Projeto para Fundeb tira até R$ 12,8 bi da rede pública para escolas
religiosas Victor Vieira São Paulo 15/12/2020 13h00 Mudanças feitas de
última hora pela Câmara dos Deputados no projeto de lei sobre o novo Fundo
de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) podem transferir até R$ 12,8
bilhões por ano da rede pública para escolas confessionais (religiosas),
filantrópicas e comunitárias. O cálculo é do Movimento Todos pela Educação.
O Fundeb é o principal mecanismo de financiamento do setor e movimentou
recursos de cerca de R$ 162 bilhões em 2020. O Congresso aprovou o novo
modelo do fundo em agosto, mas tem até o fim do ano para regulamentar o
texto. O projeto de l... - Veja mais em
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Projeto para Fundeb tira até R$ 12,8 bi da rede
pública para escolas religiosas
Victor Vieira
São Paulo
15/12/2020
Mudanças feitas de última hora pela Câmara dos Deputados
no projeto de lei sobre o novo Fundo de Desenvolvimento
da Educação Básica (Fundeb) podem
transferir até R$ 12,8 bilhões por ano da rede pública
para escolas confessionais (religiosas),
filantrópicas e comunitárias. O cálculo é do Movimento
Todos pela Educação. O Fundeb é o principal mecanismo de
financiamento do setor e movimentou recursos de cerca de
R$ 162 bilhões em 2020.
O Congresso aprovou o novo modelo do fundo em agosto,
mas tem até o fim do ano para regulamentar o texto. O
projeto de lei, aprovado pela Câmara semana passada e
que deve ser analisado esta semana pelo Senado,
libera repassar até 10% do
dinheiro do fundo para instituições religiosas ou
filantrópicas, sem fins lucrativos e conveniadas
com a rede pública, no ensino fundamental e médio. Hoje,
isso só é permitido na educação infantil, especial e do
campo. Se aprovadas, as novas regras passam a valer a
partir de 2021.
O cálculo do Todos pela Educação considera uso do limite
da verba para as instituições religiosas - católicas,
evangélicas, entre outras - e filantrópicas em todas as
redes de ensino. Nota técnica da Campanha Nacional pelo
Direito à Educação e da Associação Nacional de Pesquisa
em Financiamento da Educação (Fineduca) estima
perda possível de R$ 10,2
bilhões com essa transferência. Não foram
apresentados na Câmara estudos de impacto para a emenda.
"Poderemos ter migração de alunos para essas
instituições, fora do radar de verificação de qualidade
pelo governo", alerta Priscila Cruz, diretora executiva
do Movimento Todos pela Educação. "Não
vamos conseguir assegurar se serão escolas que seguem a
BNCC (Base Nacional Curricular Comum, que prevê
objetivos de aprendizagem para cada série) ou espaços de
doutrinação religiosa."
No mínimo 70% do Fundeb irá para salários de
profissionais de educação, mas foi permitido pela Câmara
incluir no cálculo o pagamento de funcionários de
entidades filantrópicas e religiosas, além de
terceirizados da rede pública. "O
que teremos é pastor, funcionário de instituição
religiosa, podendo ser pago com dinheiro da educação",
diz Priscila. Essas instituições já têm benefícios
fiscais.
Para especialistas, o aval de uso de recursos para a
rede privada no fundamental e no médio não faz sentido,
uma vez que há vagas suficientes nas duas etapas,
diferentemente das creches. Élida Graziane Pinto,
procuradora do Ministério Público de Contas paulista,
diz que a Constituição prevê que só cabe contratar vagas
na rede particular se provada insuficiência de vagas na
rede pública.
Nota técnica assinada por Élida
e mais 302 juristas aponta inconstitucionalidade.
Segundo o texto, as mudanças são uma "tentativa, por
maioria simples, de dar causa a um ilegítimo terceiro
turno de votação" da emenda constitucional que
estabeleceu o Fundeb, em agosto. O Conselho Nacional de
Secretários Estaduais de Educação também é contrário à
medida.
Essa emenda dos 10%, feita de última hora na votação do
texto no plenário, foi apoiada pela bancada evangélica e
outros membros da base do presidente Jair Bolsonaro no
Legislativo. Na tramitação da emenda constitucional do
Fundeb, a tentativa de incluir regra desse tipo já havia
sido feita.
Votação
A deputada Soraya Santos (PL-RJ), autora da emenda à
regulamentação, afirmou na votação que
as entidades filantrópicas,
comunitárias e confessionais representaram, por muitos
anos, "toda a interiorização do ensino do 2.º grau",
incluindo para grupos vulneráveis, como indígenas, e
destacou parcerias do tipo na saúde. Procurada pelo
Estadão, a deputada nada comentou até 20 h.
Outra mudança do texto na Câmara também permite incluir
nos repasse do Fundeb matrículas no ensino médio
profissionalizante vinculadas ao Sistema S (Senai, Sesi
e Senac) - que já tem volume alto de verbas, dizem
educadores. A Campanha Nacional pelo Direito à Educação
e a Fineduca calculam potencial de perda de R$ 546
milhões para o Sistema S. Essa e
outras mudanças no texto, dizem as entidades,
podem levar à perda de R$ 15,9
bilhões da rede pública para o privada.
Para Ademar Batista Pereira, da Federação Nacional de
Escolas Particulares (Fenep), "o Fundeb não é para
escola estatal, mas para melhorar a educação básica".
Segundo ele, a Constituição prevê parcerias com a rede
privada. Sobre suposto risco de
doutrinação religiosa, defende voucher para
os pais, que poderiam escolher a instituição que
julgassem mais apropriada para seus filhos.
Um dos avanços do novo Fundeb foi elevar o tamanho do
reforço financeiro do governo federal a Estados e
municípios, com atenção a redes mais pobres. O patamar
atual é de 10% do total do fundo (R$ 14,8 bilhões este
ano) e haverá aumento gradual até 23% em 2026. Com isso,
o piso investido por ano na rede pública pode saltar dos
atuais R$ 3,7 mil para R$ 5,7 mil. Mas, diz Priscila,
as mudanças feitas pelos
deputados podem tirar "todo o ganho da complementação
maior da União". Procurado, o Ministério da
Educação não se pronunciou. As informações são do jornal
O Estado de S. Paulo.
<https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2020/12/15/projeto-para-fundeb-tira-ate-r-128-bi-da-rede-publica-para-escolas-religiosas.htm>
Torçamos para que a justiça consiga
anular esse avanço no desrespeito ao bem público para favorecer instituições
religiosas.
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