"Imagine dois jovens gêmeos idênticos. Um deles é recrutado
para ser astronauta e fazer um voo experimental em uma nave da Nasa capaz de
atingir 50% da velocidade da luz. Ele parte, vai até Alfa Centauri (a estrela
mais próxima do sistema solar, a poucos anos-luz daqui) e volta, numa viagem de
16 anos. Quando retorna, a surpresa: seu irmão gêmeo já é um idoso, à beira da
morte, enquanto ele envelheceu apenas o tempo da viagem". O que aconteceu foi
que, enquanto o tempo passava mais devagar para o irmão astronauta, o que ficou
na Terra envelhecia no ritmo normal. Daí a discrepância impressionante entre os
gêmeos, que pode ser vista, grosso modo, como uma viagem do irmão astronauta
rumo ao futuro!" (Superinteressante, Ed. 265, maio/2009, pág. 20).
O que é o tempo? Não resta dúvida, ele existe. Mas,
para que serve o tempo? Podemos contar o tempo de forma diferente em diferentes
lugares?
Há cerca de quinze bilhões de anos houve o big bang, a
explosão que deu origem ao nosso universo atual. Não duvido disso, pois os
movimentos de expansão observados provam que tudo já esteve em uma posição
central.
MAS, o que é ano? Como se chegou a essa medida de tempo?
A história nos remete aos caldeus há alguns milhares de anos.
Eles criaram as medidas de tempo observando os movimentos astronômicos.
Embora não soubesse que a Terra gira em torno do Sol, perceberam esse período
pelas estrelas que apareciam no céu de forma sucessiva, também pela posição em
que o Sol aparecia no leste movimentando-se para a direita e para a esquerda.
A período decorrido entre a saída e a volta do nascer do Sol
em um determinado ponto da Terra, denominaram o que na nossa língua chamamos
ano. Estava criada a medida de tempo. E é um tempo equivalente
a quinze bilhões de volta da Terra em torno do Sol que se calcula ter decorrido
do big bang até hoje.
Se contamos assim o tempo, há como dizer que o tempo passa
mais lento em outro lugar ou para quem está em alta velocidade?
Voltemos aos gêmeos.
Sabemos que as propriedades químicas alteram mais ou menos
rapidamente em diferentes ambientes, e o modo de vida pode fazer com que duas
pessoas envelheçam com velocidades diferentes; mas poderíamos chamar essa
diferença de tempo?
O exemplo da revista diz que o indivíduo teria feito uma
viagem de dezesseis anos. Agora, pergunto novamente: "o que é
dezesseis anos"? Não é o período que a Terra leva para dar dezesseis
voltas. O gêmeo astronauta poderia ter envelhecido bem mais
lentamente do que o que ficasse na Terra; ou talvez até o contrário; isso
dependeria da sua forma de vida e das condições ambientes durante a sua viagem.
Mas o período para nós seria o tempo levado pela Terra para dar dezesseis volta.
Se os irmãos tivesse vinte e cinco anos no início da viagem, no final ambos
estariam com quarenta e um anos, não importando se o desgaste biológico de um é
maior do que o do outro.
Se Mercúrio dá uma volta em oitenta e oito dias, isso não
quer dizer que o tempo passa mais rapidamente em Mercúrio, mas a sua velocidade
é maior, ou sua rota menor do que a da Terra. Saber se ele movimenta
mais rápido ou mais lento do que a Terra é uma questão matemática de proporção
das rotas que os dois planetas percorrem no espaço. Mas tempo é um
transcurso independente de local é época.
Mais um exemplo: O homem do passado viviam muito menos do que
o atual. Mas isso não significa que o tempo passasse mais rápido para ele,
e sim que ele vivia menos tempo por ter um desgaste biológico mais rápido.
Se ele morria com trinta anos em média, ele via trinta primaveras, trinta
verões, trinta outonos e trinta invernos. Se eu hoje já conto com
cinquenta e uma primaveras, cinquanta e um verões, quase cinquenta e um outonos
e cinquenta invernos, eu digo que estou com cinquenta anos, quase cinquenta e
um. Dizem que pareço mais jovem, mas isso não significa que o tempo passou
mais lentamente para mim do que para alguém que aos cinquenta anos está bem
velhinho. Essa pessoa terá vivido os mesmos cinquenta anos. Se eu
tivesse viajado pelo espaço à metade da velocidade da luz, poderia estar menos
ou talvez mais desgastado, mas o período decorrido seria o mesmo, os cinquenta
anos.
Poderíamos imaginar uma civilização de outro planeta contando
um tempo com base na translação desse planeta, e seu ano seria maior ou menor do
que o nosso se o astro levasse menos ou mais tempo do que a Terra para uma
translação. Mas o tempo, como medida universal, seria o mesmo.
Dos exemplos acima pode-se deduzir ser fora de lógica dizer
que o tempo passa mais lento para quem está em alta velocidade. Ele apenas
gasta menos tempo para sua viagem, o que é diferente da passagem do tempo.
Isso é outra coisa tão ilógica, que parece estranho
cientistas tomarem tempo para analisar se isso é possível.
Para continuar especulando o tema, inventaram até um chamado
"buraco de minhoca", que "seria uma espécie de fenda espacial que ligasse dois
pontos distantes e descontínuos do espaço-tempo". Mas o artigo já
diz: "Caso algo assim pudesse existir, ele conectaria instantaneamente dois
lugares potencialmente muito distantes do Universo". É "caso algo
assim pudesse existir" mesmo.
"A melhor coisa para poder entender esse pedaço é assistir ao
clássico filme de Robert Zemeckis, de Volta para o Futuro. Nele, Marty
McFly (Michael J. Fox) volta ao passado e quase impede seus pais de se
apaixonarem, o que geraria sua inexistência" (idem).
Do passado só pode restar lembrança e vestígios dos quais
podemos deduzir que ocorreram determinados fatos. Mas retornar fisicamente
aos fatos é algo muito mais impossível do que voltar à vida quem já morreu e se
desfez.
Matérias mudam; seres nascem, envelhecem e morrem; mas tempo
é uma forma de situar os fatos e existência das coisas. Você pode voltar
ao local onde nasceu, mas, ainda que tivesse um meio de reverter suas alterações
biológicas, não teria como retornar seus atos como em um filme rebobinado.
Viajar para o passado é algo pertencente às lembranças. Viajar para o futuro é
só imaginação.
Podemos até conseguir alterar a velocidade e alteração das
matérias; e não se pode duvidar de que um dia se possa criar uma pessoa imortal; mas o
tempo é algo impassível de manipulação.
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