PETROBRÁS PAGA TRÊS BILHÕES EM ALGUÉM
DO OLEODUTO QUE ALIENOU
Petrobras vende TAG e, com ‘lucro’, paga aluguel para usar gasodutos que
privatizou
Valor pago de aluguel, R$ 3 bilhões ao ano, vai superar lucro obtido com a venda
da TAG. Para ex-presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, decisão de
vender não tem lógica econômica
Publicado: 05 Abril, 2021 - 09h49 | Última modificação: 05 Abril, 2021 - 11h47
Escrito por: Rosely Rocha
Divulgação/Petrobras
A Petrobras está pagando cerca de R$ 3 bilhões ao ano para utilizar os gasodutos
da Transportadora Associada de Gás S.A. (TAG), empresa que a estatal vendeu por
cerca de R$ 36 bilhões mesmo sabendo que iria aumentar a produção, ou seja, ia
precisar ainda mais dos gasodutos para distribuir petróleo e gás.
Com a privatização, em pelo menos 10 anos, a petroleira
vai gastar todo o ‘lucro’ com a venda do ativo em pagamento de aluguel do
gasoduto que antes fazia parte do seu patrimônio. E vai continuar gastando,
já que a sua distribuição passa pela TAG.
Para o economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos
Socioeconômicos (Dieese) /Subseção da Federação Única dos Petroleiros (FUP),
Cloviomar Cararine, a Petrobras pode gastar o que
conseguiu vendendo a empresa em menos tempo ainda porque, além da
produção aumentar ano a ano e a estatal precisar escoar o gás e o petróleo, tem
os reajustes no preço do aluguel.
“A Petrobras produz mais de 90% do petróleo do país e é responsável por 100% do
refino, ela mais produz do que exporta, e o transporte do
gás é feito pela TAG e a NTS [Nova Transportadora do Sudeste], ambas vendidas.
A Petrobras sabia, antes de vender as transportadoras, iria aumentar a produção
e as usaria ainda mais, e mesmo assim vendeu”, diz.
Cloviomar faz uma analogia com a venda de uma casa. Segundo ele, é como se uma
pessoa construísse a própria casa e a vendesse, em vez de ampliá-la porque
esperava mais um filho, ainda a aluga de volta, pagando em torno de 10% ao ano
do valor que recebeu.
”A Petrobras é como o dono da casa. Ela construiu toda a malha de gasodutos e
para utilizar o que construiu paga um aluguel”, diz o economista.
Decisão estratégica, sem lógica econômica
Essa “lógica” faz parte da estratégia do governo federal,
que teve início no governo de Michel Temer (MDB-SP), e se aprofundou com Jair
Bolsonaro (ex-PSL), de transformar a Petrobras apenas numa empresa
produtora de petróleo, saindo de negócios como o mercado de gás, das refinarias
e do transporte, pondo fim ao slogan utilizado no governo Lula: “do poço ao
posto”.
O ex-presidente da Petrobras e atual pesquisador do Instituto de Estudo
Estratégicos de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (Ineep), José Sérgio Gabrielli,
diz que
a venda da TAG foi uma decisão de mudança de
estratégia, sem lógica econômica, mas que atende ao mercado, que culminou com a
aprovação da nova lei do gás.
Leia Mais: Nova lei do gás é desmonte da Petrobras e não barateia produto, diz
ex-presidente
“Eu discordo desta movimentação, que vem a partir de 2016 [pós-golpe], de mudar
profundamente a regulação do gás natural no Brasil. Esta é a intenção. Por isso,
a Petrobras foi proibida de ser distribuidora, de dominar
o mercado, porque empresários acham que é preciso ter concorrência”, diz.
De acordo com Gabrielli, o governo decidiu pulverizar os ativos logísticos da
Petrobras esperando que o mercado funcione e invista no setor. O que para ele é
um erro, pois são necessários bilhões em dólares de investimentos que a estatal
fez ao longo de anos.
“A venda da TAG foi o ativo que mais interessou ao mercado. Quem comprou tem uma
renda fixa, que só no último trimestre de 2020, com contratos de aluguel de
longo prazo, rendeu bilhões”.
Apesar da venda de ativos, dívida da Petrobras só aumenta
Cararine diz que a venda da TAG foi feita sob o pretexto de três falsos
argumentos:
de que criaria concorrência (mesmo sabendo que as empresas privadas não teriam
como investir);
de que a quebra do monopólio da Petrobras reduziria os custos com distribuição;
e de que o dinheiro arrecadado com a venda reduziria as dívidas da estatal.
Na verdade, a dívida só cresce como mostra o gráfico abaixo, que contabiliza em
bilhões, de 2013 a 2020.
A linha azul é a evolução da dívida; a laranja é a amortização da dívida
principal e juros; a linha cinza, os novos empréstimos; e a amarela, os valores
recebidos pela venda de ativos, como a TAG.
<https://www.cut.org.br/noticias/petrobras-vende-tag-e-com-lucro-paga-aluguel-para-usar-gasodutos-que-privatizou-293a>
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