No dia 31 de
outubro de 1999, recebi, pela primeira vez, um e-mail com uma mala direta
contendo uma enorme lista de endereços.
Eu, ainda inexperiente na Internet, resolvi responder a todos enviando um
arquivo contendo um texto da campanha antidrogas. Logo no início, alguém, que
gostou da minha página e achou interessante meu trabalho contra as drogas,
enviou um e-mail a todos usando a expressão “página do Freitas”. Isso foi
suficiente para que um precipitado divulgasse a equivocada idéia de que eu
elaborara a lista. Alguns outros, sem compreenderem o que estava ocorrendo,
começaram a utilizar expressões como esta: “Freitas, favor me retirar da sua
lista”; todavia, em vez de dizerem só para mim, enviavam o pedido endereçado a
todos; outros diziam: “faço minhas as palavras de fulana” (a maioria eram
mulheres). Eu, que já estava começando a entender o problema, respondia
individualmente a cada um. Alguns mal-educados começaram a me xingar, e eu lhes
devolvia as grosseirias recebidas esclarecendo que o problema estava decorrendo
do modo de eles próprios agirem. Nesse meio havia uma covarde, que se deu ao
trabalho de escrever quase uma página de impropérios e ameaças idiotas contra
mim e mudou de endereço para não conhecer a resposta. Após receber tantos
pedidos e tantas indelicadezas, que eram dirigidas a mim mas enviadas a todos,
em me vi compelido a usar pela última vez (imaginava ser a última) a mala direta
explicando aos congestionadores que não era eu, mas eles mesmos que estavam
causando o tumulto, e seria infrutífero eles solicitarem a mim ou ao criador da
lista. Passei a instrução de que a solução era ninguém responder nada ou, quando
muito, enviarem seus pedidos somente às pessoas a quem eles se dirigissem.
Entretanto, alguns ainda foram incapazes de entender o raciocínio, e eu tive que
estereotipar umas respostas mais claras e enviar individualmente a cada um dos
que prosseguiram com a enchente de pedidos ou respostas insensatas e grosseiras.
Alguns dos que compreenderam mais rápido a razão do caos, chegaram até a me
enviar e-mails expressando seus sentimentos por tanta gente estar me culpando
pelo que eu não estava fazendo, mas esses, sendo experientes, enviavam as
mensagens só a mim, enquanto alguns continuavam a me acusar e dizer tolices e
outros a me pedirem o que eu não podia fazer: acabar com a lista. Dos que
entenderam bem a minha mensagem, muitos me escreveram para pedir desculpa por
haverem acatado a idéia de que eu fosse o criador da lista. Muitos dias depois,
eu ainda recebia alguns e-mails pedindo a exclusão de nomes da lista, mesmo após
a explicação enviada a todos no dia 2 de novembro. Mas esses últimos pedidos
foram cordiais e eu calmamente reexpliquei.
No dia 9 de novembro, como ainda chegavam alguns e-mails enviados a todos,
decidi usar a lista pela última vez (esta sim, a última), convocando os que não
entenderam a pararem de enviar pedidos a todos e deixei bem clara a finalidade e
a intenção de não utilizar mais a lista. Contudo, não obstante toda instrução
pormenorizada, recebi mais alguns e-mails com o mesmo pedido. O pior é que
surgiu um subdesenvolvido mental retornando com expressões coprológicas, e desta
vez eu não quis mais desperdiçar mais tempo respondendo a manifestações imbecis
recebidas.
No final de tudo, apesar de todo trabalho e todas as acusações recebidas, de
todas toupeiragens e liguajares abomináveis contaminando minha caixa, encontrei
até vários amigos. E creio que restaram poucos inimigos. A mala foi muito mala,
mas deu alguns frutos bons.
Posteriormente, resolvi copiar outra mala e fazer um boletim de novidades da
minha página, pedindo aos que não se interessassem pelo assunto que informassem
para serem excluídos. Desta vez muita gente gostou, alguns foram indiferentes,
uns poucos pediram para serem retirados da lista, e só apareceram quatro
mal-educados, com apenas 25% do sexo feminino, isto é, uma (mais um ponto para
as mulheres). Entretanto, alguém, cujo caráter deve incapacitá-lo de proceder
com urbanidade, ao invés de pedir para ser excluído da lista, reclamou contra
mim junto ao provedor. Quando fiquei sabendo, enviei a última mensagem
informando que só iria enviar mais para os que retornassem pedindo para serem
mantidos na relação do boletim. Assim, eu só estaria enviando mensagens para os
que realmente quisessem recebê-las, deixando de fora até os indiferentes.
Posteriormente, utilizei outras listas que recebi, com poucos problemas. E só
uso lista oculta, para os que não entendem não reincidam no que fizeram em
outubro de 1999.