POR QUE DESCRIMINALIZAR O ABORTO
Entidades lançam plataforma para a legalização do aborto no
Brasil
Agência Brasil - 28/09/2010 - 14h24
Entidades feministas lançaram, nesta terça-feira (28/9), dia latino americano e
caribenho pela despenalização do aborto, a Plataforma para a Legalização do
Aborto no Brasil.
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Segundo a coordenadora do grupo feminista pernambucano Curumim, Paula Viana, o
texto traz argumentos pela descriminalização baseado na defesa dos direitos
humanos, no direito das mulheres e em dados da saúde pública. “Os países que
criminalizam o aborto são os mesmos que registram um grande número de mortes
maternas, atendimento precário para situação de abortamento e violações dos
direitos humanos”, afirma.
Paula destaca que o objetivo da plataforma é reduzir a mortalidade materna,
estimular o planejamento familiar e, inclusive, reduzir o número de abortos.
“Não somos a favor do aborto, gostaríamos que diminuíssem, mas queremos que o
Brasil se iguale a outros países desenvolvidos. Quem critica o aborto são os
grupos religiosos fundamentalistas”, declara.
A plataforma defende a retirada da prática de aborto do Código Penal brasileiro
e a garantia do atendimento, pelo SUS (Sistema Único de Saúde), a mulheres que
por livre decisão queiram interromper a gestação até a 12ª semana. O documento
também prevê o atendimento público para abortos, até a 20ª semana, em casos de
gravidez resultante de violência sexual.
De acordo com o texto, o aborto é o último recurso das mulheres diante de uma
gravidez indesejada e a criminalização não impede que ele seja realizado nem
reduz sua incidência, mas aumenta as condições de risco de vida para as
mulheres, em especial para as mulheres mais pobres.
O documento será encaminhado a diversas organizações que integram a Frente
Nacional Contra a Criminalização das Mulheres e pela Legalização do Aborto.
Entidades profissionais de médicos, enfermeiros e juristas, além de
parlamentares, também receberão o texto. O intuito é sensibilizar essas
categorias a respeito do tema e buscar adesões e contribuições para a elaboração
de uma lei que descriminalize o aborto e regulamente a assistência gratuita à
saúde.
A plataforma foi lançada nesta terça-feira (28/9) em Recife durante um ato
público. O evento foi promovido pelo FMPE (Fórum de Mulheres de Pernambuco),
pela Frente contra a Criminalização das Mulheres e pela Legalização do Aborto e
AMB (Articulação de Mulheres Brasileiras).
(http://ultimainstancia.uol.com.br/noticia/ENTIDADES+LANCAM+PLATAFORMA+PARA+A+LEGALIZACAO+DO+ABORTO+NO+BRASIL_71348.shtml)
FRENTE NACIONAL CONTRA A CRIMINALIZAÇÃO DAS MULHERES E PELA LEGALIZAÇÃO DO
ABORTO
POR QUE DEFENDER A LEGALIZAÇÃO?
Para uma efetiva autodeterminação reprodutiva das mulheres é preciso a
implantação de um conjunto de
medidas e políticas que promovam direitos, enfrentem a cultura política
patriarcal, o racismo e a desigualdade
social. Estas medidas são aqui apresentadas em torno de prioridades, que têm
como princípio assegurar a
autonomia e a livre decisão da mulher sobre seu corpo e sua vida, respeitando a
confidencialidade, privacidade, e
garantindo escuta e orientação, principalmente às mulheres jovens, adolescentes
e meninas.
Efetivar a proposta de legalização elaborada pela Comissão Tripartite,
instituída em 2005 pela Secretaria de
Políticas para as Mulheres, e que foi aprovada na II Conferencia Nacional de
Políticas para Mulheres como a
proposta a ser levada ao Congresso:
•Retirar a prática de abortamento do código penal, mas deixar como crime o
aborto forçado. Ou seja,
impor e obrigar uma mulher a abortar deve continuar a ser crime, pois é uma
violência contra a autonomia
das mulheres;
•Garantir o atendimento ao aborto no SUS e na rede complementar (privada) nos
seguintes casos:
Até 12 semanas por livre decisão da mulher;
Até 20 semanas de gestação em casos da gravidez resultante de violência
sexual,
•Garantir o aborto ou a antecipação terapêutica do parto, conforme o caso, a
qualquer momento da
gestação em casos de risco de vida da mãe ou incompatibilidade do feto para com
a vida extra-uterina.
•Garantir equipe multidisciplinar para o atendimento as mulheres que recorrem
ao serviço de aborto e pós
aborto, para acolhimento, informação, orientação com privacidade e respeito a
autonomia de decisão das
mulheres.
•Aumentar a oferta e diversidade de métodos contraceptivos nos serviços
públicos de saúde, de modo a
assegurar a todas as mulheres, do campo, da floresta e das cidades, durante toda
sua vida fértil, da
puberdade à menopausa, o acesso a métodos de evitar filhos, seguros e saudáveis,
escolhidos de
maneira correta e adequado às dinâmicas e peculiaridades de sua vida;
•Melhorar a assistência à gestação, ao parto e puerpério, reduzir a mortalidade
materna, reduzir o número
de cesáreas no país; promovendo o acesso universal ao parto natural e humanizado
para todas as
mulheres;
•Aumentar os investimentos em creches e escolas públicas em tempo integral, de
modo a contribuir com o
exercício da maternidade pelas mulheres reduzindo a carga de trabalho da dupla
jornada;
•Garantir e melhorar a efetividade da Política Nacional de Assistencial
Integral à Saúde da Mulher e
fortalecer a Área Técnica de Saúde da Mulher do MS;
•Estancar o processo de violação da atual legislação sobre aborto. Para isso,
difundir entre a população,
Ministério Público, profissionais do SUS, profissionais do SUAS e da rede
pública de educação,
informações sobre as condições de aborto legal no Brasil hoje e os serviços de
atendimento disponíveis,
destacando a obrigatoriedade de se cumprir a legislação;
•Garantir a contracepção de emergência (pílula do dia seguinte), nos serviços
de atendimento às
mulheres vitimas de violência e em todas as unidades de saúde para que as
mulheres tenham fácil acesso
e informações corretas de sua utilização;
•Aumentar e garantir a efetividade dos serviços de aborto legal hoje
existentes, fazendo cumprir a Norma
Técnica de Atenção humanizada ao Abortamento - Ministério da Saúde - 2004. Essa
Norma técnica, nos
termos da atual legislação, assegura o aborto para mulheres, meninas e
adolescentes que assim
desejarem desde que a gravidez resulte de estupro ou imponha risco de vida para
à mãe, respeitado a
decisão da mulher ou pessoa responsável, no caso de crianças e adolescentes, e
sem a necessidade de
autorização judicial nem boletim de ocorrência.
•Assegurar leitos e insumos, bem como treinamento e qualificação dos
profissionais de saúde para uso dos
métodos seguros de aborto nos termos das definições e orientações da Organização
Mundial de Saúde já
adotados pelo SUS, mas hoje desrespeitados:
•Ampliar o uso do AMIU (Aspiração Manual Intra-uterina) para aborto até 12
semanas, pois para o início
Legalizar o aborto no Brasil
Direitos reprodutivos para as mulheres
Garantir os serviços públicos de qualidade para atendimento às mulheres e
atenção humanizada
ao abortamento
da gravidez este é o método seguro para a saúde das mulheres;
•Assegurar o uso de fármacos, misoprostol ou similares, seguido de curetagem
quando necessário, para
abortos a partir da 12ª semana;
•Assegurar cirurgias quando necessário e na antecipação terapêutica do parto
sem necessidade de
autorização judicial;
•Garantir atendimento rápido, seguro, humanizado e respeitoso às mulheres em
situação de abortamento,
sem discriminação de classe ou de cor nos serviços do SUS.
•Incluir o tema dos direitos reprodutivos e sexuais das mulheres na formação de
profissionais da saúde, do
direito, da assistência social e da educação;
•Garantir informação sobre a legalização do aborto no âmbito das políticas
públicas e ação do governo
brasileiro, combatendo quaisquer formas de cerceamento ao debate;
•Informar à população e à polícia que os médicos não podem denunciar as
mulheres que fazem aborto, pois
isso constitui violação de sigilo profissional e é uma prática ilegal, passível
de punição. Deve, também,
alertar os médicos quanto a isto;
•Refutar a tese de que se pretende legalizar o aborto até o nono mês de
gestação e demonstrar a inverdade
desta argumentação dos conservadores. Informar a população a diferença entre
aborto e parto nos termos
do que determina a OMS (Organização Mundial da Saúde): ao tratar do aborto
estamos falando do
resultado da interrupção da gravidez até a 22ª semana de gestação e cujo produto
pesa até 500g.
Desqualificar o argumento de que legalizar o aborto estimula esta prática.
Divulgar os dados que
comprovam os benefícios da legalização em outros países, com redução de mortes e
complicações para
saúde das mulheres.
•Explicar porque o plebiscito não pode ser usado no caso do aborto. O
plebiscito é um instrumento da
democracia direta adequado para tomada de decisão do povo sobre assuntos que
afetam o futuro do país e
das comunidades, sua decisão obriga os governantes a cumpri-las. O aborto é uma
decisão pessoal da
mulher, que diz respeito a seu desejo e possibilidade de manter uma gravidez em
determinado momento de
sua vida. É uma decisão de foro íntimo da mulher, que deve ser compartilhada
apenas com as pessoas de
seu círculo de confiança: médicos, amigos(as) e familiares. O aborto não é uma
questão plebiscitária.
•Combater a visão patriarcal sobre as mulheres que as coloca como seres
intelectualmente incapazes
biologicamente determinados e moralmente inferiores. Demonstrar que as mulheres
cuidam e protegem a
vida, das crianças, dos idosos, na saúde e na doença, cuidam do bem estar das
pessoas, dentro e fora de
casa, nas escolas, creches, asilos e enfermarias, que as mulheres são seres
moralmente responsáveis,
éticos e capazes de tomada de decisão sobre situações limites como a situação de
uma gravidez indesejada.
•Pôr fim à política de gestão privada do SUS, e desta forma impedir que
organizações religiosas, na gestão
dos serviços de saúde, privem a população de seus direitos reprodutivos, fazendo
com que essa se oriente
pelas determinações da igreja e não pelas portarias e normas técnicas do SUS;
•Igualmente impedir que organizações religiosas participem na elaboração e
controle social das políticas
públicas, ou recebam recursos públicos para ação social que seja orientada por
princípios religiosos, em
nome dos quais se promove a criminalização, discriminação, humilhação e
perseguição às mulheres e nega se
seus direitos sexuais e reprodutivos;
•Impedir a prática do ensino religioso na rede pública de educação, e garantir
a orientação sexual que inclua
a informação e distribuição de preservativos.
•Promover e assegurar a liberdade religiosa e de credo no país e concretizar a
separação entre Estado e
igreja
•Revogar o Acordo Brasil-Vaticano.
Formação e acesso à informações sobre os direitos reprodutivos e sexuais
Respeito ao princípio do Estado laico
Convocamos a sociedade e os movimentos sociais e aliadas(os) a debater e
aprimorar esta
plataforma de maneira a compreender e difundir o lugar de subordinação a que as
mulheres são
submetidas e os males que a não legalização do aborto causa às mulheres, em
especial as da classe
trabalhadora, pobres e negras. Só assim poderemos avançar rumo à construção de
um país justo,
onde as mulheres efetivamente tenham direito à igualdade e autonomia para
determinar seus
projetos de vida.
A maternidade deve ser uma decisão livre e desejada, uma opção para as mulheres,
e não uma obrigação.
Compreendida como função social, é responsabilidade do Estado brasileiro
garantir as condições para
efetivo exercício dos direitos reprodutivos das mulheres, oferecendo todas as
condições, para ter e para
não ter filhos.
O aborto é o ultimo recurso das mulheres diante de uma gravidez indesejada.
A criminalização do aborto não impede que ele seja realizado nem reduz sua
incidência, mas aumenta em
muito as condições de risco de vida para as mulheres, em especial para as
mulheres empobrecidas, da
classe trabalhadora, que não podem pagar por um aborto clandestino que lhes
garanta segurança.
A legislação atual protege apenas as mulheres que abortam em função de gravidez
resultante de estupro
ou que estão em risco de vida, mas é grande o número de gravidez indesejada
resultante do uso
inadequado ou falha dos métodos contraceptivos e dos serviços de planejamento
familiar.
Pesquisas nacionais realizadas entre 2009 e 2010, com apoio do Ministério da
Saúde e de universidades
brasileiras, indicam que a maioria das mulheres que abortam usam métodos
contraceptivos, tem parceiros
fixos, já tem filhos, são jovens e professam alguma religião, a maioria
católica. Nos dossiês sobre o impacto
da ilegalidade do aborto na vida das mulheres, elaborados pelo Grupo Curumim e IPAS, é grave o
desrespeito, os maus tratos e o abandono que as mulheres que estão em situação
de abortamento
enfrentam nos serviços de saúde. Isso compromete o tratamento adequado e muitas
morrem dentro dos
serviços. A mulheres que mais correm esses riscos são jovens, negras e pobres.
A ilegalidade do aborto viola os direitos humanos das mulheres, bloqueia o
exercício do direito de decidir,
sua autonomia, impõe a maternidade obrigatória e fere a dignidade das mulheres.
A ilegalidade do aborto construiu e
mantém a indústria do aborto clandestino, em
detrimento da efetivação
da atenção integral, pública e gratuita à saúde das mulheres em situação de
abortamento.
A ilegalidade da interrupção da gravidez leva ao abortamento tardio, com maior
sofrimento emocional e
riscos de vida para as mulheres.
Nenhuma mulher deve ser presa, perseguida, humilhada ou
maltratada por ter feito um aborto
E-mail: [email protected]
Website: www.mulhereslivres.org.br
<http://www.soscorpo.org.br/Adm/userfiles/PlataformaABORTO%281%29%281%29.pdf>
Os números indicam que legalizar o
aborto, longe de aumentar, diminui a sua incidência.
Segundo informação da Central Única dos
Trabalhadores,
"Só para se ter uma idéia, enquanto a
taxa de aborto por 1.000 mulheres é de 4/1.000 em países
como a Holanda, no Brasil a estatística é 10 vezes
maior: 40/1.000. E na África do Sul,
país que
legalizou o aborto em 1997, a mortalidade materna
caiu mais de 90% desde então".
(http://www.pt.org.br/portalpt/secretarias/mulheres-16/noticias-95/carnificina-E-nAo-descriminalizar-o-aborto:-um-direito-da-mulher-um-dever-do-estado-9441.html)
Esse é mais um problema causado pelas
religiões. Os religiosos não entendem que eles
devem ter a liberdade de viver como suas religiões
mandam, mas não têm o direito de impor suas crenças e
práticas aos que não creem como eles. Se a
mulher acha que não deve abortar, ela tem esse direito.
Mas querer impor isso a todas as outras é que é o mal.
Obrigar a população a encher mais o nosso superpovoado
planeta de filhos indesejados só vai piorar a situação e
apressar o colapso do nosso mundo.
DESCRIMINALIZAR É PRECISO
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