RISCO DE DESABASTECIMENTO E AUMENTO DE
PREÇO
Mercado vê risco de desabastecimento
de combustíveis e preços ainda mais altos; entenda.
Petrobras informou que não conseguirá atender todos os pedidos de fornecimento
de combustíveis para novembro. Distribuidoras afirmam que diferença atual entre
os preços internacionais e os praticados pela estatal desestimulam importação e
podem deixar gasolina e diesel mais caros.
Por Darlan Alvarenga, g1
20/10/2021 13h01
Após a Petrobras ter confirmado que não conseguirá atender todos os pedidos de
fornecimento de combustíveis para novembro, distribuidoras e agentes do mercado
passaram a alertar para o risco de desabastecimento de gasolina e diesel no
país.
A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíeis (ANP) afirma que
não vê indicação de desabastecimento "nesse momento" e que "adotará, caso
necessário, as providências cabíveis para mitigar desvios e reduzir riscos".
Analistas e representantes do setor afirmam que há, sim, um risco potencial
desabastecimento e de preços ainda mais caros nas bombas, uma vez que
o Brasil
não produz o volume de combustíveis necessário para abastecer o país, dependendo
de importações, e que a atual política de preços praticada pela Petrobras
desestimula a importação de combustíveis por agentes privados, uma vez que os
preços no mercado internacional estão mais caros que no mercado doméstico.
Qual é o risco?
O risco é que a demanda por combustíveis nos próximos meses supere em alguma
medida a capacidade de produção da Petrobras e da oferta das distribuidoras,
provocando um desequilíbrio no mercado.
Em comunicado, a Petrobras afirmou que recebeu uma "demanda atípica" de pedidos
de fornecimento de combustíveis para o próximo mês, muito acima dos meses
anteriores e de sua capacidade de produção, e que apenas com muita antecedência
conseguiria se programar para atendê-los. A estatal destacou, no entanto, que
está maximizando sua produção e entregas, "operando com elevada utilização de
suas refinarias".
A Associação das Distribuidoras de Combustíveis Brasilcom – que representa mais
de 40 distribuidoras regionais de combustíveis – disse que, em alguns casos, os
cortes cortes unilaterais da Petrobras chegaram a mais de 50% do volume
solicitado para compra, o que coloca o país em "situação de potencial
desabastecimento".
A Vibra - antiga BR Distribuidora - informou que o anúncio da Petrobras não vai
impactar a entrega de combustíveis para a sua rede de postos e clientes. "A
Vibra é hoje o maior importador de combustíveis do país e já tomou as
providências para garantir o fornecimento aos seus clientes, não havendo risco
de desabastecimento", garantiu a companhia.
Já o Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP) afirmou, em nota, que o
alinhamento de preços domésticos ao mercado internacional é o "mecanismo
necessário para garantir o abastecimento do mercado brasileiro de combustíveis"
e evitar um "um impacto eventual no suprimento de produtos".
Petrobras anuncia que em novembro não poderá atender a todas as encomendas de
gasolina e diesel
Petrobras anuncia que em novembro não poderá atender a todas as encomendas de
gasolina e diesel
Dificuldade de aumentar o volume importado
Uma saída seria aumentar as importações. As empresas alegam, porém, que não está
sendo viável comprar combustíveis no mercado externo, pois os preços do mercado
internacional estão em patamares bem superiores aos praticados no Brasil.
Segundo a Brasilcom, os combustíveis no exterior estão em torno de 17% acima dos
preços praticados pela Petrobras.
Petrobras diz que importação por empresas pode suprir demanda por combustível
"Quem vai importar combustível e concorrer com a Petrobras para vender num preço
mais baixo [do que valeria a pena]?", questiona o economista da Tendências
Consultoria Walter de Vitto.
Em nota divulgada na terça-feira, o IBP reiterou sua defesa pelo alinhamento de
preços ao mercado internacional e destacou que uma clareza sobre o tema é
necessária para que agentes importadores "complementem o déficit interno de
derivados, especialmente considerando o atual cenário mundial de defasagem
conjuntural entre oferta e demanda de commodities devido à rápida e
significativa recuperação pós-pandemia".
"O consumo de combustíveis tem crescido ao longo de 2021 e já alcança patamares
pré-pandemia. A capacidade de produção interna de derivados é inferior à demanda
e o equilíbrio para o atendimento ao crescente mercado se dá via importação",
disse o instituto, que tem em seu quadro de associados as maiores distribuidoras
do país Vibra Energia (Ex-BR); Ipiranga, do grupo Ultra; e Raízen, joint venture
de Shell com Cosan.
Política de preços da Petrobras
Desde 2016, a Petrobras passou a adotar para suas refinarias uma política de
preços que se orienta pelas flutuações do mercado internacional.
Nos últimos meses, porém, a Petrobras e o governo federal vêm sofrendo pressões
de diversos segmentos da sociedade devido à disparada dos preços dos
combustíveis no país, na esteira da alta nas cotações internacionais do preço do
petróleo e do dólar. Nesse contexto, a petroleira tem reajustado os preços em
intervalos maiores nos últimos meses, evitando repassar integralmente os preços
de paridade internacional.
"É muito difícil hoje a Petrobras fazer um reajuste que coloque ela na paridade
internacional. Não tem ambiente político para isso", afirma o sócio-diretor do
Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires.
Segundo o especialista, para reduzir o risco de desabastecimento, a Petrobras
deveria pelo menos dar maior transparência sobre sua política de importação de
combustíveis , uma vez que é a estatal que acaba definindo, na prática, os
preços praticados no mercado doméstico.
"Para o distribuidor ter segurança de importar, ele tem que realmente acreditar
que a Petrobras não vai importar também. O problema todo é a incerteza. E se a
Petrobras resolver de uma hora para outra voltar a importar mais?", diz Pires.
Menor utilização do parque de refino
A Petrobras afirma que está operando seu parque de refino com fator de
utilização de 90% no acumulado de outubro, contra 79% no primeiro semestre do
ano, superior ao registrado em 2019 (77%) e 2018 (76%).
O volume de produção de derivados segue abaixo do observado em governos
anteriores.
Segundo a Federação Única dos Petroleiros (FUP), o Fator de Utilização (FUT) das
refinarias no Brasil caiu de 94% para 70%, aumentando a dependência de
importação de combustíveis. “A Petrobras poderia estar utilizando a capacidade
máxima de refino das suas refinarias, aumentando dessa forma a produtividade e,
consequentemente, reduzindo os custos unitários de produção desses derivados de
petróleo para vender no mercado nacional a um preço mais justo", afirmou, em
nota, o coordenador-geral da FUP, Deyvid Bacelar.
De acordo com o IBP, de janeiro a agosto de 2021, 26% do volume de diesel e 8%
da gasolina foram adquiridos no mercado externo.
"O padrão de refino de petróleo mudou no país, estamos no nível de 2010. A
dúvida é se haveria tempo hábil para aumentar isso ou o volume de importação no
curto prazo", afirma Vitto, da Tendências.
Risco de mais altas nos preços para o consumidor
Procurada pelo g1, a Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e de
Lubrificantes (Fecombustíveis), disse que "por ora, não há falta de combustíveis
nos postos".
A Brasilcom disse, em nota, que a decisão de importação "é uma decisão de
negócio" de cada empresa, não cabendo à associação se manifestar. Já o IBP
destacou que "mesmo com o 9º parque de refino do mundo", o Brasil é um
importador líquido de derivados, "quadro que não deve se alterar na próxima
década".
É praticamente consenso, porém, que um aumento do volume de importação terá
efeitos direitos nos preços cobrados nas bombas ao consumidor, mesmo se não
forem feitos reajustes nos preços cobrados pela Petrobras nas refinarias.
O diretor do CBIE lembra que o produto mais caro "é sempre aquele que está em
falta".
"É óbvio que o preço vai subir. Se não, vai ter desabastecimento, o que é pior
ainda", afirma Pires. "Uma distribuidora que comprar um percentual na Petrobras
mais barato e comprar um percentual mais caro numa importadora vai acabar
fazendo um preço médio. Ou seja, o preço na bomba vai subir".
<https://g1.globo.com/economia/noticia/2021/10/20/mercado-ve-risco-de-desabastecimento-de-combustiveis-e-precos-ainda-mais-altos-entenda.ghtml>
Grande parte da população já deve
estar convencida de que essa crise seria inevitável. Mas seria?
O começo da crise foi lá em 2014.
Os investimentos da Petrobrás, destinados a aumentar a sua capacidade de
produção, que naturalmente suprime parcial e temporariamente os lucros, foram
duramente combatidos. Conseguindo eles depor a Presidente, seu substituto,
que já estava preparado para isso, começou a reduzir a capacidade de
refinamento, das refinarias da empresa, propiciando um cenário para exportação
do petróleo bruto e consequente importação de combustíveis. Como o
combustível não vem das origem de melhores preços, aqui ele tem que ser vendido
bem mais caro do que poderia, e uma margem de lucro boa, para a felicidade dos
acionista, passou a pesar bastante sobre os ombros do consumidor; mas isso tudo
sempre foi justificado, já que os investidores têm direito aos seus dividendos,
e nós o dever de pagar caro por isso.
Exportando o petróleo bruto e
comprando combustível de origem já previamente determinada, por preço acima da
média, o consumidor já começa a sofrer antes do aumento do dólar, que é
consequência de uma política direcionada para isso também.
Se a Petrobrás tivesse permanecido com
seus investimentos, hoje poderia estar produzindo todo o combustível necessário
ao consumo nacional, podendo até vendê-lo a um preço melhor, e continuaria a ter
lucro. Entretanto, com capacidade reduzida de refino, vendendo o petróleo
bruto e comprando combustível, tem lucro, mas a um custo muito alto para a
população.
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