UMA MALA DIRETA MUITO MALA

- 15/07/2001 -

 

No dia 31 de outubro de 1999, recebi, pela primeira vez, um e-mail com uma mala direta contendo uma enorme lista de endereços.


Eu, ainda inexperiente na Internet, resolvi responder a todos enviando um arquivo contendo um texto da campanha antidrogas. Logo no início, alguém, que gostou da minha página e achou interessante meu trabalho contra as drogas, enviou um e-mail a todos usando a expressão “página do Freitas”. Isso foi suficiente para que um precipitado divulgasse a equivocada idéia de que eu elaborara a lista. Alguns outros, sem compreenderem o que estava ocorrendo, começaram a utilizar expressões como esta: “Freitas, favor me retirar da sua lista”; todavia, em vez de dizerem só para mim, enviavam o pedido endereçado a todos; outros diziam: “faço minhas as palavras de fulana” (a maioria eram mulheres). Eu, que já estava começando a entender o problema, respondia individualmente a cada um. Alguns mal-educados começaram a me xingar, e eu lhes devolvia as grosseirias recebidas esclarecendo que o problema estava decorrendo do modo de eles próprios agirem. Nesse meio havia uma covarde, que se deu ao trabalho de escrever quase uma página de impropérios e ameaças idiotas contra mim e mudou de endereço para não conhecer a resposta. Após receber tantos pedidos e tantas indelicadezas, que eram dirigidas a mim mas enviadas a todos, em me vi compelido a usar pela última vez (imaginava ser a última) a mala direta explicando aos congestionadores que não era eu, mas eles mesmos que estavam causando o tumulto, e seria infrutífero eles solicitarem a mim ou ao criador da lista. Passei a instrução de que a solução era ninguém responder nada ou, quando muito, enviarem seus pedidos somente às pessoas a quem eles se dirigissem. Entretanto, alguns ainda foram incapazes de entender o raciocínio, e eu tive que estereotipar umas respostas mais claras e enviar individualmente a cada um dos que prosseguiram com a enchente de pedidos ou respostas insensatas e grosseiras.
Alguns dos que compreenderam mais rápido a razão do caos, chegaram até a me enviar e-mails expressando seus sentimentos por tanta gente estar me culpando pelo que eu não estava fazendo, mas esses, sendo experientes, enviavam as mensagens só a mim, enquanto alguns continuavam a me acusar e dizer tolices e outros a me pedirem o que eu não podia fazer: acabar com a lista. Dos que entenderam bem a minha mensagem, muitos me escreveram para pedir desculpa por haverem acatado a idéia de que eu fosse o criador da lista. Muitos dias depois, eu ainda recebia alguns e-mails pedindo a exclusão de nomes da lista, mesmo após a explicação enviada a todos no dia 2 de novembro. Mas esses últimos pedidos foram cordiais e eu calmamente reexpliquei.
No dia 9 de novembro, como ainda chegavam alguns e-mails enviados a todos, decidi usar a lista pela última vez (esta sim, a última), convocando os que não entenderam a pararem de enviar pedidos a todos e deixei bem clara a finalidade e a intenção de não utilizar mais a lista. Contudo, não obstante toda instrução pormenorizada, recebi mais alguns e-mails com o mesmo pedido. O pior é que surgiu um subdesenvolvido mental retornando com expressões coprológicas, e desta vez eu não quis mais desperdiçar mais tempo respondendo a manifestações imbecis recebidas.
No final de tudo, apesar de todo trabalho e todas as acusações recebidas, de todas toupeiragens e liguajares abomináveis contaminando minha caixa, encontrei até vários amigos. E creio que restaram poucos inimigos. A mala foi muito mala, mas deu alguns frutos bons.
Posteriormente, resolvi copiar outra mala e fazer um boletim de novidades da minha página, pedindo aos que não se interessassem pelo assunto que informassem para serem excluídos. Desta vez muita gente gostou, alguns foram indiferentes, uns poucos pediram para serem retirados da lista, e só apareceram quatro mal-educados, com apenas 25% do sexo feminino, isto é, uma (mais um ponto para as mulheres). Entretanto, alguém, cujo caráter deve incapacitá-lo de proceder com urbanidade, ao invés de pedir para ser excluído da lista, reclamou contra mim junto ao provedor. Quando fiquei sabendo, enviei a última mensagem informando que só iria enviar mais para os que retornassem pedindo para serem mantidos na relação do boletim. Assim, eu só estaria enviando mensagens para os que realmente quisessem recebê-las, deixando de fora até os indiferentes. Posteriormente, utilizei outras listas que recebi, com poucos problemas. E só uso lista oculta, para os que não entendem não reincidam no que fizeram em outubro de 1999.

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