Como diria Lula, "nunca antes na história deste país!..."
Com 20 militares, Ministério da Saúde
pode mudar narrativa da pandemia
A queda de Wanderson Oliveira deixa a
pasta menos técnica e liga o alerta para
possíveis maquiagens nos dados
Igor Carvalho
Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
25 de Maio de 2020 às 18:27
No último sábado (23), o
epidemiologista Wanderson Oliveira
anunciou sua saída do Ministério da
Saúde. Dessa forma, a pasta perde sua
principal referência técnica e o
profissional que desenvolveu o
planejamento do governo brasileiro para
o enfrentamento à pandemia. Em
contrapartida, de acordo com o jornal O
Estado de São Paulo,
o ministério deve
receber mais 20 militares em cargos
estratégicos, que farão companhia a
outros 20 já nomeados.
Nenhum dos militares que trabalham no
ministério possui formação técnica para
atuar na área da saúde, nem mesmo o
general Eduardo Pazuello, chefe
temporário da pasta, que substituiu dois
médicos no cargo, Nelson Teich e Luiz
Henrique Mandetta. Quem atua no setor
alerta para os perigos das mudanças.
“A subnotificação já afeta os dados
hoje, minha preocupação é que passe a
haver uma ação deliberada para produzir
subnotificação e atraso na divulgação do
avanço da epidemia”, explica Leandro
Gonçalves, professor do Instituto de
Saúde Coletiva da Universidade Federal
Fluminense (UFF).
“Se eles quiserem, eles vão conseguir
manejar a narrativa da extensão da
pandemia no Brasil. Hoje, caiu o
Wanderson da Silva, que é o cara que
planejou o enfrentamento à pandemia no
Brasil, cai com ele também o
planejamento. Virá alguém que irá
conduzir de outra maneira. Teremos os
balanços diários e a mesma postura de
alerta com relação ao vírus? Ou será que
vai começar a mudar a narrativa?”,
pergunta Gonçalves.
Além de Wanderson Oliveira, o Ministério
da Saúde já havia perdido seu
secretário-executivo João Gabbardo, que
trabalhava na pasta havia mais de 40
anos e que foi exonerado no dia 22 de
abril. Para o seu cargo, foi nomeado
justamente o general Pazanello, que
agora chefia o setor. Em 4 de maio, o
secretário de Ciência, Tecnologia e
Insumos, Denizar Vianna, também foi
demitido.
“Até aqui, as pessoas responsáveis pela
divulgação dos dados eram técnicas, que
caíram para os militares entrarem. Eles
podem dar um jeito de maquiar a
cobertura do avanço da epidemia pelo
Brasil”, afirma Gonçalves.
Militares na Saúde
Sem experiência
técnica que justifique as indicações,
os militares colocados pelo governo
federal no Ministério da Saúde fizeram
surgir o questionamento sobre a intenção
de Jair Bolsonaro com as nomeações.
Para Ana Penido, cientista social de
formação, mestre em Estudos Estratégicos
de Defesa e doutora em Relações
Internacionais pela Unesp, os militares
já controlam o Brasil. “Os militares se
organizaram como um partido tradicional.
Eu tenho muitas dúvidas sobre qual o
projeto que eles tem de construção [do
país]. Hoje, eles
são o principal partido do governo e
cada vez mais eles querem postos
estratégicos, como as áreas de controle
orçamentário e fiscalização, com a
lógica de ocupação em massa.”
Ainda de acordo com a pesquisadora, não
há justificativa, senão o respaldo
político, para a ascensão de militares
no ministério. “Os militares que vem da
Amam (Academia Militar dos Agulhas
Negras) são
formados para serem guerreiros.
Não existe quadro técnico entre os
militares para o quadro da Saúde e nem
para outros, só tem sentido que eles
estejam no Ministério da Defesa. É
o mesmo que
colocar um médico para comandar o
Exército.”
Para Gonçalves, Bolsonaro move os
militares em
uma tentativa de “ocupar o executivo e
render os poderes”. “Não é
uma tentativa de resistir a um
impeachment, é
um movimento ativo de tomada de poder e
isso me preocupa mais. Ele
não está numa posição defensiva, ele
está atacando”, finaliza.
Edição: Luiza Mançano
<https://www.brasildefato.com.br/2020/05/25/com-20-militares-ministerio-da-saude-pode-mudar-narrativa-da-pandemia>
Como diria Lula, nunca antes na história deste país, a política foi tão escandalosa. Ministério da Saúde sem médico! A coisa está ficando pior do que o esperado. Aonde chegará este país com essa direção?