Há poucos dias, ouvi um jornalista elogiando as
privatizações, inclusive elogiando o progresso da Vale do Rio Doce após ser
privatizada. Parece que esse indivíduo, com toda informação que tem, não se
importa com o lucro que foi transferido da nação para os milionários
estrangeiros e o aumento que temos que suportar do custo daquilo que antes era
nosso.
Segue matéria do Jornal A HORA DO POVO:
"Passados nove anos da leiloata,
açambarcadores comemoram o seu “valor de mercado” para mostrar a “excelência” da
entrega do patrimônio do povo brasileiro para meia dúzia de nababos.
A privatização na bacia das almas da Companhia Vale do Rio Doce, em 6 de maio de
1997, por Fernando Henrique Cardoso, constituiu-se no maior crime contra o
patrimônio público em toda a história do Brasil. Lucrativa, eficiente e
detentora do controle da mais rica e maior parte do subsolo brasileiro, a Vale
foi entregue a um consórcio liderado pela CSN – que era formado ainda por fundos
de pensão, pelo Opportunity e pelo norte-americano NationsBank (atual Bank of
América) - pelo valor simbólico de R$ 3,33 bilhões (cerca de US$ 3 bilhões à
época).
Passados nove anos da leiloata, os números atuais da Companhia, com nova
composição acionária, são realçados pelos privatistas para mostrar a
“excelência” da entrega do patrimônio público e como servissem para absolver os
responsáveis pelo leilão. Assim é que em meio aos brindes pela recente aquisição
da mineradora canadense Inco por US$ 13,4 bilhões em depósito à vista – negócio
que deverá totalizar US$ 18 bilhões – comemoram que seu “valor de mercado”
passou de US$ 9,8 bilhões para US$ 77 bilhões, quase oito vezes mais, lucro
recorde de R$ 10,4 bilhões no ano passado, produção recorde de 240,4 milhões de
toneladas de ferro também em 2005, entre outros feitos.
ASSALTO
Na realidade, em vez de atenuantes, os números servem como agravantes pelo dolo
cometido pelos privatistas. E só para começo de conversa, demonstram o roubo que
foi cometido contra os brasileiros. A começar pela subavaliação da empresa.
Quando da publicação do edital de privatização foi estabelecido o preço de R$
10,36 bilhões (cerca de US$ 9,8 bilhões) com uma conta de chegar feita pela
notória corretora norte-americana Merrill Lynch - sócia da Anglo American, que
participou do leilão -, com base no valor médio das ações da Vale negociadas nos
três meses anteriores. Ou seja, não se levou em consideração toda a
infra-estrutura construída ao longo dos anos – complexos industriais, usinas,
ferrovias, portos, navios etc. – e, principalmente, suas ricas reservas minerais
– ferro, manganês, bauxita, ouro, nióbio etc. - que superam em muito não só os
US$ 3 bilhões pagos pelo controle da Companhia, mas também os US$ 77 bilhões que
dizem valer agora. Sobre a importância do Estado brasileiro controlar esses
minérios basta ver a situação de dependência de outros países que não os
possuem, como por exemplo o nióbio, mineral raro utilizado em indústrias
nucleares e em superligas para fabricação de componentes de motores de jatos e
subconjuntos de foguetes, com 88% das reservas mundiais localizadas no Brasil.
Estados Unidos, União Européia e Japão importam 100%. Entre outros exemplos de
minérios.
Criada em 1º de junho de 1942, a Vale tornou-se um dos pilares estratégicos da
política de desenvolvimento implementada por Getúlio Vargas. Ou seja, sua
criação se deu no processo de transformação do Brasil em um país
industrializado, estando a serviço, portanto da coletividade, do povo
brasileiro. A sua privatização é a negação disso. Sem falar no preço vil, a Vale
que antes estava a serviço do conjunto dos brasileiros tem servido agora para
encher os bolsos de meia dúzia de nababos, que pegaram para si praticamente de
graça uma empresa construída por toda uma coletividade.
CARTEL
É bom registrar que era uma empresa lucrativa - R$ 1
bilhão, anteriormente à privatização, isto é, não recebia um tostão do
Tesouro Nacional. E não precisa ser nenhum expert para constatar que com base em
sua riqueza iria crescer em todos os sentidos, inclusive
aumentando o seu lucro. Aliás, sem participar de cartel nenhum para
elevar artificialmente os preços de minérios, principalmente do ferro, em nível
mundial, como ocorre atualmente. Hoje, a Vale, a australiana BHP Bilinton e a
inglesa Rio Tinto controlam 70% do mercado mundial do ferro. Evidentemente
que o lucro recorde de R$ 10,442 bilhões – e também os R$
6,1 bilhões do primeiro semestre deste ano - foi devidamente turbinado pelo
exponencial aumento do preço do ferro observado nos últimos anos: 9% em 2003,
18,6% em 2004 e 71,5% em 2005. Este aumento desmedido do preço ferro,
para atender o apetite voraz dos monopolistas, acaba inclusive
prejudicando a indústria nacional que utiliza esta
matéria-prima. Em resumo, participar na formação do sobrepreço do
ferro, a rigor, foi o único “trabalho” que tiveram, já que receberam
praticamente de graça uma empresa de ponta e a partir daí foi só tocar para
frente.
Por se constituir em processo eivado de irregularidades, a começar pelo edital
fabricado pelos norte-americanos, o leilão foi contestado judicialmente, sendo
ajuizadas dezenas de ações populares na época. Em outubro do ano passado, a
Quinta Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região decidiu pela continuidade
da apreciação dos processos que contestam a venda da Vale."
VALDO DE ALBUQUERQUE