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RELIGIOSOS UNIDOS SÓ QUANDO LHES
INTERESSA
Quando estão por baixo, os religiosos de diversas alas se unem contra um inimigo
comum. Derrotado o inimigo, é a hora de cada um tentar se sobrepor aos
outros e os tornar inimigos novos.
Não há luz no fim do túnel para os
cristãos coptas no Egito
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10 de abril de 2017
Durante a chamada Primavera Árabe, cenas de cristãos e
muçulmanos protestando juntos no Cairo, a capital do Egito, e se protegendo
mutuamente das forças de segurança, causaram comoção no mundo. A
esperança daqueles dias de 2011 há muito se tornou uma lembrança saudosa para
quase todos os egípcios, mas as minorias, entre as quais os cristãos coptas são
a mais numerosa, sofrem de maneira desproporcional. Seis
anos depois do levante contra Hosni Mubarak, a
comunidade copta é vítima de níveis de violência sem precedentes em sua história.
No Domingo de Ramos (9 de abril), uma das datas preparatórias para a Páscoa
cristã, os coptas sofreram um ataque de grande repercussão. A igreja de São
Jorge, em Tanta (100 km ao norte do Cairo), e a catedral de São Marcos, em
Alexandria, foram alvo de ataques simultâneos, que deixaram 44 mortos e centenas
de feridos.
O atentado terrorista foi reivindicado pelo Estado Islâmico. Ativo na Península
do Sinai, o ISIS, como também é conhecido o grupo, age no Egito da mesma forma
que faz na Síria e no Iraque. Ataca o governo, mas também as minorias
religiosas.
O atentado provocou condenações internacionais, em especial no Ocidente. Há
pouco, entretanto, que europeus e norte-americanos podem fazer pelos cristãos
egípcios enquanto sua política externa apoiar o autoritarismo no Oriente Médio.
A igreja copta, uma denominação da ortodoxia oriental que teria sido fundada
pelo apóstolo Marcos, existe desde o século I. Essa comunidade cristã, que hoje
compõe cerca de 10% da população egípcia, sobreviveu ao Império Bizantino, à
conquista muçulmana do que hoje é o Egito e experimentou seu momento mais
próspero durante a dinastia de Muhammad Ali (1805-1952), na qual o Egito moderno
foi fundado.
No século XIX e na primeira metade do século XX, os coptas exerceram
papéis de destaque na política e na sociedade egípcias. Era um período no
qual o cristianismo e o islã conviviam de forma harmoniosa. No levante
nacionalista contra o Império Britânico, em 1919, por exemplo,
imãs oraram em igrejas e
padres realizaram celebrações em mesquitas, em uma prova de solidariedade
local contra os invasores. Os ventos mudaram quando a monarquia foi derrubada no
golpe que levou Gamal Abdel Nasser ao poder. A partir de 1952, os coptas
foram marginalizados pelo Estado, uma situação que se agravou em 1970, quando o
pan-arabista Nasser foi substituído por Anwar al-Sadat.
Sissi e Trump na Casa Branca em 3 de abril. Ao manter apoio a ditadores, o
Ocidente patrocina o terror.
A ascensão de Sadat coincidiu com o empoderamento dos
islamistas, os adeptos do islã político, uma ideologia segundo a qual o
islã pode e deve resolver todos os problemas da sociedade. A intenção de Sadat
era fortalecer os religiosos para contrapor o peso dos socialistas apoiadores de
Nasser. Esta política, associada ao ganho de poder político e econômico por
parte da Arábia Saudita naquele período, e ao intercâmbio entre islamistas
sauditas e egípcios, foi uma das molas propulsoras da radicalização do islã no
Oriente Médio.
O Egito foi um dos países que mais sofreu com a radicalização e os coptas, em
particular, se tornaram um alvo primordial. Com Hosni Mubarak (1981-2011), o
Egito se transformou no principal exemplo do processo que Peter Demant chama de
“acomodação de determinadas exigências das populações e dos islamistas por meio
de uma democratização limitada”.
Pressionado por forças políticas e sociais radicalizadas, o governo cede a
extremistas religiosos em assuntos que são caros a esses (como por exemplo a
forma de lidar com uma minoria religiosa) para manter o controle sobre a
sociedade. Este é um processo comum em todo o Oriente Médio. Partidos políticos,
sindicatos, entidades estudantis e outras associações são fracas ou não existem.
As mesquitas, entretanto, estão sempre disponíveis e muitas vezes lideradas por
radicais.
Este ciclo de autoritarismo e radicalização religiosa provoca o crescimento e a
legitimação de uma tendência fundamentalista, que gera uma “islamização
rastejante da sociedade, cuja tendência política é antidemocrática ou pelo menos
antiliberal”, como também afirma Demant. É o caldo político, social e
cultural no qual viceja o jihadismo. É de onde o Estado Islâmico retira suas
forças, ao se postar como único e legítimo defensor dos muçulmanos contra os
regimes autoritários e “infiéis” de Sissi.
Em um contexto no qual a força dominante é o Estado autoritário e em que a
principal contestação vem do islã político (islamismo), a única escolha dos
coptas é buscar alguma proteção no Estado, ainda que este seja o promotor de uma
discriminação sistemática que gere em muitos cristãos a sensação de serem
cidadãos de segunda classe. Esta complexa realidade ficou evidente após a
Primavera Árabe.
A abertura política pós-Mubarak catapultou a Irmandade Muçulmana e os salafistas
(ambos islamistas, de diferentes vertentes) para um papel de proeminência na
política egípcia. Em 2013, após um ano de presidência da Irmandade Muçulmana,
veio o golpe liderado por Abdel Fattah al-Sissi. Muitos coptas apoiaram a
nova ditadura.
Quase quatro anos depois, o apoio minguou. Parte significativa da atuação de
Sissi é perseguir o islã político em todas as suas formas, onde for possível. Em
um único dia de agosto de 2013, seu regime assassinou cerca de mil irmãos
muçulmanos a luz do dia, no Cairo, em uma carnificina comparável ao Massacre da
Praça da Paz Celestial, em Pequim, em 1989. Ações como essa exacerbaram a
violência sectária no Egito, ampliando a vulnerabilidade da comunidade copta,
uma vez que o Estado, preocupado em garantir a existência do regime, é incapaz
de proteger seus cidadãos.
Atentado no Egito
Em Borg El-Arab, mulheres choram durante funeral de vítimas da catedral de São
Marco (Foto: Mohamed El-Shahed / AFP)
Desde 2013, inúmeras igrejas foram vandalizadas, mas as comunidades cristãs não
receberam autorização para repará-los. O Estado prometeu se responsabilizar por
isso, mas jamais levou a promessa a cabo. Muitos templos seguem em ruínas e os
coptas também não conseguem erguer novas igrejas.
O processo de autorização é burocrático a ponto de, na prática, inviabilizar o
surgimento de novos templos cristãos. Uma nova lei aprovada no governo Sissi
deveria corrigir isso, mas acabou dando ainda mais poder para o Estado gerir a
comunidade copta.
A violência estatal contra a religião se junta aos ataques aos fiéis. Em 2016,
alguns episódios aterradores atingiram a comunidade copta. Em maio, uma mulher
cristã de 70 anos cujo filho era “acusado” de ter uma relacionamento com uma
muçulmana foi despida e arrastada pela rua de Minya.
No mês seguinte, famílias cristãs foram atacadas, um jardim da infância foi
incendiado e um padre foi assassinado. Em julho, uma freira e um farmacêutico
coptas foram assassinados. Em novembro, uma vila cristã foi atacada por uma
gangue de 2 mil pessoas após a notícia de que uma residência funcionaria
improvisadamente como templo religioso.
Todos esses episódios acirraram os ânimos da comunidade copta, que tem realizado
inúmeros protestos contra o regime. Ocorre que o Egito tem hoje uma das
ditaduras mais draconianas do mundo, que reprime a liberdade de expressão e
reunião de maneira contumaz. O governo teme sua própria população e, dessa
forma, os coptas, como o restante dos egípcios, têm poucas formas de manifestar
sua indignação.
Há ainda dois agravantes importantes. O primeiro é que a cúpula da igreja copta
é cada vez mais vista com suspeição pela própria comunidade. O papa Tawadros II
é um ferrenho apoiador de Sissi, mas suas ações e declarações não escondem a
clivagem existente entre o establishment religioso e a massa.
Coptas
Coptas fazem celebração em igreja incendiada em Minya, em julho de 2016 (Foto:
Twitter / @copticulture)
O segundo complicador é a própria postura de Sissi. O ditador vende a si mesmo
como um campeão do nacionalismo egípcio, protetor de muçulmanos e cristãos. Seus
atos são, no entanto, meramente simbólicos. Sissi condena a violência contra os
cristãos e, em janeiro de 2015, se tornou o primeiro presidente do Egito desde
1952 a participar da celebração do Natal copta, festejado em 7 de janeiro.
Na prática, seu regime continua incapaz de proteger os coptas, mantém a
marginalização da comunidade e impede manifestações por mudanças. Sua “solução”
para o ataque do Domingo de Ramos foi restabelecer o Estado de Emergência, que
no Egito é sinônimo de ainda mais repressão contra toda a população.
De Washington, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que recebeu Sissi
na Casa Branca na semana passada, condenou o ataque. E disse ter “grande
confiança de que o presidente Sissi vai lidar com a situação corretamente”. Não
vai. Sissi continuará sendo um bastião do autoritarismo que, em combinação com
invasões estrangeiras e com o radicalismo religioso, transforma o Oriente Médio
em um caldeirão prestes a explodir, como comprova a existência do Estado
Islâmico. É uma situação que penaliza a todos, especialmente os coptas.
<https://www.cartacapital.com.br/mundo/nao-ha-luz-no-fim-do-tunel-para-os-cristaos-coptas-no-egito/>
Religiosos sempre são assim mesmo. Nos momentos
difíceis, diferentes grupos religiosos se unem contra um
inimigo comum, e, quando se livram dele voltam à
adversidade, cada um tentando eliminar o outro.
Quanto à situação do Egito, muito dificilmente os
egípcios irão gozar de liberdade religiosa, uma vez que
princípios religiosos sempre são de destruir as
religiões diferentes, e, como no Egito predomina o
Islamismo, que tem um livro sagrado que manda matar e
morrer pela causa do seus deus, o que significa eliminar
todos que pensarem diferente do pensamento de Maomé,
quaisquer que pensarem diferente serão duramente
perseguidos.
Ver mais
MALEFÍCIOS DA
RELIGIÃO
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