UM NOVO PADRÃO DE BELEZA FEMININA

19/02/2010

A beleza da força

 

O corpo musculoso das mulheres que malham parece representar uma nova estética feminina, que desafia os homens em seu próprio terreno. Mas essas mulheres saradas são realmente bonitas?

Ivan Martins, Nelito Fernandes e Fernanda Colavitti. Com Eliseu Barreira e Leopoldo Mateus

 

O que é uma mulher bonita?

A resposta a essa pergunta tem variado através dos séculos, das culturas e da geografia. Nossos ancestrais, que habitavam as cavernas da Europa há 50 mil anos, esculpiram deusas da fertilidade com seios, coxas e barrigas proeminentes. Podemos admitir que era esse seu ideal de beleza. Para o povo pagund, do norte da Tailândia, seios caídos e longos pescoços deformados pela colocação de anéis de metal são o que há de mais bonito. Nos parece estranho, mas assim é entre eles. No Brasil do século XXI, celeiro mundial de modelos claras e delgadas, existe uma acentuada predileção popular por mulheres carnudas e morenas, com curvas bem demarcadas.

Portanto, o que é uma mulher bonita?

A empresária carioca Marcella Techeh tem sua própria resposta para essa questão. Ela tem 33 anos, dois filhos e um corpo esculpido em pedra por sessões diárias de musculação. Marcella é uma mulher forte, sarada, malhada mesmo, embora não tenha uma aparência pesada. Seus músculos sobressaem no abdome, nos braços e nas coxas. Sua preocupação principal é evitar a flacidez. Um de seus grandes prazeres é olhar-se no espelho. Mas essa satisfação consigo mesma, totalmente narcisista e corriqueira, embute uma rebeldia. Embora atraente, Marcella não se enquadra no padrão de beleza que domina a estética ocidental desde o início do século XX e que provocou, em seu nascimento, um comentário azedo do escritor francês Émile Zola: “A ideia da beleza varia. Ela agora reside na esterilidade das mulheres alongadas, donas de flancos pequenos”. Marcella, assim como milhares de outras que se exercitam com intensidade e que se orgulham de seus músculos, não é uma mulher “alongada de flancos pequenos”. Ela é robusta, vigorosa, rija. Nada tem em comum com a criatura frágil descrita pelos médicos do século XVIII, segundo os quais a mulher teria “ossos pequenos, com carnes moles e esponjosas, e seria animada por um caráter débil”. As mulheres fortes como Marcella explodiram essa definição. Elas representam a materialização de uma nova estética que vai emergindo das academias e das pistas esportivas – e que representa, a seu modo, uma tremenda mudança de valores

 

A MENTE QUE TEM MÚSCULOS

Fotos: André Arruda/ÉPOCA. Produção Joana Mazza. Maquiagem: Rita Fischer

É como se as mulheres, cansadas da imagem passiva de fragilidade corporal que lhes foi imputada desde a Antiguidade, resolvessem, por conta própria, invadir a última arena simbólica exclusivamente masculina, a da força física. Braços e ombros poderosos parecem ser a resposta das mulheres aos rapazes de peitos e braços inflados que desfilam pelas ruas das cidades brasileiras. Seria o começo de uma disputa? “Não creio que isso represente uma forma de competição”, afirma o sociólogo Celso Sabino, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. “É mais a definição de uma nova identidade, em uma nova era. Essas mulheres fogem do que significou ser mulher nos últimos séculos no Ocidente.”

Os homens parecem não gostar dessa nova vertente da beleza feminina. “Eu gosto de mulher feliz. Vejo muito mais sensualidade numa mulher feliz do que numa sarada emburrada”, diz o apresentador Marcelo Tas. O vocalista da banda Raimundos, Tico Santa Cruz, é ainda mais severo. “Eu acho tosquíssimo. Gosto de mulheres naturais. Mulheres que parecem de borracha não me atraem. Tenho medo delas”, diz ele. O ator e roteirista Bruno Mazzeo tampouco aprova a força feminina: “Não é a minha preferência. Acho que os músculos tiram a feminilidade, que é uma das coisas que mais me atraem”.

Na resistência masculina reside um dos vários aspectos inovadores da nova estética: ela não é uma invenção dos homens. Ao contrário das opulentas madonas renascentistas, das “mulheres ampulhetas” do século XIX (com os seios projetados por espartilhos e os quadris empinados por anquinhas) e das atrizes com corpos voluptuosos que emergiram de Hollywood nos anos 50, as anônimas com silhuetas esculpidas não correspondem a uma idealização da feminilidade. Elas estão inventando uma estética própria, que se opõe aos cânones consagrados da beleza e do bom gosto. Talvez por isso os homens se incomodem – e não pela primeira vez.

No fim do século XIX, quando as mulheres da elite europeia começaram a pedalar e jogar tênis, falou-se em imoralidade, degeneração e até mesmo pecado. “Era como se as mulheres estivessem se apropriando de exercícios musculares próprios à atividade masculina”, escreve a historiadora Mary Del Priore no livro Corpo a corpo com a mulher: pequena história das transformações do corpo feminino no Brasil. Na verdade, as mulheres estavam de fato se apropriando de um território exclusivamente masculino, como fazem agora.

Isabelle Colmenero pratica exercícios obsessivamente desde os 15 anos. Corre, levanta pesos, faz ginástica. Hoje, aos 35, casada, exibe um corpo de gladiadora pequeno e sarado, que não deixa de ser vigorosamente feminino. Ela diz que não tem medo de ficar com aparência de homem. “Nosso corpo não é como o deles”, afirma. “Para ficar forte mesmo, masculinizada, você tem de tomar anabolizante.” Isabelle limita-se a comer de tudo. E, como gasta muita energia, não se preocupa em fazer dietas. Parece residir aí um avanço do ponto de vista da saúde em relação à estética anoréxica que as adolescentes do mundo inteiro importaram das passarelas. Mulheres que malham, comem.

Lilian Pacce, a editora de moda do canal GNT, acha que a modelo holandesa Lara Stone já representa, de forma sutil, uma resposta do mundo da moda ao aparecimento nas ruas de uma estética feminina menos diáfana. “Lara é uma mulher grande e teve problemas quando começou nos desfiles”, diz Lilian. Hoje, a modelo alta de seios imponentes é uma das mais requisitadas do circuito.

A jornalista Danuza Leão, ex-modelo e observadora perspicaz da sociedade brasileira, não tem simpatia pelas mulheres que malham em excesso. Defende, “para homens e mulheres”, uma aparência “durinha e enxuta, mas sem músculos”. Dito isso, ela reconhece que sempre houve uma acentuada divisão no mundo estético brasileiro. Nos anos 1950 e 1960, quando as modelos de sucesso já eram magras e elegantes, como a americana Suzy Parker, as preferidas dos homens brasileiros se apresentavam no teatro de revista com amplos quadris e coxas grossas. Eram as coristas, equivalentes das moças de pernas roliças que dançam ainda hoje diante das câmeras dos programas de auditório. “Sempre houve essa divisão de gosto no Brasil”, diz Danuza. “As mulheres com mais corpo sempre fizeram sucesso nas ruas e na praia.”

Sempre, neste caso, parece ser sempre mesmo. Desde a chegada dos portugueses, no século XVI, criou-se uma dicotomia entre a estética oficial da corte europeia – que consagrava cabelos claros, pele leitosa e seios volumosos – e a beleza que se apresentava nas praias aos olhos dos colonizadores. Às índias, com seus olhos e cabelos escuros e seu corpo pequeno e castanho, logo viriam se juntar as escravas africanas de sorriso reluzente e magistral musculatura. Dessa mistura emergiu uma estética brasileira, de bumbum arrebitado e seios pequenos, que o sociólogo Gilberto Freyre definiu como “morenidade” – e que até hoje influencia o gosto e a libido nacionais. Mary Del Priore diz que no século XIX, quando José de Alencar se esmerava em esmiuçar as “mãos pálidas” e o “talhe delicado” de suas personagens, os visitantes estrangeiros ao Brasil relatavam a evidente preferência de nossos tataravós por mulheres “cheias e morenas”. Um inglês que aqui esteve em 1893 deixou registrado que o maior elogio que se podia fazer a uma dama era observar que ela “estava a cada dia mais gorda”. As coisas mudaram.

É possível, portanto, que a estética das mulheres fortes seja apenas uma evolução histórica do gosto nacional por mulheres curvilíneas, que predomina há 500 anos. O fato de que as primeiras musculosas tenham surgido nos desfiles de Carnaval, em que a cultura do país é filtrada pelas lentes do exagero, reforça essa impressão. A nova estética pode ser compreendida como exagero, como o ponto em que uma tendência começa a converter-se em caricatura.

Foi inaugurada recentemente no museu Metropolitan de Nova York uma exposição de 60 esboços do pintor italiano Agnolo Bronzino, um dos mestres do maneirismo. Essa escola de arte surgiu na Itália por volta de 1520 e interpôs-se entre o Renascimento e o Barroco. Os corpos esboçados por Bronzino, percebe-se na exposição, são recobertos por uma musculatura tão espessa e detalhada que mais parecem uma caricatura da anatomia humana. Olhando a retrospectiva do Metropolitan, é possível encontrar paralelos entre o virtuosismo vazio de seus desenhos e a ausência de direção da cultura moderna. Com o mesmo olhar, talvez se possa perceber, no corpo musculoso das mulheres que malham, reflexos do exagero que povoa as pinturas e os desenhos de Bronzino. No início do século XXI, a estética das mulheres com músculos pode ser tanto um sinal de transformação duradoura quanto mais uma manifestação efêmera de decadência. Como o maneirismo. 

 

A mente de quem tem músculos
Como explicar o desejo das mulheres de ficar cada vez mais forte? É uma tentativa de competir com os homens ou de agradá-los?
Celso Masson. Com Eliseu Barreira

Por trás de todo corpo há uma mente que o imagina. As mulheres gordas e as mulheres magras, as esportistas e as sedentárias, as pequenas e as grandes, todas elas compartilham a ansiedade com a própria aparência, a preocupação com a beleza. Feministas dizem que isso é parte de uma conspiração masculina destinada a manter as mulheres reféns da aprovação masculina. Historiadores podem sugerir que se trata de uma vocação humana que tomou forma específica desde os trovadores medievais e suas “amigas”. O fato é que as mulheres se ocupam cada vez com mais intensidade da própria beleza. A sociedade reforça e amplifica essa preocupação ao consagrar modelos e divulgá-los para que todas saibam o que é uma mulher bonita – e corram atrás da possibilidade de imitá-la.

Mas isso nem sempre foi assim. Em eras distintas, gordas e magras já estiveram espontaneamente no imaginário coletivo como modelos de beleza e de desejo. As variações de peso e de curvas no corpo da mulher ao longo do tempo podem ser explicadas por questões econômicas, sociais e até políticas (acompanhe o quadro ao lado). Agora, os psicólogos e antropólogos encontram-se diante de um novo desafio: explicar o culto ao corpo radical das mulheres musculosas. O que vai pela mente das brasileiras que gastam horas de seu dia para montar tal corpo vigoroso e definido? O que as leva a enfrentar privações e uma rotina aborrecida pelo prazer de exibir um corpo que nem todos acham bonito? Seria esse um gesto radical de autoafirmação ou apenas a forma mais extrema de subordinação à estética da saúde lançada nos anos 80? Difícil afirmar com certeza.

“O corpo é muito mais importante do que a roupa em nossa sociedade”, diz a antropóloga Mirian Goldenberg, professora do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro. “É ele que deve ser exibido, moldado, manipulado, trabalhado, costurado, enfeitado, construído, produzido, imitado.” Autora do livro Nu & vestido, Mirian afirma que, no Brasil, é o corpo, e não o figurino, que entra e sai da moda. “A roupa é apenas um acessório para a valorização e exposição desse corpo.” Ao longo do tempo, a linguagem corporal se estabeleceu como uma ferramenta para a busca do prestígio e do sucesso pessoal no Brasil. Mulheres exuberantes tendem a ascender mais rapidamente. Se antes elas encontravam os melhores pretendentes e conseguiam casamentos confortáveis, com a entrada no mercado de trabalho passaram a disputar as melhores colocações. Sua aparência vitaminada, mais que transformar o corpo em objeto de distinção social, cria um valor palpável: a equiparação ou até mesmo a superioridade em relação à histórica força do macho. “É muito melhor fechar um negócio com a calça larguinha do que com a calça apertada”, diz a empresária do setor de moda Luciana Negrão (leia mais sobre ela na reportagem A beleza da força).
Na sociedade brasileira, a mulher musculosa
afirma-se como poderosa, atraente e sedutora

No processo de emancipação feminina, a disputa pelas posições que antes eram exclusividade dos homens introduziu na vida feminina um novo padrão de culto ao corpo: a construção do tônus muscular como símbolo de sucesso e autoafirmação. “A mulher musculosa afirma-se como uma mulher poderosa, atraente e sedutora na sociedade brasileira”, diz a psiquiatra Carmita Abdo, professora da Faculdade de Medicina da USP e autora do livro Descobrimento sexual do Brasil.

Ainda que algumas mulheres tenham escolhido o halterofilismo desde o início do século XX, foi só na década de 1980 que as academias de ginástica se popularizaram. Foi quando surgiram os primeiros torneios do tipo Miss Olímpia (em oposição ao tradicional Miss Universo) e os treinos de musculação entraram na rotina das famosas e anônimas. Por mais que hoje pareça cafona, a atriz Jane Fonda encarnou o símbolo da mulher de sua era. Uma mulher ativa, que escolhe o corpo que quer ter. Foi o rompimento com uma tradição de séculos em que o corpo da mulher era o resultado de fatores alheios às escolhas que ela mesma fazia – como, de resto, quase tudo na vida feminina.

A história mostra que o padrão renascentista de beleza feminina, das mulheres “cheinhas”, cobertas de carne e gordura, teve razões de sobra para perdurar por três séculos. A razão para o excesso de peso na nobreza europeia estava na dieta, que incorporara o açúcar de cana produzido nas colônias. Comendo mais calorias a cada refeição, era inevitável que a mulher ganhasse peso e curvas. Durante o maneirismo, escola de pintura que exagerou as formas representadas no Renascimento, parte da gordura foi trocada por músculos, como mostram as telas de Agnolo Bronzino (1503-1572). Esse padrão corporal volumoso reinou quase absoluto até que o espartilho, já no século XIX, esculpisse a cintura da mulher, criando corpos em formato de ampulheta. A moda das gordinhas só perdeu força quando outro imperativo econômico se fez presente: a escassez de alimentos na Europa. A fome que obrigou centenas de milhares de europeus a abandonar suas terras em busca da sobrevivência nas Américas também definiu as linhas esguias que marcariam praticamente todas as gerações de mulheres do século XX. Regimes, cirurgias plásticas e ginástica passaram a modelar o corpo feminino de forma quase obrigatória. As gordas, antes admiradas, tornaram-se a representação do fracasso pessoal. “Tenho várias amigas acima do peso. Elas vivem reclamando, e não fazem nada para mudar”, diz a sarada Luciana Negrão.

No Brasil, o desenvolvimento dos músculos sempre foi entendido como uma característica da identidade masculina. No processo de conquistar a independência, as mulheres fortes parecem buscar algo que antes pertencia ao sexo oposto – e, assim, reduzem ainda mais as já esmaecidas diferenças entre os gêneros. “Na busca da igualdade, elas conceberam como objetos a ser conquistados alguns itens constitutivos do modelo masculino hegemônico: vencedor, viril, autorreferido e poderoso”, diz o sociólogo César Sabino, professor da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Segundo ele, as mulheres passaram a ambicionar aquilo que representa a masculinidade. Como os bíceps avantajados que a cantora Madonna adora exibir.
Na busca da igualdade, as mulheres conceberam os valores masculinos: viril, vencedor, autorreferido

A visão de que a força física garante à mulher um maior equilíbrio em sua disputa com o homem, contudo, não é unânime. “O ‘corpo definido’ é somente uma absorção de novos modelos de beleza feitos pela mulher”, diz a historiadora Mary Del Priore, autora do livro Corpo a corpo com a mulher – Pequena história das transformações do corpo feminino no Brasil. “A regra nesses casos continua sendo a de agradar aos homens.” Segundo ela, esse comportamento de deixar o corpo sarado, que ganha força ainda maior no Carnaval, valorizaria o sucesso passageiro proporcionado pelo corpo entre os indivíduos do sexo masculino. É o “desejo de ser desejada”, um dos temas recorrentes de Naomi Wolf. Em O mito da beleza (1992), ela mostra que junto com as conquistas do feminismo, que modificaram a posição das mulheres na sociedade, é crescente a preocupação com a beleza. Por causa disso, elas sofrem cada vez mais de distúrbios alimentares, se submetem cada vez mais a cirurgias plásticas e dedicam cada vez mais tempo a cuidar do corpo. O mito, ou ideologia feminina da beleza, seria uma arma política contra a evolução da mulher. “Ele procura destruir psicologicamente e as oculta de tudo de positivo que o feminismo proporcionou às mulheres material e publicamente”, afirma Naomi no livro. Por trás do mito, estariam os homens determinando o que é belo e desejável. Isso colocaria a mulher num patamar vulnerável devido à dependência da aprovação de um olhar externo que a aprisiona.

“Essas musas fabricadas criam um corpo pós-moderno com peitos de silicone, barrigas de homem escavadas pela testosterona e pelos exercícios e pernas de jogadores de futebol com quadríceps que deixariam o Zico em sua fase áurea, talvez, humilhado”, diz César Sabino. Uma vez marombada, a mulher perde a cintura que definiu a feminilidade durante algum tempo em nossas sociedades. “Esses corpos fabricados para o Carnaval duram pouco. Eles são construídos durante meses para o evento ritual e depois necessitam de uma manutenção constante – que tem limite.” O limite, segundo Sabino, seria a redução da mulher a seu estado de mercadoria para ser consumida visualmente.

 

NÃO BASTA SUAR

Não basta suar

Para ter um corpo musculoso, é preciso malhar. Mas a genética, não o treino, é quem dita os limites

Fernanda Colavitti. Com Nelito Fernandes

Alex Korolkovas

Aviso às mulheres que se animaram a ganhar alguns músculos: não é fácil ficar sarada como rainha de bateria de escola de samba. Na verdade, para algumas, isso nunca vai acontecer, por mais que se esforcem. Trata-se de uma questão biológica, segundo a especialista em fisiologia do exercício Gerseli Angeli, da Unifesp. Quando comparadas aos homens, todas as mulheres têm dificuldade para ganhar massa muscular. Isso acontece porque seu organismo produz menos testosterona, hormônio que está diretamente relacionado à formação de músculos. Além disso, as mulheres têm mais porcentual de gordura no corpo, e a constituição de seus músculos é diferente dos masculinos – menos rígidos –, de acordo com Gerseli. “É por isso que um homem e uma mulher que malhem com a mesma frequência e intensidade nunca vão ficar musculosos do mesmo jeito, pelo menos não por métodos naturais”, diz ela.

Além disso, mesmo entre as mulheres há aquelas mais e menos favorecidas geneticamente. Algumas conseguem ganhar massa muscular com menos esforço, e outras, menos agraciadas pela natureza, terão de suar muito mais na academia para obter resultados frustrantes. A apresentadora Sabrina Sato, de 29 anos, faz parte do grupo das sortudas. Dona de um par de pernas – e de um bumbum – de fazer inveja à mais bem resolvida das mulheres, ela se diz indisciplinada e preguiçosa para atividades físicas. “Deveria fazer musculação com mais frequência, mas, como não consigo acordar cedo, às vezes fico semanas sem fazer nada. Depois malho todos os dias por uma semana e recupero”, diz. Conversa de beldade famosa para matar as outras de inveja? O personal trainer paulistano Alessandro Melo, da Academia Reebok, diz que já passou alguns treinos para a apresentadora e que é tudo verdade. O conselho dele para quem não tem a mesma sorte é evitar ambições descabidas. “É preciso se comparar a você mesma, pois seu potencial genético é único. Você não vai ficar igual a ninguém, vai ficar igual a você, mas melhorada”, afirma. Nas páginas seguintes, algumas dicas para aquelas que estão empenhadas em chegar ao máximo de seu potencial muscular.

DICAS PARA UMA DIETA

Dicas para uma dieta de hipertrofia

REDAÇÃO ÉPOCA

 O que uma dieta de hipertrofia precisa conter?

Diferentemente do que a maioria das pessoas pensa, não é preciso aumentar de forma exagerada a ingestão proteica para ter um bom aproveitamento do estímulo causado por um treino de hipertrofia. É necessária uma alimentação que contenha:

* 65% das calorias diárias na forma de carboidratos
* Ingestão proteica que depende do peso da pessoa: cerca de 1,3g a 1,4g de proteína por quilo
* Gorduras de boa qualidade
* Muita água
* Vitaminas, minerais e fibras são fundamentais

 Um exemplo de cardápio

Café da manhã

Fruta: meio mamão papaia ou suco natural
Carboidrato: pão francês integral
Requeijão light ou queijo magro
Leite desnatado com um pouco de café

Lanche da manhã
1 barra de cereal e 1 fruta

Almoço /jantar
- Salada de folhas, cenoura, beterraba, pepino, tomate
- Tempero com POUCO azeite, limão/vinagre e POUCO sal
- 2 a 3 colheres de servir de arroz integral + 1 concha de feijão OU um prato fundo de macarrão com molho de tomate sem queijo ralado
- 1 filé de frango grelhado, ou peixe, ou carne vermelha magra, ou o molho do macarrão pode ser a bolonhesa
- 1 fruta pequena de sobremesa.

Lanche da tarde I
Salada de fruta + granola + iogurte desnatado

Lanche da tarde II
1 fruta

Nunca fique mais de 3h sem comer

 Como deve ser a alimentação antes e depois do treino?

Antes
Devemos iniciar o treino com as células alimentadas, para isso devemos cuidar das refeições que antecedem o exercício e nunca devemos começar um exercício sem comer alguma fonte de carboidrato de absorção mais lenta como uma fruta, um suco, um pão integral com geleia

Durante
Para ter um bom desempenho é necessário que nosso organismo receba carboidrato durante o exercício, em quantidade que varia de acordo com a duração e a intensidade do treino. A regra básica é: nunca treine mais de uma hora sem comer alguma fonte de carboidrato (gel de carboidrato, maldextrina, mel, suco de fruta, rapadura).

Depois
É neste momento que definidos a qualidade da recuperação do exercício. O truque é comer assim que terminar de treinar um alimento rico em carboidratos de rápida absorção (suco de laranja, mel , doce de fruta, pão branco com geleia) com o objetivo de normalizar a glicemia (quantidade de carboidrato que circula no nosso sangue e é fundamental para nos mantermos vivos) e na sequência comer um alimento de fonte proteica que não demore muito para ser digerido e absorvido. A utilização de suplementos proteicos neste momento pode ser uma estratégia interessante, mas é necessário fazer um balanceamento com outras fonte de proteínas que o indivíduo come ao longo do dia.


Dá para sair da dieta de vez em quando, ou é preciso ser radical, se quiser construir e manter os músculos?
É possível sair da dieta, mas não tente compensar no dia seguinte. Regra fundamental: nunca compense um dia de exageros alimentares com restrição excessiva, “ é um tiro no pé”.

Quantas calorias, em média, uma mulher que treina para ganhar músculos precisa ingerir diariamente? E um homem?
Difícil e perigoso dizer, pois muitas variáveis (peso, altura, sexo, tempo de vida esportiva...) interferem na definição desse valor. É necessário fazer um levantamento mais específico que faz diferença no resultado final.

Existe algum (ou alguns) alimento que precisa ser eliminado de vez do cardápio? Algum que precisa estar sempre presente?
Eliminar: alimentos que estimulam a desidratação ( álcool, café , chocolate, chá preto, mate ), ricos em gordura e carboidrato refinado ( frituras de forma geral, doces cremosos) e fontes proteicas ricas em gordura ( muitos tipos de carnes, queijos amarelos...);

Estar presente: frutas, verduras, salada de folha , verdura cozida; proteínas de magra e de boa qualidade ( carne vermelha, peixe, franco, leite e derivados); leguminosas (feijão, grão de bico, ervilha, lentilha...).
Dependendo do momento, devem estar presente: Carboidratos integrais ( arroz integral , macarrão, pão, aveia, ), carboidrato refinado ( arroz, macarrão , suspiro, pão francês, doce de leite).

Muitas mulheres que se preparam para sair musculosas na avenida, agora no carnaval, falam de uma dieta à base de clara de ovos e batata. Isso é mesmo necessário? Seria uma solução a curto prazo?
Não. Para estar bem nutrida e pronta para ter os benefícios do treino de hipertrofia são necessários muitos nutrientes. É preciso entender que os benefícios de um treino, infelizmente, não acontecem de um dia para outro. É preciso dedicação, continuidade e disciplina.

O uso de suplementos nutricionais é indispensável à mulheres que querem ganhar massa muscular? É possível uma mulher ganhar músculos só com exercícios e alimentação adequada, sem o uso de suplementos?
Sim, é possível. Uma alimentação adequada associada a um treinamento correto é a base para conquistar o objetivo.

(Época, 10/02/2010)

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