UM RETROCESSO PREOCUPANTE

 

Após bem mais de um milênio de horrores perpetrados em nome de um deus, o mundo reagiu contra o domínio do Catolicismo, e os principais países do mundo cuidaram de fazer separação entre igreja e estado.  Todavia, bastaram dois séculos livres dessa maldição teocrática, estamos vendo o povo se esquecer do mal que uma religião no poder pode causar.

 

Quando o imperador romano Constantino viu a grande massa quase toda cristianizada, resolveu se cristianizar também e tornou o Cristianismo a religião oficial do império.  Esse foi o ovo da serpente, o embrião do dragão que, como no pesadelo do autor do Apocalipse, iria humilhar o mundo por muito mais de mil anos. 

 

Nenhum império dos mais antigos durou tanto quanto o romano; mas o novo império, o romano cristão, superou em duração e em maldade qualquer outro que tenha existido. Não deixou mesmo nada a desejar quando se fala em "grande tribulação tal qual nunca houve nem haverá jamais".   Essas palavras ditas em referência ao sofrimento dos judeus sob o domínio de Antíoco IV, copiadas pelos cristãos e aplicadas à ação dos romanos quando destruíram Jerusalém, sendo posteriormente utilizadas como previsão da inquisição católica, desejamos que não se repitam mesmo na história. Quem não voltem a ocorrer.   O domínio cristão fez de Antíoco IV algo muito pequeno.  

 

Quando, no final do Século XVII, Napoleão Bonaparte destronou o grande carrasco da história, os países novos tomaram o cuidado de excluir igrejas do poder político, receando um dia os dogmas religiosos voltarem a predominar sobre o Direito e provocarem novo período de terror.  Não obstante os Estados Unidos tenham sido formados por imigrantes cristãos protestantes, a memória dos atos do catolicismo parece ter contribuído para criarem uma constituição laica, deixando religião fora do domínio político.  E o exemplo foi seguido pelo nosso país e muitos outros. 

 

Todavia, como o povo esquece muito rápido, pouco mais de dois séculos após o fim do horror, estamos presenciando algo um tanto assustador, que, se não combatido com o conhecimento, poderá nos levar a um retrocesso histórico terrível.

 

Em alguns países democráticos, parece que a maioria do povo pensa que os cristãos agora ficaram bonzinhos como imagiram que foram nos seus primórdios, que não há risco de colocar as igrejas no comando político.  Cristãos parece não perceberem o que fazem os governantes muçulmanos no Oriente e na África. Não sabem eles que, no dia que a política estiver sob comando dos religiosos, uma dessas igrejas poderá suplantar as outras e retornar a um período semelhante à Idade Média, impondo os princípios de sua fé a todos. 

 

Enquanto em países de alto IDH as religiões estão definhando, aqui, como nos países atrasados da África, estamos presenciando um crescimento do número de evangélicos no nosso parlamento, e ameaçam prosperar as tentativas de destruir a nossa constituição teoricamente laica, substituindo-a por uma teocrática, isto é, criando um direito calcado em preceitos religiosos, para impor o pensamento primitivo a toda a população.  Se não conseguirmos abrir os olhos da população poderemos ter democraticamente um retrocesso ao terror teocrático do qual o mundo parecia ter-se livrado.

 

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