DEPUTADOS REAGEM A DECRETO PRIVATISTA DE BOLSONARO

Chico Alves
Colunista do UOL 28/10/2020 04h00


Deputados do PCdoB e do PT protocolaram Projeto de Decreto Legislativo (PDL), instrumento que tem o poder de suspender imediatamente os efeitos de um decreto presidencial. Parlamentares do PSOL farão o mesmo hoje.
 

A atenção primária é a porta de entrada do SUS e conta com cerca de 39 mil unidades que são fundamentais em ações como o primeiro atendimento em casos de coronavírus, por exemplo, e em programas de vacinação.

"Esse é um decreto absurdo", diz a deputada Jandira Feghali (PcdoB-RJ). "O Sistema Único de Saúde deve garantir o acesso irrestrito, a Constituição define que esse atendimento é um direito de todos e dever do Estado. O texto que delega a gestão das unidades básicas de saúde na verdade aponta para a privatização".
Jandira é uma das signatárias do PDL com que o PCdoB tenta sustar os efeitos do texto presidencial.
Outro PDL foi assinado pela deputada Maria do Rosário (PT-RS) e pelo deputado e ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha (PT-SP). O petista avalia que o decreto é mais uma demonstração da voracidade de venda de Bolsonaro e Guedes em relação ao patrimônio de políticas públicas.
"Além de tudo é um desrespeito absurdo, já que estuda parcerias público-privadas nas unidades de saúde sem envolver os municípios, que são os responsáveis pelas unidades básicas e pelos profissionais que estão lá", afirma Padilha. "Tem um misto de intervencionismo com ignorância em relação a como funciona o SUS".
O deputado Junior Bozzella (PSL-SP) criticou fortemente também a circunstância em que o governo encaminhou a iniciativa. "Publicar na surdina, em meio à pandemia, um decreto que faça qualquer tipo de aceno à privatização do Sistema Único de Saúde é apunhalar mais de 150 milhões de brasileiros pelas costas na hora em que mais precisam", acredita. "É atentar contra a Constituição que garante o acesso universal à saúde a toda população".


Ex-ministros da Saúde criticam


O decreto 10.530 delega à equipe econômica a "preparação de estudos de alternativas de parcerias com a iniciativa privada para a construção, uma modernização e a operação de Unidades Básicas de Saúde dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios".
Além de Alexandre Padilha, outros ex-ministros da Saúde desaprovaram a medida.
Luiz Henrique Mandetta, que comandou a pasta no governo Bolsonaro até abril, reclama da falta de transparência. "Sem explicar do que se trata é um tiro no escuro", diz ele.
Ministro da Saúde no governo Lula, José Gomes Temporão classificou como "disparate total" o decreto. "Entregar a rede básica de saúde para a gestão privada é uma iniciativa equivocada de qualquer ponto de vista".
"Bolsonaro e Guedes 'venderam' Pazuello"
Além do conteúdo, a publicação do decreto levanta discussão pela ausência da assinatura do ministro Eduardo Pazuello, responsável pela pasta que administra o SUS.
"O ministro da Saúde participou dessa articulação? Concorda com isso? Tem alguma opinião? Por quais motivos não assinou?", questiona Jandira Feghali. "Depois de chamado de traidor ele não é consultado?".
A parlamentar diz que o PCdoB estuda tomar medidas jurídicas contra o decreto.
Também Alexandre Padilha chama a atenção para esse aspecto. "Se semana passada Pazuello foi rifado no debate da vacina, agora Bolsonaro e Guedes o venderam, porque tomaram essa iniciativa sem envolver o ministro da Saúde e sem envolver os municípios", afirma.
O presidente do Conselho Nacional de Saúde (CNS), Fernando Pigatto, classificou de "arbitrariedade" o decreto presidencial. A entidade está avaliando o texto em sua Câmara Técnica da Atenção Básica (CTAB) para tomar as devidas providências legais.
"Precisamos fortalecer o SUS contra qualquer tipo de privatização e retirada de direitos", firmou Pigatto, em vídeo divulgado nas redes sociais.
<https://noticias.uol.com.br/colunas/chico-alves/2020/10/28/deputados-e-ex-ministros-reagem-a-decreto-que-preve-privatizacao-do-sus.htm>

 

Privatizar serviço de saúde, ou tira direito da população, ou gera aumento de despesa para o Estado, que terá que custear os lucros das empresas que assumirem o serviço.  Isso, além das gordas propinas por trás dos processos de privatização.

 

Ver mais POLÍTICA BRASILEIRA

 

..

.