RELIGIÃO É PROBLEMA MENTAL?
11 de janeiro de 2007, por Fernando Silva
Por que temos uma religião ou, pelo menos, a crença em algum deus?
Há dois motivos principais:
A crença nos é imposta na infância, como uma lavagem cerebral.
É aceita mais tarde, de forma aparentemente voluntária, em geral num momento de
dificuldade, e não numa decisão racional.
Quando a religião é imposta a uma criança, antes que seu pensamento crítico
tenha se desenvolvido, encastela-se em um canto do cérebro e torna-se muito
difícil de ser questionada mais tarde. A pessoa a aceita como um fato da vida,
goste dela ou não.
Muitos cumprem os preceitos e os rituais sem nunca questionar,
conscientemente, o que fazem. É uma obrigação, ponto final. Se a pessoa não
fizer o que deve, “Deus castiga”. Não há nenhum prazer envolvido, nenhum
entusiasmo. “Deus” não é uma presença, um sentimento, é uma informação recebida.
Se a informação revela-se falsa, a fé se vai sem fazer falta.
Outros, ao contrário, apóiam-se a sua crença como a uma muleta, assim
como outros bebem ou se drogam. Buscam nela refúgio e consolo diante de
seus problemas. Chegam, em alguns casos, a “sentir” a presença de Deus, “ouvem”
sua voz, desfrutam de êxtases místicos. Falam em “línguas”, estrebucham no chão,
supostamente tomados pela divindade.
Experimente fazer uma pergunta simples: “Se você acredita pela fé, sem precisar
de provas, como sabe que as outras religiões estão erradas se elas também não
precisam de provas? Qual foi o seu critério para escolher uma religião entre
tantas?” Você não conseguirá nenhuma resposta coerente. E, se insistir na
pergunta, a pessoa se irritará com você. Uma reação emocional em lugar de
argumentos.
Paulo, em suas epístolas, admite que a religião possa parecer loucura, mas se
defende dizendo que Deus fez de loucos os sábios deste mundo e que a verdadeira
sabedoria é a dos loucos em Deus. Da mesma forma, tribos primitivas viam
nos loucos a marca de Deus e os respeitavam.
Entretanto:
Pessoas com transtorno obsessivo compulsivo (TOC) procuram tratamento.
Pessoas com cleptomania procuram tratamento.
Pessoas que nunca conseguem chegar na hora a seus compromissos procuram
tratamento.
Elas não se ofendem ao serem chamadas de doentes. Na verdade, sentem-se
aliviadas ao perceber que não é um problema de caráter e que pode haver uma
cura.
Não é toa que existem tantos “Alguma Coisa” Anônimos pelo mundo.
Quando se trata de religião, entretanto, comportamentos ridículos e anormais são
vistos como sinais de santidade e aceitos pela sociedade. Pessoas que dizem
falar com Deus ou com os mortos são consideradas especiais e superiores. Pessoas
que se trancam em conventos, com voto de silêncio, pobreza e castidade, e passam
o resto da vida isoladas, rezando para as paredes, são consideradas virtuosas.
Algumas, ainda mais “santas”, fazem jejum, penitência, se auto-flagelam.
O que seria considerado um ataque epilético é visto como a possessão por um deus
quando ocorre num templo. Milhares de adolescentes gritando e se descabelando
diante de um artista famoso não passa de histeria coletiva, mas “Deus está
operando” quando a gritaria acontece durante um culto. Dizer coisas
incoerentes é sinal de problemas mentais — a menos que ocorra no contexto da
religião, quando pode ser visto como “falar em línguas” ou mediunidade.
Quando a religião está envolvida, é considerado um insulto grave insinuar que
essas pessoas possam estar malucas. Que possam ter algum problema mental.
Que uma parte da mente delas está fora de seu alcance e controle.
Por que? Qual a diferença?
Se muitas pessoas dizem que tiveram contato com o sobrenatural, justifica-se uma
investigação, só que nenhuma investigação até hoje mostrou nada. A ciência já
estudou o que ocorre no cérebro de budistas durante a “iluminação” ou de freiras
em “êxtase místico” e localizou as partes envolvidas com o fenômeno. Em seguida,
estimulou essas mesmas partes em voluntários, induzindo neles um sentimento de
religiosidade. O mesmo já foi feito com a sensação de estar fora do corpo. Deus
pode ser ligado e desligado com um botão num laboratório?
A religiosidade pode ser apenas uma característica de nosso cérebro. Pode ter
representado uma vantagem evolucionária no passado, ao unir as comunidades em
torno de uma crença comum, ao lhes dar uma causa pela qual lutar e se
sacrificar. Entretanto, assim como outras características de nossos
antepassados selvagens que abandonamos em nome da civilização, talvez seja hora
de abandonar nosso respeito supersticioso pela religião e considerar seriamente
a pergunta:
Seria a religião apenas um produto de nosso cérebro? Que, em excesso, não passa
de uma doença?
Autor: Fernando Silva
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