SACOLAS RETORNÁVEIS NÃO BENEFICIAM O MEIO
AMBIENTE
Lei que promete banir sacola
tradicional tolera sacos de lixo não biodegradáveis
Valquiria Lopes -
Publicação: 22/05/2011 07:17 Atualização: 22/05/2011 07:21
Anunciada como um avanço ambiental em Belo Horizonte, a Lei Municipal 9.529/2008
– que trata do fim das sacolas plásticas convencionais produzidas à base de
petróleo – pode representar para a cidade não mais do que uma troca de
problemas. A legislação, que reduziu gastos do comércio e entregou a conta
ao consumidor, tratava, no texto original, da substituição de embalagens
tradicionais por produtos biodegradáveis, mas, ao ser regulamentada pela
prefeitura, abriu brechas para o uso dos sacos de lixo reciclados – tão
prejudiciais ao meio ambiente quanto a sacola descartável. A venda de sacos,
inclusive, já registrou salto de 10% no primeiro mês de vigência da nova regra
em BH. O resultado pode ser conferido na porta dos imóveis, onde embalagens
pretas e azuis estão progressivamente ocupando o espaço das sacolinhas, antes
usadas para acondicionamento dos rejeitos domésticos. Uma mudança que, na
avaliação do professor titular do Departamento de Engenharia Química da
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Roberto Fernando de Souza Freitas,
não teve efeitos práticos para a proteção do meio ambiente.
Se não houve impacto na natureza, como avalia o
especialista, o consumidor sentiu a mudança. Levantamento da Associação
Mineira de Supermercados (Amis) indica que, enquanto o comércio da capital
deixou de gastar cerca de R$ 260 mil com a compra de 13 milhões de sacolas
plásticas nos primeiros 30 dias após a lei, coube ao cidadão o ônus da
alteração. No mesmo período, os clientes dos supermercados tiraram do bolso
aproximadamente R$ 228 mil para pagar 1,2 milhão de sacolas biodegradáveis,
vendidas a R$ 0,19 a unidade. Ou a R$ 0,20, já que uma das queixas é de que não
há troco para a nova sacolinha.
“Trocamos seis por meia dúzia. E o seis anterior era ainda melhor, porque
oferecia conforto ao consumidor no momento da compra. O problema do plástico não
é só a sacolinha, mas a falta de políticas públicas que incentivem o descarte
adequado dos polímeros e a falta de investimento em reciclagem. E, no dia a dia,
as pessoas estão pagando o preço da mudança”, avalia o professor Roberto
de Souza Freitas, que coordena o Laboratório de Ciência e Tecnologia de
Polímeros e é pesquisador da área há 30 anos.
Para ele, a legislação não representa benefício ambiental. “O desafio maior é
educar as pessoas para dispor corretamente os resíduos, e oferecer condições
para que façam isso. A solução seria reutilizar as sacolas e continuar se
beneficiando do uso da tecnologia de polímeros, que é fantástica”, cobra o
pesquisador. Embora não concorde com a avaliação negativa, o autor do projeto
que deu origem à lei, vereador Arnaldo Godoy (PT), reconhece problemas na
legislação e anuncia que vai propor mudanças.
http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2011/05/22/interna_gerais,229116/lei-que-promete-banir-sacola-tradicional-tolera-sacos-de-lixo-nao-biodegradaveis.shtml
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