MALDADE DOS ATEUS
quarta-feira, 20 de outubro de 2010
Atea responde ao frei Beto: maldade de ateus é lenda preconceituosa
Postado por Paulo Lopes
por Daniel Sottomaior, presidente da Atea (Associação Brasileira de Ateus e
Agnósticos), para a Folha
No Brasil atual, é inimaginável um senador da República dizer que "tem pena" de
judeus. Ou um apresentador de TV afirmar repetidas vezes que certo criminoso "só
pode ser negro". Ou um candidato à Presidência afirmar que o judaísmo tem criado
problemas no Brasil e no mundo e que é bom que o próximo mandatário supremo não
seja judeu.
Ou um vilão de novela ser gay e atribuir sua maldade à própria homossexualidade.
Manual de tortura escrito por dominicanos
No entanto, esse é o país em que vivem cerca de 4 milhões de ateus - número
aproximado, já que o IBGE nos nega essa informação, a despeito do art. 5º da
Constituição: "Ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa
ou de convicção filosófica".
Todos esses casos são reais, referindo-se na verdade a ateus, mas ninguém foi
destituído, despedido ou processado pelo Ministério Público. Por que será?
A Folha dá enorme passo na direção certa ao abrir espaço a esta resposta ao
artigo "Dilma e a fé Cristã", de Frei Betto ("Tendências/Debates", 10/10). Nele,
o dominicano afirmou:
"Nossos torturadores, sim, praticavam o ateísmo militante
ao profanar, com violência, os templos vivos de Deus: as vítimas levadas ao pau
de arara, ao choque elétrico, ao afogamento e à morte".
Não há como salvar essa lógica.
Trata-se de expressão clara de preconceito. Se a frase é inaceitável
referindo-se a judaísmo ou negritude, então o mesmo deve valer para o ateísmo. E
o contexto não poderia ser pior: o mote do artigo é salvar a candidata de
"acusações" de ateísmo, ao invés de mostrar que ateísmo não é matéria de
acusação em sociedade não discriminadora.
Identificar grupos de pessoas a deficiência física, estética, mental, moral ou
até teológica sempre foi a racionalização do discriminador.
A maldade dos ateus é mais uma dessas lendas preconceituosas, reafirmada ad nauseam pela sacrossanta Bíblia Sagrada e por quase todos os seus
cristianíssimos seguidores, apesar de desautorizada por todos os dados
disponíveis.
A Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos (Atea) vem congregando descrentes
em todos os quadrantes do país, esclarecendo a sociedade, defendendo os ateus da
posição inferior que nos querem impingir, lutando por um Estado verdadeiramente
laico e levando aos tribunais as pessoas e instituições que insistem no
contrário.
Isso, sim, é ateísmo militante.
Ironicamente, bulas papais como Ad extirpanda e Dum diversas deixam claro que
o
cristianismo militante inclui tortura e escravização de descrentes. Não consta
que tenham sido revogadas.
O grande manual de tortura de todos os tempos, Malleus Maleficarum, foi escrito
também por dominicanos, e serviu de guia, durante séculos, para a violência
católica contra infiéis.
No caso a que Frei Betto se refere, os papéis também estão invertidos: combater
o ateísmo era uma das justificativas para a ditadura, sintomaticamente
inaugurada com a Marcha da Família com Deus pela Liberdade.
É o teísmo militante, naquela época como hoje, alimentando-se do preconceito
escancarado contra ateus, sequestrando e engravidando a política, em nome dos
bons tempos, para nela conceber seus frutos. Vejam só no que deu.
<http://www.paulopes.com.br/2010/10/atea-responde-frei-beto-maldade-de.html>
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