O ÓDIO DISSEMINADO RELIGIOSAMENTE
Livros de escolas
islâmicas britânicas teriam conteúdo antissemita
Alguns textos passados a crianças sauditas são críticos a judeus e homossexuais,
aponta investigação da BBC.
22 de novembro de 2010 | 17h 24
Instituições se propõem
a ensinar currículo de escolas da Arábia Saudita
Escolas frequentadas por crianças da comunidade saudita na Grã-Bretanha estão
usando livros escolares com conteúdo antissemita e homofóbico, segundo uma
investigação da BBC.
Um dos livros, direcionado a crianças com 12 e 13 anos de idade, diz que judeus
se parecem com porcos e pede às crianças que façam uma lista com as más
qualidades dos judeus.
O livro também traz ensinamentos islâmicos segundo os quais a homossexualidade
seria um crime a ser punido com a morte.
As publicações foram produzidas pelo Ministério da Educação da Arábia Saudita.
A embaixada do país em Londres divulgou uma nota dizendo que esse tipo de
material é frequentemente julgado fora do contexto e, muitas vezes, inclui
descrições históricas.
O governo britânico disse que não vai tolerar que crianças muçulmanas na
Grã-Bretanha recebam ensinamentos com conteúdo antissemita e homofóbico.
Os Ensinamentos
A equipe da BBC identificou uma rede com cerca de 40 escolas frequentadas por em
torno de 5 mil crianças muçulmanas nos fins de semana.
As instituições, em funcionamento na Grã-Bretanha há cerca de 30 anos, se
propóem a ensinar o currículo oficial adotado em escolas da Arábia Saudita.
Muitos dos alunos esperam um dia serem aceitos em universidades do país árabe.
Uma das lições ensina às crianças a forma correta de se cortar as mãos e os pés
de ladrões: uma mão para a primeira infração, um pé para a segunda.
Outra pede a alunos que enumerem as más qualidades dos judeus e diz que os
sionistas estão fazendo um complô para conquistar o mundo.
Os alunos também são ensinados que a punição para o crime de sodomia é a morte.
O livro explica que nesse campo há opiniões divergentes sobre a forma da punição
- apedrejamento, atirando o infrator do topo de um penhasco ou queimando-o em
uma fogueira.
Um outro livro, direcionado a crianças mais novas, pergunta o que acontece a
alguém que morre mas não é um seguidor do Islã. A resposta, segundo o livro, é
"o fogo do inferno".
Em 2007, uma outra investigação da BBC revelou tendências antissemitas em livros
adotados por uma escola saudita em Londres.
Na época, o governo saudita prometeu fazer uma revisão completa do material
ofensivo presente no currículo nacional do país.
Inspeções
Escolas em regime parcial - ou seja, que não oferecem aulas em período integral
- não são inspecionadas pelo órgão britânico responsável por fiscalizar
instituições de ensino, o Ofsted.
No entanto, tendo em vista as denúncias, o governo da Grã-Bretanha já anunciou
que a situação pode mudar.
O secretário britânico da Educação, Michael Gove, disse: "O Ofsted está
trabalhando nessa questão, eles vão me dizer em breve como podemos assegurar que
o ensino em período parcial seja melhor registrado e melhor fiscalizado no
futuro".
O governo saudita disse que não tem vínculos oficiais com escolas de regime
parcial e não apoia essas instituições.
A BBC descobriu, no entanto, que um prédio no oeste de Londres onde a equipe de
jornalistas obteve um dos livros escolares com conteúdo polêmico é de
propriedade do governo saudita.
Alerta
O membro do parlamento britânico Barry Sheerman (do Partido Trabalhista, de
oposição) disse que os políticos vêm evitando o problema do extremismo em
algumas escolas islâmicas da Grã-Bretanha.
"Há algumas escolas muçulmanas muito boas, mas há algumas que me preocupam
muito, por seu espírito, seu foco e sua ideologia", ele disse.
O estudioso do Islã e líder religioso Usama Hasan, radicado no leste de Londres,
fez um alerta sobre os perigos de se segregar jovens muçulmanos na Grã-Bretanha,
particularmente nos seminários onde a nova geração de líderes (os imãs) está
sendo educada.
"Eles não interagem com as pessoas que não são muçulmanas. Não aprendem os
ingredientes do mundo ocidental", disse Hasan. "Então é muito fácil para eles
ler os livros medievais - que foram escritos em um período quando o Islã estava
sob ataque - e dizerem que os que não creem (no Islã) são nossos inimigos e que
temos de atacá-los." BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo
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