REFORMA
TRABALHISTA ENFRAQUECE O TRABALHADOR
Para Berzoini, reforma trabalhista visa enfraquecer trabalhador
Ex-ministro também defende que uma reforma da Previdência deveria começar pelas
receitas, não pelas despesas
11/04/2017 08h54
Sérgio Silva/FPA/ENFPT
Ricardo Berzoini foi ministro da Previdência Social
“O que o governo Temer quer com a terceirização e o negociado sobre legislado
é
o desmonte da estrutura de negociação coletiva e a capacidade dos sindicatos de
negociar e organizar suas demandas”, afirmou o ex-ministro da Previdência
Social, Ricardo Berzoini. Ele ainda ressaltou que nenhum governo brasileiro, nem
mesmo na ditadura, rompeu com a proteção mínima da Consolidação das Leis do
Trabalho (CLT).
Berzoini, que também foi dirigente sindical dos bancários, explicou que “o golpe
busca reduzir entre outras coisas a capacidade dos trabalhadores negociarem, aí
vem a terceirização ilimitada e a prevalência do negociado sobre o legislado,
que coloca boa parte do movimento sindical em situação extremamente defensiva,
especialmente pela conjuntura de desemprego alto”. Ele acrescenta que “vai se
tentar jogar os dirigentes sindicais contra os trabalhadores com a desculpa de
se conservar empregos em detrimento dos salários”.
O ex-ministro ressalta que a Justiça Trabalhista vai jogar um papel importante,
pois vai fazer um exame dinâmico da terceirização. “Não basta aprovar a lei para
mudar uma cultura de décadas”, acrescentou ele, em referência à defesa do
trabalhador que se verificou no judiciário nos últimos anos. “Vai ser preciso
uma interpretação dinâmica e o próprio STF vai ter que julgar a
constitucionalidade do texto aprovado”, completou.
Berzoini falou durante o segundo curso temático da Escola Nacional de Formação
do PT sobre desmonte dos direitos trabalhistas, realizado na noite desta
segunda-feira (10) na Fundação Perseu Abramo. O evento também contou com a
presença do deputado estadual Patrus Ananias (PT-MG), para quem “a reforma
trabalhista é a prevalência do negociado sobre o legislado”.
Sérgio Silva/FPA/ENFPT
Patrus Ananias (PT-MG), Selma Rocha (FPA) e Ricardo Berzoini
Ananias citou o religioso francês Henri Dominique Lacordaire, para quem “entre
os fortes e os fracos, entre ricos e pobres, entre senhor e servo é a liberdade
que oprime e a lei que liberta”. Ele explicou que a tendência do empregado, que
precisa sustentar a família e pagar as contas, é se submeter ao empregador.
Ele também criticou duramente a lei da terceirização, que desobriga as empresas
a arcarem com as responsabilidades trabalhistas no caso de descumprimento por
parte da empresa terceirizada e ainda assume a possibilidade da quarteirização,
que é a contratação de uma terceirizada por outra. “Com isso haverá prejuízos
para os trabalhadores e também para Previdência”, avaliou.
Propostas
Segundo Berzoini, “a reforma da Previdência deveria começar com a receita, não
com a despesa”. Ele explicou que, de acordo com estudos do Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (Ipea), o Brasil é um paraíso fiscal para ricos e um inferno
fiscal para pobres. “Quem ganha até três salários mínimos gasta até 40% com
imposto”, exemplificou.
Para o ex-ministro, é preciso tomar medidas como o fim da desoneração da folha
de pagamentos, o fim da isenção de impostos sobre lucros e dividendos e a
implementação do imposto sobre herança de grandes fortunas.
Patrus Ananias também comentou que “com todos os avanços extraordinários no
Brasil com os governos Lula e Dilma, temos o desafio de normatizar o capitalismo
brasileiro, que é ainda um capitalismo selvagem”. Segundo ele, é preciso
“disciplinar” o capitalismo brasileiro com três reformas: reforma tributária,
reforma agrária e reforma urbana. “Temos que colocar em prática o princípio
constitucional do papel social da propriedade das riquezas.”
Tanto Berzoini quanto Ananias ressaltaram que “o que diminui desemprego é
investimento”. Eles reforçaram a importância de estimular a indústria nacional e
fortalecer o micro, pequeno e médio empresário, além de se criar projetos de
desenvolvimento regional e nacional a curto, médio e longo prazo.
Por Pedro Sibahi, da Redação da Agência PT de notícias
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