QUEM É MAIS BÁRBARO?
Texto publicado no Usina de Letras em 02/03/2013
Barbaridade é o que não
falta. Mas quem é mais bárbaro? O leigo ou o religioso? Eu até já pensei que
fosse o primeiro; mas, vindo a conhecer um pouco de história, passei a pensar de
modo diferente.
Eis a nova que saiu sobre mim, que me inspirou a falar mais um pouquinho das
barbaridades:
“Mas o Freitas descobriu um novo esporte: a leitura rasteira das Sagradas
Escrituras no intuito de pinçar frases dela para montar uma caricatura e
blasfemar contra Deus. Com isso ele atesta, em primeiro lugar, a sua burrice e a
sua preguiça de estudar (eis que a história do Cristianismo é toda uma defesa da
humanidade contra o paganismo e a revolta gnóstica - basta colocar a preguiça de
lado e estudar um pouquinho); em segundo, ele atesta o seu desprezo pela
civilização judaico-cristã, da qual se beneficia até no nome próprio. Aí está. É
apenas um blasfemador barato, coerente com seu ideal asséptico. Mas o que se
esconde por trás dessa máscara de blasfemador? Atrás dela esconde-se o bárbaro.
O bárbaro que não pode compreender nada e por isso odeia tudo. Qualquer um tem a
liberdade de ser bobo, sem dúvida, mas que se respeite a crença alheia. Que se
tenha decência mesmo na descrença.” (Eduardo Candido).
Primeiramente, digo ao colega: Não um novo esporte; o primeiro artigo meu no
Usina de Letras versou sobre a origem das religiões, e só o décimo-oitavo veio a
falar do tabaco.
Pode-se até dizer que “a história do Cristianismo é toda uma defesa da
humanidade contra o paganismo e a revolta gnóstica”, mas a história mostra
que a Roma pagã não foi tão sanguinária como a Roma cristã, era tolerante, dando
liberdade de culto aos povos dominados. Matar pessoas queimadas foi obra do
Cristianismo romano, não do paganismo romano. Os romanos não se preocupavam
tanto com a religião dos povos que dominavam, tanto que não perseguiam os judeus
antes de surgir o cristianismo. Já quando se tornou cristã, Roma procurava matar
a todos que pensassem de modo diferente de sua doutrina. Hoje, a igreja romana
não persegue mais, porque perdeu o poder que tinha.
“Há cerca de 2000
anos, nascia na Galiléia um fundador de seita, que acabaria crucificado uns
trinta anos mais tarde. Algumas de suas últimas palavras na cruz foram “Dêem-me
de beber”. E só. A seita que ele tinha fundado tornar-se-ia, com o passar dos
anos, a maior de todos os tempos. Ela tomará o poder político dentro do Império
Romano, abolirá a liberdade de religião, depois ajuntará montanhas de cadáveres:
os seus membros massacrarão milhões de “infiéis”, “hereges”, “feiticeiras” e
outros, depois se matarão entre eles próprios, levando a Europa às guerras mais
ferozes que ela conheceu. Um passado destes poderia incitar à modéstia, mas os
cristãos reivindicam, pelo contrário, o monopólio da ética. Proclamam que adoram
o Deus único, que deus é “amor”, e se consideram melhores que o resto da
humanidade." (Enrico Riboni)
Qualquer religião que conseguir poder político fica mais intolerante do que
qualquer poder leigo. Haja vista os países de domínio muçulmano. O embate entre
católicos e protestantes na Irlanda é também uma mostra dessa chamada defesa da
humanidade.
É da essência da religião a intolerância. O que elas consideram divino deve ser
imposto a todos. Veja-se
“Qualquer um tem a liberdade de ser bobo, sem dúvida, mas que se respeite a
crença alheia", disse o colega em sua crítica. É essa liberdade que acho
importante numa democracia como a nossa; mas, se descuidarmos, perdê-la-emos.
Basta uma igreja qualquer conseguir o poder.
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