidente, porém,
deixou claro que não aceita as multas dadas pelo Fisco. Um movimento semelhante
ao que fez com as multas do Ibama e do ICMbio na área ambiental.
“A PEC é a solução mais adequada porque, mesmo com a derrubada do veto, o TCU já
definiu que as leis e demais normativos que instituírem benefícios tributários e
outros que tenham o potencial de impactar as metas fiscais somente podem ser
aplicadas se forem satisfeitas às condicionantes constitucionais e legais
mencionadas”, escreveu o presidente. Na postagem, o presidente diz que por força
da Lei de Diretrizes Orçamentárias e da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) foi
obrigado a vetar dispositivo que isentava as igrejas da CSLL para que evite um
quase certo “processo de impeachment”.
Em nota divulgada na noite de domingo, a Secretaria-Geral da Presidência da
República afirmou que Bolsonaro se mostra favorável à não tributação de templos
e que, apesar dos vetos, o governo vai propor “instrumentos normativos a fim de
atender a justa demanda das entidades religiosas”, sem citar quais. Para evitar
insegurança jurídica, técnicos ouvidos pelo Estadão também avaliam que será
preciso mexer na Constituição. Isso porque a Constituição diz que não é possível
cobrar impostos, mas não fala de contribuições, como a CSLL e a previdenciária.
Em uma publicação em rede social, na noite do domingo, Jair Bolsonaro defendeu
que o próprio veto seja derrubado no Congresso Nacional. Segundo o presidente,
ao contrário dele, os parlamentares não teriam que se preocupar com as
implicações jurídicas e orçamentárias de seus votos.
“Confesso, caso fosse Deputado ou Senador, por
ocasião da análise do veto que deve ocorrer até outubro,
votaria pela derrubada do mesmo”, disse o presidente.
<https://exame.com/brasil/governo-federal-estuda-imunizar-igrejas-de-tributos/>
Enquanto no mundo desenvolvido a
legislação tende a eliminar benefícios indevidos que a igreja conseguiu no tempo
em que dominava a política, no nosso país ocorre o contrário, cada vez se tenta
beneficiar mais as instituições religiosas, em detrimento do bem público.
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