HOBIN HOOD ÀS AVESSAS - O QUE RICARDO AMORIM NÃO VÊ
2010
Ricardo Amorim, economista, colunista da
revista Istoé, chama o sistema de previdência dos
setor público de Hobin Hood às avessas. Não resta
dúvida sobre a sua má fé, uma vez que seria inconcebível
acreditar que ele seja um desinformado.
"Robin Hood às avessas
Os impostos de todos os brasileiros podem aumentar para
pagar mais a um grupo de marajás aposentados
Imagine que Robin Hood tivesse um ataque de loucura e
resolvesse fazer tudo ao contrário: roubar dos pobres
para dar aos ricos. Liberte sua imaginação. Robin rouba
de todos e distribui para pouquíssimos. Que tal se ele
roubasse de 200 e desse tudo para um único indivíduo?
Não sobraria nem picadinho de Robin Hood, certo?
Errado, principalmente se ele morasse no Brasil. Por
aqui, Robin Hood às avessas não só está vivinho da
silva, mas vai muito bem, obrigado. Responde pelo nome
de Governo, sobrenome Previdência Social do Setor
Público.
No ano passado, o déficit da previdência pública – a
diferença entre o que os servidores públicos
contribuíram e o que os aposentados do setor receberam
em benefícios – atingiu R$ 47 bilhões, um déficit de R$
50.146,00 por beneficiário. Representa 31 vezes mais do
que nossos impostos tiveram de bancar por aposentado do
setor privado.
Enquanto o valor máximo de aposentadoria no INSS
– Regime Geral da Previdência Social, que regulamenta as
aposentadorias dos pobres mortais do setor privado – é
de R$ 3,4 mil, as aposentadorias e pensões no
Judiciário e Legislativo superam R$ 13 mil por
mês em média.
Se resolvêssemos pagar aos 27 milhões de aposentados as
mesmas aposentadorias e pensões pagas aos nossos marajás
do Legislativo e Judiciário, os impostos no Brasil
aumentariam cerca de R$ 4 trilhões por ano para cobrir o
buraco.
Todo o PIB brasileiro não seria suficiente para pagar
tal gastança. Nem que transformássemos tudo o que é
produzido no Brasil em impostos – não sobrando um mísero
centavo – teríamos dinheiro suficiente para estender os
atuais benefícios do setor público aos demais
aposentados do País.
Ainda assim, nosso Robin Hood tupiniquim não se deu por
satisfeito e resolveu que seus 937.260 amigos do rei
ainda não são suficientemente bem tratados.
Há no Congresso uma Proposta de Emenda à Constituição,
já aprovada na Comissão Especial da Câmara dos
Deputados, que elimina a contribuição de 11% sobre as
aposentadorias e pensões de inativos do setor público.
Se aprovada, os impostos de todos os brasileiros
aumentarão para que um grupo de 0,5% de privilegiados
ganhe ainda mais.
Pensando bem, estou sendo duro demais com nossos bravos
ex-servidores. Só porque os benefícios deles são mais
de dez vezes maiores do que dos demais aposentados
não é razão para que eles paguem esta contribuição de
11% sobre seus benefícios. Isto é puro preconceito!
Tenho uma proposta mais justa e equânime. Para que eles
não sejam prejudicados, tenhamos um regime único de
previdência para todos, independentemente de trabalharem
no setor público ou na iniciativa privada.
A melhor solução seria estendermos a todos os
aposentados as regras atuais do setor público, tanto com
relação aos benefícios quanto à contribuição de 11%
sobre eles. Para isto, bastaria que todo brasileiro
trabalhasse três horas a mais por dia – para que nosso
PIB crescesse o suficiente para ficar do tamanho da
conta – e transferisse tudo o que ganhasse ao governo,
sob a forma de impostos.
Outra saída, talvez mais simples, seria abolir a
previdência pública e estender a todos as atuais regras
e valores de aposentadoria do setor privado. Desta
forma, o Robin Hood brasileiro não precisaria roubar dos
pobres para dar aos ricos. Nem vice-versa." (Istoé,
28/7/2010, pág. 130).
Que a previdência tem déficit é algo
bastante discutido, havendo que veja a razão desse
déficit nos desvios de recursos praticados pelos
governos, e não nos benefícios pagos.
Mas o que Ricardo Amorim não vê, ou
melhor, não quer mostrar, é que os funcionários públicos
recebem mais porque contribuem mais. Um trabalhador
da empresa privada que recebe, 3,4 mil de benefício
contribuiu mensalmente sobre esse valor, e
um funcionário público que receber a mesma quantia, terá
contribuído da mesma forma, a mesma quantia.
Já se há quem
receba 13 mil ou mais, esse terá contribuído com 11%
sobre esses 13 mil, fazendo, portanto, jus ao benefício,
não havendo nada roubo dos pobre para dar aos ricos, e
sim uma retribuição equivalente à maior contribuição.
Onde está o roubo? Onde encontrou ele esses
benefícios "mais de dez vezes maiores"?
Ele diz que "Se resolvêssemos pagar aos 27 milhões de aposentados as
mesmas aposentadorias e pensões pagas aos nossos marajás
do Legislativo e Judiciário, os impostos no Brasil
aumentariam cerca de R$ 4 trilhões por ano para cobrir o
buraco." Mas ele não calculou se todos
os trabalhadores contribuíssem com 11% sobre todos seus
salários, assim como fazem os servidores públicos, e os
empregadores contribuíssem com sua parte também sobre
todos os salários, o quanto seria a arrecadação
previdenciária.
Ninguém deve estar pensando que Ricardo
Amorim não sabe disso. Ele apenas não mostra esse
detalhes, para que os que não têm informação fiquem
pensando que a previdência dos setor público é injusta.
Se o servidor público que ganha 13.000 tivesse
contribuído sobre 3.400 (374,00) e aplicado a diferença
(1.430,00 - 374,00 = 1.056,00), talvez hoje
estivesse ganhando até mais do que está ganhando com o
benefício. Pois uma poupança mensal de R$1.056,00
por mês por 35 anos daria um bom rendimento, que alguns
economistas afirmam ser bem maior do que o benefício
previdenciário. Essa ideia distorcida já foi amplamente
divulgada pela Rede Globo em
2003.
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