* PIOR SALÁRIO DO BRASIL
por Luiz Carlos Azenha
Depois de uma campanha midiática em que
o governador Antonio Anastasia sugeriu
que os professores em greve estavam
mentindo sobre os salários pagos a eles
pelo governo de Minas Gerais, os
profissionais de Educação do estado
decidiram publicar os contracheques e
encaminhar um kit-salário para os
jornais e outros meios de comunicação do
estado.
Conversei com Beatriz Silva Cerqueira, a
Bia, do Sindicato Único dos
Trabalhadores de Educação em Minas
Gerais, o SINDUTE. E, pelo que ela
contou, existe um tremendo esqueleto no
armário do atual senador e provável
candidato ao Planalto, Aécio Neves,
esqueleto agora administrado por
Anastasia: o choque de gestão.
Mas, antes do esqueleto, a greve: a
paralisação atinge, por decisão da
Justiça, apenas 50% dos 380 mil
trabalhadores em educação de Minas, em
todas as regiões do estado. Ela foi
deflagrada,
como a greve de Santa Catarina (onde os
professores acreditam ter obtido uma
importante vitória política),
para garantir a implementação do Piso
Salarial do Magistério, que é federal e
foi considerado constitucional pelo
Supremo Tribunal Federal em abril deste
ano (valor atual de R$ 1.187,00).
Hoje, em Minas, o professor que tem
ensino médio ganha R$ 369,00 mensais de
salário inicial; o professor com
licenciatura plena, R$ 550,00.
Segundo Bia Cerqueira, este ano o
governo Anastasia, a partir de uma lei
estadual, decidiu aglutinar todas as
parcelas que compõem o contracheque dos
servidores em um subsídio, que os
professores rejeitam considerar como
piso salarial, mas sim o total da
remuneração.
A adoção do subsídio, segundo Bia,
provoca — entre outras coisas — o
nivelamento da categoria entre os
professores que tem 20 anos de carreira
e os que estão começando agora. Uma
situação parecida aconteceu em Santa
Catarina.
A greve é por um piso salarial de R$
1.597,00 para os professores de nível
médio com jornada de 24 horas.
Bia Cerqueira diz que a política
salarial de Minas Gerais em relação aos
professores é de “controle” da
remuneração, o que seria um dos
princípios do “choque de gestão”, que
começou a ser implantado pelo
ex-governador Aécio Neves. “Você pode
demorar 8 anos para começar a receber
por uma pós-graduação que tenha feito,
você pode demorar de 20 a 25 anos para
receber por um mestrado”, ela
exemplifica.
“O governo controla a remuneração [dos
servidores] para que possa investir em
outras áreas que dão retorno melhor para
ele”, disse ela, provavelmente se
referindo a retorno eleitoral.
Bia inicialmente não entendeu a minha
piada: o choque de gestão, disse eu,
teria sido de 220 volts, bem na veia do
professorado!
Aliás, ela acredita que o tal choque
fracassou redondamente. Três exemplos:
* Faltam 1,5 milhão de vagas no ensino
básico em Minas Gerais;
* A média de escolaridade do mineiro é
de 7,2 anos;
* No vale do Jequitinhonha, a média de
escolaridade é de apenas 6,2 anos.
Além disso, o programa que é orgulho do
atual governador, Antonio Anastasia, o
Professor da Família, para dar apoio a
alunos do ensino médio, é bastante
precário.
* Por enquanto, atinge 9 dos 853
municípios de Minas Gerais, ou apenas 22
das 4 mil (eu disse quatro mil) escolas;
* Os professores contratados para
implementar o programa, que visa dar
aulas de reforço para alunos do ensino
médio, têm formação de ensino médio, o
que contraria a Lei de Diretrizes
Básicas da Educação Nacional, que exige
licenciatura plena.
“Os projetos não correspondem à
realidade do estado de Minas Gerais”,
diz ela.
Duas grandes dificuldades enfrentadas
neste momento pelos grevistas: boicote
ativo ou desprezo da mídia local e a
postura do Poder Judiciário de Minas
Gerais que, segundo a Bia, nunca decide
em favor dos educadores."
http://www.viomundo.com.br/denuncias/professores-de-minas-publicam-contracheques-para-provar-que-estado-e-psdb.html