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POBRES CRENTES! COMO PASTORES TIRAM
DINHEIRO DELES
Nem aquele que os ajuda a tirar o
dinheiro do povo são poupados quando perdem a capacidade de continuar
fazendo a obra.
“Aprendi a extorquir o povo”
18/09/2009 - 23:59 - Atualizado em 20/09/2009 -
12:50
Um ex-pastor da Igreja Universal do Reino de Deus relata como o bispo Edir
Macedo o instruía a tirar dinheiro dos fiéis e a depositá-lo em contas no
exterior.
Mariana Sanches, de Balneário Camboriú (SC)
A casa no bairro de Cascadura, Rio de Janeiro, onde
Gustavo Alves da Rocha passou a infância ficava a cerca
de 1 quilômetro de distância do local onde foi erguido
o
primeiro templo da Igreja Universal do Reino de Deus, há
32 anos. A vida de Gustavo e a de Edir Macedo, o líder
da Universal, só se entrelaçaram, porém, quando os dois
cruzaram o Oceano Atlântico. Em 1996, Gustavo, aos 16
anos, morava com sua tia em Londres. O bispo Macedo
acabara de abrir sua primeira igreja na Inglaterra e
precisava de um tecladista que animasse as reuniões
dominicais. O tempo livre e o talento musical de Gustavo
se encontraram com as ambições do bispo Macedo no número
232 da Seven Sisters Road, no bairro londrino de
Finsbury Park. Era lá que ficava a primeira igreja da
Universal em Londres, onde Gustavo foi empregado como
tecladista.
Três anos depois, Gustavo se tornou pastor da
Universal em Nova York. Ele diz que era responsável por
contar e fazer o depósito do dízimo recolhido nos 26
templos da Universal em Nova York. Diz ter sido
instruído a se casar com a empregada doméstica do bispo
Macedo, Jacira Aparecida da Silva, e conta que se mudou
para a casa de Macedo, nos Estados Unidos, onde morou
por quase três anos. Da sala da luxuosa casa do bispo,
Gustavo afirma que assistia a Macedo orquestrar por
rádio a expansão dos templos da igreja e dos negócios de
comunicação, hoje alvos de investigação pelo Ministério
Público.
Gustavo diz ter ouvido
o bispo Macedo instruir seus
bispos a trocar dólares para ele em São Paulo, diz ter
depositado dinheiro do dízimo em duas contas no
exterior, uma delas em nome de um pastor americano amigo
de Macedo, conhecido como Forrest Hills, e afirma que o
dinheiro dos fiéis era usado para investimentos na TV
Record. “Em 2003, fizemos com os fiéis de Nova York uma
campanha para arrecadar US$ 1 milhão. Foi com esse
dinheiro que a Record montou o estúdio em Manhattan”,
diz. As ligações de Gustavo com a igreja são comprovadas
por documentos como passaporte, contracheques e fotos. A
TV Record negou as acusações.
Em 2004, Gustavo foi demitido pelo bispo Macedo.
Hoje, ele é considerado pelos promotores uma testemunha
importante nos processos abertos contra o fundador da
Universal. Seu depoimento poderá contribuir para
confirmar as suspeitas de estelionato, lavagem de
dinheiro e formação de quadrilha que recaem sobre o
bispo Macedo e a cúpula da igreja e da Rede Record.
Gustavo hoje trabalha de madrugada como taxista em
Balneário Camboriú, Santa Catarina. Mora numa casa de
quatro cômodos, alugada, que não guarda nenhuma
semelhança com o luxo e o conforto que Gustavo diz ter
experimentado em Nova York. Não tem mais o dinheiro que
juntou enquanto era pastor. Desde que voltou ao Brasil,
já morou em mais de cinco cidades. Aos 29 anos, diz ter
dificuldade para arrumar emprego e afirma temer
represálias de membros da Universal. Ele contou a
história que viveu na igreja num depoimento de cinco
horas concedido a ÉPOCA.
Procurada por ÉPOCA, a Igreja Universal confirmou que
Gustavo foi pastor da igreja, “desligado da obra por
motivos de prática de conduta contrária aos bons
costumes e à moral”. Disse que “a Igreja Universal, seus
bispos e pastores fazem tudo dentro da maior legalidade”
e negou que Gustavo tivesse sido instruído a se casar
com uma mulher indicada pelo bispo Macedo e que tivesse
morado na mesma casa que ele. A Universal negou ainda
que Jacira Aparecida da Silva tivesse trabalhado como
empregada doméstica para o bispo Macedo. A TV Record
afirmou, também por e-mail, que não faz nenhuma
transação com dinheiro oriundo da Universal: “Todos os
salários dos funcionários da Rede Record são pagos pela
emissora em conta-corrente dos beneficiários e todos os
investimentos são pagos pela emissora com recursos
próprios”. A seguir os principais trechos do depoimento
do ex-pastor Gustavo Rocha.
“Edir Macedo nos ensinava a atingir as metas que ele
criava para cada igreja, e a meta era financeira.
Não era de fiéis “
GUSTAVO ROCHA, ex-pastor da Universal. Na foto,
tirada em 2001, ele aparece no altar de uma das
igrejas que comandou em Nova York
Como conheceu o bispo Edir Macedo
“Eu nasci no Rio de Janeiro, mas quando tinha 12 anos
fui morar com uma tia em Londres. Uma tarde eu estava
passeando com minha tia pelas ruas de Finsbury Park e vi
um teatro. Resolvemos entrar. Na porta estava escrito
apenas Teatro Arco-Íris. Aí eu vi um piano e, como
sempre tive paixão pela música, pedi para tocar um
pouco. Quem veio até mim foi o Edir Macedo. Ele me pediu
para que eu tocasse “Yesterday”, dos Beatles. Ele
elogiou e me perguntou: ‘Você sabe tocar música
gospel?’. Eu respondi que não, mas consegui acompanhar
no piano quando ele colocou umas músicas gospel para
tocar no rádio. Ele disse que precisavam de um
tecladista e eu, que tinha 16 anos, aceitei tocar todos
os domingos em troca de algo em torno de R$ 50. Depois
de uns quatro meses, minha tia procurou Edir Macedo para
dizer que eu voltaria ao Brasil. Daí Edir veio com uma
proposta: ‘Não, a gente vai ajudá-lo. Se você permitir,
nós queremos investir nele. A igreja se propõe a pagar
uma escola para ele aqui na Inglaterra’. A igreja pagou
para mim por dois anos uma escola de idiomas, a London
Capital College. Eu passei a morar na igreja e não tinha
salário.”
A preparação para ser pastor
“Quando fui morar na igreja, eu dividia um
quarto com outros obreiros. Passei a tocar todos os
dias, fazia a limpeza do templo, a evangelização,
distribuía jornal da igreja de porta em porta. Eu não
tinha dinheiro para ligar para minha família no Brasil,
nem no Natal. Fiquei praticamente confinado. Minha tia
deixou de me visitar, achou que eu estava fanático. Eles
fizeram comigo um processo de preparação para ser um
futuro pastor. Quando chegava alguém à igreja para pedir
um conselho, o bispo Macedo me chamava: ‘Senta aqui do
meu lado para você conhecer os problemas do povo e
aprender a orientar as pessoas’. Foram dois anos sentado
ao lado dele. Quando o fiel ia embora, ele perguntava:
‘Entendeu? Essa moça está com problema financeiro e está
tão fragilizada que, se você disser Faça isso!, ela vai
fazer. Você tem de despertar essa fé que está nela para
que ela venha e traga uma oferta para a igreja’. Oferta
significava dinheiro, mas no começo ele não falava muito
a palavra ‘dinheiro’, para não me assustar. Dependia
dele para ter roupas e comida. Aqueles que eram bispos
tinham muito privilégio. Queria ter a vida que o bispo
Macedo e outros bispos tinham, então eu me submetia a
tudo o que mandavam. Cheguei a fazer um jejum e só beber
água durante sete dias. Nesses dois anos não fui sequer
uma vez ao médico. O bispo Macedo me dizia que eu tinha
de usar minha fé para curar a gripe, a dor de cabeça.
Fazia parte do processo de sacrifício.”
Como a Universal se expande
“Eu e Edir Macedo saíamos pelo menos duas vezes por
semana para procurar um teatro, um galpão onde desse
para abrir uma nova igreja. A gente olhava primeiro a
vizinhança. Se tivesse outra igreja na região, não valia
a pena investir. E olhávamos se o povo era pobre ou de
classe média. Se a área fosse pobre, era mais
interessante, a igreja cresce mais. O bispo Macedo dizia
que gente pobre tem todo tipo de problema. Então, é
fácil ter argumento para atrair essas pessoas. Se fosse
um pessoal com mais dinheiro, ele já pensava duas ou
três vezes se valia a pena investir, porque apenas uma
minoria frequentaria a igreja. Quando o bairro era de
classe média, o pastor tinha de falar bom inglês e ter
cultura, porque colocar um pastor escandaloso,
ignorante, não dava certo. Em Londres, presenciei a
criação de duas igrejas. Uma foi em Brixton e a outra em
Peckham. Os cultos eram em inglês, 2% ou 3% dos fiéis da
igreja eram brasileiros, 2% ou 3 % eram britânicos, e o
restante eram africanos e jamaicanos. Havia uma
preferência por colocar um pastor negro, para que os
fiéis se identificassem mais.”
A escala em Portugal e a promoção
“Depois de dois anos na Universal em Londres, meu visto
de estudante venceu e não conseguimos renovar. Eu já
estava com 18 anos. O bispo Macedo conversou comigo e
disse que Deus estava me enviando para Portugal. Fiquei
lá um mês e meio, morando em Lisboa, até que o bispo
Macedo me avisou que ele iria me registrar como pastor
da Universal e em 15 dias eu estaria em Nova York. Ele
disse que não me deixaria em Portugal porque ele
precisava de um pastor com bom inglês nos Estados
Unidos. No dia 13 de maio de 1999, eu cheguei a Nova
York. Eu passei a tocar piano na igreja principal, no
Brooklyn. Depois de uns 15 dias, o bispo Macedo chegou a
Nova York e me disse que eu não deveria ficar só
tocando, passaria a pregar. Foi a primeira vez em que
fui responsável por uma igreja, a igreja de Utica, no
Brooklyn. E, como eu era um pastor registrado pela
Universal, passei a ter um salário. Ganhava US$ 600
brutos por mês. Era pouco, mas não tinha despesa com
água, luz, aluguel porque eu morava na igreja.”
As metas e o método de arrecadação
“Em Utica, em dois meses, a igreja encheu. Cabiam 70
pessoas. O bispo Macedo achou que tinha valido a pena
investir em mim. Comecei a fazer programas de TV e de
rádio para a igreja e a participar das reuniões de
pastores e bispos. Nessas reuniões, Edir Macedo nos
ensinava a atingir as metas que ele criava para cada
igreja. E a meta era financeira. Não era de fiéis. No
primeiro mês, a minha igreja rendeu US$ 3 mil. Daí o
bispo Macedo me falou: ‘Olha, Gustavo, este mês fez US$
3 mil. Então, se no mês que vem você conseguir arrecadar
só US$ 2.900, eu tiro a igreja de você. Você vai se
virar para fazer US$ 3.500, senão eu vou descontar do
seu salário, você não vai mais participar das reuniões e
vai voltar para o piano’.”
“Fiquei tranquilo porque eu já tinha aprendido o
trabalho. Ele me ensinou o seguinte: como era uma igreja
pequena, primeiro eu tinha de fazer um atendimento corpo
a corpo, conversar com cada um dos membros da igreja,
visitar a casa, participar da vida.
Eu levantava toda a
vida da pessoa e determinava o dízimo. E eu ia colocando
isso na cabeça das pessoas. Elas chegavam para me contar
alguma coisa: ‘Pastor, fui viajar e bati meu carro’. Eu
dizia: ‘A senhora está sendo fiel no seu dízimo?’. Ela
dizia que não. Então eu falava que era por isso que ela
tinha batido o carro. Óbvio que não tinha nada a ver,
mas era uma questão de mexer com o psicológico, para
que
ela pensasse que as coisas ruins aconteciam por causa de
um erro dela, e não por um erro da igreja ou um erro de
Deus. Eu tinha de fazer aquela pessoa acreditar que o
dízimo dela era uma coisa sagrada. Noventa e nove por
cento das pessoas que vão à igreja, e isso eu ouvi do
bispo Macedo, não vão para adorar a Deus. Vão para
pedir, porque têm problemas no casamento, nas finanças,
de saúde. Então o bispo falava: ‘Você chega para a
pessoa e diz: Você está com problema financeiro, não
está? Eu sei, eu estou vendo que sua vida financeira não
está boa’. É muito fácil. Por serem pessoas humildes,
elas estão mais propensas a certos problemas.”
O sucesso
“As minhas metas sempre eram alcançadas. Edir me dizia:
‘Agora a meta é US$ 4 mil’, eu fazia 4 mil. ‘Agora é US$
5 mil’, eu fazia US$ 5 mil. E, a cada mês que eu
alcançava minha meta, eu ganhava mais crédito, até o
ponto de o bispo Macedo falar: ‘Você não é pastor para
essa igreja, você é pastor para uma igreja melhor. Vou
te colocar numa igreja maior, onde a meta já não é US$ 5
mil, a meta é US$ 30 mil’. Fiquei seis meses em Utica e
fui para a igreja de Bedford. Vinham umas 400 pessoas, e
a meta mensal era de US$ 25 mil. Alcancei todas as metas
outra vez. Peguei a igreja com US$ 25 mil e deixei com
quase US$ 40 mil de doações mensais.
Aprendi a extorquir
o povo, tenho até vergonha de falar. Uma vez coloquei
uma piscina de plástico no altar por 15 dias, cheia de
água. Disse que aquela era uma água do Rio Jordão, onde
Jesus foi batizado. Eu dizia que as pessoas iam ser
batizadas na mesma água que Jesus, desde que dessem uma
oferta. E era água de torneira. Uma vez consegui fazer
os fiéis doar três carros. Eles iam embora e me deixavam
as chaves e o documento. A igreja vendia para fazer
dinheiro. Entre os pastores, a conversa sempre era: ‘E
aí, já pegou o mês?’. ‘Pegar o mês’ significava cumprir
a meta. Eu chegava para um pastor que tinha uma igreja
melhor que a minha e perguntava: ‘Já pegou o mês?’. ‘Já,
fiz US$ 80 mil’, ele dizia. Eu respondia: ‘Olha, meu mês
está em US$ 50 mil, mas vou fazer uma loucura, vou
passar o teu mês e vou pegar tua igreja, hein?!’.”
As gratificações
“Quanto mais eu ganhava para a igreja, mais
privilégios eu tinha. O meu pior carro foi um Toyota
Corolla, era o primeiro carro de todo pastor. Do Corolla,
passei para um Ford Focus, zero-quilômetro. Do Focus,
tive um Honda Civic, do ano. Do Civic, fui para um Honda
Accord. Nos Estados Unidos, morei em três casas
diferentes. Conforme cumpria a meta, as casas aumentavam
de tamanho, melhoravam de localização. O bispo Macedo
pegava o relatório do mês, via a progressão de
rendimentos e te perguntava: ‘Você está morando onde? E
vai para a igreja com que carro? Faz o seguinte: fala
com o bispo responsável para ele te mudar para tal
casa’. Ele olhava em uma relação de pastores os bens que
cada um estava usando e dizia: ‘Esse carro aí que você
tem, dê para o pastor Álvaro e pega o carro do pastor
Álvaro para você’. Era frequente essa troca de carros e
casas entre os pastores. Como a gente não podia comprar
mobília nem bens, só coisas pessoais, roupas, a mudança
era bem rápida. Pastor não pode ter nada em seu nome,
todos os carros que eu tive e casas em que morei estavam
no nome da Universal.”
O casamento arranjado
“Em 2001, eu tinha 21 anos, era um pastor promissor e
ainda era solteiro. Namorava havia dois anos uma
americana que era obreira da igreja. Houve uma dessas
reuniões de bispos e pastores e o Edir Macedo estava
chamando a atenção de todo mundo. Ele olhou para mim:
‘Fica de pé. Você está namorando?’. Eu disse que sim.
‘Mas quem autorizou seu namoro? Está tudo errado. Você
vai pegar o meu celular e vai ligar para sua namorada.
Você vai dizer para ela que Deus não quer mais que vocês
fiquem juntos.’ Eu fiquei indeciso, mas não teve jeito.
Peguei o telefone, liguei para minha namorada no
viva-voz e rompi com ela. Quando desliguei, ele disse
para os pastores: ‘Estão vendo? A obra de Deus precisa
de homens assim. Por você ter obedecido, vai ser
abençoado agora. Você vai para o Brasil e vai conhecer
uma mulher que Deus preparou para você. E você vai casar
com ela. Você é um pastor da minha confiança, mas nela
eu confio ainda mais do que em você, porque ela mora na
minha casa, ela é minha empregada doméstica’. Embarquei
para o Brasil no dia seguinte. Só conheci a Jacira no
cartório. Dois dias depois, a gente casou no religioso.
O bispo João Batista (ex-deputado federal) fez
o casamento e pagou a lua de mel em Poços de Caldas (Minas
Gerais). No dia em que partimos para a lua de mel,
ele disse: ‘Gasta à vontade, porque quem está pagando
isso é o povo. Não tem limite, fica tranquilo’.”
“Depois que voltei da lua de mel, passamos 15 dias na
casa do João Batista, até que o visto da Jacira saísse.
Era um apartamento por andar, com oito quartos. O João
Batista guardava uma boa quantidade de dinheiro no
escritório, notas de dólar e real. A Jacira me disse que
estava acostumada a ver aquilo na casa dos bispos.
Quando voltei aos Estados Unidos levando a Jacira, o
bispo Macedo me disse: ‘Que bom que deu tudo certo. O
visto dela já tinha sido negado antes, mas você
conseguiu trazê-la’. O casamento garantiu a entrada da
empregada doméstica dele nos Estados Unidos.”
A vasectomia
“Logo depois que eu casei, o bispo Macedo me obrigou a fazer vasectomia. Ele
justificava dizendo que um filho traria despesas e dificuldades para que eu
fizesse a obra de Deus, já que com filho era mais difícil mudar de país. Ele
dizia que a saída era, quando eu me tornasse um bispo, adotar, seguir o exemplo
dele, dos genros dele, Renato Cardoso e Júlio Freitas. Os três primeiros médicos
que procurei se recusaram a me operar. Eu tinha 21 anos e nenhum filho. O quarto
topou, mas me disse que não recomendava. Fiz uma vasectomia irreversível.
Enquanto eu estava nos Estados Unidos, dos 26 pastores que trabalhavam em Nova
York, outros sete também fizeram. Se você não faz a vasectomia, perde a chance
de crescer e chegar a bispo, vai ser só mais um pastor que fica 15 anos na mesma
igreja e não sai do lugar.”
Na casa do bispo
“Quando cheguei a Nova York com a Jacira, Edir Macedo e a mulher dele, a Ester,
quiseram que ela fosse morar com eles. Eu era casado com ela. Daí eles me
disseram: ‘Faz o seguinte. Pega um quarto aí e mora aqui com a gente’. Passei a
morar no dúplex do Edir Macedo. Na casa dele, ouvi as conversas da cúpula da
igreja. Era comum diálogos em que o bispo Macedo dizia: ‘Romualdo, como é que
foi a campanha da Fogueira Santa aí no Brasil?’. E o bispo Romualdo Panceiro (outro
dos auxiliares de confiança do bispo Macedo) dizia: ‘Olha, bispo, não foi
muito boa não, deu só R$ 18 milhões’. Dinheiro na casa de Edir Macedo não era
problema. Dirigia os carros dele, umas Mercedes antigas e superluxuosas. No dia
a dia, ele não é religioso. A mulher de Edir Macedo, a Ester, tinha dentro de
casa uma clínica de estética, com aparelhos de última geração. Quanto se gastava
na casa do bispo Macedo era uma coisa que nem se fazia um cálculo, porque não
precisava. Os outros bispos também viviam muito bem. Como os pastores, eles
também tinham um contracheque bem baixo, mas era só fachada, para mostrar em
caso de investigação. Mas o salário que vinha por fora era muito maior. Eu já
presenciei durante a contagem da oferta os bispos dividirem o dinheiro entre si,
esse ou aquele bispo tirar US$ 10 mil de uma oferta de US$ 50 mil. Eu também
ganhava coisa por fora. Quando trabalhei com alguns bispos e a oferta era muito
boa, o próprio bispo dizia para eu pegar um dinheiro para mim. Quando saí da
igreja, eu tinha uns US$ 15 mil na conta que eu tinha tirado das doações dos
fiéis.”
Os negócios da Record
“Eu posso dizer que a Record e a Universal são uma coisa só. Era comum
eu ouvir o bispo Macedo falando em casa com o presidente da Record, Honorilton
Gonçalves, pelo radinho: ‘Ô, Gonçalves, você fez aquele depósito, contratou tal
artista, tal jornalista?’. Para pagar funcionários, despesas de programas
televisivos, o Edir Macedo pedia para o Romualdo Panceiro tirar o dinheiro da
conta da igreja para passar para a conta da Record. De tempos em tempos, o
Gonçalves e o Romualdo diziam: ‘Edir, o negócio aqui está complicado, o cerco
está bem apertado. A investigação está andando aqui, eles estão fiscalizando’. O
Edir dizia: ‘Vocês têm de fazer alguma coisa, tira o dinheiro da conta da igreja
e faz a contratação em dinheiro vivo’. Sempre em dinheiro vivo. Eu me lembro de
quando foi montado o estúdio da Record em Nova York, em 2003. O bispo Macedo diz
que foi gasto US$ 1 milhão. Ele fez uma reunião com os pastores da igreja e
disse: ‘Precisamos levantar US$ 1 milhão. Vamos fazer uma campanha, e todas as
igrejas precisam atingir uma meta’. Daí, ele já dividiu ali quanto cada uma
teria de obter. Era a campanha das Muralhas de Jericó. Conseguimos mais de US$ 1
milhão, e foi com esse dinheiro que comprou os equipamentos para a TV.”
As contas no exterior
“Todo domingo à noite eu e alguns outros pastores éramos responsáveis por abrir
os envelopes de dízimo e oferta e contar o dinheiro arrecadado pelas 26 igrejas
de Nova York. Cada pastor guardava no cofre de sua igreja a oferta da
segunda-feira até a última reunião do domingo. Daí levava tudo até a sede, no
Brooklyn, para a contagem. Na segunda-feira de manhã, nós íamos ao banco fazer o
depósito desse valor. O banco era o Chase Manhattan Bank. A matriz ficava a 300
metros da igreja. A quantia variava. Quando tinha uma campanha da Fogueira Santa
de Israel, eu depositava tranquilamente US$ 1 milhão nesse banco por semana. Os
depósitos eram feitos em duas contas. Uma no nome da Igreja Universal e a outra
no nome de Forrest Higginbotham, um pastor americano que todo mundo conhecia
como Forrest Hills. Ele pertencia a outra igreja, mas era uma pessoa de
confiança do Edir Macedo. Foi o Forrest Hills quem ajudou a Universal a entrar
nos Estados Unidos.”
“Lá nos Estados Unidos, eu também ouvi o Edir Macedo comentar umas quatro ou
cinco vezes da necessidade de trocar dólares no Brasil, em São Paulo. Mas era
uma tarefa que ele mesmo fazia ou passava para gente de muita confiança dele.
Eles embarcavam no avião com o dinheiro e trocavam. Nunca soube quem eram os
doleiros, mas posso te falar que os bispos que faziam esse serviço para ele eram
os genros, o bispo Júlio Freitas, o bispo Renato Cardoso, o bispo Clodomir
Santos e o bispo Romualdo Panceiro. Toda vez que eu ouvia falar em troca de
dólar, era com esses bispos e o João Batista. O João Batista era com a maior
frequência. O João Batista era, na gíria, a mula. Era ele quem levava, que
trazia no avião, que fazia a transação, a troca. E, depois que ele fazia, ele
levava nas mãos do Romualdo, do Clodomir. E com esses mesmos bispos, de
altíssima confiança, o Edir costuma fazer umas reuniões na Suíça, em Zurique.”
A derrocada
“Uns quatro meses depois de fazer a vasectomia, comecei a ter problemas com a
cirurgia. Descobri que o médico que me operou acabou cortando uma veia que não
deveria ter sido cortada. Tive uma espécie de trombose nos testículos. Tive de
usar um dreno e fui afastado pelo médico da pregação, mas o bispo Macedo me
mandava trabalhar mesmo assim, usar a fé para me curar. Tive de fazer mais três
cirurgias. O bispo Macedo dizia que eu devia estar endiabrado, que eu estava
recebendo salário da igreja para não fazer nada. A pressão para que eu voltasse
a trabalhar era tanta que tive de mostrar ao bispo Macedo todos os papéis,
exames, porque ele não acreditava que eu realmente estava doente. Quando ele viu
os laudos médicos, notou que tinha havido um erro. Foi logo me dizendo que um
processo daria uma indenização milionária.”
“Procurei um advogado, que me disse que era uma causa ganha e que o processo
duraria um ano e meio e deveria render por volta de US$ 500 mil. Quando o Edir
soube que eu procurei outro advogado e não o da igreja, ele ficou bravo. Disse
que eu tinha de procurar o advogado da Universal para abrir o processo e que
deveria passar uma procuração para ele, porque o dinheiro que viesse deveria ser
dado para a igreja, para a obra de Deus. Eu me recusei, disse que precisaria do
dinheiro, que teria de me tratar. E aí começou uma pressão, e eu resolvi
desistir do processo e fazer um acordo de US$ 65 mil com o médico. No mesmo dia
em que assinei o acordo, o dinheiro já estava na minha conta.
Quando contei ao
bispo Macedo, ele começou a gritar comigo, dizer que eu era maluco, perguntou
onde estava o dinheiro. Eu disse que estava na minha conta. Ele me mandou ir ao
banco na mesma hora, sacar o dinheiro e depositar na conta da igreja. Eu me
recusei. E aí ele me disse que eu estava fora: ‘A partir de hoje, você não é
mais pastor da Igreja Universal. Você vai embora para o Brasil e não procure
mais a igreja’. Isso foi em julho de 2004. E eu, doente, com quatro cirurgias
feitas, fui mandado embora sem receber um dólar da igreja, depois de cinco anos
de trabalho na igreja. Nunca tive férias, não tinha dia de folga certo. Eu me
senti usado.”
“Voltei para o Brasil, me separei da Jacira um ano depois. Eu sofri por ter
entrado na igreja muito jovem, abandonei a família, não terminei os estudos. Eu
não tinha amigos que não fossem pastores ou bispos, não sabia o que era lutar
por um emprego, não sabia quanto era um aluguel. Perdi tudo. Eu sempre me lembro
da frase que o bispo Macedo costumava me falar: ‘Se você sair da igreja um dia,
todos esses demônios que você expulsou nestes anos vão voltar para sua vida’.”
“Fizemos uma campanha com os fiéis para arrecadar US$ 1 milhão. Com o
dinheiro, a Record montou o estúdio em Manhattan”
GUSTAVO ROCHA, ex-pastor da Universal
Uma vida dedicada à Universal
Gustavo Rocha fez parte da igreja por oito anos, cinco deles como
pastor
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CRACHÁ
Em Londres, Gustavo entrou para a Universal. Como tecladista, ganhou um
crachá de assistente da igreja |
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CASAMENTO
Gustavo casou com Jacira da Silva, que ele afirma ter sido empregada de
Macedo. Ele diz que atendeu a uma ordem do bispo |
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PASSAPORTE
Contratado como pastor, Gustavo foi enviado para Nova York com um visto
tirado pela Universal |
CONTRACHEQUE
Como pastor, Gustavo afirma que ganhava US$ 600 brutos por mês. Ele diz
que também embolsava dinheiro do dízimo |
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EM NOVA YORK
Gustavo dirigiu três templos da Universal nos Estados Unidos. Na foto
abaixo, tirada em 2002, Gustavo está em frente à igreja de Mount
Vermont. Ele aparece encostado num Focus zero-quilômetro, que afirma ter
recebido da igreja pelos bons resultados na arrecadação do dízimo e de
doações |
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Época, 21/09/2009, págs. 40-45.
Edir Macedo sabe que
O CONHECIMENTO
REALMENTE DIMINUI A RELIGIÃO
Bem dizem eles que "o amor ao dinheiro
é a raiz de todos os males". Se o cara tem um problema de saúde que pode
prejudicar os ganhos da igreja, é descartado como uma ovelha oferecida em
sacrifício.
Ver mais
MALEFÍCIOS DA RELIGIÃO
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