MAIS UMA MORTA PELA FÉ
Mistério marca morte de aposentada
Polícia investiga cinco mulheres acusadas pelos irmãos de suspender remédios da
mãe e a submeter a um ritual.
Publicado no Super Notícia em 03/03/2012
Uma história cercada de mistério e crueldade tem prolongado a angústia de uma
família que ainda procura explicação para a morte da aposentada Ester Pereira de
Oliveira, de 59 anos. Segundo uma denúncia feita por três filhos da mulher à
polícia, cinco filhas que moravam com ela teriam deixado a aposentada vivendo
à base de água e biscoito, e sem tomar a devida medicação para diabetes durante
quase 20 dias. "Elas surtaram do nada, falavam que
Deus iria curar nossa mãe da diabetes e que, para isso, ela devia ficar sem
remédios ou alimentos", explicou um filho da vítima, Joanir Pereira
de Oliveira, de 37 anos. Ester morreu no último sábado, depois de uma intensa
gritaria em uma espécie de ritual que aconteceu na residência dela, no
bairro Ipanema, na região Noroeste da capital.
Na certidão de óbito, a causa da morte foi identificada como parada
cardiorrespiratória e complicações da diabetes. As cinco irmãs desapareceram na
última segunda-feira, após organizarem o enterro e o velório da mãe. Elas
levaram o pai, de 81 anos, e a filha de uma delas, de 5 anos. A delegada
Cristina Cicarelli, do Departamento de Investigações, instaurou inquérito para
apurar o caso.
De acordo com outro filho da aposentada, Jader Pereira de Oliveira, de 33 anos,
há cerca de duas semanas, ele e mais dois irmãos foram expulsos da casa onde
moravam com a mãe após constantes divergências com as irmãs, que se mudaram para
o imóvel no início de janeiro. "Elas vieram para fazer uma
visita e acabaram ficando. Disseram que teriam que purificar a casa, que estaria
amaldiçoada. Nós não concordávamos com isso nem entendemos nada, porque
era loucura", disse. Segundo ele, as mulheres promoveram uma quebradeira no
imóvel com a intenção de construir uma igreja no local.
Ainda segundo Jader, há cerca de 15 dias, uma irmã deles, a manicure Júnia
Cândido de Oliveira, de 32 anos, teria orientado as outras irmãs a alimentarem a
idosa apenas com água, biscoitos e pedaços de pão, além de suspender doses
diárias de insulina. "A situação tinha ficado insustentável. Elas tinham
surtado, não deixavam a gente entrar na casa", completou Jader.
Uma vizinha contou que, no último sábado, escutou muito barulho na casa da
aposentada, por volta das 20h, antes de a mulher morrer. "Era um misto de
gritos, choro e várias risadas, parecia uma espécie de ritual macabro", explicou
a dentista Cristiane Correa.
No dia seguinte, as mulheres contaram aos irmãos que a mãe havia morrido durante
a madrugada e que não sabiam o que tinha acontecido. Desconfiados, vizinhos
acionaram a polícia. A assessoria de imprensa da Polícia Civil informou que a
perícia compareceu ao imóvel, mas as mulheres apresentaram um atestado de óbito
assinado pelo médico particular Roberto Pereira Campos.
Caso de polícia
A Polícia Militar registrou um boletim de ocorrência contra a manicure Júnia de
Oliveira, após a mulher incendiar a moto do irmão, no dia 15 de fevereiro, e
colocar fogo em todos os móveis da casa. Na época, Jader Oliveira relatou que
informou à polícia sobre os maus-tratos que a mãe estava sofrendo, mas não
obteve retorno.