MORO SE DEMITE E DIZ QUE BOLSONARO INTERFERIU NA PF
Moro se demite e diz que Bolsonaro interferiu na PF
por preocupação com inquérito no STF
Por Lauriberto Pompeu
Em 24 abr, 2020
Sergio Moro disse nesta sexta-feira
(24), ao deixar o cargo de Ministro da Justiça e Segurança Pública, que
a decisão de mudar o comando da Polícia Federal foi
motivada por uma preocupação do presidente Jair Bolsonaro com um inquérito no
Supremo Tribunal Federal (STF).
"O presidente também informou que tinha preocupação do inquérito do STF e que a
troca seria oportuna por esse motivo. Também não é razão que justifique a
substituição. É algo que gera grande preocupação. Enfim, eu sinto que tenho o
dever de proteger a instituição da PF"
O agora ex-ministro não mencionou qual é a investigação. O
filho mais velho do presidente, senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), tem
um inquérito aberto contra ele por suspeitas de lavagem de dinheiro ao acumular
salários de assessores.
Nesta semana, o STF também decidiu abrir um inquérito para
investigar protestos contra a democracia.
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, acatou pedido do
procurador-geral da República, Augusto Aras e determinou a abertura de inquérito
para investigar as manifestações contra instituições
democráticas realizadas no domingo (19), com a presença do presidente Jair
Bolsonaro.
O pedido de Aras visa a apurar a atuação de deputados federais entre os
organizadores e defensores dos atos. O presidente Jair Bolsonaro não é alvo do
pedido que, segundo determinação de Moraes, segue sob sigilo.
Moro também disse que ficou surpreendido e achou ofensivo o modo como foi
publicada a demissão de Maurício Valeixo do comando da Polícia Federal no Diário
Oficial da União.
A edição desta sexta-feira informava que a demissão havia sido a pedido de
Valeixo e contava com autorização de Moro. “A exoneração que foi publicada,
fiquei sabendo pelo DOU, não assinei esse decreto,
em nenhum momento isso foi trazido e em nenhum momento foi pedido”.
Ao falar sobre a Polícia Federal, Moro fez um elogio ao governo da ex-presidente
Dilma Rousseff (PT) e disse que a administração daquela época permitiu a PF
trabalhar de forma autônoma. No entanto, ele ressaltou que o governo da
ex-presidente era foco de casos de corrupção.
O nome apontado como preferido por Bolsonaro para ocupar o cargo de Moro é do
atual ministro da Secretaria Geral, Jorge Oliveira.
Senadores aliados de Moro ouvidos pelo Congresso em Foco avaliam que a escolha
de Jorge Oliveira, major reformado da Polícia Militar, vai ampliar ainda mais o
atrito da classe de delegados da PF com o governo.
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Ao falar sobre seu futuro, o ex-juiz afirmou que em um primeiro momento vai
descansar. "Abandonei 22 anos de magistratura, infelizmente é um caminho sem
volta, mas eu sabia dos riscos. Vou descansar um pouco. Vou procurar mais
adiante um emprego, não enriqueci no serviço publico, nem como magistrado nem
como ministro".
A relação entre Bolsonaro e Moro estava estremecida há meses devido às
interferências de Bolsonaro no comando da instituição. A mudança no comando da
PF estava sendo considerada desde o início do segundo semestre de 2019 e chegou
a ser vocalizada mais de uma vez por Bolsonaro em entrevistas coletivas.
A relação entre Bolsonaro e Moro tem sido marcada por conflitos desde o início
do governo. O primeiro aconteceu ainda em janeiro do ano passado, quando
Bolsonaro ignorou as sugestões do seu ministro da Justiça e da Segurança Pública
ao assinar o decreto que afrouxou o controle de armas.
Em fevereiro, Moro passou pelo constrangimento de desconvidar a especialista em
segurança Ilona Szabó para uma vaga de suplente no Conselho Nacional de
Política Criminal e Penitenciária, órgão consultivo do Ministério da Justiça,
após o nome dela ser atacado nas redes sociais por bolsonaristas.
Sérgio Moro também ficou solitário na defesa da permanência do Conselho de
Controle de Atividades Financeiras (Coaf) no Ministério da Justiça. Não só o
órgão foi transferido para o Banco Central como foi demitido o seu presidente,
Roberto Leonel, auditor fiscal de carreira que atuou na Lava Jato e foi indicado
por Moro para a função.
Em janeiro deste ano, Bolsonaro voltou a fustigar Moro e disse em entrevista
coletiva que cogitava recriar o Ministério da Segurança Pública, esvaziando
ações da pasta comandada pelo ex-juiz.