O MITO DO JESUS HISTÓRICO
15/11/2009
Muito interesse tem sido expresso nos
mídia Judaicos acerca da actividade dos judeus, de Jesus e outras organizações
missionárias que saem dos seus limites para converterem os Judeus ao
Cristianismo. Infelizmente, muitos Judeus estão deficientemente equipados para
fazerem face aos missionários Cristãos e aos seus argumentos. Espero que este
artigo contribua para remediar esta situação.
Quando nos encontramos com missionários Cristãos, é importante que baseemos os
nossos argumentos em factos correctos. Argumentos baseados em factos incorrectos
podem facilmente ser desmascarados e acabarem por fortalecer os argumentos dos
missionários.
É pena que tantos bem intencionados professores de Estudos Judaicos tenham
inconscientemente ajudado os missionários, ensinando aos alunos Judeus
informações incorrectas acerca das origens do Cristianismo. Posso recordar a
história que me foi ensinada acerca de Jesus na escola Judaica que frequentei:
- Jesus foi um rabi famoso do primeiro século, cujo nome Hebreu foi Rabbi
Yehoshua. O seu pai foi um carpinteiro chamado José e o nome da sua mãe era
Maria.
Maria engravidou antes de ter casado com José. Jesus nasceu num estábulo em
Belém durante um censo Romano. Jesus cresceu em Nazaré e tornou-se um rabi
erudito. Viajou por todo o Israel pregando que as pessoas se deviam amar.
Algumas pessoas pensaram que ele era o Messias e ele não negou isso, o que
deixou os outros rabis muito zangados. Ele causou tanta controvérsia que o
Governador Romano Pôncio Pilatos o mandou crucificar. Foi enterrado num túmulo,
e mais tarde o seu corpo foi dado como desaparecido, dado que provavelmente
teria sido roubado pelos seus discípulos.
Alguns anos depois de me ter sido ensinado esta aparentemente inocente história,
comecei a interessar-me pelas origens do Cristianismo e decidi ler algo mais
sobre o "famoso Rabbi Yehoshua". Para grande desânimo meu, descobri que não
havia qualquer evidência histórica deste Rabbi Yehoshua. A reivindicação de que
Jesus foi um rabi chamado Yehoshua e a de que o seu corpo tinha sido
provavelmente roubado, acabaram por se tornar puras conjecturas.
O resto da história não era mais que uma versão diluída da história que os
Cristãos acreditam ser parte da religião Cristã, mas que não é suportada por
nenhuma fonte histórica legítima. Não havia absolutamente nenhuma evidência
histórica que Jesus, José ou Maria tenham existido, já não mencionando que José
tenha sido carpinteiro ou que Jesus tenha nascido em Belém e vivido em Nazaré.
Apesar da falta de evidência da existência de Jesus, muitos Judeus fizeram o
trágico erro de assumir que a história do Novo Testamento era largamente
correcta e tenham tentado refutar o Cristianismo experimentando racionalizar os
vários milagres que alegadamente ocorreram durante a vida de Jesus e após a sua
morte. Numerosos livros foram escritos que tentam esta aproximação ao
Cristianismo.
Esta aproximação, no entanto, é desesperadamente falhada e é, de facto perigosa,
pois encoraja a crença no Novo Testamento.
Quando os Israelitas foram confrontados com a adoração de Baal, não aceitaram
cegamente os antigos mitos Semíticos Ocidentais como História.
Quando os Macabeus foram confrontados com a religião Grega, eles não aceitaram
cegamente a mitologia Grega como História.
Porque é que tantos Judeus modernos aceitam cegamente a mitologia Cristã? A
resposta a esta questão parece ser que muitos Cristãos não sabem onde a
distinção entre História estabelecida e crenças Cristãs reside, tendo passado a
confusão deles para a comunidade Judaica.
Passando uma vista de olhos pela secção de religião numa livraria local,
recentemente deparei com um livro que pretendia ser uma biografia objectiva de
Jesus. Acabou por ser nada mais que um sumário da história usual do Novo
Testamento. Até incluía pretensões que os milagres de Jesus tinham sido
testemunhados, e que explicações racionais para eles poderiam existir.
Muitos livros de História escritos pelos Cristãos têm uma aproximação similar.
Alguns autores Cristãos sugerirão que talvez os milagres não sejam completamente
históricos, mas eles, todavia seguem a história do Novo Testamento usual. A
ideia de que havia um Jesus histórico real firmou-se tanto na sociedade Cristã
que os Judeus que vivem no mundo Cristão começaram a aceitar cegamente esta
crença porque nunca a viram ser seriamente desafiada.
Apesar da difundida crença em Jesus, permanece o facto de que não existe um
Jesus histórico. Para se perceber o que se quer dizer com o "Jesus histórico",
considere o Rei Midas da Mitologia Grega. A história em que o Rei Midas
transformava tudo o que tocava em ouro é claramente absurda, mas apesar disto
sabemos que houve um verdadeiro Rei Midas. Arqueólogos escavaram o seu túmulo e
encontraram os seus restos esqueléticos.
Os Gregos que contaram a história de Midas e o seu toque dourado, pretendiam
claramente que o relacionassem com o Midas real. Por isso, apesar da história do
toque dourado ser ficcional, a história é acerca de alguém cuja existência é
dada como um facto - o "Midas histórico". No caso de Jesus, no entanto, não há
uma única pessoa cuja existência seja um facto e que seja também objecto das
histórias de Jesus, isto é, não há nenhum Jesus histórico.
Quando confrontados com um missionário Cristão, deve-se imediatamente apontar
que a existência de Jesus não foi provada. Quando os missionários argumentam,
usualmente apelam mais para as emoções do que para a razão, e tentarão que fique
embaraçado ao negares a historicidade de Jesus.
A resposta habitual é qualquer coisa do género de "Negar a existência de Jesus
não é tão tolo como negar a existência de Júlio César ou da Rainha Isabel?". Uma
variação popular desta resposta, usada especialmente contra os Judeus é "Negar a
existência de Jesus não é como negar o Holocausto?".
Deve-se então apontar que há amplas fontes históricas a confirmar a existência
de Júlio César, da Rainha Isabel ou de qualquer outro que for nomeado, enquanto
que não existe evidência correspondente para Jesus.
Para se ser perfeitamente directo, deve-se ter tempo para fazer alguma
investigação sobre as personagens históricas mencionadas pelos missionários e
apresentar fortes evidências da sua existência.
Ao mesmo tempo deve-se desafiar os missionários a mostrar evidência similar da
existência de Jesus. Deve-se apontar que embora a existência de Júlio César ou
da Rainha Isabel, etc. seja universalmente aceita, o mesmo já não acontece com
Jesus.
No Extremo Oriente, onde as maiores religiões são o Budismo, o Xintoísmo,
o Taoísmo e o Confucionismo, Jesus é considerado como mais um personagem da
mitologia religiosa ocidental, a par com Thor, Zeus e Osíris.
A maioria dos Hindus não acredita em Jesus, mas os que acreditam consideram que
ele é uma das muitas encarnações do deus Hindu Vishnu. Os muçulmanos certamente
acreditam em Jesus, mas rejeitam a história do Novo Testamento e consideram que
ele foi um profeta que anunciou a vinda de Maomé. Eles negam
explicitamente que ele tenha sido crucificado.
Em resumo, não há uma história de Jesus que seja uniformemente aceita pelo mundo
inteiro. É este facto que põe Jesus num nível diferente para personalidades
históricas estabelecidas. Se os missionários usarem o "argumento Holocausto",
deve-se apontar que o Holocausto está bem documentado e que existem numerosos
relatos de testemunhas oculares.
Deve-se apontar que a maior parte das pessoas que negam o Holocausto eram
semeadores de ódio anti-semítico com credenciais fraudulentas. Por outro lado,
milhões de gente honesta na Ásia, que fazem a maioria da população mundial, não
conseguiram ser convencidos pela história Cristã de Jesus na medida que não há
nenhuma evidência constrangedora da sua autenticidade.
Os missionários insistirão que a história de Jesus é um facto bem estabelecido e
irão argumentar que existem "bastantes evidências que comprovam isso". Deve-se
então insistir em ver essa evidência e recusar-se a ouvir enquanto eles não a
apresentarem.
Se Jesus não foi um personagem histórico, de onde veio toda a história do Novo
Testamento em primeiro lugar?
O nome Hebreu para os Cristãos sempre foi Notzrim. Este nome é derivado da
palavra hebraica neitzer, que significa broto ou rebento - um claro símbolo
Messiânico. Já havia pessoas chamadas Notzrim no tempo do Rabbi Yehoshua ben
Perachyah (c. 100 a.C.)
Apesar de os modernos Cristãos afirmarem que o Cristianismo só começou no
primeiro século depois de Cristo, é claro que os Cristãos do primeiro século em
Israel se consideravam como sendo a continuação do movimento Notzri, que existia
à cerca de 150 anos. Um dos mais notáveis Notzrim foi Yeishu ben Pandeira,
também conhecido como Yeishu ha-Notzri.
Os estudiosos do Talmude sempre mantiveram que a história de Jesus começou com
Yeishu. O nome Hebreu para Jesus sempre foi Yeishu, e o Hebreu para "Jesus de
Nazaré" sempre foi "Yeishu ha-Notzri" (o nome Yeishu é um diminutivo do nome
Yeishua, e não de Yehoshua.)
É importante notar que Yeishu ha-Notzri não é um Jesus histórico, uma vez que o
Cristianismo moderno nega alguma conexão entre Jesus e Yeishu e, além do mais,
partes do mito de Jesus são baseadas em outras personagens históricas além de
Yeishu.
Sabemos pouco sobre Yeishu ha-Notzri. Todos os trabalhos modernos que o
mencionam são baseados em informação retirada do Tosefta e do Baraitas -
escritos feitos ao mesmo tempo do Mishna, mas não contidos neste. Porque a
informação histórica respeitante a Yeishu é tão danosa para o Cristianismo,
muitos autores Cristãos (e também muitos Judeus) tentaram desacreditar esta
informação e inventaram muitos argumentos engenhosos para a explicarem...
<http://acaciasrubras.no.sapo.pt/biblioteca/religiao/jesus1/index.htm>
O MITO DO JESUS HISTÓRICO II
Muitos dos seus argumentos são baseados em mal entendidos e citações erróneas do
Baraitas, e para se ter uma imagem exacta de Yeishu devem-se ignorar os autores
Cristãos e examinar o Baraitas directamente.
A insuficiente informação contida no Baraitas é a seguinte: o Rabi Yehoshua ben
Perachyah, num dado momento, repeliu Yeishu. As pessoas pensavam que Yeishu era
um feiticeiro, considerando que ele tinha levado os Judeus a desencaminharem-se.
Como resultado de acusações feitas contra ele (os detalhes das quais não são
conhecidos, mas provavelmente envolveriam alta traição), Yeishu foi apedrejado e
o seu corpo foi pendurado na véspera da Passagem do Equinócio.
Antes disto, ele foi exibido durante 40 dias com um arauto que ia à sua frente
anunciando que ele iria ser apedrejado e chamando por gente para avançar e o
defenderem. Todavia, nada foi trazido em seu favor. Yeishu tinha cinco
discípulos: Mattai, Naqai, Neitzer, Buni e Todah.
No Tosefta e no Baraitas, o nome do pai de Yeishu é Pandeira ou Panteiri. Estes
são formas Hebreu-Aramaicas de um nome Grego. Em Hebreu, a terceira consoante do
nome é escrito quer com um dalet, quer com um tet. Comparando com outras
palavras Gregas transliteradas para Hebreu mostra que o original Grego devia ter
tido um delta como sua terceira consoante, e assim a única possibilidade para o
nome Grego do pai é Panderos. Como os nomes Gregos eram comuns entre os Judeus
durante a época dos Macabeus, não é necessário assumir que ele era Grego, como
alguns autores fizeram.
A relação entre Yeishu e Jesus é corroborada pelo facto de que Mattai e Todah,
os nomes de dois dos discípulos de Yeishu, serem as formas originais hebraicas
de Mateus e Tadeu, nomes de dois dos discípulos de Jesus na mitologia Cristã.
Os primeiros Cristãos estavam também cientes do nome "ben Pandeira" para Jesus.
O filósofo pagão Celso, que foi famoso pelos seus argumentos contra o
Cristianismo, reivindicou em 178 d.C. que tinha ouvido a um Judeu que a mãe de
Jesus, Maria, se tinha divorciado do seu marido, um carpinteiro, depois de se
ter provado que ela era uma adúltera. Ela vagueou em vergonha e deu à luz Jesus
em segredo.
O seu verdadeiro pai era um soldado chamado Pantheras. De acordo com o escritor
Cristão Epifânio (c. 315 - 403 d.C.), o apologista Cristão Origen (c. 185 - 254
d.C) tinha afirmado que "Panther" era o apelido de Jacob, o pai de José, o
padrasto de Jesus.
É de notar que a afirmação de Origem não é baseada em nenhuma informação
histórica. É puramente uma conjectura cujo objectivo era explicar a história de
Pantheras de Celso. Essa história é também não histórica.
A reivindicação de que o nome da mãe de Jesus era Maria e a pretensão de que o
seu marido era um carpinteiro é tirada directamente das crenças Cristãs. A
afirmação de que o pai verdadeiro de Jesus se chamava Pantheras é baseada numa
tentativa incorrecta de reconstruir a forma original de Pandeira. Esta
reconstrução incorrecta foi provavelmente influenciada pelo facto de o nome
Pantheras ser encontrado entre os soldados Romanos.
Porque é que as pessoas acreditavam que a mãe de Jesus se chamava Maria e o seu
marido se chamava José? Porque é que os não Cristãos acusavam Maria de ser uma
adúltera enquanto que os Cristãos acreditavam que ela era virgem? Para responder
a essas questões ter-se-á de examinar algumas das lendas à volta de Yeishu.
Não se pode esperar obter a verdade absoluta sobre as origens do mito de Jesus,
mas podemos mostrar que existem alternativas razoáveis para a aceitação cega do
Novo Testamento.
O nome José para o nome do padrasto de Jesus é fácil de explicar. O movimento
Notzri era particularmente popular entre os Judeus Samaritanos. Enquanto que os
Fariseus estavam à espera de um Messias que seria um descendente de David, os
Samaritanos queriam um Messias que viesse restaurar o reino nortenho de Israel.
Os Samaritanos enfatizavam a sua descendência parcial das tribos de Efraim e
Manassés, que descendiam do José da Tora.
Os Samaritanos consideravam-se como sendo "Bnei Yoseph", "filhos de José", e
como acreditavam que Jesus tinha sido o seu Messias, teriam assumido que era um
"filho de José". A população de língua Grega, que tinha pouco conhecimento de
Hebreu e das verdadeiras tradições Judaicas, poderia facilmente ter mal
entendido este termo e presumir que José era o nome verdadeiro do pai de Jesus.
Esta conjectura é corroborada pelo facto que de acordo com o Evangelho segundo
S. Mateus, o pai de José se chama Jacob, tal como o do José da Tora. Mais
tarde, outros Cristãos que seguiam a idéia de que o Messias seria um descendente
de David, tentaram seguir o curso de José até David.
Chegaram a duas genealogias contraditórias para ele, uma registrada no Evangelho
segundo S. Mateus e a outra no Evangelho segundo S. Lucas.
Quando a ideia de que Maria era virgem desenvolveu, o mítico José foi relegado
para a posição de ser simplesmente o seu marido e o padrasto de Jesus.
Para se perceber de onde a história de Maria veio, teremos que nos virar para
outra personagem histórica que contribuiu para o mito de Jesus, e que é Ben
Stada. Toda a informação que temos sobre Ben Stada advém novamente do Tosefta e
do Baraitas. Há ainda menos informação sobre ele do que sobre Yeishu.
Algumas pessoas acreditavam que ele tinha trazido encantamentos do Egipto num
corte da sua carne, outros pensavam que ele era um louco. Ele era um trapaceiro
e foi apanhado pelo método da testemunha escondida, sendo apedrejado em Lod.
No Tosefta, Ben Stada é chamado ben Sotera ou ben Sitera. Sotera parece ser a
forma Hebreu-Aramaica do nome Grego Soteros. As formas "Sitera" e "Stada"
parecem ter surgido como más interpretações e erros de soletração ( yod
substituindo vav e o dalet a substituir reish).
Como havia tão pouca informação acerca de ben Stada, muitas conjecturas
surgiram sobre quem ele era. É conhecido da Gemara que ele era confundido com
Yeishu.
Isto provavelmente resultou do facto de que ambos foram executados por
ensinamentos traidores e estarem associados à feitiçaria. As pessoas que
confundiam ben Stada com Yeishu tiveram que explicar o porquê dele também ser
chamado Ben Pandeira. Como o nome "Stada" se parece com a expressão aramaica "stat
da", que significa "ela desencaminhou-se", pensou-se que "Stada" se referia à
mãe de Yeishu e que ela era uma adúltera.
Consequentemente, as pessoas começaram a pensar que Yeishu era o filho ilegítimo
de Pandeira. Estas idéias são de facto mencionadas na Gemara e são provavelmente
mais antigas. Como Bem Stada viveu nos tempos Romanos e o nome Pandeira se
assemelhava com o nome Pantheras encontrado entre os soldados Romanos,
assumiu-se que Pandeira tinha sido um soldado Romano estacionado em Israel. Isto
certamente explica a história mencionada por Celso.
O Tosefta menciona um caso famoso de uma mulher chamada Miriam bat Bilgah que
casou com um soldado Romano. A idéia de que Yeishu tinha nascido de uma mulher
judia que tinha tido um caso com um soldado Romano provavelmente resultou da
confusão entre a mãe de Yeishu e esta Míriam.
O nome "Míriam" é, claro, a forma original do nome "Maria". É de facto conhecido
através do Gemara que algumas das pessoas que confundiam Yeishu com ben Stadta
acreditavam que a mãe de Yeishu era "Míriam, a cabeleireira de mulheres".
A história de que Maria (Míriam), mãe de Jesus, era uma adúltera, era certamente
não aceitável para os primeiros Cristãos. A história da virgem que deu à luz foi
provavelmente inventada para limpar o nome de Maria. Os primeiros Cristãos
não inventaram isto do nada. Histórias de virgens que davam à luz eram comuns
nos mitos pagãos. As seguintes personagens mitológicas eram tidas como
nascidas de virgens fecundadas divinamente:
Rómulo e Remo, Perseu, Zoroastro, Mitra, Osíris-Aion, Agdistis, Attis, Tammuz,
Adónis, Korybas, Dioniso.
As crenças pagãs em uniões entre deuses e mulheres, não considerando se elas
eram virgens ou não, é ainda mais comum. Acreditava-se que muitas personagens da
mitologia pagã eram filhas de pais divinos e mães humanas. A crença Cristã de
que Jesus era o filho de Deus nascido de uma virgem é típica de uma superstição
Greco-Romana.
O filósofo Judeu Phílon de Alexandria (c. 25 a.C. - 50 d.C.), avisou contra a
superstição bastante espalhada da crença de uniões entre homens deuses e
mulheres humanas que retornavam a mulher a um estado de virgindade.
O deus Tammuz, adorado pelos pagãos no norte de Israel, era dado como nascido da
virgem Myrrha. O nome Myrrha assemelha-se superficialmente a "Maria/Míriam", e é
possível que esta particular história de uma virgem que deu à luz tenha
influenciado a história de Maria mais que as outras. Tal como Jesus, Tammuz foi
sempre chamado Adon, que significa "Senhor" (A personagem Adónis da mitologia
Grega é baseada em Tammuz.) Como veremos mais tarde, a relação entre Jesus e
Tammuz vai mais longe que isto.
A idéia de que Maria tinha sido uma adúltera nunca desapareceu completamente na
mitologia Cristã. Em vez disso, a personagem de Maria foi dividida em duas:
Maria, a mãe de Jesus, que se acreditava ser uma virgem, e Maria Magdalena, que
se acreditava ser uma mulher de má fama.
A idéia de que a personagem de Maria Madalena é também derivada de Míriam, a
mítica mãe de Yeishu, é corroborada pelo facto de o estranho nome "Magdalena" se
assemelhar claramente ao termo aramaico ”mgadala nshaya", que significa
"cabeleireira de mulheres".
Como se mencionou anteriormente, acreditava-se que a mãe de Yeishu era "Míriam,
a cabeleireira de mulheres". Porque os Cristãos não sabiam o que o nome "Magdalena"
significava, mais tarde conjecturaram que isso significava que ela tinha vindo
de um lugar chamado Magdala, a oeste do lago Kinneret.
A idéia das duas Marias assentava bem na forma pagã de pensamento. A imagem de
Jesus sendo seguido pelas duas Marias lembra bastante Dioniso sendo seguido por
Deméter e Perséfone.
A Gemara contém uma lenda interessante acerca de Yeishu, que tenta elucidar o
Baraitas, que diz que o Rabi Yehoshua ben Perachyah repeliu Yeishu. A lenda
afirma que quando o rei Asmoneu Alexandre Janeus estava a matar os Fariseus, o
Rabi yehoshua e Yeishu fugiram para o Egipto. Quando voltaram, chegaram a uma
estalagem.
A palavra aramaica "aksanya" tanto significa "estalagem" como
"estalajadeiro(a)". O Rabi Yehoshua observou o quão bela a "arksanya" era
(referindo-se à estalagem.) Yeishu (referindo-se à estalajadeira) replicou que
os olhos dela eram muito estreitos. O Rabi Yehoshua zangou-se bastante com
Yeishu e excomungou-o. Yeishu pediu que o perdoasse muitas vezes, mas o Rabi
Yehoshua não o perdoava. Uma vez, quando o Rabi Yehoshua estava a recitar a
Shema, Yeihsu veio ter com ele. O Rabi fez-lhe um sinal de que devia esperar.
Yeishu não entendeu e pensou que estava a ser rejeitado novamente. Ele zombou do
Rabi Yehoshua fazendo um tijolo e adorando-o. O Rabi Yehoshua disse-lhe para ele
se arrepender, mas ele recusou, dizendo que tinha aprendido com ele que a alguém
que peca e leva muitos a pecar não é dada a oportunidade de se arrepender.
Esta história, que começa com os eventos da estalagem, é bastante semelhante com
outra lenda em que o protagonista não é o Rabi Yehoshua, mas o seu discípulo
Yehuda ben Tabbai. Nesta lenda, Yeishu não é nomeado. Pode-se então questionar
se Yeishu foi realmente ao Egipto ou não.
É possível que Yeishu tenha sido confundido com algum outro discípulo do Rabi
Yehoshua ou do Rabi Yehuda.
A confusão pode ter resultado de Yeishu ser confundido com ben Stada, que tinha
regressado do Egipto. Por outro lado, Yeishu poderia ter mesmo fugido para o
Egipto e regressado, e isto, por seu turno, poderia ter contribuído para a
confusão entre Yeishu e ben Stada. Qualquer que seja o caso, a crença que
Yeishu tenha fugido para o Egipto para escapar à matança de um rei cruel parece
ser a origem da crença Cristã de que Jesus e a sua família fugiram para o Egipto
para escapar ao Rei Herodes.
Como os primeiros Cristãos acreditavam que Jesus tinha vivido nos tempos Romanos
é natural que tenham confundido o rei cruel que tinha querido matar Jesus com
Herodes, pois não havia outros reis cruéis adequados durante o período Romano.
Yeishu era adulto no tempo em que os Rabis fugiram de Alexandre Janeus;
porque é que os Cristãos acreditavam que Jesus e a sua família tinham fugido
para o Egipto quando Jesus era infante? Porque é que os Cristãos acreditavam
que o rei Herodes tinha ordenado que todos os bebês nascidos em Belém fossem
mortos, quando não há evidência histórica disso? Para responder a estas
questões temos novamente que recorrer à mitologia pagã.
O tema de uma criança divina ou semidivina que é temida por um rei cruel é muito
comum na mitologia pagã. A história usual é que o rei cruel recebe uma
profecia de que uma certa criança vai nascer e vai usurpar o trono. Em algumas
histórias a criança é nascida de uma virgem e usualmente é filho de um deus. A
mãe da criança tenta escondê-lo.
O rei normalmente ordena a matança de todos os bebês que possam ser o
profetizado rei. Exemplos de mitos que seguem este enredo são as histórias de
nascimento de Rómulo e Remo, Perseu, Krishna, Zeus e Édipo.
Apesar de os literalistas da Torá não gostarem de o admitir, a história do
nascimento de Moisés também se assemelha à destes mitos (alguns dos quais
afirmam que a mãe pôs a criança num cesto e o colocou num rio.) Existiam
provavelmente várias histórias destas a circular no Levante que se perderam.
O mito Cristão da matança dos inocentes por Herodes é simplesmente uma versão
Cristã deste tema. O enredo era tão conhecido que um sábio Midrashic não
resistiu a usá-lo para um relato apócrifa do nascimento de Abraão.
Os primeiros Cristãos acreditavam que o Messias iria nascer em Belém. Esta
crença é baseada numa má interpretação de Miquéias_5.2, que simplesmente nomeia
Belém como a cidade onde a linhagem Davidiana começou.
Como os primeiros Cristãos acreditavam que Jesus era o Messias, eles
automaticamente acreditaram que ele tinha nascido em Belém. Mas porque é que os
Cristãos acreditavam que ele tinha vivido em Nazaré? A resposta é bem simples.
Os primeiros Cristãos de língua Grega não sabiam o que a palavra "Nazareno"
significava. A forma primitiva Grega desta palavra é "Nazoraios", que
deriva de "Natzoriya", o equivalente aramaico do Hebreu "Notzri"
(lembre-se que "Yeishu ha-Notzri" é o original Hebreu para "Jesus, o Nazareno".)
Os primeiros Cristãos conjecturaram que "Nazareno" significava uma pessoa de
Nazaré, e assim assumiu-se que Jesus tinha vivido em Nazaré.
Ainda hoje, os Cristãos alegremente confundem as palavras hebraicas "Notzri"
(Nazareno, Cristão), "Natzrati" (Nazareno, natural de Nazaré) e "nazir" (nazarite),
todas as quais têm significados completamente diferentes.
A informação no Talmude (que contém o Baraitas e o Gemara) acerca de Yeishu e
ben Stada é tão danosa para o Cristianismo que os Cristãos sempre tomaram
medidas drásticas contra ela. Quando os Cristãos primeiro descobriram a
informação, tentaram imediatamente apagá-la censurando o Talmude.
A edição de Basileia do Talmude (c. 1578 - 1580) tinha todas as passagens
relacionadas com Yeishu e ben Stada apagadas pelos Cristãos. Ainda
hoje, as edições do Talmude usadas pelos escolares Cristãos não têm estas
passagens!
Durante as primeiras décadas deste século, ferozes batalhas acadêmicas
irromperam violentamente entre escolares Cristãos e Ateus acerca das verdadeiras
origens do Cristianismo. Os Cristãos foram forçados a enfrentarem a evidência
Talmudica. Não podiam ignorar mais isso e assim, em vez disso, decidiram
atacá-lo. Afirmaram que o Yeishu Talmudico era uma distorção do "Jesus
histórico". Afirmaram que o nome "Pandeira" era simplesmente uma tentativa
hebraica para pronunciar a palavra Grega para virgem - "parthenos". Apesar
de haver uma parecença superficial entre as palavras, temos de notar que para "Pandeira"
derivar de "parthenos", o "n" e o "r" têm de trocar de posições.
No entanto, os Judeus não sofriam de nenhum impedimento linguístico que causasse
isto! A resposta Cristã é que possivelmente os Judeus alteram propositadamente a
palavra "parthenos" para os nomes "Pantheras" (encontrado na história de Celso)
ou para "pantheros", que significa pantera, e "Pandeira" é derivado da palavra
deliberadamente alterada. Este argumento também falha, pois a terceira consoante
da palavra "parthenos" alterada e inalterada é theta.
Esta letra é sempre transliterada pela letra hebraica taw, cuja pronunciação
durante os tempos clássicos muito se assemelhava a essa letra Grega. Contudo, o
nome "Pandeira" nunca é soletrado com um taw, mas com um dalet ou um tet, o que
mostra que a forma original Grega tinha um delta como sua terceira consoante, e
não um theta.
O argumento Cristão pode-se também voltar contra si: talvez os Cristãos
deliberadamente alterassem "Pantheras" para "parthenos" quando inventaram a
história da virgem que deu à luz. Também é de notar que a semelhança entre
“Pantheras" (ou "pantheros") é muito menor quando escrita em Grego, pois na
formação original Grega as suas segundas vogais são completamente diferentes.
Os Cristãos também não aceitaram que Maria Magdalena estivesse ligada a Miriam,
a alegada mãe de Yeishu no Talmude. Eles argumentaram que o nome "Magdalena”
·significa uma pessoa de Magdala e que os Judeus inventaram "Miriam, a
cabeleireira de mulheres" (mgdala nshaya) ou para zombar dos Cristãos, ou porque
eles próprios se equivocaram quanto ao nome "Magdalena".
Este argumento também é falso. Primeiramente, ignora a gramática Grega: o Grego
correcto para "de Magdala" é “Magdales“, e o Grego correcto para uma pessoa de
Magdala é ”Magdalaios". A raiz Grega original para "Magdalena" é "Magdalen -",
com um "n" distinto mostrando que a palavra não tem nada a ver com Magdala. Em
segundo lugar, Magdala só obteve o seu nome após os Evangelhos terem sido
escritos.
Antes disso era chamada Magadan ou Dalmanutha (apesar de "Magadan" ter um "n",
falta-lhe o "l", e portanto não pode ser a derivação de "Magdalena".) De facto,
a comunidade Cristã alterou o nome para Magdala às ruínas desta área porque
acreditavam que Maria Magdalena tinha vindo de lá.
Os Cristãos também afirmam que a palavra "Notzri" significa uma pessoa de
Nazaré. Isto é, claro, falso, pois a palavra hebraica para Nazaré é "Natzrat" e
uma pessoa de Nazaré é uma "Natzrati". O nome "Notzri" não tem a letra
taw de "Natzrat", e assim não pode derivar daí.
Os Cristãos argumentam que talvez o nome aramaico para Nazaré fosse "Natzarah"
ou "Natzirah" (como o moderno nome árabe), o que explica o taw que falta em "Notzri".
Isto também não tem senso, pois a palavra aramaica para alguém da Nazaré seria "Natzaratiya"
ou "Natziratyia" (com um taw, pois a terminação feminina "-ah" tornar-se-ia "-at-"
quando o sufixo "-yia" é adicionado), e além do mais, a forma aramaica não seria
usada em Hebreu.
Os Cristãos também apareceram com outros argumentos variados que podem ser
desmascarados uma vez que eles confundem as palavras hebraicas "Notzri" e "nazir",
ou ignoram o facto de que "Notzri" é a primitiva forma da palavra "Nazareno".
Para resumir, todos os argumentos Cristãos foram baseados em mudanças fonéticas
e formas gramaticais impossíveis, e foram, consequentemente, desmistificadas.
Além do mais, apesar das lendas na Gemara não possam ser tidas como factos, a
evidência no Baraitas e no Tosefta respeitante a Yeishu pode levar-nos atrás
directamente até Yehoshua Ben Perachyah, Shimon ben Shetach e Yehuda bem Tabbai,
enquanto que a evidência no Baraitas e no Tosefta respeitante a ben Stada
leva-nos até ao Rabi Eliezer ben Hyrcanus e seus discípulos, que foram
contemporâneos de ben Stada.
Consequentemente, esta evidência pode ser encarada como historicamente certa.
Por esta razão os Cristãos modernos não mais atacam o Talmude, mas em vez disso
negam qualquer relação entre Jesus e Yeishu ou Ben Stada. Eles desmistificam as
similaridades como puras coincidências. No entanto, ainda tem de se estar atento
aos falsos ataques contra o Talmude, pois muitos livros Cristãos ainda os
mencionam e podem ressurgir de tempos em tempos.
Muitas partes da história de Jesus não são baseadas em Yeishu ou Ben Stada. A
maior parte das denominações Cristãs afirma que Jesus nasceu a 25 de Dezembro.
Originalmente, os Cristãos orientais acreditavam que ele tinha nascido a 6 de
Janeiro. Os Cristãos armênios ainda seguem esta primitiva crença enquanto que
muitos Cristãos consideram que essa é a data da visita dos Magos. Como já foi
apontado anteriormente, Jesus foi provavelmente confundido com Tammuz, nascido
da virgem Myrrha. Sabe-se que nos tempos Romanos os deuses Tammuz, Aion e Osíris
eram identificados.
Dizia-se que Osíris-Aion tinha nascido da virgem Geb a 6 de Janeiro, e isto
explica a data primitiva para o Natal. Geb era, às vezes, representada como
uma vaca sagrada e o seu templo era um estábulo, que é provavelmente a
origem da crença Cristã de que Jesus nasceu num estábulo.
Embora alguns possam pensar que esta afirmação é forçada, é tido como um facto
que algumas facções primitivas Cristãs consideravam Jesus e Osíris nos seus
escritos. A data de 25 de Dezembro para o Natal era originalmente a data pagã do
aniversário do deus sol, cujo dia da semana é ainda conhecido como Sun_day.
O halo de luz que é usualmente mostrado à volta da face de Jesus e dos santos
Cristãos é outro conceito tirado do deus sol.
O tema da tentação por uma criatura diabólica também é encontrado na mitologia
pagã. A história da tentação de Jesus por Satã, em particular,
parece-se com a tentação de Osíris pelo deus diabólico Set na mitologia egípcia.
Já tínhamos sugerido que havia uma relação entre Jesus e o deus pagão Dioniso.
Como Dioniso, o infante Jesus foi posto com fraldas e colocado numa
manjedoura; como Dioniso, Jesus podia tornar água em vinho; como
Dioniso, Jesus viajou de burro e deu de comer a uma multidão num ermo;
como Dioniso, Jesus sofreu e foi objecto de escárnio.
Alguns primitivos Cristãos afirmavam que Jesus tinha de facto nascido, não num
estábulo, mas numa caverna - como Dioniso. De onde é que a história de que Jesus
foi crucificado veio? Parece ter resultado de várias origens. Em primeiro lugar,
houve três personagens históricos durante o período Romano que as pessoas
pensavam ser o Messias e que foram crucificadas pelos Romanos, a saber:
Yehuda da Galileia (6 d.C.), Theudas (44 d.C.) e Benjamim, o Egípcio (60 d.C.).
Dado que se pensava que estas três pessoas eram o Messias, elas foram
naturalmente confundidas com Yeishu e ben Stada. Yehuda da Galileia tinha
pregado na Galileia e tinha arranjado muitos seguidores antes de ser crucificado
pelos Romanos. A história do ministério de Jesus na Galileia parece ter sido
baseada na vida de Yehuda da Galileia. Esta história e a crença de que Jesus
viveu em Nazaré na Galileia reforçaram-se mutuamente.
A crença de que alguns dos discípulos de Jesus foram mortos em 44 d.C. por
Agripa parece ser baseado no destino dos discípulos de Theuda. Dado que ben
Stada tinha vindo do Egipto é natural que ele tenha sido confundido com
Benjamim, o Egípcio. Eles foram também, provavelmente, contemporâneos.
Alguns escritores modernos até sugeriram que eles foram a mesma pessoa, apesar
disso não ser possível, pois as histórias das suas mortes são completamente
diferentes. Nos Actos dos Apóstolos do Novo Testamento, que usa o livro de
Flávio Josefo "Antiguidades Judaicas" (93 - 94 d.C.) como referência, é deixado
claro que o autor considerou Jesus, Yehuda da Galileia, Theudas e Benjamim, o
Egípcio como quatro pessoas diferentes.
No entanto, naquela altura já era muito tarde para anular as confusões que já
tinham acontecido antes do Novo Testamento ter sido escrito, e a idéia da
crucificação de Jesus tinha-se tornado uma parte integral do mito.
<http://acaciasrubras.no.sapo.pt/biblioteca/religiao/jesus2/index.htm>
O MITO DO JESUS HISTÓRICO III
Em segundo lugar, surgiu a idéia de que Jesus tinha sido executado na véspera da
passagem do equinócio.
Esta crença é aparentemente baseada na execução de Yeishu. A passagem ocorre
quando do equinócio da Primavera, um evento considerado importante pelos
astrólogos durante o Império Romano. Os astrólogos pensavam nesta época como a
época do cruzamento de dois círculos celestes astrológicos, e este evento era
simbolizado por uma cruz.
Deste modo, acreditava-se que Jesus tinha morrido "na cruz". O mau
entendimento deste termo por aqueles que não eram iniciados nos cultos
astrológicos foi outro factor que contribuiu para a crença de que Jesus tenha
sido crucificado.
Num dos primeiros documentos Cristãos (os "Ensinamento dos Doze Apóstolos"), não
há menção de Jesus ter sido crucificado, e o sinal de uma cruz no céu é usado
para representar a chegada de Jesus. É de notar que o centro da superstição
astrológica no Império Romano foi a cidade de Tarso na Ásia Menor - o lugar de
onde o lendário missionário S. Paulo veio.
A ideia de que uma estrela especial tenha anunciado o nascimento de Jesus
e que um eclipse solar tenha corrido na sua morte é típica da superstição
astrológica Tarsiana.
O terceiro factor que contribuiu para a história da crucificação é, outra vez, a
mitologia pagã. O tema de uma divindade ou semi-divindade sendo sacrificada
contra uma árvore, poste ou cruz, e depois ressuscitando, é muito comum na
mitologia pagã.
Foi encontrado nas mitologias de todas as civilizações ocidentais, estendendo-se
desde um extremo oeste como a Irlanda até um extremo este como a Índia. Em
particular, é encontrado nas mitologias de Osíris e Attis, ambos os quais eram
muitas vezes identificados com Tammuz. Osíris acabou com os seus braços
esticados numa árvore tal como Jesus na cruz.
Esta árvore era, às vezes, mostrada como um poste com dois braços esticados - o
mesmo aspecto da cruz Cristã. Na adoração de Serapis (uma composição de Osíris e
Apis), a cruz era um símbolo religioso. De facto, o símbolo da "cruz Latina"
Cristã parece ser baseado directamente no símbolo da cruz de Osíris e Serapis.
Os Romanos nunca usaram esta cruz tradicional Cristã para as crucificações,
eles usavam cruzes com a forma de um X ou de um T. O hieróglifo de uma cruz
numa colina era associada a Osíris. Este hieróglifo representava o "Good One",
em Grego "Chrestos", um nome aplicado a Osíris e outros deuses pagãos.
A confusão deste nome com "Christos" (= Messias, Cristo) reforçou a confusão
entre Jesus e os deuses pagãos.
No equinócio da Primavera, os pagãos do norte de Israel celebravam a morte e
ressurreição de Tammuz-Osíris, nascido de uma virgem. Na Ásia Menor (onde as
primeiras igrejas Cristãs se estabeleceram), uma celebração similar era feita
para Attis, também nascido de uma virgem. Attis era mostrado como morrendo
contra uma árvore, sendo enterrado numa gruta e depois ressuscitando ao terceiro
dia.
Agora se vê de onde a história da ressurreição de Jesus veio. Na adoração
de Baal, acreditava-se que Baal tinha enganado Mavet (o deus da morte)
aquando do equinócio da Primavera.
Ele fez-se passar por morto e depois apareceu vivo. Ele teve sucesso neste ardil
dando o seu único filho como sacrifício.
A ocorrência da Passagem na mesma época do ano que as "Páscoas" pagãs não é
coincidência. Muitos dos costumes da Pessach foram designados como alternativas
Judaicas aos costumes pagãos. Os pagãos acreditavam que quando o seu deus da
natureza (como Tammuz, Osíris ou Attis) morria e ressuscitava, a sua vida ia
para as plantas usadas pelo homem como comida.
O matza feito da colheita da Primavera era o seu novo corpo e o vinho das uvas
era o seu novo sangue. No Judaísmo, o matza não era usado para representar o
corpo de um deus, mas o pão de homem pobre que os Judeus comeram antes de saírem
do Egipto. Os pagãos usavam o sacrifício pascal para representar o sacrifício
de um deus ou do seu filho único, mas o Judaísmo usou-o para representar a
refeição comida antes de saírem do Egipto. Em vez de contarem histórias de Baal
a sacrificar o seu filho varão a Mavet, os Judeus contavam como o mal'ach
ha-mavet (o anjo da morte) matou os filhos varões dos Egípcios. Os pagãos
comiam ovos para representar a ressurreição e renascimento do seu deus da
natureza, mas o ovo no seder representa o renascimento do povo Judeu ao
escapar do cativeiro no Egipto.
Quando os primeiros Cristãos se deram conta das similaridades entre os costumes
da Pessach e os costumes pagãos, eles deram a volta completa e converteram os
costumes da Pessach de volta às suas velhas interpretações pagãs.
A seder tornou-se a última ceia de Jesus, similar à última ceia de Osíris,
comemorada no equinócio da Primavera. O matza e o vinho tornaram-se novamente no
corpo e sangue de um falso deus, desta vez Jesus. Os ovos da Páscoa são
novamente comidos para comemorar a ressurreição de um "deus" e também o
"renascimento" obtido pela aceitação do seu sacrifício na cruz.
O mito da última ceia é particularmente interessante. Como foi mencionado, a
ideia básica da última ceia ocorrer no equinócio vernal vem da história da
última ceia de Osíris. Na história Cristã, Jesus está presente com doze
apóstolos. De onde é que a história dos doze apóstolos veio? Parece que na
primeira versão a história era entendida como uma alegoria. A primeira vez que
doze apóstolos são mencionados é no documento conhecido como "Ensinamentos dos
Doze Apóstolos".
Este documento aparentemente teve origem num documento sectário Judeu escrito no
primeiro século D.C., mas foi adoptado pelos Cristãos, que o alteraram
substancialmente e adicionaram-lhe ideias Cristãs. Nas primeiras versões é claro
que os "doze apóstolos" são os doze filhos de Jacob representando as doze tribos
de Israel.
Os Cristãos, mais tarde, consideraram os "doze apóstolos" como sendo alegóricos
discípulos de Jesus. Na mitologia egípcia, Osíris foi traído na sua última
ceia pelo deus diabólico Set, que os Gregos identificavam como Typhon. Esta
parece ser a origem da ideia de que o traidor de Jesus estava presente na sua
última ceia.
A ideia de que este traidor se chamava "Judas" vem do tempo em que os doze
apóstolos eram ainda entendidos como sendo os filhos de Jacob. A ideia de Judas
(= Judah, Yehuda) traindo Jesus (o "filho" de José) é uma forte reminiscência da
história do José da Tora sendo traído pelos seus irmãos com Yehuda como líder da
traição.
Esta alegoria seria particularmente apelativa para os Samaritanos Notzrim, que
se consideravam filhos de José, traídos pelos Judeus ortodoxos (representados
por Judas/Yehuda.)
No entanto, a história dos doze apóstolos perdeu a sua interpretação alegórica
original, e os Cristãos começaram a pensar que os "doze apóstolos" eram doze
pessoas reais que seguiram Jesus. Os Cristãos tentaram encontrar nomes para
estes doze apóstolos. Mateus e Tadeu foram baseados em Mattai e Todah,
dois dos discípulos de Yeishu.
Um ou os dois apóstolos chamados Jacobus (Tiago) é possivelmente
baseado no Jacob de Kfar Sekanya, um primitivo Cristão conhecido do rabi Eliezer
ben Hyrcanus, mas isto é apenas uma suposição. Como já vimos, a personagem de
Judas é maioritariamente baseado no Judah da Tora, mas poderá haver também uma
ligação com um contemporâneo de Yeishu, Yehuda ben Tabbai, o discípulo do Rabi
Yehoshua ben Perachyah.
Como já foi mencionado, a ideia do traidor na última ceia é derivada da
mitologia de Osíris, que foi traído por Set-Typhon. Set-Typhon tinha cabelo
ruivo, e esta é provavelmente a origem da afirmação de que Judas tinha o cabelo
ruivo. Esta ideia levou ao retrato estereotipo Cristão de que os Judeus têm
cabelo ruivo, não obstante o facto de que, na realidade, o cabelo ruivo é de
longe mais comum entre Arianos do que entre Judeus.
O apelido "Iscariotes" é muitas vezes atribuído a Judas. Em algumas partes onde
os Novos Testamentos Ingleses têm "Iscariotes", o texto Grego realmente
tem "apo Kariotou", que significa "de Karyot". Karyot era o nome
de uma cidade em Israel, provavelmente o moderno lugar conhecido em árabe como
Karyatein.
Portanto, vê-se que o nome Iscariotes é derivado do Hebreu "ish Karyot",
que significa "homem de Karyot". Isto é, com efeito, a compreensão aceite hoje
em dia, pelos Cristãos, do nome. No entanto, no passado, os Cristãos entendiam
mal este nome, e nasceram lendas de que Judas era da cidade de Sychar, que ele
era um membro do partido extremista conhecido como Sicarii, e que ele era da
tribo de Issacar.
O mais interessante mal entendimento do nome é a sua primitiva confusão com a
palavra scortea, que significa uma bolsa de couro. Isto levou ao
mito do Novo Testamento de que Judas carregava uma tal bolsa, o que por
sua vez levou à crença de que ele era o tesoureiro dos apóstolos.
O apóstolo Pedro parece ser uma personagem largamente ficcional. De acordo com a
mitologia Cristã, Jesus escolheu-o para ser o "guardião das chaves do reino dos
céus". Isto é claramente baseado na divindade pagã egípcia Petra, que era o
porteiro do céu e da vida após a morte, governados por Osíris. Temos também
de duvidar da história de Lucas "o médico", que era suposto ser amigo de Paulo.
O original Grego para Lucas é Lycos, que era um outro nome para Apolo, o
deus da cura.
João Baptista é largamente baseado numa personagem histórica que
praticava imersão ritual na água como um símbolo físico de arrependimento.
Ele não realizava baptismos sacramentais ao estilo Cristão para purificar as
almas das pessoas - tal ideia era totalmente estranha ao Judaísmo. Ele foi
condenado à morte por Herodes Antipas, que temeu que ele estivesse prestes a
começar uma rebelião. O nome de João em Grego era "Ioannes", e em latim "Johannes".
Apesar de estes nomes serem usualmente usados para o nome Hebreu Yochanan, é
improvável que este tenha sido o verdadeiro nome Hebreu de João. "Ioannes"
assemelha-se a "Oannes", o nome Grego para o deus pagão Ea.
Oannes era o "Deus da Casa de Água". Baptismos sacramentais para
purificação mágica das almas era uma prática que aparentemente originou a
adoração de Oannes.
A mais provável explicação do nome de João e a sua relação com Oannes é a de que
João provavelmente ostentou o apelido "Oannes", dado que ele praticava o
baptismo, que tinha adaptado do culto de Oannes. O nome "Oannes" foi mais tarde
confundido com "Ioannes" (de facto, a lenda do Novo Testamento que diz respeito
a João providencia uma pista de que o seu verdadeiro nome talvez tenha sido
Zacarias.)
É sabido, dos escritos de Flávio Josefo, que o João histórico rejeitou a
interpretação pagã do baptismo como "purificação de almas". Os Cristãos, no
entanto, voltaram a esta interpretação pagã original.
O deus Oannes era associado com a constelação do Capricórnio. Tanto Oannes como
a constelação do Capricórnio eram associados com a água (a constelação é suposto
representar uma mítica criatura marítima com o corpo de peixe e as partes
dianteiras de um bode.) Já vimos que a Jesus é dado a mesma data de nascimento
do deus sol (25 de Dezembro), quando o sol está na constelação de Capricórnio.
Os pagãos pensavam deste período como um onde o deus sol imerge nas águas de
Oannes e emerge renascido (o Solstício de Inverno, quando os dias começam a
ficar maiores, ocorre perto de 25 de Dezembro.) Este mito astrológico é
aparentemente a origem da história de que Jesus foi baptizado por João.
Provavelmente começou como uma história astrológica alegórica, mas parece que o
deus Oannes mais tarde foi confundido com a personagem histórica de apelido
Oannes (João.)
A crença de que Jesus tinha conhecido João contribuiu para a crença de que a
pregação e crucificação de Jesus tenha ocorrido quando Pôncio Pilatos era
procurador da Judeia. É de notar que muitas das datas para Jesus citadas pelos
Cristãos são completamente absurdas. Jesus foi em parte baseado em Yeishu
e Bem Stada, que provavelmente viveram com mais de um século de diferença.
Ele foi também baseado nos três falsos Messias, Yehuda, Theudas e Benjamim, que
foram crucificados pelos Romanos em várias épocas diferentes. Outro facto
que contribuiu para a datação confusa de Jesus foi que Jacob de Kfar Sekanya e
provavelmente também outros Notzrim usavam expressões como "assim fui ensinado
por Yeishu ha-Notzri", apesar dele não ter sido ensinado por Yeishu em pessoa.
Sabemos da Gemara que o testemunho de Jacob levou o Rabi Eliezer Ben Hyrcanus a
incorrectamente concluir que Jacob era um discípulo de Yeishu. Isto sugere que
havia rabis que não sabiam que Yeishu tinha vivido nos tempos Asmoneus.
Mesmo depois dos Cristãos situarem Jesus no primeiro século D.C., a confusão
continuou entre os não-Cristãos. Houve um contemporâneo do Rabi Akiva chamado
Pappus Ben Yehuda que costumava trancar a sua esposa infiel. Sabemos da Gemara
que algumas pessoas que algumas pessoas que confundiam Yeishu e ben Stada
confundiam a mulher de Pappus com Míriam, a infiel esposa de Yeishu. Isto iria
situar Yeishu mais de dois séculos depois do que ele actualmente viveu!
A história do Novo Testamento confunde tantos períodos históricos que não há
maneira de a reconciliar com a História. O ano tradicional do nascimento de
Jesus é 1 D.C. Era suposto Jesus não ter mais de dois anos de idade quando
Herodes ordenou a matança dos inocentes. No entanto, Herodes morreu antes de
12 de Abril do ano 4 A.C..
Isto levou alguns Cristãos a redatarem o nascimento de Jesus entre 6 - 4 A.C..
No entanto, Jesus era também suposto ter nascido durante o censos de
Quirinius. Este censos teve lugar depois de Arquelau ter sido deposto em 6
D.C., dez anos depois da morte de Herodes. Era suposto Jesus ter sido baptizado
por João logo depois de João ter começado a baptizar e a pregar, no décimo
quinto ano do reinado de Tibério, i.e., 28 - 29 D.C., quando Pôncio Pilatos foi
governador da Judeia, i.e., 26 - 36 D.C.
De acordo com o Novo Testamento, isto também aconteceu quando Lysanias foi
tetrarca de Abilene e Anás e Caifás eram sumos sacerdotes. Mas Lysanias Abilene
de c. 40 A.C. até ser executado em 36 A.C. por Marco António, cerca de 60 anos
antes da data para Tibério, e cerca de 30 anos antes do suposto nascimento de
Jesus! Além do mais, nunca houve dois sumos sacerdotes juntos, em particular,
Anás não foi sumosacerdote juntamente com Caifás.
Anás foi retirado do ofício de sumo sacerdote em 15
D.C., depois de deter o ofício por alguns nove anos. Caifás só se
tornou sumo sacerdote em 18 D.C., cerca de três anos depois de Anás (ele deteve
este ofício durante cerca de 18 anos, e assim as suas datas são consistentes com
Tibério e Pôncio Pilatos, mas não com Anás ou Lysanias.)
Apesar dos actos dos apóstolos apresentarem Yehuda da Galileia, Theudas e Jesus
como três pessoas diferentes, situa incorrectamente Theudas (crucificado no ano
44 D.C.) antes de Yehuda, que menciona correctamente como tendo sido crucificado
durante o censos (6 D.C.)
Muitos destes absurdos cronológicos parecem ser baseados em leituras mal
interpretadas e mal entendimentos do livro de Flávio Josefo "Antiguidades
Judaicas", que foi usado como referência pelo autor do Evangelho segundo S.
Lucas e dos Actos dos Apóstolos.
A história do julgamento de Jesus é também altamente suspeita. Tenta
claramente aplacar os Romanos enquanto difama os Judeus. O Pôncio Pilatos
histórico era arrogante e déspota. Ele odiava os Judeus e nunca delegou nenhuma
autoridade neles. No entanto, na mitologia Cristã, ele é retractado como um
governante preocupado que se distancia das acusações contra Jesus e que foi
forçado a obedecer às pretensões dos Judeus.
De acordo com a mitologia Cristã, em cada Passagem os Judeus pediriam a Pilatos
para libertar um qualquer criminoso que eles escolhessem. Isto é, claro, uma
mentira espalhafatosa. Os Judeus nunca tiveram o
costume de libertar criminosos culpados na Passagem ou em qualquer outra época
do ano. De acordo com o mito, Pilatos deu aos Judeus a chance de
libertar Jesus, o Cristo, ou um assassino chamado Jesus Barrabás.
Os Judeus são supostos ter entusiasticamente escolhido Jesus Barrabás. Esta
história é uma malévola mentira anti-semita, uma das muitas mentiras semelhantes
encontradas no Novo Testamento (maioritariamente escrito por anti-semitas.)
O que é particularmente odioso nesta história sem sentido é que é aparentemente
uma distorção de uma história mais antiga que clamava que os Judeus tinham
pedido para Jesus Cristo ser liberto. O nome "Barrabás" é simplesmente a forma
Grega do Aramaico "bar Abba", que significa "filho do Pai".
Assim, "Jesus Barrabás" originalmente significava "Jesus o filho do Pai", em
outras palavras o usual Jesus Cristão. Quando a história antiga clamava que os
Judeus queriam que Jesus Barrabás fosse solto, estava a referir-se ao Jesus
usual. Alguém distorceu a história afirmando que Jesus Barrabás era uma pessoa
diferente de Jesus Cristo e isto enganou os Cristãos Romanos e Gregos, que não
sabiam o significado do nome "Barrabás".
Finalmente, a afirmação de que o Jesus ressurrecto apareceu aos seus discípulos
é também baseada em superstições pagãs. Na mitologia Romana, Rómulo, nascido de
uma virgem, apareceu ao seu amigo na estrada antes de ser levado para o céu (o
tema de ser levado para o céu é encontrado em grande número de mitos e lendas
pagãs, e até em histórias Judaicas.) Foi afirmado que Apolónio de Tyana também
tinha aparecido aos seus discípulos depois de ter ressuscitado.
É interessante de notar que o Apolónio histórico nasceu mais ou menos ao mesmo
tempo que o mítico Jesus era suposto ter nascido. Em lendas, as pessoas
afirmavam que ele tinha executado muitos milagres, que eram idênticos àqueles
atribuídos a Jesus, tal como exorcismos de demónios e o de trazer novamente a
vida a uma rapariga morta.
Quando confrontados com missionários Cristãos, deve-se apontar tanta informação
quanta for possível acerca das origens do Cristianismo e do mito de Jesus. Quase
nunca os irás conseguir convencer de que o Cristianismo é uma falsa religião.
Não poderás provar para além de todas as dúvidas de que a história de Jesus
surgiu da maneira que nós afirmamos, uma vez que muita da evidência é
circunstancial. De facto, não podemos ter a certeza da origem precisa de muitos
pontos particulares da história de Jesus. Isto não interessa. O que é importante
é que tu próprio compreendas que existem alternativas lógicas à crença cega nos
mitos Cristãos e que pode ser lançada uma dúvida racional sobre a narrativa do
Novo Testamento.
A FALTA DE EVIDÊNCIA HISTÓRICA PARA JESUS
A resposta Cristã habitual para os que questionam a historicidade de Jesus é
manusear vários documentos como "evidência histórica" para a existência de
Jesus.
Eles normalmente começam com os evangelhos canónicos, ou seja, o Evangelho
segundo S. Mateus, o Evangelho segundo S. Marcos, o Evangelho segundo S. Lucas e
o Evangelho segundo S. João. A afirmação habitual é a de que estes são "registos
de testemunhas oculares sobre a vida de Jesus feitas pelos seus discípulos". A
resposta a este argumento pode ser resumido numa palavra - pseudepigráfico.
Este termo refere-se a trabalhos de escrita cujos autores ocultam as suas
verdadeiras identidades atrás de nomes de personagens lendárias do passado. A
escrita pseudepigráfica era particularmente popular entre os Judeus durante os
períodos Asmoneu e Romano, e este estilo de escrita foi adoptado pelos primeiros
Cristãos.
Os evangelhos canónicos não são os únicos evangelhos. Por exemplo, há também
evangelhos de Maria, Pedro, Tomé e Filipe.
Estes quatro evangelhos são reconhecidos como sendo pseudepigráficos tanto por
escolares Cristãos como não Cristãos. Eles providenciam uma informação histórica
ilegítima dado que foram baseados em rumores e crenças.
A existência destes óbvios evangelhos pseudepigráficos faz com que seja bastante
racional suspeitar que os evangelhos canónicos poderão também ser
pseudepigráficos. O facto de que os primeiros Cristãos escreviam evangelhos
pseudepigráficos sugere que isto era de facto a norma.
Deste modo, é quando os missionários afirmam que os evangelhos canónicos não são
pseudepigráficos que requer provas.
O Evangelho segundo S. Marcos é escrito no nome de S. Marcos, o discípulo do
mítico S. Pedro (S. Pedro é maioritariamente baseado no deus pagão Petra, que
era o porteiro do céu e da vida depois da morte na religião egípcia.)
Até na mitologia Cristã S. Marcos não era discípulo de Jesus, mas um amigo de S.
Paulo e S. Lucas. O Evangelho segundo S. Marcos foi escrito antes do Evangelho
segundo S. Mateus e do Evangelho segundo S. Lucas (c. de 100 D.C.), mas depois
da destruição do Templo em 70 D.C., que menciona. Muitos Cristãos acreditam que
foi escrito em c. 75 D.C.
Esta data não é baseada em História, mas na crença de que um histórico S. Marcos
escreveu o evangelho na sua velhice. Isto não é possível, dado que o estilo de
linguagem usada em S. Marcos mostra que foi escrita (provavelmente em Roma) por
um Romano convertido ao Cristianismo, cuja primeira língua era Latim e não
Grego, Hebreu ou Aramaico.
De facto, como todos os outros evangelhos são escritos em nome de personagens
lendárias do passado, o Evangelho segundo S. Marcos foi provavelmente escrito
muito depois de algum Marcos histórico (se houve um) ter morrido.
O conteúdo do Evangelho segundo S. Marcos é uma colecção de mitos e lendas que
foram juntos de forma a formar uma narrativa contínua. Não há provas de que
tenha sido baseado em qualquer fonte histórica de confiança.
O Evangelho segundo S. Marcos foi alterado e editado muitas vezes, e a versão
moderna provavelmente data de cerca de 150 D.C. Clemente de Alexandria (c. de
150 D.C. - c. de 215 D.C.) queixou-se acerca das versões alternativas deste
evangelho, que ainda circulavam no seu tempo (os Carpocratians, uma primeira
facção Cristã, considerava a pederastia como sendo uma virtude, e Clemente
queixou-se da sua versão do Evangelho segundo S. Marcos, que contava as
explorações homossexuais de Jesus com rapazes novos!.)
O Evangelho segundo S. Mateus certamente não foi escrito pelo apóstolo S.
Mateus. A personagem de S. Mateus é baseada na personagem histórica chamada
Mattai, que era um discípulo de Yeishu ben Pandeira (Yeishu, que viveu nos
tempos Asmoneus, foi uma das várias pessoas históricas em quem a personagem de
Jesus foi baseada.)
O Evangelho segundo S. Mateus foi originalmente anónimo e só foi lhe foi
imputado o nome de S. Mateus algures durante a primeira metade do segundo século
D.C. A forma primitiva foi provavelmente escrita mais ou menos ao mesmo tempo do
Evangelho de S. Lucas (c. de 100 D.C.), pois nenhum dos dois parece saber do
outro.
Foi alterado e editado até cerca de 150 D.C. Os primeiros dois capítulos, que
tratam da virgem a dar à luz, não estavam na versão original, e os Cristãos de
Israel com descendência Judaica preferiram esta primeira versão. Para suas
fontes, usou o Evangelho segundo S. Marcos e uma colecção de ensinamentos
referidos como a Segunda Fonte (ou o Documento Q.)
A Segunda Fonte não sobreviveu como um documento isolado, mas todos os seus
conteúdos são encontrados no Evangelho segundo S. Marcos e no Evangelho segundo
S. Lucas. Todos os ensinamentos aí contidos podem ser encontrados no Judaísmo.
Os ensinamentos mais razoáveis podem ser encontrados no Judaísmo ortodoxo,
enquanto que os menos razoáveis podem ser encontrados no Judaísmo sectário. Não
há nada nele que requeira a nossa suposição da existência de um Jesus histórico
real.
Apesar do Evangelho segundo S. Mateus e do Evangelho segundo S. Lucas atribuírem
os ensinamentos neles contidos a Jesus, a Epístola de S. Tiago atribui-os a S.
Tiago. Como foi visto, o Evangelho segundo S. Mateus não providencia nenhuma
evidência histórica para Jesus.
O Evangelho de S. Lucas e o livro dos Actos dos Apóstolos (que eram duas partes
de um mesmo trabalho) foram escritos em nome da personagem mitológica Cristã de
S. Lucas, o médico (que provavelmente não foi uma personagem histórica mas uma
adaptação Cristã do deus Grego da cura Lycos.)
Até na mitologia Cristã S. Lucas não foi um discípulo de Jesus, mas um amigo de
S. Paulo. O Evangelho segundo S. Lucas e os Actos dos Apóstolos usam o livro de
Flávio Josefo, "Antiguidades Judaicas", como referência, e assim não podiam ter
sido escritos antes de 93 D.C. Nesta altura, qualquer amigo de S. Paulo estaria
ou morto ou bem senil.
De facto, tanto escolares Cristãos como não Cristãos estão de acordo de que as
primeiras versões dos dois livros foram escritas por um Cristão anónimo em c.
100 D.C., e foram alterados e editados até c. 150 - 175 D.C.
Além do livro de Flávio Josefo, o Evangelho segundo S. Lucas e os Actos dos
Apóstolos também usam o Evangelho de S. Marcos e a segunda fonte como
referências. Apesar de Flávio Josefo ser considerado mais ou menos de confiança,
o autor anónimo muitas vezes lê ou entende mal Flávio Josefo, e além disso
nenhuma das informações acerca de Jesus no Evangelho segundo S. Lucas e nos
Actos dos Apóstolos vem de Flávio Josefo. Como se vê, o Evangelho segundo S.
Lucas e os Actos dos Apóstolos não têm valor histórico.
O Evangelho segundo S. João foi escrito em nome do apóstolo S. João, o irmão de
S. Tiago, filho de Zebedeu. O autor do Evangelho segundo S. Lucas usou tantas
fontes quantas pode obter, mas ele não tinha conhecimento do Evangelho segundo
S. João.
Assim, o Evangelho segundo S. João não podia ter sido escrito antes do Evangelho
segundo S. Lucas (c 100 D.C.) Consequentemente, o Evangelho segundo S. João não
podia ter sido escrito pela semi-mítica personagem de S. João, o apóstolo, que
era suposto ter sido morto por Herodes Agripa pouco antes da sua própria morte
em 44 D.C. (S. João, o apóstolo, é aparentemente baseado num histórico discípulo
do falso Messias, Theudas, que foi crucificado pelos Romanos em 44 D.C., e cujos
discípulos foram assassinados.)
O autor real do Evangelho segundo S. João foi, de facto, um anónimo Cristão de
Éfeso, na Ásia Menor.
O fragmento mais velho sobrevivente do Evangelho segundo S. João data de c. 125
D.C., e assim podemos datar o Evangelho de c. 100 - 125 D.C. Baseados em
considerações estilísticas, muitos escolares diminuem a data para c. 100 – 120
D.C. A primeira versão do Evangelho segundo S. João não contém o último
capítulo, que trata da aparição de Jesus aos seus discípulos. Tal como os outros
Evangelhos, o Evangelho segundo S. João provavelmente só chegou à sua presente
forma por volta de 150 - 175 D.C. O autor do Evangelho segundo S. João usou o
Evangelho segundo S. Marcos frugalmente, e assim pode-se suspeitar que não
confiava nele.
Ele ou não tinha lido o Evangelho segundo S. Mateus e o Evangelho segundo S.
Lucas ou não confiava neles, pois ele não usa nenhuma informação deles que não
tenha sido encontrada no Evangelho segundo S. Marcos. Grande parte do Evangelho
segundo S. João consiste em lendas com óbvias interpretações fundamentais
alegóricas, e pode-se suspeitar que o autor nunca tencionou que fossem História.
O Evangelho segundo S. João não contém nenhuma informação de fontes históricas
de confiança.
Os Cristãos afirmarão que próprio Evangelho segundo S. João declara que é um
documento histórico escrito por S. João. Esta pretensão é baseada nos versos Jo
19.34 - 35 e Jo 21.20 - 24. Jo 19.34 - 35 não afirma que o Evangelho foi escrito
por S. João. Afirma que os eventos descritos nos versos imediatamente
precedentes foram reportados correctamente por uma testemunha. A passagem é
ambígua e não é claro se a testemunha é suposta ser a mesma pessoa que o autor.
Muitos escolares são da opinião de que a ambiguidade é deliberada e que o autor
do Evangelho segundo S. João está a tentar arreliar os seus leitores nesta
passagem, bem como nas passagens em que conta histórias miraculosas com
interpretações alegóricas. Jo 21.20 - 24 também não afirma que o autor é S.
João. Afirma que o discípulo mencionado na passagem é alguém que testemunhou os
eventos descritos.
É mais uma vez notavelmente ambíguo no que refere à questão do discípulo ser a
mesma pessoa que o autor. É de notar que esta última passagem é no último
capítulo do Evangelho segundo S. João, que não fazia parte do Evangelho
original, mas que foi adicionado como um epílogo por um redactor anónimo.
Tem de se estar consciente do facto de que muitas traduções "fáceis de entender"
do Novo Testamento distorcem as passagens mencionadas para remover a ambiguidade
encontrada no original Grego (idealmente, uma pessoa precisa de estar
familiarizada com o texto original Grego do Novo Testamento de maneira a evitar
traduções preconceituosas e corrompidas usadas por fundamentalistas e
missionários Cristãos.)
De maneira a fazer recuar as suas pretensões de que o Evangelho segundo S.
Marcos e o Evangelho segundo S. Mateus foram escritos pelos "reais" apóstolos S.
Marcos e S. Mateus, e que Jesus é uma personagem histórica, os missionários
muitas vezes chamam a atenção para o assim chamado "testemunho de Papias".
Papias foi o bispo de Hierápolis (perto de Éfeso) em meados do segundo século
D.C.
Nenhum dos seus escritos sobreviveu, mas o historiador Cristão Eusébio (c. 260 -
339 D.C.), no seu livro História Eclesiástica (escrito c. 311 – 324 D.C.)
parafraseou certas passagens do livro de Papias "Exposition of the Oracles of
the Lord" (escrito c. 140 - 160 D.C.)
Nestas passagens, Papias afirma que tinha conhecido as filhas do apóstolo S.
Filipe, e também reportou várias histórias que afirmou terem vindo de pessoas
chamadas Aristion e João, o Ansião, que ainda estariam vivos durante a sua
própria vida.
Eusébio parece ter pensado que Aristion e João, o Ansião eram discípulos de
Jesus. Papias afirmava que João, o Ansião tinha dito que S. Marcos tinha sido o
intérprete de S. Pedro e tinha escrito exactamente tudo o que S. Pedro tinha
escrito sobre Jesus.
Papias também afirmou que S. Mateus tinha compilado todos os "oráculos" em
Hebreu, e todos os tinham interpretado o melhor que podiam. Nada disto, no
entanto, providencia uma evidência histórica legítima de Jesus nem suporta a
crença de que o Evangelho segundo S. Marcos e o Evangelho segundo S. Mateus
foram realmente escritos por apóstolos ostentando aqueles nomes.
Papias foi um blasonador e não é de nenhuma maneira certo de que ele tenha sido
honesto quando afirmou ter conhecido as filhas de S. Filipe. Mesmo que tivesse,
isto iria, no máximo, provar que o apóstolo S. Filipe da mitologia Cristã tinha
sido baseado numa personagem histórica. Papias nunca afirmou explicitamente que
tinha conhecido Aristion e João, o Ansião. Além do mais, só porque Eusébio no
século IV acreditou que tinham sido discípulos de Jesus não quer dizer que
tenham sido.
Nada é conhecido sobre quem realmente seria Aristion. Ele não é certamente um
dos discípulos na usual tradição Cristã. Já vi livros em que certos
fundamentalistas Cristãos afirmam que João, o Ansião era o apóstolo S. João, o
filho de Zebedeu, e que ele ainda estaria vivo quando Papias era jovem.
Eles também afirmam que Papias viveu entre c. 60 - 130 D.C., e que ele escreveu
o seu livro em c. 120 D.C. Estas datas não são baseadas em nenhuma legítima
evidência e são um completo disparate: Papias foi bispo de Hierápolis em c. 150
D.C. e como foi já mencionado o seu livro foi escrito algures no período c. 140
- 160 D.C.
Puxando a data para Papias para 60 D.C., ainda não o coloca durante o tempo de
vida do apóstolo S. João, que, de acordo com as lendas Cristãs normais, foi
morto em 44 D.C. Além disso, é improvável que João, o Ansião tenha tido alguma
coisa a haver com S. João, o apóstolo. De acordo com Epifâneo (c. 320 - 403), um
primitivo Cristão chamado João, o Ansião tinha morrido em 117 D.C. Teremos mais
a dizer sobre ele quando discutirmos as três epístolas atribuídas a S. João.
Qualquer que seja o caso, as histórias que Papias coleccionou eram sendo
contadas pelo menos uma década depois de os Evangelhos e os Actos dos Apóstolos
terem sido escritos, e reflectem rumores e superstições infundadas acerca das
origens destes livros.
Em particular, a história acerca de S. Marcos obtida de João, o Ansião, não é
mais que uma elaboração superficial da lenda acerca de S. Marcos encontrada nos
Actos dos Apóstolos, e assim não nos diz nada acerca das verdadeiras origens do
Evangelho segundo S. Marcos. A história acerca de S. Mateus escrever os
"oráculos" é simplesmente um rumor, e além disso, não tem nada a haver com o
Evangelho segundo S. Mateus.
O termo "oráculos" pode apenas ser entendido como uma referência à colecção de
escritos conhecidos como Oracles of the Lord, que é referido no título do livro
de Papias, e que com toda a probabilidade é a mesma coisa que a Segunda Fonte,
não o Evangelho segundo S. Mateus.
Além dos Evangelhos canónicos e dos Actos dos Apóstolos, os missionários também
tentam usar as várias epístolas Cristãs como prova da história de Jesus. Eles
afirmam que as epístolas são cartas escritas por discípulos e seguidores de
Jesus. No entanto, epístolas (do Grego epistolē, significando mensagem ou
ordem) são livros, escritos sob forma de cartas (usualmente de personagens
lendárias do passado), que expõem doutrinas e instruções religiosas.
Esta forma de escrita religiosa foi usada pelos Judeus nos tempos Greco-Romanos
(a mais famosa epístola Judaica é a Epístola de Jeremias, que é uma prolongada
condenação da idolatria, escrita durante o período Helénico na forma de carta
pelo profeta Jeremias à população de Jerusalém mesmo antes deles terem sido
exilados para a Babilónia.) Como no caso dos Evangelhos, há epístolas Cristãs
que não estão contidas no Novo testamento, que escolares tanto Cristãos como
não-Cristãos concordam serem epístolas pseudepigráficas e de nenhum valor
histórico, pois expõem crenças e não História.
A existência de epístolas pseudepigráficas, e verdadeiramente todo o conceito de
uma epístola, sugere que as epístolas eram normalmente pseudepigráficas. Ainda
assim, são as afirmações dos missionários e Cristãos fundamentalistas de que as
epístolas canónicas são cartas genuínas que requerem provas. A Epístola de S.
Judas é escrita em nome de Jude (Judas), o irmão de S. Tiago. De acordo com o
Evangelho segundo S. Marcos e o Evangelho segundo S. Mateus, Jesus tinha irmãos
chamados Judas e Tiago.
Comparando com outros escritos mostra que a Epístola de S. Judas foi escrita em
c. 130 D.C., e assim é obviamente pseudepigráfica. No entanto, não há nenhuma
evidência que o seu autor usou alguma fonte histórica legítima no que se refere
a Jesus. Duas das epístolas canónicas são escritas em nome de S. Pedro.
Dado que S. Pedro é uma adaptação da divindade pagã egípcia Petra, estas
epístolas certamente não foram escritas por ele. O estilo e o carácter da
Primeira Epístola de S. Pedro sozinhos mostram que não pode ter sido escrita
antes de 80 D.C. Até de acordo com a lenda Cristã, S. Pedro era suposto ter
morrido no decurso das perseguições instigadas por Nero em c. 64 D.C. e portanto
ele não poderia ter escrito a epístola.
O autor do Evangelho segundo S. Lucas e dos Actos dos Apóstolos usou todas as
fontes escritas que conseguiu obter e tendia a usá-los indiscriminadamente, no
entanto ele não menciona quaisquer epístolas de S. Pedro. Isto mostra que a
Primeira Epístola de S. Pedro foi provavelmente escrita depois do Evangelho
segundo S. Lucas e dos Actos dos Apóstolos (c. 100 D.C.)
Nenhuma das referências a Jesus na Primeira Epístola de S. Pedro é tirada de
fontes históricas, mas em vez disso reflecte crenças e superstições. A Segunda
Epístola de S. Pedro é uma declaração contra os Marcionistas, e portanto deve
ter sido escrita em c. 150 D.C. Como se vê, é claramente pseudepigráfico. A
Segunda Epístola de S. Pedro usa como fontes: a história da transfiguração de
Jesus encontrada no Evangelho segundo S. Marcos, Evangelho segundo S. Mateus e
Evangelho segundo S. Lucas, o Apocalipse de S. Pedro e a Epístola de S. Judas.
O não canónico Apocalipse de S. Pedro (escrito algures no primeiro quarto do
segundo século D.C.) é reconhecido como sendo não-histórico até pelos
fundamentalistas Cristãos. Assim, a Segunda Epístola de S. Pedro também não usa
qualquer fonte histórica legítima.
MITO DE JESUS HISTÓRICO IV
Agora voltamo-nos para as epístolas supostamente escritas por São Paulo.
A Primeira Epístola de São Paulo a Timóteo avisa contra o trabalho Marcionista
conhecido como Antithesis. Marcion foi expulso da Igreja de Roma em c. 144 d.C.
e a Primeira Epístola de São Paulo a Timóteo foi escrita pouco depois.
Como se vê, temos novamente um caso claro de pseudepigrafia.
A Segunda Epístola de São Paulo a Timóteo e a Epístola de São Paulo a Tito foram
escritas pelo mesmo autor e datam de cerca do mesmo período. Estas três
epístolas são conhecidas como as "epístolas pastorais". As 10 restantes
epístolas "não-pastorais" escritas no nome de São Paulo eram conhecidas por
Marcion em c. 140 d.C.
Algumas delas não foram escritas somente no nome de São Paulo, mas estão na
forma de cartas escritas por São Paulo em colaboração com vários amigos como
Sosthenes, Timóteo e Silas.
O autor do Evangelho segundo São Lucas e dos Actos dos Apóstolos usou todas as
vias para obter todas as fontes disponíveis e tendeu a usá-las
indiscriminadamente, mas ele não usou nada das epístolas Paulinas. Podemos então
concluir que as epístolas não-pastorais foram escritas depois do Evangelho
segundo São Lucas e dos Actos dos Apóstolos no período c. 100 - 140 d.C.
A não-canónica Primeira Epístola de Clemente aos Coríntios (escrita c. 125 d.C.)
usa a Primeira Epístola de São Paulo aos Corintios como fonte, e, portanto
podemos reduzir a data para essa epístola para 100 - 125 d.C. No entanto,
ficamos com a conclusão de que todas as epístolas Paulinas são pseudepigráficas
(o semi-mítico São Paulo era suposto ter morrido durante as perseguições
instigadas por Nero em c. 64 d.C.)
Algumas das epístolas Paulinas aparentam terem sido alteradas e revistas
numerosas vezes antes de terem chegado às suas formas modernas.
Como fontes usa-se mutuamente, e ainda os Actos dos Apóstolos, o Evangelho
segundo São Marcos, o Evangelho segundo São Mateus, o Evangelho segundo São
Lucas e a Primeira Epístola de São Pedro. Podemos então concluir que não
providenciam nenhuma evidência histórica de Jesus.
A Epístola aos Hebreus é uma epístola particularmente interessante, dado que não
é pseudepigráfica, mas completamente anônima. O seu autor nem revela o seu
próprio nome nem escreve em nome de um personagem mitológico Cristão Os Cristãos
fundamentalistas clamam ser outra epístola de São Paulo e de facto chamam-lhe
Epístola de São Paulo aos Hebreus. Esta idéia, aparentemente datando do final do
quarto século d.C., não é, no entanto aceite por todos os Cristãos.
Como fonte para a sua informação sobre Jesus usa material comum ao Evangelho
segundo São Marcos, ao Evangelho segundo São Mateus e ao Evangelho segundo São
Lucas, mas não fontes legítimas. O autor da Primeira Epístola de São Clemente
usou-o como fonte, e, portanto deve ter sido escrita antes dessa epístola (c.
125 d.C.) , mas depois de, pelo menos, o Evangelho segundo São Marcos (c. 75 –
100 d.C.)
A Epístola de São Tiago é escrita no nome de um servo de Jesus chamado Tiago (ou
Jacobus.) No entanto, na mitologia Cristã havia dois apóstolos chamados Tiago e
Jesus também tinha um irmão chamado Tiago.
Não é claro qual dos Tiagos é o pretendido, e não há entendimento entre os
próprios Cristãos. Cita declarações da Segunda Fonte, mas ao contrário do
Evangelho segundo São Mateus e do Evangelho segundo São Lucas não atribui estas
declarações a Jesus, mas apresenta-as como sendo de São Tiago. Contém um
importante argumento contra a doutrina da "salvação através da fé" exposta na
Epístola de São Paulo aos Romanos. Podemos então concluir que foi escrita
durante a primeira metade do segundo século d.C., depois da Epístola aos
Romanos, mas antes do tempo em que o Evangelho segundo São Mateus e o Evangelho
segundo São Lucas foi aceite por todos os Cristãos.
Assim, indiferentemente de qual seja o São Tiago pretendido, a Epístola de São
Tiago é pseudepigráfica. Não diz quase nada de Jesus e não há evidência de que o
autor tinha quaisquer fontes históricas para ele.
Há três epístolas com o nome do apóstolo São João. Nenhuma delas é, de facto,
escrita no nome de São João, e provavelmente só lhes foram atribuídas algum
tempo depois de terem sido escritas. A Primeira Epístola de São João, tal como a
Epístola aos Hebreus, é completamente anónima. A ideia de que foi escrita por
São João vem do facto de que usa o Evangelho segundo São João como fonte.
As outras duas epístolas com o nome de São João foram escritas por um único
autor que em vez de escrever em nome de um apóstolo, escolheu simplesmente
chamar-se "o Ancião". A idéia de que estas duas epístolas foram escritas por São
João nasceu das crenças de que "o Ancião" se referia a João, o Ancião, e que ele
era a mesma pessoa que o apóstolo São João. No caso da Segunda Epístola de São
João, esta crença foi reforçada pelo facto de que essa epístola também usa o
Evangelho segundo São João como fonte.
Podemos então concluir que as primeiras duas epístolas atribuídas a São João
foram escritas depois do Evangelho segundo São João (c. 110 -120 d.C.)
Consequentemente, nenhuma das três epístolas poderia ter sido escrita pelo
apóstolo São João. Deve-se apontar que é bastante possível que o pseudônimo "o
Ancião" se refira à pessoa chamada João, o Ancião, mas se tal assim é, ela não é
certamente o apóstolo São João. As primeiras duas epístolas de São João apenas
usam o Evangelho segundo São João como fonte para Jesus; elas não usam nenhuma
fonte legítima.
A Terceira Epístola de São João menciona "Cristo" escassamente e não há
evidências de que tenha usado qualquer fonte histórica para ele.
Além das epístolas com o nome de São João, o Novo Testamento também contém um
livro conhecido como Apocalipse do Apóstolo São João. Este livro combina duas
formas de escrita religiosa, a da epístola e a do apocalipse (apocalipses são
trabalhos religiosos que são escritos na forma de revelação acerca do futuro por
um personagem famoso do passado. Estas revelações geralmente descrevem eventos
infelizes que ocorrem no tempo em que foram escritas, e também oferecem alguma
esperança ao leitor de que as coisas irão melhorar.)
Não é certo por quantas revisões passou o Apocalipse do Apóstolo São João, e
assim é difícil datá-la precisamente.
Dado que menciona as perseguições instigadas por Nero, podemos dizer com certeza
que não foi escrita antes de 64 d.C. Assim sendo, não poderia ter sido escrita
pelo "verdadeiro São João". Os primeiros versos formam uma introdução que é
claramente entendida como não sendo de São João, e que providencia uma vaga
admissão de que o livro é pseudepigráfico, apesar do autor sentir que a sua
mensagem é inspirada por Deus.
O estilo de escrita e as referências à prática de kriobolium (baptismo em sangue
de ovelha) sugerem que o autor era dessas pessoas de descendência Judaica que
misturavam o Judaísmo com práticas pagãs. Havia muitos destes "Judeus pagãos"
durante os tempos Romanos, e foram estas pessoas que se tornaram nos primeiros
convertidos aos Cristianismo, estabeleceram as primeiras igrejas, e que foram
provavelmente também responsáveis pela introdução de mitos pagãos na história de
Jesus (eles são também lembrados pela sua crença ridícula de que "Adonai
Tzevaot" era o mesmo que o deus pagão "Sebazios".)
As referências a Jesus no livro são poucas e não há evidências de que são
baseadas em nada mais que crença.
Além das epístolas aceitas no Novo Testamento, e além das epístolas que são
unanimemente reconhecidas como não tendo qualquer valor (como a Epístola de
Barnabas), existem também várias epístolas que embora não aceitas no Novo
Testamento são consideradas de valor por alguns Cristãos. Primeiramente, há as
epístolas com o nome de Clemente.
Na lenda Cristã, São Clemente foi o terceiro na sucessão a São Pedro como bispo
de Roma. A Primeira Epístola de São Clemente aos Coríntios não é, de facto,
escrita em nome de Clemente, mas no nome da "Igreja de Deus que estadia em
Roma". Refere-se a uma perseguição que é geralmente pensada como tendo ocorrido
em 95 d.C., no reinado de Domiciano, e refere-se à exoneração dos anciãos da
Igreja de Corínto em c. 96 d.C.
Os Cristãos acreditam que São Clemente foi bispo de Roma durante esta altura, e
esta é aparentemente a razão pela qual a epístola lhe foi mais tarde atribuída.
Os Cristãos fundamentalistas acreditam que a epístola foi de facto escrita em 96
d.C.
Esta data não é possível dado que a epístola se refere a bispos e a padres como
grupos separados, uma divisão que não tinha ainda tomado lugar.
Considerações estilísticas mostram que foi escrita em c. 125 d.C. Como
referências, usa a Epístola aos Hebreus e a Primeira Epístola de São Paulo aos
Coríntios, mas
nenhuma legítima fonte histórica. A Segunda Epístola de São Clemente é de um
autor diferente do primeiro e foi escrita mais tarde.
Podemos então concluir que também não foi escrita por São Clemente (não há
evidências de que qualquer uma destas epístolas tenha sido atribuída a São
Clemente antes da sua incorporação na colecção de livros conhecida como o Codex
Alexandrinus, no século quinto d.C.) Como fontes para Jesus, a Segunda Epístola
de São Clemente usa o Evangelho dos Egípcios, um documento que é rejeitado até
pelos mais fundamentalistas Cristãos, e também os livros do Novo Testamento que
mostramos serem de nenhum valor. Assim, e uma vez mais, não temos nenhuma
legítima evidência de Jesus.
A seguir, temos as epístolas escritas no nome de Inácio. De acordo com a lenda,
St. Inácio era o bispo de Antioquia que foi morto durante o reinado de Trajano
c. 110 d.C. (apesar de ele ser provavelmente baseado num personagem histórico
real, as lendas acerca do seu martírio são largamente ficcionais..) Existem
quinze epístolas escritas no seu nome.
Destas, oito são unanimemente reconhecidas como sendo pseudepigráficas e de
nenhum valor no que respeita a Jesus. As restantes sete têm cada uma duas
formas, uma maior e outra mais pequena.
As formas maiores são claramente edições alteradas e revistas das formas mais
pequenas. Os fundamentalistas Cristãos clamam que as formas mais pequenas são as
cartas genuínas escritas por St. Inácio. A Epístola de St. Inácio aos
Esmirnenses menciona a tripla ordenação de bispos, padres e diáconos, que ainda
não tinha tido lugar aquando da morte de St. Inácio, que ocorreu o mais tardar
em 117 d.C. e que provavelmente teve lugar c. 110 d.C.
Todas as sete pequenas epístolas atacam várias crenças Cristãs, hoje
consideradas heréticas, que só se tornou prevalecente c. 140 - 150 d.C. A
Epístola de St. Inácio aos Romanos mais pequena contém uma citação dos escritos
de St. Ireneu, escrito depois de 170 d.C. e publicada c. 185 d.C. Podemos então
conclui rque as sete epístolas mais curtas são também pseudepigráficas. A
Epístola de St .Inácio aos Romanos mais curta foi certamente escrita depois de
170 d.C. (de facto, se não foi escrita por St. Ireneu então foi provavelmente
escrita depois de c. 185 d.C.) e as outras seis foram escritas não antes do
período c. 140 – 150 d.C., se não mais tarde.
Não há fontes para Jesus nas epístolas de St. Inácio que não sejam os livros do
Novo Testamento e os escritos de St. Ireneu, que apenas usa o Novo Testamento.
Portanto, elas contêm nenhuma evidência legítima para Jesus.
Há também mais duas epístolas que os Cristãos afirmam serem cartas genuínas, a
saber, a Epístola de São Policarpo e o Martírio de São Policarpo. As epístolas
de St. Inácio e as epístolas que dizem respeito a São Policarpo foram sempre
estreitamente associadas. É bastante possível que tenham todas sido escritas
pelo escritor Cristão St. Ireneu e seus discípulos. Houve certamente um
primitivo personagem histórico real Cristã chamada Policarpo. Ele foi bispo de
Esmirna e foi morto pelos Romanos algures no período de 155 - 165 d.C.
Quando St. Ireneu era um rapaz, conheceu São Policarpo. Fundamentalistas
Cristãos
afirmam que São Policarpo era o discípulo do apóstolo São João. No entanto,
mesmo que aceitemos a lenda de que São Policarpo tenha vivido até à idade de 86,
ele não poderia ter nascido antes de 67 d.C., e, portanto não poderia ter sido
discípulo de São João (é possível que tenha sido discípulo do enigmático João, o
Ancião.) Como St. Ireneu tinha conhecido São Policarpo, também assumiram que St.
Ireneu era de facto seu discípulo, uma pretensão para a qual não há evidências.
A Epístola de São Policarpo usa a maior parte dos livros do Novo Testamento e as
epístolas de St. Inácio como referências, mas não usa fontes legítimas para
Jesus. Os Cristãos que rejeitam as epístolas de St. Inácio mas que acreditam ser
a Epístola de São Policarpo uma carta genuína afirmam que as referências às
epístolas de Inácio são uma inserção tardia. Esta idéia é baseada em inclinações
pessoais, e não em nenhuma evidência genuína.
Baseada numa crença cega que a epístola é uma carta genuína, alguns Cristãos
datam-na de meados do segundo século d.C., pouco antes da morte de São
Policarpo. No entanto, as referências às epístolas de St. Inácio sugere que foi
de facto escrita algures durante as últimas décadas do segundo século d.C., pelo
menos cerca de uma década depois da morte de Policarpo, se não mais tarde.
O Martírio de São Policarpo é escrito em nome da "Igreja de Deus que estadia em
Esmirna". Começa na forma de carta, mas o seu corpo principal é escrito na forma
de uma história vulgar. Fala-nos do conto do martírio de São Policarpo.
O MITO DO JESUS
HISTÓRICO V
Tal como a Epístola de São Policarpo, foi escrita algures durante as últimas
décadas do segundo século d.C. Infelizmente, não existe evidência de que tenha
usado quaisquer fontes de confiança para a sua história, apenas rumores e
boatos.
De facto, a história parece ser altamente ficcional. As referências a Jesus não
são tiradas de qualquer fonte de confiança.
Assim, vimos que as epístolas usadas pelos missionários como "evidências" são
tão ilegítimas como os evangelhos. Ainda assim, o leitor deve ter em atenção as
traduções fáceis de entender do Novo Testamento, dado que elas chamam as
epístolas "cartas", e, portanto implicando incorrectamente que elas são na
verdade cartas escritas pelas pessoas das quais levaram o nome.
Agora, além dos livros do Novo Testamento, e além das epístolas relativas a São
Clemente, St. Inácio e São Policarpo, há ainda mais um trabalho religioso
Cristão que os Cristãos afirmam ser uma evidência histórica de Jesus, a saber,
os Ensinamentos dos Doze Apóstolos, também conhecido como o Didache. Todos os
outros primitivos trabalhos religiosos Cristãos ou são totalmente rejeitados
pelos modernos Cristãos ou pelo menos reconhecidos como não sendo fontes
primárias no que respeita a Jesus.
O Didache começou como documento sectário Judeu, provavelmente escrito durante o
período de tumulto em c. 70 d.C. A sua forma primitiva consistia em ensinamentos
morais e predições da destruição da corrente ordem mundial. Esta primeira
versão, que obviamente não mencionava Jesus, foi tomada pelos Cristãos, que o
reviram e alteraram bastante, adicionando uma história de Jesus e regras de
culto para as primeiras comunidades Cristãs. Os escolares estimam que a primeira
versão Cristã do Didache não poderia ter sido escrita muito depois de 95 d.C.
Provavelmente só chegou à sua forma final por volta c. 120 d.C.
Parece ter servido uma comunidade Cristã isolada na Síria como uma "Ordem da
Igreja" durante o período c. 100 - 130 d.C. No entanto, não há evidências de que
a sua história de Jesus tenha sido baseada em qualquer fonte de confiança, e
como havemos mencionado, a primitiva versão Judaica não tinha nada a haver com
Jesus. De facto, este documento providencia informação de que o mito de Jesus
cresceu gradualmente.
Tal como o Evangelho segundo São Marcos e as primeiras versões do Evangelho
segundo São Mateus, a história de Jesus no Didache não faz menção de um
nascimento de uma virgem. Não faz menção dos fantásticos milagres que foram mais
tarde atribuídos a Jesus. Apesar de Jesus ser referido como "filho" de Deus,
parece que este termo é usado simbolicamente. A evidência que temos em relação à
origem do mito da crucificação sugere que uma das coisas que levou a este mito
era o facto
da cruz ser o símbolo astrológico do Equinócio Vernal, que ocorre perto da
Passagem, quando se acredita que Jesus tenha sido morto.
Assim, não é de surpreender que a história no Didache não mencione Jesus a ser
crucificado, apesar de mencionar uma cruz no céu como símbolo de Jesus. Os doze
apóstolos mencionados no título do Didache não aparecem como doze reais
discípulos de Jesus, e o termo refere-se claramente aos doze filhos de Jacob que
representam as doze tribos de Israel. Assim, o Didache providencia pistas vitais
no que respeita ao crescimento do mito de Jesus, mas certamente não providencia
qualquer evidência de um Jesus histórico.
Dado que nenhum dos textos religiosos Cristãos providencia nenhuma evidência
aceitável de Jesus, os missionários voltam-se a seguir para textos não-Cristãos.
Os Cristãos afirmam que vários historiadores de confiança registraram informação
acerca de Jesus. Apesar de alguns destes historiadores serem mais ou menos
aceitos, veremos que eles não providenciam qualquer informação acerca de Jesus.
Primeiramente, os Cristãos afirmam que o historiador Judeu Flávio Josefo
registou informações acerca de Jesus no seu livro Antiguidades Judaicas
(publicado c. 93 - 94 d.C.) É verdade que este livro contém informações sobre os
três falsos Messias, Yehuda da Galileia, Theudas e Benjamim, o Egípcio, e é
verdade que a personagem de Jesus parece ser baseada em todos eles, mas nenhum
deles pode ser considerado como o Jesus histórico.
Além do mais, no livro dos Actos dos Apóstolos, estas pessoas são mencionadas
como sendo pessoas diferentes de Jesus, e assim o Cristianismo moderno rejeita
alguma relação entre eles e Jesus. Nas edições Cristãs revistas das Antiguidades
Judaicas, há duas passagens que se referem a Jesus como está retractado nos
trabalhos religiosos Cristãos.
Nenhuma destas passagens são encontradas na versão original das Antiguidades
Judaicas, que foi preservada pelos Judeus. A primeira passagem (XVII,3,3) foi
citada pela escrita de Eusebius em c. 320 d.C., e, portanto podemos concluir que
foi adicionada algures entre o tempo em que os Cristãos detiveram as
Antiguidades Judaicas e c. 320 d.C.
Não é conhecido quando a outra passagem (XX,9,1) foi adicionada. Nenhuma das
passagens é baseada em qualquer fonte de confiança. É fraudulento afirmar que
estas passagens foram escritas por Flávio Josefo, e que elas providenciam
evidências para Jesus. Elas foram escritas por redactores Cristãos e são
baseadas puramente na crença Cristã.
A seguir, os Cristãos apontarão para os Anais de Tácito. Nos Anais XV,44, Tácito
descreve como Nero culpou os Cristãos pelo incêndio de Roma em 64 d.C. Ele
menciona que o nome "Cristãos" era originário de uma pessoa chamada Christus,
que tinha sido executada por Pôncio Pilatos durante o reinado de Tibério.
É certamente verdade que o nome "Cristãos" é derivado de Cristo ou Christus (=
Messias), mas a afirmação de Tácito de que ele foi executado por Pilatos durante
o reinado de Tibério é baseado puramente nas afirmações feitas pelos próprios
Cristãos e que apareciam nos Evangelho segundo São Marcos, Evangelho segundo São
Mateus e Evangelho segundo São Lucas, que já tinham tido extensa circulação
quando os Anais estavam a ser escritos (os Anais foram publicados depois de 115
d.C. e não foram certamente escritos antes de 110 d.C.)
Portanto, embora os Anais contenham uma frase na qual se fala de "Christus" como
uma verdadeira pessoa, esta frase foi puramente baseada em afirmações e crenças
Cristãs, que são de nenhum valor histórico. É bastante irónico que os modernos
Cristãos usem Tácito para suportarem as suas crenças dado que ele era o menos
exacto de todos os historiadores Romanos. Ele justifica o ódio aos Cristãos
dizendo que eles cometiam abominações.
Além de "Christus", ele também fala de outros deuses pagãos como se eles
realmente existissem. O seu sumário da História do Médio Oriente no seu livro
Histórias é tão distorcido que é ridículo. Podemos concluir que a sua única
menção de Christus não pode ser tida como uma evidência de confiança de um Jesus
histórico.
Uma vez Tácito ser rejeitado, os Cristãos afirmarão que uma das cartas de
Plínio, o Jovem ao imperador Trajano providencia evidências de um Jesus
histórico (Cartas X,96.) Isto é um disparate. A carta em questão simplesmente
menciona que certos Cristãos tinham maldito "Cristo" para evitarem serem
castigados. Não afirma que este Cristo realmente tenha existido.
A carta em questão foi escrita antes da morte de Plínio em c. 114 d.C., mas
depois de ele ser mandado para Bitínia em 111d.C., provavelmente no ano 112 d.C.
Assim, ela providencia nada mais que uma confirmação do facto trivial de que à
volta do começo da décima segunda década d.C. os Cristãos normalmente não
amaldiçoavam algo chamado "Cristo" apesar de alguns o terem feito para evitarem
o castigo.
Não providencia nenhuma evidência de um Jesus histórico. Os Cristãos irão também
afirmar que Suetônio registrou evidências de Jesus no seu livro As Vidas dos
Imperadores (também conhecido como Os doze Césares.)
A passagem em questão é Cláudio 25, onde menciona que o imperador Cláudio
expulsou os Judeus de Roma (aparentemente em 49 d.C.) porque eles causavam
distúrbios contínuos instigados por um certo Chrestus.
Se assumirmos cegamente que "Chrestus" se refere a Jesus, então, se é que, esta
passagem contradiz a história Cristã de Jesus dado que Jesus era suposto ter
sido crucificado quando Pôncio Pilatos era procurador (26 - 46 d.C.) durante o
reinado de Tibério, e além do mais, ele nunca foi suposto ter estado em Roma!
Suetônio viveu durante o período c. 75 - 150 d.C., e o seu livro, As Vidas dos
Imperadores, foi publicado durante o período 119 – 120 d.C., tendo sido escrito
algum tempo depois da morte de Domiciano em 96 d.C.
Assim sendo, o evento que ele descreve ocorreu pelo menos 45 anos antes de ele
ter escrito acerca disso, e assim não podemos ter a certeza da sua exactidão. O
nome Chrestus é derivado do Grego Chrestos, que significa "o bom" e não é o
mesmo que Christ ou Christus que são derivados do Grego Christos, que significa
"o ungido/Messias".
Se tomarmos a passagem pelo seu valor nominal ela refere-se a uma pessoa chamada
Chrestus que estava em Roma e que não tinha nada a ver com Jesus ou com qualquer
outro "Cristo". O termo Chrestos era bastante aplicado para os deuses pagãos e
muitas das pessoas em Roma chamados "Judeus" eram na verdade pessoas que
misturavam crenças Judaicas com crenças pagãs e que não eram necessariamente de
descendência Judaica.
Assim, é também possível que a passagem se refira a conflitos envolvendo estes
"Judeus" pagãos que adoravam um deus pagão (como Sebazios) de título Chrestos.
Por outro lado, as palavras Chrestos e Christos eram muitas vezes confundidas, e
assim a passagem poderia até referir-se a algum conflito envolvendo Judeus que
acreditavam que alguma pessoa era o Messias, mas esta pessoa poderá ou não ter
estado realmente em Roma, e por tudo o que sabemos, ele poderá não ter~sido um
verdadeiro personagem histórico.
Deve-se ter em memória que o evento descrito teve lugar só alguns anos após a
crucificação do falso Messias Theudas em 44 d.C. e que a passagem pode-se
referir aos seus seguidores em Roma. Os Cristãos afirmam que a passagem se
refere a Jesus e aos conflitos que nasceram depois de São Paulo ter trazido
notícias dele a Roma, e que Suetônio apenas se enganou acerca do próprio Jesus
ter estado em Roma. No entanto, esta interpretação é baseada na crença cega em
Jesus e nos mitos acerca de São Paulo e não há nada que sugira ser esta a
correcta interpretação.
Assim, podemos concluir que Suetônio também falha em providenciar qualquer
evidência de um Jesus histórico.
Todos os outros escritores que mencionam Jesus, desde São Justino, o Mártir no
segundo século d.C. aos últimos intérpretes do mito Cristão no século vinte,
basearam todos as suas referências a Jesus nas fontes que desacreditamos acima.
Consequentemente, as suas pretensões são de nenhum valor como evidências
históricas. Ficamos então com a conclusão de que não há absolutamente nenhuma
evidência histórica de confiança e aceitável.
Todas as referências a Jesus são derivadas das crenças supersticiosas e mitos da
primitiva comunidade Cristã. A maioria destas crenças apenas apareceram após a
perseguição de Nero e a tragédia de 70 d.C. Muitas destas crenças são baseadas
nas lendas pagãs acerca dos deuses Tammuz, Osíris, Attis, Dioniso e o deus sol
Mithras.
Outros mitos acerca de Jesus parecem ser baseados em diferentes e variados
personagens históricos tais como os criminosos condenados
Yeishu ben Pandeira e
Ben Stada, e os falsos Messias crucificados
Yehuda,
Theudas e
Benjamim, mas
nenhuma destas pessoas pode ser considerada como um Jesus histórico.
<http://acaciasrubras.no.sapo.pt/biblioteca/religiao/jesus1/index.htm>