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O NEOLIBERALISMO E
SEUS ESTRAGOS
O neoliberalismo acabou na crise de 2008 mas a notícia não chegou ao Brasil, por
André Araujo
Enviado por Andre Araujo dom, 24/09/2017 - 09:00
Atualizado em 24/09/2017 - 16:57
O neoliberalismo acabou na crise de
2008 mas a notícia não chegou ao Brasil
por André Araujo
O Neoliberalismo não é uma escola de economia e sim um ciclo de relançamento das
ideias da Escola Clássica como reação aos excessos do Estado do bem estar que se
seguiu à Segunda Guerra, o Neoliberalismo foi então entendido como um
contraponto às ideias intervencionistas de Keynes iniciadas antes da Guerra e
implantadas na Europa no pós guerra.
Esse ciclo se iniciou com o Governo Thatcher no Reino Unido em 1979 e teve seu
fim na crise financeira dos EUA de 2008. O ciclo neoliberal afetou de forma
diferente alguns países emergentes. Nos EUA o neoliberalismo teve pouco espaço
porque esse Pais nunca foi um Estado de bem estar social e toda sua economia
sempre foi privada MAS teve um efeito na desregulamentação do mercado financeiro
promovida pelo Presidente Reagan sob influencia de Margaret Thatcher que assumiu
uma Inglaterra que no pós guerra teve implantado o mais amplo Estado de Bem
Estar Social a partir do governo trabalhista de Clement Attlee em 1945 e das
ideias de seu ideólogo, Lord Beveridge, pai do conceito do Welfare State.
Processos parecidos com diferenças pontuais foram implantados na Europa
continental.
Tanto no Reino Unido como no continente, especialmente na França e Italia, as
grandes empresas de serviços públicos e transportes, além da siderurgia e
petróleo, eram estatais, a economia inglesa era 55% estatal. A partir do governo
Thatcher quase tudo foi privatizado e a economia sob controle estatal foi
desregulamentada.
Foi essa desregulamentação que criou as bases para a crise financeira de 2008.
Antes dela e por causa da crise de 1929, os bancos americanos não podiam sair de
seus Estados e em alguns Estados só podiam ter agencias em sua cidade sede. Os
bancos comerciais não podiam ter ligação com bancos de investimentos e nenhum
deles com seguradoras e nem com corretoras, tudo deveria ser bem separado.
Reagan acabou com todas essas “paredes” e deixou misturar tudo, o que facilitou
a criação dos títulos “subprime”, raiz da crise de 2008. Essa crise foi
emblemática para o fim da crença de que o mercado resolveria seus próprios
problemas e que o Estado deveria se afastar do mercado para não atrapalhar.
O neoliberalismo pregava o “Estado mínimo” e tinha mesmo um desprezo pelo Estado
porque considerava o mercado um ente superior ao Estado em moral e eficiência.
Por essas ironias do destino o laboratório onde foi gestada a crise do subprime
foi a firma GOLDMAN SACHS, que inventou esse titulo de mercado, a mesma Goldman
Sachs que inventou o acrônimo BRICs e onde foi montado (através do Institute of
International Finance) o bordão CONSENSO DE WASHINGTON, que soou como musica aos
economistas tucanos do Brasil, o grupo que ao implantar as ideias neoliberais no
Brasil em 1994 afastou como se fosse entulho o pensamento desenvolvimentista
brasileiro, uma escola de pensamento criativa, inovadora com sólidos fundamentos
teóricos à qual o Brasil deveu na segunda metade do Seculo XX o MAIOR INDICE DE
CRESCIMENTO DO PLANETA, entre 1945 e 1975, 7% ao ano em media.
Os “economistas
de mercado” de 1994 implantaram políticas mal copiadas do centro neoliberal que
produziram no Brasil, de 1994 a 2017 uma serie de fracassos de política econômica
e de baixo crescimento que desembocaram na atual recessão.
No caminho as políticas neoliberais liquidaram com boa parte da indústria
brasileira que em 1994 produzia 23% do PIB e hoje mal chega a 9% do PIB. A
liquidação da indústria nacional não foi a única obra do neoliberalismo à
brasileira. Na sua conta também estão o desemprego estrutural, a rebaixa de
salários e da renda real da população abaixo da classe media alta, um plano de
pais bom para 30 milhões de pessoas, com o abandono dos demais brasileiros.
E não se diga que nos anos do Governo do PT essa política não prevaleceu. O PT
fez uma aliança tácita na AREA ECONOMICA FINANCEIRA com o mesmo grupo de
economistas de mercado que vinha do governo anterior, economistas esses que
comandaram o Banco Central desde então, apenas a tinta do governo do PT era de
esquerda, o pulmão era neoliberal.
Esse conjunto de cardeais, títulos, rótulos e slogans do neoliberalismo de
almanaque forma jogados ao mar pela crise dos subprime de 2008 que levou à
quebra um dos mais sólidos e tradicionais bancos americanos, Lehman Brothers e
que SÓ não quebrou outros gigantes como o mega CITIGROUP e a maior seguradora
dos EUA, AIG, bem como a maior empresa industrial daquele Pais, a GENERAL
MOTORS, porque o Tesouro dos EUA salvou esses símbolos do capitalismo privado
com o apoio financeiro imediato de US$780 bilhões através de uma programa criado
em três dias, o TARP, por iniciativa do Presidente Obama, que nunca foi adorador
do mercado como ideologia de Governo mas por uma ação inteligente o salvou.
O resgate pelo Estado do capitalismo americano e global dissolveu em ácido o
neoliberalismo dos anos 70 e 80, não só pelo CHEQUE DA SALVAÇÃO emitido pelo
Tesouro dos EUA como pelo fato incontestável de que a crise de 2008 foi causada
exatamente pelo neoliberalismo que patrocinou a desregulamentação dos mercados
pelo Presidente Reagan, que era uma das metas do neoliberalismo, a outra eram as
privatizações.
O neoliberalismo de Hayek foi sepultado pelos escombros de 2008, a noticia
todavia não chegou ao Brasil e muito menos ao grupo de ECONOMISTAS TUCANOS que
dominam a governança da economia brasileira desde o Plano Real, pode-se também
chama-los de “economistas de mercado”, praticamente todos nascidos no mesmo
ninho da chamada “equipe do Real” , cuja alma mater é a escola de economia da
PUC Rio e que que desde então se entrincheiraram no Banco Central mesmo nos
governos petistas, é um GRUPO COESO E ARTICULADO, quando não estão em Brasília
estão em Washington no FMI ou no Banco Mundial, como estão os dois últimos
hierarcas econômicos do Governo Dilma, Joaquim Levy e Alexandre Tombini, cada
nomeado puxa outros da mesma patota para o “locus” onde se senta, seja no BC, no
BNDES, na Casa das Garças, na FIRJAN, na FGV, no BID, no Banco Mundial, no FMI,
na Secretaria de Política Econômica do MF.
Um exemplo marcante no governo Dilma foi a nomeação para diretor de assuntos
internacionais do Banco Central de Tony Volpon, banqueiro de investimentos
residente no Canadá há muitos anos, um ultra neoliberal em pleno governo da ala
esquerda do PT.
OS ÓRFÃOS DO NEOLIBERALISMO
A questão dos grandes acidentes de percurso do neoliberalismo foi tão grave que
desmontou as premissas ideológicas de sua construção intelectual nascida na
celebre conferencia de Mont Pelerin, na Suiça, em plena guerra, 1944, e no livro
O CAMINHO DA SERVIDÃO, de Hayek, que via o mercado como um ente sempre superior
ao Estado na organização da economia. Na realidade a pregação de Hayek ,
apresentada como novidade, já era uma reciclagem da Escola Clássica que TINHA
FRACASSADO MISERAVELMENTE na crise de 1929, de raízes muito parecidas com a
crise de 2008, excessos de mercados desregulados e falta de limites pela soma
descontrolada de ganâncias dos operadores privados, ninguém controlando o todo.
O mercado, ao contrario da tese dos clássicos, NÃO se auto regula, não tem como
evitar crises, estas historicamente SÓ SÃO RESOLVIDAS PELO ESTADO, é a lição da
Historia.
A crise de 1929 teve reverberações geopolíticas, sob seus escombros nasceu o
nazismo na Alemanha e criou-se o terreno para uma doutrina antagônica à Escola
do livre mercado, aquela que encontrava no ente Estado as ferramentas para
organizar a economia em uma COMBINAÇÃO de mercado e Estado, cada um com sua
parte MAS sob a regência geral do Estado, portanto na premissa de que O MERCADO
NÃO SE AUTO REGULA. Já
na crise de 1929 e seus desdobramentos cataclísmicos nos
anos 30 se comprovou o erro da ideia de que o MERCADO DEIXADO LIVRE FAZ TUDO de
bom na economia. Simplesmente não faz.
A história das crises econômicas mostrou que só o Estado tem o poder e as
ferramentas para desatar crises econômicas, algo que não se admite na recessão
de hoje no Brasil, a equipe econômica e seus arautos na mídia creem que o
próprio mercado vai acabar com a recessão.
O noliberalismo de Hayek, que é do pós Guerra, tentou fazer rebrotar aquilo que
levou à crise anterior de 1929, foi tomado como algo novo quando era apenas uma
tentativa de remontagem, um refogado aproveitando matéria prima vencida pela
Historia, usando de ideias velhas e derrotadas anteriormente. As recicladas
ideias de Hayek não pegaram logo depois da publicação do CAMINHO DA SERVIDÃO em
1945 mas rebrotaram no fim dos anos 70 e deram origem a uma roupa de brechó
reformada, o “neoliberalismo”, incorporado no cardápio das universidades
americanas como doutrina política charmosa acoplada a seu instrumental
monetário, o monetarismo de Friedman, também uma reciclagem de outro monetarismo
derrotado, o de Irving Fischer, maior economista americano dos anos 20 que a
duas semanas da crise de Outubro de 1929 disse alto e bom som que “não havia
risco algum de crise no horizonte”, crise essa que explodiu na sua cara e
destruiu sua reputação e a de primeira Escola monetarista. Friedman reciclou o
monetarismo de Fisher, bancado pelo Citibank, uma longa historia que narro em
900 paginas de meu último livro, o monetarismo nasceu nas entranhas do Citibank,
na época maior banco do mundo, o CITI bancou a campanha e a a revista de
divulgação de Friedman e suas múltiplas conferencias que divulgaram o credo
monetarista por todos os EUA, virando a tese da moda dos anos 90.
O rescaldo das políticas neoliberais e seu instrumento, a globalização
financeira, foi de um lado a concentração do capital pela permissividade de
fusões e aquisições e como contrapartida o desemprego, a precarização do emprego
e o rebaixamento de salários em todo o mundo, a começar pelos EUA, com a criação
de uma classe media com renda estagnada ou rebaixada há 20 anos, isso gerou Trump como vingança anti-sistema, um sinal de revolta de uma classe media
empobrecida pela destruição da indústria americana via globalização.
A resultante histórica desse quadro é o populismo político com salvadores da
pátria, em 1933 foi Hitler na Alemanha e assemelhados em outros países.
O NEOLIBERALISMO NO BRASIL
As ideias do neoliberalismo chegaram ao Brasil, como tanta coisa ruim, através
de cursos em universidades americanas. Uma geração de economistas, muitos com
bolsa pagas pelo governo brasileiro, estudou em escolas de economia nos EUA nos
anos 80 e 90 e trouxe na bagagem de volta uma fanática crença nessas cartilhas
neoliberais. Muitos desses economistas formaram o núcleo da chamada “equipe do
Real” de 1994 e desde então, SEM INTERRUPÇÃO, comandam a política econômica
brasileira. A base de seu comando foi a infiltração no Banco Central, os
governos petistas nunca honraram economistas desenvolvimentistas e se amarraram
nos neoliberais acreditando que assim comprariam a simpatia do mercado.
A entrega da política econômica de forma “porteira fechada” ao comando dos
neoliberais nos governos do PT fez com que de 1994 até hoje o Brasil está
submetido a essas políticas mesmo depois de sua desmoralização completa nos EUA
e no resto do mundo, aqui a noticia da batalha onde o neoliberalismo foi
vencido, a “batalha de Nova York” de 2008, não chegou na academia, no governo e
na mídia. Todos acreditam que abraçando o neoliberalismo ficam “moderninhos”.
A
prova é uma nova onda de privatizações quando a privatização saiu de moda no mundo
inteiro bem como caiu na vala das teses amaldiçoadas o “ajustismo fiscal à la
grega”, condenado até pelo Fundo Monetario Internacional como simples e má
solução para um problema complexo que exige mais inteligência do que fidelidade
à cartilhas.
Cérebros de primeira ordem como o Premio Nobel de Economia de 2015, o escocês
Sir Angus Deaton e o presidente da maior consultoria empresarial do mundo, Mc
Kinsey & Co. o canadense Dominic Barton chamam a atenção pela
queda da qualidade
de vida de 70% dos habitantes dos países ricos, chamados de "órfãos da
globalização" e chamando a atenção pelos efeitos maléficos da globalização para
a grande maioria dos habitantes do planeta.
OS CUSTOS SOCIAIS DO NEOLIBERALISMO
Chegamos nesse ponto a uma avaliação dos benefícios do neoliberalismo e de sua
ferramenta operacional, a globalização comercial e financeira. Enquanto para as
corporações globais há um inegável aumento de eficiência através do processo de
integração das cadeias produtivas, seu custo social junto aquela maioria da
população que não participa desses ganhos mostram o neoliberalismo global
produzindo estragos e abalos na sobrevivência de grande maioria das populações.
Pergunta-se então, qual o ganho MACRO dessa política econômica para o conjunto
da população? Ou seja, quais as consequências sociais do neoliberalismo?
De que adianta aumentar os lucros das corporações e a concentração de renda se
no rastro do processo se produz mais pobreza nos que ficaram para trás? A
existência de bilhões de “órfãos da globalização” explode os custos sociais que
ao fim são custos macro de cada Pais e de cada sociedade e no conjunto, do
planeta. O ganho é particular mas os prejuízos são públicos.
Então para que 500 grandes corporações ganhem mais pela eficiência da
globalização, 6 bilhões de pessoas ganham menos e geram no conjunto maiores
gastos públicos pelo desemprego e consequente depreciação do capital humano de
um Pais por desgastes físicos e mentais, pelo desajuste nas famílias, pela
perda de habilidades e conhecimentos para quem fica desempregado por muito
tempo, pela pressão sobre os sistemas públicos de saúde,
pelo aumento exponencial da criminalidade, da droga, do suicídio, pelo desalento
dos jovens que não conseguem o primeiro emprego mesmo após graduados em boas
escolas.
A conta final é negativa para os países que acolheram o neoliberalismo e a
globalização, INCLUSIVE PARA OS EUA E REINO UNIDO, inventores do neoliberalismo
global.
O processo NÃO TROUXE LUCROS às populações na conta final. Mais brinquedos
eletrônicos acompanhado de menos empregos e piora da qualidade e da renda dos
empregos restantes.
Melhorou a vida dos CEOs, dos advogados de compliance, dos banqueiros de
investimento, dos gestores de fortuna, à custa da rebaixa da qualidade de vida
da maioria da população.
Logo ao fim da Segunda Guerra um operário americano ganhava o suficiente para
manter uma boa casa, um carro novo, sua esposa não precisava trabalhar e seus
filhos tinham expectativa de ganhar mais que os pais. Hoje o operário americano,
quando tem emprego, não consegue ter e manter uma boa casa, muitos moram em
trailers, sua esposa precisa trabalhar para ajudar a sustentar a família e a
perspectiva de vida de seus filhos é pior do que a de seu pais. Quem ganhou com
a globalização?
Esse DESARRANJO SOCIAL nos EUA produziu Trump, na Inglaterra o BREXIT, no resto
do mundo produzirá populismos, salvacionismos e aventureirismos de vários tipos
e matizes.
Não é uma ideia apenas minha, pensadores de varias culturas chegaram mesma
conclusão, Sir Angus Deaton, Dominc Barton, Thomas Pikety e muitos outros
chegaram à mesma conclusão, o neoliberalismo produz ganhos para poucos e perdas
para muitos.
No entanto o Brasil, que sempre foi inovador em ideias econômicas, prefere
afundar com uma política econômica neoliberal medíocre e derrotada do que usar a
inteligência para aproveitar seus imensos recursos naturais,
preferimos a
velhice medíocre de uma política econômica fracassada do que as ideias
inovadoras que sempre foram um característica do Brasil.
Infelizmente há uma tendência na psique brasileira de adotar modismos
acriticamente, há pouca reflexão pensante nos núcleos de poder, muitos acham que
se valorizam parecendo modernos, mesmo quando o moderno por eles imaginado já
está no arquivo e aquilo que parece moderno já é na verdade um mundo
ultrapassado.
Hoje os conflitos globais de todos os tipos levam a um novo protagonismo do
Estado na economia e na sociedade,
só o Estado e a centralização do poder pode resolver conflitos agudos, o
desemprego e o desarranjo social no Brasil é um dessas mega conflitos que exigem
mais Estado atuando, não é a bolsa de valores que vai resolver o drama social.
<http://jornalggn.com.br/fora-pauta/o-neoliberalismo-acabou-na-crise-de-2008-mas-a-noticia-nao-chegou-ao-brasil-por-andre-araujo>
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