QUASE QUARENTA POR CENTO DO MUNDO
AINDA CRIMINALIZA A BLASFÊMIA
Muitos países ainda têm
leis contra a blasfêmia e a apostasia
6 de fevereiro de 2022, 8h53
Por João Ozorio de Melo
Uma nova pesquisa do Pew Research Center indica que, de 198 países
e territórios pesquisados, 79 (39,9% ou quatro em cada 10
países) ainda têm leis que criminalizam a blasfêmia, definida como
palavras ou ações ofensivas a divindades, religiões ou a objetos considerados
sagrados. A pesquisa se refere a leis em vigor até 2019.
A mesma pesquisa revelou que, entre os países e territórios pesquisados,
22 têm leis que criminalizam a apostasia, definida
como a renúncia consciente a uma fé religiosa (ou a princípios políticos ou
morais), geralmente pela conversão a outra fé.
Tais leis são mais comuns em países predominantemente muçulmanos. De 22 países
pesquisados no Oriente Médio e Norte da África, 18 (90%) têm leis que
criminalizam a blasfêmia e 13 (65%), a apostasia. Mas não é uma exclusividade da
região. Na Europa, por exemplo, 31% dos países têm leis semelhantes.
Países que banem a
blasfêmia por região
Oriente Médio e Norte da África 18 90%
África Subsaariana 18 38%
Ásia-Pacífico 17 34%
Europa 14 31%
América 12 34%
Países que banem a
apostasia por região
Oriente Médio e Norte da África 13 65%
África Subsaariana 2 4%
Ásia-Pacífico 7 14%
Exemplos
Na Arábia Saudita, em 2019, um cidadão indiano foi acusado de blasfêmia e
sentenciado a 10 anos de prisão por criticar Maomé, Alá e o governo saudita em
postagens do Twitter.
Na Indonésia, uma mulher católica foi presa e acusada de blasfêmia por violar um
lugar sagrado: ela foi à mesquita com um cachorro.
Em Sri Lanka, um roteirista foi questionado por autoridades locais,
depois que um monge budista alegou que seu trabalho continha blasfêmias.
Penas
Entre os 79 países que classificam a blasfêmia como um ato ilegal,
as penas variam de multas à prisão, a açoitamento e à
execução. Em alguns países, como
Afeganistão, Arábia Saudita, Brunei, Irã, Mauritânia, Nigéria e Paquistão,
as leis contra a blasfêmia preveem pena de morte.
Exemplo
No Paquistão, 17 pessoas foram acusadas de blasfêmia e condenadas à pena de
morte. Entre elas, um palestrante universitário, que foi acusado de insultar o
profeta Maomé verbalmente e no Facebook. Mas o governo paquistanês nunca
executou qualquer réu acusado de blasfêmia.
Pelo menos dois países revogaram suas leis antiblasfêmia
em 2019. A Nova Zelândia aboliu sua
lei depois que a mídia local informou que a lei não era executada desde 1922.
A Grécia aboliu sua lei antiblasfêmia por causa de
uma campanha movida por ativistas de direitos humanos.
Também em 2019, a Suprema Corte do Paquistão manteve a absolvição de Asia Bibi,
uma mulher cristã sentenciada à pena de morte por blasfêmia. Porém, a decisão da
corte gerou protestos violentos no país. Os manifestantes pediam a execução da
mulher.
Na Indonésia, um projeto de lei tramitava no Congresso, em 2019, propondo o
endurecimento da lei que bane a blasfêmia. Mas grupos da sociedade civil
protestaram contra o projeto de lei, que não foi em frente.
Em alguns países, como Paquistão, Trinidad e Tobago e
Barbados, as leis antiblasfêmia foram criadas no período do domínio
britânico. No entanto, nenhum cidadão de Barbados ou de Trinidad e Tobago foi
acusado de violar a lei em 2019. Mas, no Paquistão, o número de acusados
aumentou em 2019, em comparação com o ano anterior.
Penas para apostasia
As penas para esse "delito" variam de país para país. Na Argélia, pessoas que se
convertem do islamismo para outra religião são proibidas de receber heranças. Em
2019, Brunei aprovou uma lei que prevê pena de
morte por apostasia, mas só para aqueles que renunciam ao islamismo.
João Ozorio de Melo é correspondente da revista Consultor Jurídico nos
Estados Unidos.
Revista Consultor Jurídico, 6 de fevereiro de 2022, 8h53
<https://www.conjur.com.br/2022-fev-06/paises-ainda-leis-blasfemia-apostasia>
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