O PSICOPATA
"Nós, seres humanos, vivemos em sociedade. E, por definição de sociedade, cada um de nós coopera para a manutenção de uma mínima harmonia, sem a qual nossa espécie não sobreviveria. Não se trata de idealismo: vontades que poderiam nos colocar uns contra os outros são freadas por um estranho dispositivo: a empatia. Ela é a capacidade de nos colocarmos no lugar do próximo e nos sensibilizarmos com o sofrimento a que nossos atos possam levá-lo. Deixamos de prejudicar os outros, pois isso mesmo nos levaria a sofrer. E fazemos o bem, pois isso nos dá prazer.
Mas uma minoria da humanidade sobreviveu à evolução aleijada da empatia. São os psicopatas.
Eles são algo diferente dos humanos, embora dotados da mesma racionalidade que nos define como espécie. São seres mutilados da emoção e, por isso, incapazes de sentir pelos outros. isso os levou a assumir o papel representado na ecologia por parasitas e predadores.
Parasitas se associam a outros organismos para tirar os meios com que eles sobrevivem. Podem enfraquecer o hospedeiro, mas lhes interessa que ele continue vivo, para que sigam alimentando-se dele lentamente. Já predadores capturam e matam sua presa. Terminada a carcaça, partem para a seguinte.
A ciência conseguiu desenvolver meios para identificar os psicopatas que se escondem pro trás de uma máscara de normalidade. Foi um grande passo, mas ainda não se conseguiu o mais importante: tratá-los. A Justiça reconhece a ameaça desses seres à ordem, mas não surgiram meios legais para que possa evitar a ação dos psicopatas antes de terem cometido sua primeira e inevitável maldade.
O cinema e o jornalismo também já deram um passo significativo: trouxeram para nosso imaginário a figura de matadores e golpistas sem sentimentos. mas psicopatas não se limitam a isso. A maioria deles parece perfeitamente normal. Entram em nossa vida como qualquer outra pessoa. E nós, dotados de uma confiança natural em nossos amigos, familiares e colegas, damos espaço para que nos vitimem. Resta-nos ficar atentos asinais sutis que prenunciam sua ação. Exatamente como a SUPERINTERESSANTE lhes mostrará. Boa leitura e boa sorte. Maurício Horta, Editor.
(Superinteressante, ed. 228, agosto/2009)
São características encontradas em um psicopata:
Charme
Tem facilidade em lidar com as palavras e convencer pessoas vulneráveis. Por isso, torna-se líder com freqüência. Seja na cadeia, seja em multinacionais.
Inteligência
O QI costuma ser maior que o da média: alguns conseguem se passar por médico ou advogado sem nunca ter acabado o colegial.
Ausência de culpa
Não se arrepende nem têm dor na consciência. É mestre em botar a culpa nos outros por qualquer coisa. Tem certeza de que nunca erra.
Espírito sonhador
Vive com a cabeça nas nuvens. Mesmo se a situação do sujeito estiver miserável, ele só fala sobre as glórias que o futuro lhe reserva.
Habilidade para mentir
Não vê diferença entre sinceridade e falsidade. É capaz de contar qualquer lorota como se fosse a verdade mais cristalina.
Egoísmo
Faz suas próprias leis. Não entende o que significa "bem comum". Se estiver tudo ok para ele, não interessa como está o resto do mundo.
Frieza
Não reage ao ver alguém chorando e termina relacionamentos sem dar explicação. Sabe o cara que "foi comprar cigarro e nunca mais voltou?" Então.
Parasitismo
Quando consegue a confiança de alguém, suga até a medula. O mais comum é pedir dinheiro emprestado e deixar para pagar no dia 31 de fevereiro.
The Psychopath - James Blair e outros, Blackwell, EUA, 2006
Without Conscience - Robert Hare, Guilford, EUA,1993
The Sociopath Next Door - Martha Stout, Broadway, EUA, 2005
(Superinteressante, ed. 228, agosto/2009)