Ministro do STF diz que Bolsonaro não pode ser 'censor' e defende desbloqueio de
seguidor nas redes
MATHEUS TEIXEIRA
Folhapress ●13 de novembro de 2020 8:55 PM
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O ministro Marco Aurélio, do STF (Supremo Tribunal
Federal), votou nesta sexta-feira (13) para que o presidente Jair Bolsonaro
desbloqueie da rede social Instagram um eleitor que havia o criticado. O
ministro afirmou que não cabe ao presidente avocar o papel de censor de
declarações na internet.
O magistrado se posicionou a favor de mandado de segurança apresentado pelo
advogado Leonardo Magalhães, que foi bloqueado pelo chefe do Executivo após
fazer comentário em defesa do ex-ministro Sergio Moro em uma publicação de
Bolsonaro.
Marco Aurélio é relator da ação e afirmou que a atuação do presidente nas redes
tem natureza administrativa e divergiu da tese da AGU (Advocacia-Geral da União)
e da PGR (Procuradoria-Geral da República) de que a conta de Bolsonaro tem
caráter pessoal e não configura ato do Poder Público sujeito à intervenção
judicial.
O julgamento teve início no plenário virtual nesta sexta-feira (13) e os
ministros têm até o próximo dia 20 para incluírem seus votos no sistema.
O relator sustentou que a conta de Bolsonaro no Instagram é classificada como
figura pública, além de ter a identificação dele como presidente da República.
A atuação em rede social de acesso público, na qual veiculado conteúdo de
interesse geral por meio de perfil identificado com o cargo ocupado Presidente
da República, revela ato administrativo praticado no exercício do Poder Público,
disse.
A posição de Marco Aurélio é a mesma da Justiça dos Estados Unidos, que
proibiu o presidente Donald Trump de bloquear seguidores críticos nas redes
sociais. No entendimento do Judiciário americano,
como o presidente usa as redes para tratar de assuntos do governo, ele não pode
impedir ninguém de ler suas publicações nem de participar de discussões em suas
postagens.
Aqui no Brasil, o comentário que despertou a discussão foi feito pelo advogado
após Bolsonaro publicar a foto de uma conversa em um aplicativo de mensagem
entre a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) e o ex-ministro da Justiça,
Sergio Moro.
O chefe do Executivo tinha a intenção de desmentir a versão de Moro que, ao
pedir demissão, alegou que Bolsonaro queria retirar
Maurício Valeixo do comando da Polícia Federal para violar a autonomia da
corporação.
Óbvio!! Até pq se houvesse permanência do Valeixo vc não iria conseguir
intervir!! Tsc tsc!! Tá muito óbvio q vc quer proteger seus interesses pessoais
e seus BBZinhos! Muito óbvio!! Tsc tsc!,
escreveu Magalhães.
Na decisão, Marco Aurélio destacou que o texto do advogado não configurou
discurso de ódio nem declaração contra o regime democrático.
As mensagens publicadas pelo impetrado não se limitam a temas de índole pessoal,
íntima ou particular. Dizem respeito a assuntos relevantes para toda a
coletividade, utilizado o perfil como meio de comunicação de atos oficiais do
Chefe do Poder Executivo Federal, afirmou.
Além deste processo, está em curso no STF outra ação que discute o bloqueio de
Bolsonaro a um seguidor no Twitter. A ação em que já está em julgamento, porém,
deve balizar o comportamento da corte nas outras ações similares.
O resultado do julgamento também pode influenciar na
discussão sobre o fato de Bolsonaro estar usando suas redes sociais para pedir
votos a aliados nas eleições municipais. Isso porque há uma discussão
sobre a natureza das contas do presidente nas redes sociais.
Se for apenas pessoal, em tese, não haveria problema em ele fazer propaganda
para candidatos. Porém, se o Supremo entender que as redes dele têm natureza
institucional, a interpretação pode ser oposta.
<https://br.yahoo.com/noticias/ministro-stf-diz-que-bolsonaro-225500763.html>
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