NADA ACONTECE POR PURO ACASO?
“Nada
acontece por acaso”, afirmam muitas pessoas. Digo que isso é relativamente
verdade. Todavia, discordo de que todos os fatos tenham uma finalidade; pois me
parecem mais serem conseqüências, que geram outras.
Toda vez que acontece uma catástrofe, aparecem os que se dizem entendidos, uns
dizendo que é castigo divino, outros dizendo que é aviso, e por aí vai uma
porção de suposições do que tenha desencadeado o fato anormal. Há gente dizendo
que o que os iraquianos e Osama Bin Laden não podem fazer, Deus faz através de
furação, etc., como se todos aqueles milhares de pessoas mortas em Nova Orleans
estivessem recebendo um castigo divino contra os atos de George W. Bush. Quem
deus injusto seria esse!!! Outros podem dizer que cada pessoa dessas que foram
atingidas tenha o chamado “karma” para cumprir. Outros dizem que essas coisas
são sinais do fim do mundo, como se isso nunca tivesse ocorrido antes.
É claro que a catástrofe não foi um puro acaso. Como até as ações do homem sobre
o meio ambiente, com alterações climáticas, podem ter influenciado na
intensidade de um furação, os atos de quem projetou uma cidade cercada de água
são os maiores responsáveis, uma vez que a região sempre foi palco de fenômenos
perigosos, independentemente de quem ali esteja residindo. De ambos os lados do
globo terrestre, tal latitude é propícia para ventos de proporções gigantescas.
Não me parece nada inteligente afirmar que tal ou qual divindade tenha
selecionado os povos de determinadas latitudes terrestres como alvos de seus
castigos.
Um acidente de trânsito, por exemplo, também não acontece por acaso, porque
sempre resulta da imprudência ou negligência de alguém. O mais casual é
determinada pessoa estar no local e momento certos. Já vi muitas árvores
tombadas por batidas de veículos em lugares onde quase sempre há pessoas
passando e o feliz acaso de não haver ninguém nos locais. Da mesma forma eu já
fui alvo de um veículo cujo motorista fez uma conversão sem sinalizar e não fui
atingido, porque saltei fora da via em tempo. Uma pessoa sem boas condições
físicas poderia ter perdido até a vida.
Há aqueles que dizem: isso lhe aconteceu porque tinha que acontecer. Há outros
que dizem: isso sucedeu para o seu bem, para que você pensasse isso, etc, etc.,
etc. Mas não acho que fatos naturais ou acidentes tenham finalidade.
Concordo que tudo seja conseqüência de outros fatos ou atos. Discordo, no
entanto, que em um terremoto ou vulcão exista uma finalidade qualquer de
destruir alguma coisa. Eles, em vez de finalidade, são conseqüências da pressão
interior do Planeta, que precisa ser aliviada de alguma forma. Creio que os
danos causados ao meio ambiente possam provocar o agravamento dos desastres
naturais. Mas esses fenômenos não ocorrem para avisar ninguém de nada;
acontecem, sim, como conseqüência do que foi feito, e cabe ao homem entender
que, se continuar provocando alterações nocivas, pode vir a ser vítima de
efeitos mais devastadores.
Hoje já se entende bem que, conquanto as cobras sejam perigosas, a eliminação
total delas pode provocar aumento do número de ratos, que também não são nada
benéficos. Sabemos que até as baratas, insetos que tanto abominamos, colaboram
de alguma forma na transformação de detritos orgânicos. É claro que não quero
essa colaboração em minha casa; mas lá pelos esgotos das ruas elas podem ser
úteis.
Sinto-me bem em morar em Belo Horizonte, onde nunca ocorrem furacões,
acontecendo no máximo alguns ventos capazes de destelhar alguns imóveis, ou
algumas chuvas de granizo com poder de quebrar alguns vidros de janelas como
ocorreu ontem. Acredito que nunca seremos vítimas de um terremoto ou de um
vulcão. Mas jamais vou pensar que essa segurança decorra de nós
belorizontinos sermos bonzinhos, justos, favorecidos por um deus criador.
Acredito que muitas pessoas boas deveriam estar na desastrada Nova Orleans,
assim como na ponte Al-Aima em Bagdá em 31/08/2005, bem como aqui há muitas
pessoas más. Sei também que os deuses têm sido causas de inúmeras tragédias como
a destruição da ponte iraquiana, a derrubada das torres do World Trade Center.
Entretanto, entendo que esses deuses não fazem nada, mas os seus fiéis provocam
tudo em nome deles. São incontáveis as pessoas que foram assassinadas em
fogueiras em nome de um Jesus, que dizem ter pregado a paz, a resignação, o
amor, o pagamento do bem com o mal, etc. A crença em um deus pode levar um ser
humano a jogar uma criancinha indefesa no fogo, ou cometer outros absurdos que
nem um bandido cruel seria capaz de fazer com o próprio filho. E cada um acha
inútil o deus do outro. Mas a natureza está aí atuando friamente, e cada um que
se previna de seus fenômenos.
O ser humano imagina-se muitas vezes culpado de todos os males, ou melhor, cada
um atribui ao outro a responsabilidade do que há de ruim. Eu, porém, concordo
com um dos escritores bíblicos que
“Tudo sucede igualmente a todos: o mesmo sucede ao justo e ao ímpio, ao bom e
ao mau, ao puro e ao impuro; assim ao que sacrifica como ao que não sacrifica;
assim ao bom como ao pecador; ao que jura como ao que teme o juramento”
(Eclesiastes, 9: 2). Esse não ia naquela conversa de que “o anjo do Senhor
acampa ao redor daqueles que o temem e os livra” (Salmos, 34: 7); pois devia ver
bem o que seu povo estava passando independentemente de serem fieis ou infiéis
ao deus que defendiam como o único verdadeiro. Eu até concordo que o indivíduo
mau tenha mais probabilidade de ter conseqüências danosas de seus atos. Todavia,
isso não passa de puro efeito das reações humanas ao que ele faz.
É, pois relativamente verdade que as coisas não ocorrem por acaso. Os fatos são
conseqüências naturais ou efeitos de reações pessoais. Não podemos, entretanto,
excluir totalmente a casualidade, porque você estar no local onde ocorre um
acidente ou um fenômeno natural desastroso não depende de ser você bom ou ruim,
nem tem finalidade alguma.
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