Os povos antigos, politeístas,
acreditavam haver deuses do bem e deuses do mal. O monoteísmo, não
admitindo existir mais de um deus, criou anjos caídos e, finalmente, um líder
chamado adversário de deus, cuja atividade é tentar os homens a fazer o
mal, mas todos seriam criaturas do mesmo deus. E esse agente tentará os humanos
até o fim do mundo.
Já pensaram por que o escritor bíblico
não disse que Satanás tentou Caim para ele matar Abel?
Alguma vez foi dito que alguém do tempo dos patriarcas tenha feito algo por
tentação de Satanás?
Nenhum livro escrito antes dos judeus viverem na Babilônia fez qualquer menção a
esse tal agente do mal.
Os crentes não percebem que os hebreus não conheciam essa figura. Ela só entrou
no imaginário deles depois de viverem na Babilônia.
Povos de quase todas religiões têm
suas crenças em seres sobrenaturais malignos e benignos; e quanto mais atrasados
são eles, mais espíritos do mal existem em seus pensamentos. Mas, como o
Cristianismo dominou quase o mundo inteiro pela força, o que mais se conhece
atualmente é o Diabo (de diábolo, grego espírito maligno), ou Satanás
(hebraico Satã, adversário). E juntamente com esse
adversário divino, afirma-se que há uma imensa legião de anjos caídos.
Os autores dos primeiros livros da
Bíblia, o mais famoso livro sagrado do mundo, não idealizaram inicialmente um
ser sobrenatural agente do mal. A origem do pecado no mundo se deveu,
segundo eles, à serpente, "o mais astuto dos animais do campo" (Gênesis,
3: 1).
Muito tempo depois, após várias
gerações da humanidade, anjos desviaram de sua missão divina por causa das
mulheres: "...viram os filhos de Deus que as filhas dos homens
eram formosas; e tomaram para si mulheres de todas as que escolheram"
(Gênesis 6: 2). A esses se refere um dos autores do chamado Novo
Testamento, como tendo sido punidos com prisão na escuridão pelo deus criador: "aos
anjos que não guardaram o seu principado, mas deixaram a sua própria habitação,
ele os tem reservado em prisões eternas na escuridão para o juízo do grande dia"
(Judas, 6).
Os redatores da lei divina de Yavé,
que consta dos livros de Êxodo, Levíticos e Deuteronômio, já chamaram de
demônios os deuses dos outros povos (Deuteronômio, 32: 17). Mas eles
não eram considerados agentes malignos, e simplesmente criações humanas inúteis. Nessa época,
embora eles já falassem de anjos caídos, não falaram de um chefe dos agentes do mal.
O livro mais antigo a mostrar a figura de Satanás (o adversário do deus) é o
livro de Jó: "Ora, chegado o dia em que os filhos de Deus vieram
apresentar-se perante o Senhor, veio também Satanás entre eles." (Jó, 1: 6).
Depois, o livro das Crônicas de Israel fala que "Satanás se levantou contra
Israel, e incitou Davi a numerar Israel." (Crônicas, 21: 1). É a
primeira vez que esse agente maligno aparece influenciando o pensamento humano.
E, como aquele livro sagrado descoberto no templo dos dias de Josias não
continha referência a Satanás, pode-se deduzir que essa tentação a Davi foi
imaginada, não nos dias desse rei, mas depois de viverem entre os babilônios.
Tanto é, que em outro texto, quem mandou Davi numerar Israel foi Yavé:
"E a ira
do SENHOR se tornou a acender contra Israel; e incitou a Davi contra eles,
dizendo: Vai, numera a Israel e a Judá."
(II
Samuel, 24:1).
Já no Cristianismo, os demônios
adquiriram novas funções. Todos os portadores de distúrbios mentais foram
tidos como possuídos pelos demônios. E Jesus, o deus filho redentor do
mundo, bem como seus apóstolos, foram apresentados pelos evangelhos expulsando os demônios que
confundiam as mentes dos loucos.
E Satanás, aquele chefe dos agentes do
mal que aparece pela primeira vez no livro de Jó, ressurge no primeiro evangelho
como um anjo a tentar o deus filho (Mateus, 4) e, posteriormente, impulsionando o mundo
inteiro para o mal, numa eterna batalha contra o bem, que só deverá ter fim quando
o mundo for destruído com fogo e esse ser maligno for lançado no lago de fogo
para queimar eternamente junto com as pessoas que tiverem caído em sua tentação.
Hoje, com os avanços da Medicina
sabemos que os deficientes mentais são vítimas de falhas cerebrais, que podem
ser amenizadas com algumas substâncias químicas, ou até mesmo corrigidas com
procedimentos cirúrgicos, não havendo nenhum agente externo influenciando seus
pensamentos. Todavia, aquele pensamento primitivo de que havia espíritos
malignos atuando nessas pessoas ainda não desapareceu do imaginário popular.
E, por incrível que pareça, ainda existem mestres religiosos tentando convencer
o mundo de que esses seres existam.