Descontando as despesas que os bancos têm com administração (pagamento de
pessoal, segurança etc.), com os tributos e com a inadimplência, o banco tem um
ganho de R$ 920 sobre os R$ 10 mil captados de seu cliente. Enquanto isso, a
instituição financeira paga apenas R$ 130, ou sete vezes menos do que lucrou na
operação.
Em termos percentuais, dá uma diferença de 600%.
Os cálculos, feitos pelo ESTADO DE MINAS, levaram em consideração um spread
médio mensal de 45,29%, segundo os últimos dados do Banco Central, nas operações
para pessoa física. “Os bancos ganham muito mais com o dinheiro captado do que
os próprios investidores. Esse é o resultado da política econômica adotada pelo
governo, que estimula as aplicações em títulos públicos e reduz o volume de
dinheiro para o crédito”, diz o analista financeiro da Austin Asis, Rodrigo
Indiani.
De acordo com o BC, 38,3% da composição total do spread vai para os ganhos
líquidos dos bancos. O custo fiscal abocanha 27,7% desse bolo, que também é
repartido com as despesas administrativas (17,2%). A inadimplência participa com
16,7% na formação do spread. Os cálculos foram feitos com base nos dados de 17
instituições financeiras.
Levantamento do Fundo Monetário Internacional (FMI) mostra que o spread bancário
no Brasil é o mais alto do mundo. Na comparação com outros países
latino-americanos, o Paraguai tem o segundo maior spread (34,5%). Na Argentina é
de 8,9% e no Chile, de 3,4% No grupo dos países desenvolvidos, o spread não
chega a 4%. “O spread é alto no Brasil, por causa do
governo. Os bancos têm uma boa margem de ganho, mas não é diferente de
outros países. Acontece que o peso estrutural, que inclui custo administrativo e
tributos, é muito grande”, explica Alberto Borges Matias, sócio da ABM
Consulting e professor da USP. Segundo ele, a política do governo nos últimos 20
anos criou uma situação que favorece os cofres públicos e os bancos, ao mesmo
tempo em que reduz os recursos para crédito.
Em relatório encaminhado ao governo federal, a Confederação Nacional da
Indústria (CNI) reclama da pouca disposição dos bancos em reduzir o spread.
De acordo com a entidade, os bancos não repassaram integralmente ao tomador do
crédito a redução de custos verificada no ano passado. “Entre 2002 e 2003,
ocorreram duas mudanças significativas na composição do spread. Enquanto a cunha
fiscal manteve-se inalterada (29%) e a inadimplência registrou um pequeno
aumento de 16% para 17%, as despesas administrativas
caíram de 19% para 14% e a margem liquida aumentou de 36% para 40%.
A queda de cinco pontos percentuais nos custos administrativos não foi repassada
ao tomador final de empréstimos, pessoas físicas ou jurídicas. Compensou o
aumento da inadimplência e, principalmente, aumentou o lucro dos bancos”, diz o
documento da CNI.
O economista da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) Roberto Troster diz
que há um engano no debate sobre os spreads bancários. “Os números usados como
referência pelo Banco Central são inconsistentes e induzem a uma percepção
parcial e distorcida da realidade. Nos cálculos do governo não entra, por
exemplo, o peso dos compulsórios. Além disso, as altas taxas de juros são
resultado da política monetária do governo”, diz.