Jesus não é o primeiro mito de ressurreição entre os judeus.
Até mesmo antes de eles adotarem a crença de que todos os mortos irão
ressuscitar, seus escritos já traziam milagres de mortos ressuscitados. E isso
existe nas mitologias de outros povos também. Mas um messias redentor
ressuscitado já foi objeto das estórias dos judeus ainda bem antes de Jesus, o
messias cristão. O curioso que ninguém mais além de um grupinho religioso
presencia as ressurreições.
Crêem os budistas que Buda tenha ressuscitado mortos, e alguns deuses de outros
povos também foram tidos como capazes de fazer ressurreição.
E os judeus, em uma época em que não tinham nenhuma promessa divina de
ressurreição, seus escritos já diziam que o profeta Eliseu trouxera à vida o
filho morto de uma viúva (II Reis, 4: 32-36); e ainda menciona o mesmo livro
que, após a morte de Eliseu, um cadáver que tocou em seu osso retornou à vida
(II Reis, 13: 21). Mas esses milagres não tinham nada a ver com a promessa de
ressurreição dos mortos, que os judeus incorporaram em sua religião após viverem
na Babilônia. Esses ditos ressuscitados pelo profeta certamente teriam
morrido novamente.
Mas, quanto à crença na ressurreição dos mortos, os livros escritos
anteriormente ao cativeiro de Babilônia não a continham:
O livro de Jó diz:
Eis a resposta ainda mais clara: “Tal como a nuvem se desfaz e some,
aquele que desce à sepultura nunca tornará a subir. Nunca mais tornará à sua
casa, nem o seu lugar o conhecerá mais” (Jó, 7: 9, 10)
O Eclesiastas, livro atribuído a Salomão, diz: “Pois os vivos
sabem que morrerão, mas os mortos não sabem coisa nenhuma, nem tampouco têm eles
daí em diante recompensa; porque a sua memória ficou entregue ao esquecimento.
Tanto o seu amor como o seu ódio e a sua inveja já pereceram; nem têm eles daí
em diante parte para sempre em coisa alguma do que se faz debaixo do sol.”(Eclesiastes,
9:5, 6).
Mas, com as sucessivas submissões a outros povos, o povo de Yavé foi assimilando
nova forma de pensar:
Lendo o profeta Isaías, que parece ter parte escrita nos dias do cativeiro
babilônico, já notamos algum rudimento da crença na ressurreição dos mortos.
O capítulo 26 de Isaías, no versículo 14, diz: “Os falecidos não tornarão a
viver; os mortos não ressuscitarão; por isso os visitaste e destruíste, e
fizeste perecer toda a sua memória.” Entretanto, no versículo 19, já lemos: “Os
teus mortos viverão, os seus corpos ressuscitarão; despertai e exultai, vós que
habitais no pó; porque o teu orvalho é orvalho de luz, e sobre a terra das
sombras fá-lo-ás cair.” Parece que o seu autor já acreditava que a ressurreição
existiria para eles, o povo escolhido de Yavé, não para outras pessoas.
Mas a chamada verdade mudou bem mais: no livro de Daniel, que foi escrito depois
do cativeiro babilônico, já encontramos a ressurreição dos mortos nos moldes de
hoje: "uns para vida eterna, e outros
para morte
e desprezo eterno" (Daniel, 12: 2).
“Fora algum tremendo golpe de sorte, o máximo que a arqueologia pode fazer é
iluminar a vida cotidiana no tempo de Jesus (indicando em que tipo de casa ele
vivia ou que modelo de taça ele teria usado para beber vinho com seus
discípulos) ou como era a religião judaica naquela época. Esse provavelmente é o
caso de um misterioso texto do século 1 a.C., pintado numa pedra e analisado por
Israel Knohl, da Universidade Hebraica de Jerusalém. Em julho passado, Knohl
apresentou sua interpretação do texto (o qual não está inteiramente legível e,
por isso, tem de ser reconstruído hipoteticamente): ele mencionaria a morte e
ressurreição de um Messias décadas antes do nascimento de Jesus. Ainda que a
interpretação esteja correta, é difícil ver como ela mudaria nossa compreensão
sobre as origens do cristianismo. Afinal, um dos grandes argumentos dos
seguidores de Jesus é justamente que seu retorno dos mortos já tinha sido
previsto nas profecias judaicas” (revista Galileu - Edição 206 – Set. de 2008).
Livros e mais livros, lições de igrejas, etc. estão cheios de exemplos que dizem
ser previsão da morte e ressurreição de Jesus: Todavia, o que uma análise
cuidadosa constata é que não existe nenhum texto no chamado Velho Testamento que
anuncia que o salvador dos judeus irá morrer e ressuscitar.
Os persas, que dominaram sobre os judeus após os babilônios, e entre os quais os
judeus viveram bom tempo, anunciaram que seu salvador iria ressuscitar os mortos
e presidir o juízo final. Os romanos também tinham entre seus mitos Dionísio,
como tendo morrido e ressuscitado.
Mas os judeus, pelo menos seus profetas, não diziam isso: diziam, sim que um rei
poderoso, nascido em Belém, iria esmagar a Assíria e dominar sobre todas as
nações (Miquéias, 5: 2-15).
Posteriormente, outros já diziam que eles iriam estabelecer um reino poderoso
após a queda de Babilônia, mas sem qualquer fenômeno sobrenatural:
“Pois eis que eu crio novos céus e nova terra; e não haverá lembrança das coisas
passadas, nem mais se recordarão: Mas alegrai-vos e regozijai-vos perpetuamente
no que eu crio; porque crio para Jerusalém motivo de exultação e para o seu povo
motivo de gozo. E exultarei em Jerusalém, e folgarei no meu povo; e nunca mais
se ouvirá nela voz de choro nem voz de clamor. Não haverá mais nela criança
de poucos dias, nem velho que não tenha cumprido os seus dias; porque o menino
morrerá de cem anos; mas o pecador de cem anos será amaldiçoado. E eles
edificarão casas, e as habitarão; e plantarão vinhas, e comerão o fruto delas.
Não edificarão para que outros habitem; não plantarão para que outros comam;
porque os dias do meu povo serão como os dias da árvore, e os meus escolhidos
gozarão por longo tempo das obras das suas mãos.” (Isaías, 65: 17-25).
Finalmente, Daniel, o primeiro a anunciar a ressurreição dos mortos nos moldes
de hoje, via um filho de Israel julgando vivos e mortos (Daniel, 12: cap. 7:
9-27), sem, entretanto, afirmar que ele passasse pela morte.
O único texto que em algumas versões fala que “será morto o ungido” (Daniel, 9: 26),
em outra diz "será cortado o ungido", se refere à
destituição do sumo sacerdote judeu e sua substituição por outro sob o domínio de Antíoco IV, rei da Síria. Mas
diversos cristãos tomam o texto como sendo anúncio da morte de Jesus. Veja
O que chama a atenção dos estudiosos do assunto é que todas as ressurreições são
contadas por grupos religiosos e não chegam ao conhecimento de ninguém mais,
senão muito tempo depois através do que escrevem esses religiosos.
Deixando de lado os milagres de Buda e outros deuses antigos, concentremos nos
mais recentes, os dos judeus:
1 – uma inscrição foi feita em uma pedra no século I A. C., sendo encontrada
muitos séculos depois. Agora fica a pergunta: por que ninguém mais tomou
conhecimento desse messias ressuscitado além do que escreveu na pedra? Por que
as autoridades religiosas judaicas continuaram esperando o tal messias e não
tomaram conhecimento desse? E, porque esse ficou esquecido, só restando a
inscrição da pedra? E que fim levou ele, que não fez nada pelos judeus e
desapareceu? Por que religiosos judeus não disseram nada sobre ser ele
verdadeiro ou falso? Essa pedra é muito suspeita.
2 – Depois desse messias ressuscitado e desaparecido, vem Jesus, o messias
cristão. Outro desconhecido:
Os evangelhos dizem: "Assim a sua fama correu por toda a Síria; e
trouxeram-lhe todos os que padeciam, acometidos de várias doenças e tormentos,
os endemoninhados, os lunáticos, e os paralíticos; e ele os curou" (Mateus,
4: 24). "E logo correu a sua fama por toda a região da Galiléia" (Lucas,
1: 28). "A sua fama, porém, se divulgava cada vez mais, e grandes multidões
se ajuntavam para ouvi-lo e serem curadas das suas enfermidades" (Lucas, 5:
15).
Todavia, nenhum historiador de seus dias jamais mencionou o seu nome; embora os
evangelhos digam que sua fama teria corrido por toda a região, além de
historiadores judeus e romanos terem silenciado a respeito,
nenhum povo vizinho
deixou qualquer registro que falasse de algum homem que pregasse reino divino e
fizesse milagres.
Ademais, além de sua grande fama que não ficou registrada, seu fim foi
acompanhado de fenômenos astronômicos e geológicos capazes de chamar a atenção
de quase todo o mundo, mas ninguém mais além dos cristãos tomou conhecimento
disso.
E não sejamos ingênuos em pensar que naquele tempo isso não era
registrado. Pelo menos duas pessoas da época estavam de olho nos fenômenos:
“Sêneca (4 a.C. – 65 d.C.) — Um dos mais famosos autores romanos sobre
ética, filosofia e moral e um cientista que registrou eclipses e terremotos.
As cartas que teria trocado com Paulo se revelaram uma fraude, mais tarde.
Plínio, o velho (23 d.C. – 79 d.C.) — História natural. Escreveu 37
livros sobre eventos como terremotos, eclipses e tratamentos médicos” (Lee
Salisbury, Jesus: o incômodo silêncio da História).
Um terremoto capaz de rasgar o véu do templo judaico não passaria despercebido
de observadores da época, como Sêneca e Plínio, que registravam fenômenos
naturais; mas ninguém deu notícia desse terremoto.
Mas, o mais visível que não foi visto por ninguém além de cristãos foram as
“três horas” de escuridão que os evangelhos dizem ter ocorrido
"sobre toda a Terra" por ocasião da
morte de Jesus (Mateus, 27: 45; Marcos, 15: 33). Três horas de escuridão teriam
que ser conhecidas por mais da metade do mundo, e ninguém viu isso.
E, se ninguém mais viu o mundo escurecer por três horas, já é desnecessário
perguntar por que uma porção de pessoas mortas teriam retornado à vida e entrado
na cidade de Jerusalém, sem que ninguém além de cristãos também as visse.
Após levar em consideração que o deus onisciente dos judeus nunca lhes prometeu
ressurreição antes de eles viverem em Babilônia (onde o povo acreditava em
ressurreição) e que os que escreveram os livros mais antigos negaram essa
crença; levando-se em conta que Buda teria ressuscitado mortos, que
Dionísio
teria sido executado e teria ressuscitado, e que outros deuses de outros povos
também estariam ligados ao milagre da ressurreição; analisando-se
o fato de
nenhum escritor de confiança não cristão ter tomado conhecimento sobre Jesus, e
nenhum historiador ou cientista ter registrado terremoto nem escurecimento do
sol por ocasião da anunciada morte e ressurreição de Jesus; o que poderia levar
uma pessoa criteriosa a acreditar nessas estórias, a não ser
a influência e o
condicionamento religioso capaz de tirar a capacidade crítica do ser humano? O
que tem isso de mais confiável do que as lendas indígenas de Saci Pererê, Iara,
Boitatá e outros?
Pessoas foram dizendo ou escrevendo que teriam ocorrido fatos
bizarros e, tempos depois, outros foram dando tudo como realidade, e, quanto
mais o tempo foi distanciando esses contos, mais força de verdade eles foram
adquirindo, chegando ao ponto atual: nem o resgate dos registros daqueles dias
que ignoram completamente tais coisas é capaz de demover das cabeças de milhares
de pessoas que essas lendas sejam uma grande realidade. Por mais que a
arqueologia e outras ciências provem a falsidade de tais relatos, sempre haverá
um grupo de pessoas dispostas a fazer tudo para desqualificar as informações
científicas e históricas, e a ressurreição, coisa que ninguém vê, continua como
uma grande verdade.