O que é uma mulher bonita?
A resposta a essa pergunta tem variado
através dos séculos, das culturas e da geografia. Nossos
ancestrais, que habitavam as cavernas da Europa há 50
mil anos, esculpiram deusas da fertilidade com seios,
coxas e barrigas proeminentes. Podemos admitir que era
esse seu ideal de beleza. Para o povo pagund, do norte
da Tailândia, seios caídos e longos pescoços deformados
pela colocação de anéis de metal são o que há de mais
bonito. Nos parece estranho, mas assim é entre eles. No
Brasil do século XXI, celeiro mundial de modelos claras
e delgadas, existe uma acentuada predileção popular por
mulheres carnudas e morenas, com curvas bem demarcadas.
Portanto, o que é uma mulher bonita?
A empresária carioca Marcella Techeh tem
sua própria resposta para essa questão. Ela tem 33 anos,
dois filhos e um corpo esculpido em pedra por sessões
diárias de musculação. Marcella é uma mulher forte,
sarada, malhada mesmo, embora não tenha uma aparência
pesada. Seus músculos sobressaem no abdome, nos braços e
nas coxas. Sua preocupação principal é evitar a
flacidez. Um de seus grandes prazeres é olhar-se no
espelho. Mas essa satisfação consigo mesma, totalmente
narcisista e corriqueira, embute uma rebeldia. Embora
atraente, Marcella não se enquadra no padrão de beleza
que domina a estética ocidental desde o início do século
XX e que provocou, em seu nascimento, um comentário
azedo do escritor francês Émile Zola: “A ideia da beleza
varia. Ela agora reside na esterilidade das mulheres
alongadas, donas de flancos pequenos”. Marcella, assim
como milhares de outras que se exercitam com intensidade
e que se orgulham de seus músculos, não é uma mulher
“alongada de flancos pequenos”. Ela é robusta, vigorosa,
rija. Nada tem em comum com a criatura frágil descrita
pelos médicos do século XVIII, segundo os quais a mulher
teria “ossos pequenos, com carnes moles e esponjosas, e
seria animada por um caráter débil”. As mulheres fortes
como Marcella explodiram essa definição. Elas
representam a materialização de uma nova estética que
vai emergindo das academias e das pistas esportivas – e
que representa, a seu modo, uma tremenda mudança de
valores
A MENTE QUE TEM MÚSCULOS
É como se as mulheres, cansadas da imagem
passiva de fragilidade corporal que lhes foi imputada
desde a Antiguidade, resolvessem, por conta própria,
invadir a última arena simbólica exclusivamente
masculina, a da força física. Braços e ombros poderosos
parecem ser a resposta das mulheres aos rapazes de
peitos e braços inflados que desfilam pelas ruas das
cidades brasileiras. Seria o começo de uma disputa? “Não
creio que isso represente uma forma de competição”,
afirma o sociólogo Celso Sabino, da Universidade Federal
do Rio de Janeiro. “É mais a definição de uma nova
identidade, em uma nova era. Essas mulheres fogem do que
significou ser mulher nos últimos séculos no Ocidente.”
Os homens parecem não gostar dessa nova
vertente da beleza feminina. “Eu gosto de mulher feliz.
Vejo muito mais sensualidade numa mulher feliz do que
numa sarada emburrada”, diz o apresentador Marcelo Tas.
O vocalista da banda Raimundos, Tico Santa Cruz, é ainda
mais severo. “Eu acho tosquíssimo. Gosto de mulheres
naturais. Mulheres que parecem de borracha não me
atraem. Tenho medo delas”, diz ele. O ator e roteirista
Bruno Mazzeo tampouco aprova a força feminina: “Não é a
minha preferência. Acho que os músculos tiram a
feminilidade, que é uma das coisas que mais me atraem”.
Na resistência masculina reside um dos
vários aspectos inovadores da nova estética: ela não é
uma invenção dos homens. Ao contrário das opulentas
madonas renascentistas, das “mulheres ampulhetas” do
século XIX (com os seios projetados por espartilhos e os
quadris empinados por anquinhas) e das atrizes com
corpos voluptuosos que emergiram de Hollywood nos anos
50, as anônimas com silhuetas esculpidas não
correspondem a uma idealização da feminilidade. Elas
estão inventando uma estética própria, que se opõe aos
cânones consagrados da beleza e do bom gosto. Talvez por
isso os homens se incomodem – e não pela primeira vez.
No fim do século XIX, quando as mulheres
da elite europeia começaram a pedalar e jogar tênis,
falou-se em imoralidade, degeneração e até mesmo pecado.
“Era como se as mulheres estivessem se apropriando de
exercícios musculares próprios à atividade masculina”,
escreve a historiadora Mary Del Priore no livro
Corpo a corpo com a mulher: pequena história das
transformações do corpo feminino no Brasil. Na
verdade, as mulheres estavam de fato se apropriando de
um território exclusivamente masculino, como fazem
agora.
Isabelle Colmenero pratica exercícios
obsessivamente desde os 15 anos. Corre, levanta pesos,
faz ginástica. Hoje, aos 35, casada, exibe um corpo de
gladiadora pequeno e sarado, que não deixa de ser
vigorosamente feminino. Ela diz que não tem medo de
ficar com aparência de homem. “Nosso corpo não é como o
deles”, afirma. “Para ficar forte mesmo, masculinizada,
você tem de tomar anabolizante.” Isabelle limita-se a
comer de tudo. E, como gasta muita energia, não se
preocupa em fazer dietas. Parece residir aí um avanço do
ponto de vista da saúde em relação à estética anoréxica
que as adolescentes do mundo inteiro importaram das
passarelas. Mulheres que malham, comem.
Lilian Pacce, a editora de moda do canal
GNT, acha que a modelo holandesa Lara Stone já
representa, de forma sutil, uma resposta do mundo da
moda ao aparecimento nas ruas de uma estética feminina
menos diáfana. “Lara é uma mulher grande e teve
problemas quando começou nos desfiles”, diz Lilian.
Hoje, a modelo alta de seios imponentes é uma das mais
requisitadas do circuito.
A jornalista Danuza Leão, ex-modelo e
observadora perspicaz da sociedade brasileira, não tem
simpatia pelas mulheres que malham em excesso. Defende,
“para homens e mulheres”, uma aparência “durinha e
enxuta, mas sem músculos”. Dito isso, ela reconhece que
sempre houve uma acentuada divisão no mundo estético
brasileiro. Nos anos 1950 e 1960, quando as modelos de
sucesso já eram magras e elegantes, como a americana
Suzy Parker, as preferidas dos homens brasileiros se
apresentavam no teatro de revista com amplos quadris e
coxas grossas. Eram as coristas, equivalentes das moças
de pernas roliças que dançam ainda hoje diante das
câmeras dos programas de auditório. “Sempre houve essa
divisão de gosto no Brasil”, diz Danuza. “As mulheres
com mais corpo sempre fizeram sucesso nas ruas e na
praia.”
Sempre, neste caso, parece ser sempre
mesmo. Desde a chegada dos portugueses, no século XVI,
criou-se uma dicotomia entre a estética oficial da corte
europeia – que consagrava cabelos claros, pele leitosa e
seios volumosos – e a beleza que se apresentava nas
praias aos olhos dos colonizadores. Às índias, com seus
olhos e cabelos escuros e seu corpo pequeno e castanho,
logo viriam se juntar as escravas africanas de sorriso
reluzente e magistral musculatura. Dessa mistura emergiu
uma estética brasileira, de bumbum arrebitado e seios
pequenos, que o sociólogo Gilberto Freyre definiu como
“morenidade” – e que até hoje influencia o gosto e a
libido nacionais. Mary Del Priore diz que no século XIX,
quando José de Alencar se esmerava em esmiuçar as “mãos
pálidas” e o “talhe delicado” de suas personagens, os
visitantes estrangeiros ao Brasil relatavam a evidente
preferência de nossos tataravós por mulheres “cheias e
morenas”. Um inglês que aqui esteve em 1893 deixou
registrado que o maior elogio que se podia fazer a uma
dama era observar que ela “estava a cada dia mais
gorda”. As coisas mudaram.
É possível, portanto, que a estética das
mulheres fortes seja apenas uma evolução histórica do
gosto nacional por mulheres curvilíneas, que predomina
há 500 anos. O fato de que as primeiras musculosas
tenham surgido nos desfiles de Carnaval, em que a
cultura do país é filtrada pelas lentes do exagero,
reforça essa impressão. A nova estética pode ser
compreendida como exagero, como o ponto em que uma
tendência começa a converter-se em caricatura.
Foi inaugurada recentemente no museu
Metropolitan de Nova York uma exposição de 60 esboços do
pintor italiano Agnolo Bronzino, um dos mestres do
maneirismo. Essa escola de arte surgiu na Itália por
volta de 1520 e interpôs-se entre o Renascimento e o
Barroco. Os corpos esboçados por Bronzino, percebe-se na
exposição, são recobertos por uma musculatura tão
espessa e detalhada que mais parecem uma caricatura da
anatomia humana. Olhando a retrospectiva do Metropolitan,
é possível encontrar paralelos entre o virtuosismo vazio
de seus desenhos e a ausência de direção da cultura
moderna. Com o mesmo olhar, talvez se possa perceber, no
corpo musculoso das mulheres que malham, reflexos do
exagero que povoa as pinturas e os desenhos de Bronzino.
No início do século XXI, a estética das mulheres com
músculos pode ser tanto um sinal de transformação
duradoura quanto mais uma manifestação efêmera de
decadência. Como o maneirismo.
A mente de quem tem músculos
Como explicar o desejo das mulheres de ficar cada vez
mais forte? É uma tentativa de competir com os homens ou
de agradá-los?
Celso Masson. Com Eliseu Barreira
Por trás de todo corpo há uma mente que o imagina. As
mulheres gordas e as mulheres magras, as esportistas e
as sedentárias, as pequenas e as grandes, todas elas
compartilham a ansiedade com a própria aparência, a
preocupação com a beleza. Feministas dizem que isso é
parte de uma conspiração masculina destinada a manter as
mulheres reféns da aprovação masculina. Historiadores
podem sugerir que se trata de uma vocação humana que
tomou forma específica desde os trovadores medievais e
suas “amigas”. O fato é que as mulheres se ocupam cada
vez com mais intensidade da própria beleza. A sociedade
reforça e amplifica essa preocupação ao consagrar
modelos e divulgá-los para que todas saibam o que é uma
mulher bonita – e corram atrás da possibilidade de
imitá-la.
Mas isso nem sempre foi assim. Em eras distintas, gordas
e magras já estiveram espontaneamente no imaginário
coletivo como modelos de beleza e de desejo. As
variações de peso e de curvas no corpo da mulher ao
longo do tempo podem ser explicadas por questões
econômicas, sociais e até políticas (acompanhe o quadro
ao lado). Agora, os psicólogos e antropólogos
encontram-se diante de um novo desafio: explicar o culto
ao corpo radical das mulheres musculosas. O que vai pela
mente das brasileiras que gastam horas de seu dia para
montar tal corpo vigoroso e definido? O que as leva a
enfrentar privações e uma rotina aborrecida pelo prazer
de exibir um corpo que nem todos acham bonito? Seria
esse um gesto radical de autoafirmação ou apenas a forma
mais extrema de subordinação à estética da saúde lançada
nos anos 80? Difícil afirmar com certeza.
“O corpo é muito mais importante do que a roupa em nossa
sociedade”, diz a antropóloga Mirian Goldenberg,
professora do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais
da Universidade Federal do Rio de Janeiro. “É ele que
deve ser exibido, moldado, manipulado, trabalhado,
costurado, enfeitado, construído, produzido, imitado.”
Autora do livro Nu & vestido, Mirian afirma que, no
Brasil, é o corpo, e não o figurino, que entra e sai da
moda. “A roupa é apenas um acessório para a valorização
e exposição desse corpo.” Ao longo do tempo, a linguagem
corporal se estabeleceu como uma ferramenta para a busca
do prestígio e do sucesso pessoal no Brasil. Mulheres
exuberantes tendem a ascender mais rapidamente. Se antes
elas encontravam os melhores pretendentes e conseguiam
casamentos confortáveis, com a entrada no mercado de
trabalho passaram a disputar as melhores colocações. Sua
aparência vitaminada, mais que transformar o corpo em
objeto de distinção social, cria um valor palpável: a
equiparação ou até mesmo a superioridade em relação à
histórica força do macho. “É muito melhor fechar um
negócio com a calça larguinha do que com a calça
apertada”, diz a empresária do setor de moda Luciana
Negrão (leia mais sobre ela na reportagem A beleza da
força).
Na sociedade brasileira, a mulher musculosa
afirma-se como poderosa, atraente e sedutora
No processo de emancipação feminina, a disputa pelas
posições que antes eram exclusividade dos homens
introduziu na vida feminina um novo padrão de culto ao
corpo: a construção do tônus muscular como símbolo de
sucesso e autoafirmação. “A mulher musculosa afirma-se
como uma mulher poderosa, atraente e sedutora na
sociedade brasileira”, diz a psiquiatra Carmita Abdo,
professora da Faculdade de Medicina da USP e autora do
livro Descobrimento sexual do Brasil.
Ainda que algumas mulheres tenham escolhido o
halterofilismo desde o início do século XX, foi só na
década de 1980 que as academias de ginástica se
popularizaram. Foi quando surgiram os primeiros torneios
do tipo Miss Olímpia (em oposição ao tradicional Miss
Universo) e os treinos de musculação entraram na rotina
das famosas e anônimas. Por mais que hoje pareça cafona,
a atriz Jane Fonda encarnou o símbolo da mulher de sua
era. Uma mulher ativa, que escolhe o corpo que quer ter.
Foi o rompimento com uma tradição de séculos em que o
corpo da mulher era o resultado de fatores alheios às
escolhas que ela mesma fazia – como, de resto, quase
tudo na vida feminina.
A história mostra que o padrão renascentista de beleza
feminina, das mulheres “cheinhas”, cobertas de carne e
gordura, teve razões de sobra para perdurar por três
séculos. A razão para o excesso de peso na nobreza
europeia estava na dieta, que incorporara o açúcar de
cana produzido nas colônias. Comendo mais calorias a
cada refeição, era inevitável que a mulher ganhasse peso
e curvas. Durante o maneirismo, escola de pintura que
exagerou as formas representadas no Renascimento, parte
da gordura foi trocada por músculos, como mostram as
telas de Agnolo Bronzino (1503-1572). Esse padrão
corporal volumoso reinou quase absoluto até que o
espartilho, já no século XIX, esculpisse a cintura da
mulher, criando corpos em formato de ampulheta. A moda
das gordinhas só perdeu força quando outro imperativo
econômico se fez presente: a escassez de alimentos na
Europa. A fome que obrigou centenas de milhares de
europeus a abandonar suas terras em busca da
sobrevivência nas Américas também definiu as linhas
esguias que marcariam praticamente todas as gerações de
mulheres do século XX. Regimes, cirurgias plásticas e
ginástica passaram a modelar o corpo feminino de forma
quase obrigatória. As gordas, antes admiradas,
tornaram-se a representação do fracasso pessoal. “Tenho
várias amigas acima do peso. Elas vivem reclamando, e
não fazem nada para mudar”, diz a sarada Luciana Negrão.
No Brasil, o desenvolvimento dos músculos sempre foi
entendido como uma característica da identidade
masculina. No processo de conquistar a independência, as
mulheres fortes parecem buscar algo que antes pertencia
ao sexo oposto – e, assim, reduzem ainda mais as já
esmaecidas diferenças entre os gêneros. “Na busca da
igualdade, elas conceberam como objetos a ser
conquistados alguns itens constitutivos do modelo
masculino hegemônico: vencedor, viril, autorreferido e
poderoso”, diz o sociólogo César Sabino, professor da
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro.
Segundo ele, as mulheres passaram a ambicionar aquilo
que representa a masculinidade. Como os bíceps
avantajados que a cantora Madonna adora exibir.
Na busca da igualdade, as mulheres conceberam os valores
masculinos: viril, vencedor, autorreferido
A visão de que a força física garante à mulher um maior
equilíbrio em sua disputa com o homem, contudo, não é
unânime. “O ‘corpo definido’ é somente uma absorção de
novos modelos de beleza feitos pela mulher”, diz a
historiadora Mary Del Priore, autora do livro Corpo a
corpo com a mulher – Pequena história das transformações
do corpo feminino no Brasil. “A regra nesses casos
continua sendo a de agradar aos homens.” Segundo ela,
esse comportamento de deixar o corpo sarado, que ganha
força ainda maior no Carnaval, valorizaria o sucesso
passageiro proporcionado pelo corpo entre os indivíduos
do sexo masculino. É o “desejo de ser desejada”, um dos
temas recorrentes de Naomi Wolf. Em O mito da beleza
(1992), ela mostra que junto com as conquistas do
feminismo, que modificaram a posição das mulheres na
sociedade, é crescente a preocupação com a beleza. Por
causa disso, elas sofrem cada vez mais de distúrbios
alimentares, se submetem cada vez mais a cirurgias
plásticas e dedicam cada vez mais tempo a cuidar do
corpo. O mito, ou ideologia feminina da beleza, seria
uma arma política contra a evolução da mulher. “Ele
procura destruir psicologicamente e as oculta de tudo de
positivo que o feminismo proporcionou às mulheres
material e publicamente”, afirma Naomi no livro. Por
trás do mito, estariam os homens determinando o que é
belo e desejável. Isso colocaria a mulher num patamar
vulnerável devido à dependência da aprovação de um olhar
externo que a aprisiona.
“Essas musas fabricadas criam um corpo pós-moderno com
peitos de silicone, barrigas de homem escavadas pela
testosterona e pelos exercícios e pernas de jogadores de
futebol com quadríceps que deixariam o Zico em sua fase
áurea, talvez, humilhado”, diz César Sabino. Uma vez
marombada, a mulher perde a cintura que definiu a
feminilidade durante algum tempo em nossas sociedades.
“Esses corpos fabricados para o Carnaval duram pouco.
Eles são construídos durante meses para o evento ritual
e depois necessitam de uma manutenção constante – que
tem limite.” O limite, segundo Sabino, seria a redução
da mulher a seu estado de mercadoria para ser consumida
visualmente.
NÃO BASTA SUAR
Para ter um corpo musculoso, é
preciso malhar. Mas a genética, não o treino, é quem
dita os limites
Fernanda Colavitti. Com Nelito
Fernandes
Aviso às mulheres que se animaram a
ganhar alguns músculos: não é fácil ficar sarada
como rainha de bateria de escola de samba. Na
verdade, para algumas, isso nunca vai acontecer, por
mais que se esforcem. Trata-se de uma questão
biológica, segundo a especialista em fisiologia do
exercício Gerseli Angeli, da Unifesp. Quando
comparadas aos homens, todas as mulheres têm
dificuldade para ganhar massa muscular. Isso
acontece porque seu organismo produz menos
testosterona, hormônio que está diretamente
relacionado à formação de músculos. Além disso, as
mulheres têm mais porcentual de gordura no corpo, e
a constituição de seus músculos é diferente dos
masculinos – menos rígidos –, de acordo com Gerseli.
“É por isso que um homem e uma mulher que malhem com
a mesma frequência e intensidade nunca vão ficar
musculosos do mesmo jeito, pelo menos não por
métodos naturais”, diz ela.
Além disso, mesmo entre as mulheres
há aquelas mais e menos favorecidas geneticamente.
Algumas conseguem ganhar massa muscular com menos
esforço, e outras, menos agraciadas pela natureza,
terão de suar muito mais na academia para obter
resultados frustrantes. A apresentadora Sabrina
Sato, de 29 anos, faz parte do grupo das sortudas.
Dona de um par de pernas – e de um bumbum – de fazer
inveja à mais bem resolvida das mulheres, ela se diz
indisciplinada e preguiçosa para atividades físicas.
“Deveria fazer musculação com mais frequência, mas,
como não consigo acordar cedo, às vezes fico semanas
sem fazer nada. Depois malho todos os dias por uma
semana e recupero”, diz. Conversa de beldade famosa
para matar as outras de inveja? O personal trainer
paulistano Alessandro Melo, da Academia Reebok, diz
que já passou alguns treinos para a apresentadora e
que é tudo verdade. O conselho dele para quem não
tem a mesma sorte é evitar ambições descabidas. “É
preciso se comparar a você mesma, pois seu potencial
genético é único. Você não vai ficar igual a
ninguém, vai ficar igual a você, mas melhorada”,
afirma. Nas páginas seguintes, algumas dicas para
aquelas que estão empenhadas em chegar ao máximo de
seu potencial muscular.
DICAS PARA UMA DIETA
Dicas para
uma dieta de hipertrofia
O que
uma dieta de
hipertrofia
precisa conter?
Diferentemente do que a maioria das
pessoas pensa, não é preciso aumentar de forma
exagerada a ingestão proteica para ter um bom
aproveitamento do estímulo causado por um treino de
hipertrofia. É necessária uma alimentação que
contenha:
* 65% das calorias diárias na forma
de carboidratos
* Ingestão proteica que depende do peso da pessoa:
cerca de 1,3g a 1,4g de proteína por quilo
* Gorduras de boa qualidade
* Muita água
* Vitaminas, minerais e fibras são fundamentais
Café da manhã
Fruta: meio mamão papaia ou suco natural
Carboidrato: pão francês integral
Requeijão light ou queijo magro
Leite desnatado com um pouco de café
Lanche da manhã
1 barra de cereal e 1 fruta
Almoço /jantar
- Salada de folhas, cenoura, beterraba, pepino,
tomate
- Tempero com POUCO azeite, limão/vinagre e POUCO
sal
- 2 a 3 colheres de servir de arroz integral + 1
concha de feijão OU um prato fundo de macarrão com
molho de tomate sem queijo ralado
- 1 filé de frango grelhado, ou peixe, ou carne
vermelha magra, ou o molho do macarrão pode ser a
bolonhesa
- 1 fruta pequena de sobremesa.
Lanche da tarde I
Salada de fruta + granola + iogurte desnatado
Lanche da tarde II
1 fruta
Nunca fique mais de 3h sem comer
Como deve ser a
alimentação antes e depois do treino?
Antes
Devemos iniciar o treino com as células alimentadas,
para isso devemos cuidar das refeições que antecedem
o exercício e nunca devemos começar um exercício sem
comer alguma fonte de carboidrato de absorção mais
lenta como uma fruta, um suco, um pão integral com
geleia
Durante
Para ter um bom desempenho é necessário que
nosso organismo receba carboidrato durante o
exercício, em quantidade que varia de acordo com a
duração e a intensidade do treino. A regra básica é:
nunca treine mais de uma hora sem comer alguma fonte
de carboidrato (gel de carboidrato, maldextrina,
mel, suco de fruta, rapadura).
Depois
É neste momento que definidos a qualidade
da recuperação do exercício. O truque é comer assim
que terminar de treinar um alimento rico em
carboidratos de rápida absorção (suco de laranja,
mel , doce de fruta, pão branco com geleia) com o
objetivo de normalizar a glicemia (quantidade de
carboidrato que circula no nosso sangue e é
fundamental para nos mantermos vivos) e na sequência
comer um alimento de fonte proteica que não demore
muito para ser digerido e absorvido. A utilização de
suplementos proteicos neste momento pode ser uma
estratégia interessante, mas é necessário fazer um
balanceamento com outras fonte de proteínas que o
indivíduo come ao longo do dia.
Dá para sair da dieta de vez em quando, ou é
preciso ser radical, se quiser construir e manter os
músculos?
É possível sair da dieta, mas não tente compensar no
dia seguinte. Regra fundamental: nunca compense um
dia de exageros alimentares com restrição excessiva,
“ é um tiro no pé”.
Quantas calorias, em média, uma mulher que
treina para ganhar músculos precisa ingerir
diariamente? E um homem?
Difícil e perigoso dizer, pois muitas variáveis
(peso, altura, sexo, tempo de vida esportiva...)
interferem na definição desse valor. É necessário
fazer um levantamento mais específico que faz
diferença no resultado final.
Existe algum (ou alguns) alimento que
precisa ser eliminado de vez do cardápio? Algum que
precisa estar sempre presente?
Eliminar: alimentos que estimulam a desidratação (
álcool, café , chocolate, chá preto, mate ), ricos
em gordura e carboidrato refinado ( frituras de
forma geral, doces cremosos) e fontes proteicas
ricas em gordura ( muitos tipos de carnes, queijos
amarelos...);
Estar presente: frutas, verduras,
salada de folha , verdura cozida; proteínas de magra
e de boa qualidade ( carne vermelha, peixe, franco,
leite e derivados); leguminosas (feijão, grão de
bico, ervilha, lentilha...).
Dependendo do momento, devem estar presente:
Carboidratos integrais ( arroz integral , macarrão,
pão, aveia, ), carboidrato refinado ( arroz,
macarrão , suspiro, pão francês, doce de leite).
Muitas mulheres que se preparam para sair
musculosas na avenida, agora no carnaval, falam de
uma dieta à base de clara de ovos e batata. Isso é
mesmo necessário? Seria uma solução a curto prazo?
Não. Para estar bem nutrida e pronta para ter os
benefícios do treino de hipertrofia são necessários
muitos nutrientes. É preciso entender que os
benefícios de um treino, infelizmente, não acontecem
de um dia para outro. É preciso dedicação,
continuidade e disciplina.
O uso de suplementos nutricionais é
indispensável à mulheres que querem ganhar massa
muscular? É possível uma mulher ganhar músculos só
com exercícios e alimentação adequada, sem o uso de
suplementos?
Sim, é possível. Uma alimentação adequada associada
a um treinamento correto é a base para conquistar o
objetivo.
(Época,
10/02/2010)