POR QUE O CARRO NO BRASIL
CUSTA TÃO CARO?
"Quando o Chevrolet Captiva foi apresentado no Brasil, em agosto, ele trouxe
como grande trunfo o preço: 92.990 reais. Mas, se alguém achou esse preço
atraente, é porque ainda não viu quanto ele custa no México, seu país de origem.
Lá é vendido pelo equivalente a 48.800 reais – e, com uma renda per capita cerca
de 20% maior que a do brasileiro, esse valor pesa ainda menos no bolso dos
mexicanos. Fica a pergunta: por que ele custa tanto no Brasil?
Como há um acordo entre Brasil e México, nesse caso nem há imposto de
importação. As montadoras brasileiras culpam a carga tributária pelo preço do
veículo vendido aqui – que está entre os mais altos do mundo. Os impostos chegam
a 36,4% do valor do carro (somados IPI, ICMS, PIS e Cofins). A briga entre
governo e indústria é histórica. O problema é que o consumidor é quem paga a
conta.
Contudo há outros ingredientes que influenciam nesse preço. As fábricas não
confirmam, mas uma das razões seria a margem de lucro. As subsidiárias
brasileiras têm sido responsáveis por remessas expressivas de dólares para as
matrizes nos últimos anos, ainda mais com o mercado tão desacelerado lá fora e
tão aquecido aqui dentro – em 2008, a alta na venda de veículos no Brasil deve
ser de 24%. Uma lei de mercado, porém, diz que, quanto maior a produção, maior a
economia de escala. Não é o que se vê na prática.
Mauro Zilbovicius, professor de custos da Escola Politécnica da Universidade de
São Paulo, é categórico: “A carga tributária é uma parte do custo. No caso do
Brasil, o mercado está em crescimento e os preços não recuaram, apesar do ganho
de escala. Ao contrário, subiram bastante”. Na avaliação de Letícia Costa,
vice-presidente da consultoria Booz Allen, os preços de commodities, como aço e
resina, tiveram alta acentuada, fenômeno observado no mundo todo. “Esses
aumentos refletiram no preço dos carros”, diz.
Ainda que a matéria-prima tenha subido, o que ela representa no custo não
justifica aumentos expressivos. O aço, que nos últimos cinco anos subiu 60%,
representa em torno de 10% do valor de venda de um VW Gol e só 6,49% do de um
Chevrolet Astra. Segundo a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe),
em
setembro de 2003 o C3 Exclusive 1.6 novo custava 31.300 reais. Em 2008, foi para
49.600 reais. A alta foi de 58,7%, mas a inflação no período foi bem menor,
segundo a Fipe: só 28,31%. De acordo com Zilbovicius, se os impostos são
responsáveis pelo valor do carro, as montadoras também são. “Muitas delas, como
Ford, Fiat e GM, enfrentaram dificuldades no mundo e se seguraram em parte
graças aos resultados obtidos no Brasil.” Um exemplo: a GM teve prejuízo global
de 38,7 bilhões de dólares em 2007. Enquanto isso, o Brasil respondeu por um
terço do crescimento mundial das vendas da marca. (Revista Quatro Rodas,
outubro/2008, pág. 112, 113).