®Lílian
Maial
02/10/2009 20h51
É, pessoal, o Rio conseguiu! Vamos
sediar os Jogos Olímpicos de 2016! Não é o máximo?
Meu coração ficou absolutamente dividido nessa questão. Por
um lado, meu “eu” patriótico se encheu de orgulho, alegria,
vaidade. Nossa! Meu país, minha cidade! Que orgulho! Aos
pouquinhos vamos nos infiltrando na panelinha. Lentamente o
Brasil vai ficando mais conhecido no mundo, vai deixando de
ter “Buenos Aires” como sua capital. Afinal, nada mais
justo, pois não devemos nada, em termos de belezas naturais
e qualidade esportiva, a nenhum outro país do mundo,
guardadas as devidas proporções e dificuldades nacionais.
Porém, um outro lado se agita e se
preocupa, pois 25 bilhões surgirão como que por encanto,
para preparar a cidade para evento tão vultuoso. Fica a
pergunta que não quer calar: de onde virão os 25 bilhões?
Nosso país possui problemas endêmicos
de educação, saúde, segurança, emprego, habitação, já
bastante familiares ao nosso dia-a-dia. Para saná-los, não
existe bilhão nenhum. Existe esperteza, enganação,
embromação. Existem medidas paliativas. Permanece o medo, o
marasmo, a anemia, a ignorância. Quem bancará esses 25
bilhões?
Não digo que não surgirão empregos, que
a cidade não será embelezada, que não será um marco para o
país, enfim, um evento maravilhoso. Contudo, sabemos que se
trata de maquiagem. Que por baixo da grossa camada de
blush e pankake, o povão continuará pobre,
faminto, apertado horas a fio em transportes indignos, com
medo 24 horas por dia.
Aí me vem a pergunta abafada: e se
aplicássemos esses 25 bilhões em nós mesmos? E se
injetássemos uma quantia polpuda como essa na saúde,
educação, segurança e habitação? E se déssemos condições
dignas aos nossos jovens de se tornarem atletas bancados
pelo governo, e se tornarem adultos com um futuro palpável?
Na ocasião do preparo para o “PAN
2007”, o Rio de Janeiro viveu um período de aperto, com toda
a verba municipal desviada para as obras, na esperança de
haver uma luz no fim do túnel, uma injeção de dinheiro
estrangeiro, de se abrirem portas para o futuro. As únicas
portas que eu vi foram as da rua, para uma série de
trabalhadores que perderam seus empregos, ao final dos
quatro anos em que se esperou pelo milagre. O “PAN” não
trouxe as divisas esperadas, nem transformou a cidade em
nada de diferente do que já não fosse.
Agora surge o receio de se repetir o
mesmo nos Jogos Olímpicos, só que, ao invés de quatro, serão
sete anos de apertos, obras pela cidade, verba reduzida,
recusa (que já começou) de reajustes de salário dos
funcionários públicos, já tão vilipendiados, enfim, crise em
cima de crise, arrocho em cima de arrocho, de forma que a
qualidade de vida dos cariocas se restrinja cada vez mais.
Quero que me perdoem pelo tom algo
negativo, justo no dia em que todos estão comemorando, mas é
que eu tenho uma visão mais real do que acontece com nosso
povo, com nossas famílias, com nossos filhos. Sofro, como
todas as mães, com cada manhã, quando não sabemos se, ao
final do dia, nosso filhos voltarão para casa e nem se nós
mesmas voltaremos.
De toda forma, estou muito feliz com a
escolha do Rio de Janeiro para sediar a sede dos Jogos, pois
seremos, por breve tempo, vitrine para o mundo, e acredito
que nosso povo mereça um olhar de mais respeito.
Rio 2016, será que eu chego lá?
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Por outro lado, releva
considerar o volume da arrecadação de impostos do Brasil.
Esses 25 bilhões são uma quantia pouco significativa.
E o evento trás benefícios ao país.