QUINZE MESES APÓS A MENINGITE, AINDA SEM VOLTAR A
SER EU
05/07/2004
4 de junho de 2004,
após as 23:00, o sono me pegou e adormeci. Enquanto dormia, a noite pareceu-me
muito movimentada. Não foi uma noite tranqüila.
Inicialmente, em todos os cantos da casa, que não sei onde era, havia fios
elétricos soltos, alguns descascados, e tomadas estragadas. Eu tentava
substituí-las, contudo havia muitos obstáculos a tudo que eu tentasse executar.
Não me lembro de ter conseguido fazer nada.
Passada a fase da complicada instalação elétrica da residência, vi muitas
fiações serem rebentadas ao logo de estradas e ruas. Parece-me que algumas
coisas, talvez grandes árvores, caíam sobre os fios.
Vi-me em caminhos, selvas, ruas, lugares vários e desconhecidos, sem conseguir
levar a cabo nada que tentasse.
Mais adiantes, deparei com alguns enormes escorpiões, entre outras coisas.
Tudo isso foi um pouco do que consegui lembrar do imenso caos que foi essa
noite.
De manhã, tive muita preguiça de levantar para fazer minha corrida. Mas, embora
saindo um pouco mais tarde, corri quarenta e cinco minutos.
Pensando um pouco sobre tamanha confusão, constatei tudo isso ter sido as
conseqüências da falta de uma pequena cápsula de Cloridato de Venlafaxina, que
não me lembrei de tomar à noite. Sem ela, meu cérebro ainda funciona bastante
precariamente.
Após a primeira publicação do texto, inseri este parágrafo. Li algo numa revista
que falava das pirâmides do Egito, o que me fez lembrar que, em um dos muitos
sonhos, ou pesadelos, passando por lugares extremamente íngremes, estive em um
lugar alto, donde avistava uma pirâmide que seria no Egito. Lembro ter estado em
companhia de um menino, que não sei descrever, e havia no lugar onde cheguei
algumas pessoas adultas. Talvez alguma coisa me faça lembrar mais outras.
Quinze meses após ter sofrido meningite, sinto que não sou aquele que fui,
embora confie que volte a sê-lo. Nos meus momentos oníricos, ainda continuo
sendo um menino, vivendo nos anos sessenta e setenta. Faço meus exercícios
físicos e mentais para retornar à vida adulta. Todavia, esse regresso está assaz
lento. Estou experimentando, como nunca, o quanto nossas emoções são produtos de
reações químicas.
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